O Poeta e o Passarinho
Tanto a intelectualidade quando a imbecilidade caminham para o mesmo desfecho. Tanto a beleza quanto a repugnância, tanto a pele clara quanto a face negra, tanto o rico quanto o pobre - todos irão para a democrática constatação de que sempre foram iguais!
Minha obrigação como cristão é amar as pessoas e não modificá-las. O único ser humano a quem me cabe vigiar e melhorar, sou eu mesmo!
UM POEMA DE AMOR
Escrevi esta crônica no dia 23 de outubro de 1994. Faltavam dois meses para Déborah completar dois anos e eu já começava a perceber que não poderia exigir que a flor pudesse ter asas ou que falasse, como se isso fosse a única forma de ser feliz, pois descobri que um simples olhar de felicidade dela era suficiente para eu ser também, então, se minha filha era feliz, o que mais eu poderia exigir de Deus ?
E assim eu consegui ser muito mais feliz como sou até hoje ao lado de Suelane e de nossas duas filhas: Déborah, nossa flor e Barbarah, nosso raio de luz.
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Déborah,
Criei um mundo só nosso. Abandonei sonhos antigos, renunciei a tudo. Nada mais fazia sentido a não ser lhe fazer feliz, Déborah. Procurei em livros respostas para as minhas perguntas, mas em nenhum deles consegui encontrar algo que pudesse preencher o vazio que crescia dentro do meu coração, por lhe ver tão distante de mim, mesmo estando ao meu alcance.
Os dias para mim se passavam rápido, mas para você era como se tivesse parado, pois continuava, lentamente, tentando acompanhar o ritmo deste mundo tão longe do seu. Várias vezes refugiei-me num mundo imaginário, e nele eu lhe via correndo para me abraçar, ao chegar do colégio, com o rosto sujo de tinta pintado pelas tias; várias vezes me imaginei na obrigação de todo dia ir pegá-la na porta do seu colégio, e só depois que a última criança saía era que eu voltava a realidade... e lá estava você indiferente a mim e aos seus intocáveis brinquedos, se esforçando para engatinhar alguns centímetros do chão, que pareciam léguas.
E o que para muitos era rotina, para mim era um sonho, pois eu vivia num mundo só de fantasia, imaginando você correndo no lugar daquela criança que passava fazendo barulho na calçada; pensando ser você me pedindo a bênção aquela criança que me puxava pela roupa no centro da cidade, estendendo a mão pedindo uma esmola. Vi sonhos nos seus olhos tão meigos, quando em silêncio, me acariciava com o olhar como se lesse os meus pensamentos, querendo dizer-me para não abandoná-la um só instante. Talvez nem sabia que era eu quem lhe pedia a mesma coisa, pois ao seu lado aprendi a ser feliz. Aprendi a sorrir com a simplicidade de existir, e percebi o quanto são felizes os lírios do campo que se curvam, em agradecimentos, ao toque da mais leve brisa que lhe acaricia ao cair da tarde ou ao nascer do dia, mostrando-nos o quanto devemos ser gratos a Deus por nossa existência.
Em cada sorriso seu eu percebi a esperança brilhar, brilhar no seu rosto tão singelo, como se pedisse desculpa por alguma coisa.
Hoje você já nota a minha presença, talvez até distingue-me das outras pessoas, mas se não distinguir não importa. O importante é que já consegue me abraçar como eu sonhei um dia.
Talvez sinta a minha ausência, mas se não sentir, não importa. O importante é que sorri para mim toda vez que me ver. Seria tão bom se corresse para os meus braços ao me ver chegar, mas se não consegue, não importa. O importante é que me espera sentadinha com um sorriso que torna-me feliz como nunca fui antes.
Ah! Como eu queria que pudesse, mesmo que baixinho, e nem que fosse uma única vez, chamar-me de papai, mas se não consegue, não importa. O importante é que, apesar do seu silêncio, eu consigo escutar um voz mais baixa que o pensamento, me chamar.
Eu queria tanto que pudesse entender as estórias que lhe conto quando estamos sozinhos, ou que pudesse pedir-me para cantar uma canção de ninar para lhe fazer dormir, nas noites quando acorda sem sono. Talvez até queira e não consegue, mas não importa. O importante é que continuo a contar-lhe estórias e a fazer-lhe poesias, pois sei que um dia irá lê-las, então, se hoje elas falam de você para o mundo, amanhã falarão de mim para você.
Te amo, minha filha.
É impossível existir tanto amor e tanta felicidade, e no entanto existe. E o que eu posso querer mais ?
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Déborah já conseguiu com as mãozinnhas juntas, como se segurasse nela mesma, andar sozinha, para os meus braços. Hoje já não anda mais, porém ao me ver vem de joehos na maior alegria, parece até que vem levitando, chego a imaginar que é um pequeno anjo em oração.
___________________________________________________ Transcrito do livro : “O Diário de Déborah”
Sísifo
Vai e volta, vinda e partida, recomeço
Aí é o tal preço, nesse caminho duro
Da vida, afinal se não for com apreço
A angústia, o medo, inundam o futuro
Recomeça, se desejares, sem pressa
No passo o compasso do passo dado
Na liberdade doada, que a razão meça
Os alcances, pois, o desejado é alado
E enquanto, ainda, tu não alcances
Não descanses na ilusão da metade
Se saciares com os poucos lances
A sorte não lhe será uma realidade
Sonho tem sempre parte de loucura
Onde a lucidez reconhece cada azar
E nesta queda livre que é a aventura
Não esqueças jamais do vetor amar
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Mês de maio, 2017
Cerrado goiano
ENTRE SOMBRAS (soneto)
Ao pé de mim vem o entardecer sentar
No cerrado, a noite desce, sombreando
Vem ter comigo hora pensativa, infando
Em uma visão das saudades a lamentar
Pousa tua mão áspera em mim, causando
Nostalgias no coração dolorido a chorar
São suspiros vaporosos ecoados pelo ar
Tão tristes, ermos, do vazio multiplicando
Na noite há um silêncio profundo a orar
Exalando a secura da dor impactando
No peito, que põe os olhos a lacrimejar
Eu a escuto imóvel, apático, sem mando
No vago da solidão, e me ponho a urrar
Às estrelas, que no céu voam em bando
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, maio
Cerrado goiano
Velha Lágrima
Solidão. Que mágoa na aurora!
Senso ao vento, paira pelos ares
Em suspiros, lágrima que chora
De antigos e buliçosos pesares.
Pulsa uma dor, deveras se sente
É tal tristura que no peito diviso
Versos, que de teu verso ausente
Vazios poéticos do teu doce sorriso.
Ah! Por que tu assim fizesses
Meu eu dum eterno teu escravo
Se outras eram minhas preces
E com o descaso fez conchavo?
Por que então ainda insiste
Nesta trama tão alvoroçada
Como quem ama, assim, triste
E com a alma fria e calada?
Se clamo ao infinito celeste
Por um olhar manso e sensível
Por que é que não me disseste
Palavras ao coração inteligível?
Se terrível, era a dor impiedosa
Me livra desta coroa de espinho
Se bom é ter-te em verso e prosa.
Por que deserto é o nosso ninho?
Porém, melhor a outra figura
De ter a sofreça em segredo
Do que conhecer a tal ventura
E deixá-la ao leu tão cedo...
Assim, então pouco a mim seria
Em pranto a face, de sua partida
Antes os desafetos que nos alivia
Do que fuçar na aberta ferida...
Tem pena de mim! Tem pena
Desta velha lágrima. Caridade!
A paixão não me é tão pequena,
Secará. Pois tanta é a saudade...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Agosto de 2018
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
PRIMAVERA (soneto)
Ah! Chegou a estação da primavera
Quimera, com seu perfume multicor
Que sejamos tal. Ah! Quem nos dera,
Assim desabrochar no botão do amor!
Pelo chão musgos, nos troncos a hera
Em cada haste, a prenda do Deus cultor
Traz à poesia cor. O belo assim quisera,
E o afável em espera, cheiro acolhedor;
Cantam os pássaros, na doce aurora
O sol então suspira, e a vida ao dispor
Cada tempo, encanto, de hora em hora;
A qual a alma da terra gorjeia chão a fora.
Nasce a primavera... e neste tenro andor:
As flores diversas, ornam a variada flora...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
23 de setembro, 2018
Domingo, Cerrado goiano
Paixão
Abrase-me, paixão, no seu poente
que o meu fado seja tal que me flama
integralmente... de coração ardente
E o infinito amor há quem ama...
...e aos amantes, afeto, eternamente!
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, março, 06'30"
Cerrado goiano
Agosto (bem vindo!)
Bem vindo agosto
que seja lindo
do desgosto oposto
no amor luzindo
a gosto, com gosto
nas realizações infindo
ao meu, ao teu
avindo
num apogeu
Agosto... Seja bem vindo!
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, julho
AMIGOS (soneto)
Onde estarão os amigos na amizade
Aqueles que trilharam ao nosso lado
Na diversidade, no momento calado
Ou aquele aliviado pela boa vontade
Por onde andarão, tivemos um passado
Insólitos prazeres, manhas e civilidade
Os perdoados e os ainda na rivalidade
Apontados na memória com bom grado
Tem também os de nossa intimidade
Tão queridos e pelo coração amado
Sempre relembrados com felicidade
Todos no meu poetar com significado
Com muita e deveras grande saudade
Aqui vai o meu sincero, muito obrigado!
Luciano Spagnol
Agosto, 2016
Cerrado goiano
SONETO DE 27 DE FEVEREIRO
Dia e mês que levo os anos
Nas costas, cada vez maior
Nos sonhos hão-se planos
No afã do fado, gentil suor
Levo com cuidado esta data
Num único e poético itinerário
Afinal não é ouro nem prata
Mas é especial no calendário
Nunca posso dar um até mais
Pois, veloz já é naturalmente
Nas ilusões deixadas no cais
E busco ter posposto pendente
Ser mais velho, são fatos anuais
Ser feliz, é ter a vida de presente...
Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Cerrado goiano
(27 DE FEVEREIRO)
Dia e mês que levo os anos
Nas costas, cada vez maior
Sem fronteira e sem planos
Nos males e sonhos o suor
Levo com cuidado esta data
Num rígido e reto itinerário
Afinal não é ouro nem prata
Mas é especial no calendário
Nunca posso dar um até mais
Pois veloz já é naturalmente
Triste é ficar sentado neste cais
E sempre deixo um posposto pendente
Pois ficar mais velho, são fatos anuais
E ser lerdo, retarda receber o presente
Coração no Varal
Meu coração
Está pendurado no quintal
No varal, secando as lágrimas de aflição
Pingando agrura funeral
No sol, na chuva ao relento
Com a emoção amachucada
Frágil ao vento
Rangendo no peito de um jeito cinzento.
Luciano Spagnol
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