O Poeta e a poesia
ENLEVADO DE POESIA, CERRADO
Eu amo o João de Barro num jatobá
Sabiá na laranjeira, jeitoso a cantar
A matinada dos anus que faz maçar
O uivo do vento no velho jacarandá
Eu amo o ocaso do cerrado a enlevar
O amanhecer ímpar onde o belo virá
Eu amo a afoiteza de um tamanduá
Cá o encanto, o néctar ao doce luar
Eu amo a noite tão cheia de calma
Um acalanto no aconchego d’alma
Numa sinfonia que a graça extasia
Eu amo o cheiro de chuva pesada
Que saca aquela saudade danada
Amo o cerrado, enlevado de poesia...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
21 fevereiro, 2022, 15’49” – Araguari, MG
SABOR DA POESIA
Eu amo a poesia pelo seu encanto
Pela razão da poética em seu ser
Sem me importar com o portanto
Se há prosas de tristura ou prazer
Eu amo a poesia na sua natureza
Na essência onde a ilusão estará
Sem pensar se há apenas pureza
Importa a magia e se assim será
Poesia é sensação, só saber tê-la
É sentimento caída duma estrela
É suspiro, oferta, a luz de um luar
Saber chorar, se é pra enternecer
Sorrir, quando a alegria é o viver
Compreender, sentir e degustar...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
18’55”, 10, março, 2022 – Araguari, MG
“FATEOR”
Tu vês, ó poesia. Estou desapontado
Calado, num emaranhado de ilusões
Em meio a várias inquietas emoções
Nesta tarde de verão, cá no cerrado
O céu no azul imenso de sensações
A saudade que fica aqui do meu lado
Definhando o peito, e já tão apertado
Nada me confortas, tudo imensidões
Estou acabrunhado, só, tão perdido
Em uma voragem dum amor dorido
Que hauri de vozear, correr e passar
Tu vês, minha poesia, quanta solidão
Se o choro alivia minha alma, em vão
Deixando o dia triste com triste olhar...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
11, março, 2022, 13’19” – Araguari, MG
VOCÁBULO POESIA
É palavra tão poética, e tão inteira
Que sai duma imaginação visceral
E que sabe, decerto, quão especial
Ao sentido é... essência verdadeira
Da dor e do amor rasga a sua leira
Aflora qualquer noção sentimental
Avilta a uma sensação corriqueira
É prece, a paixão, direção verbal
Poesia é muito, quase tudo, feito
E é, certamente, do belo profundo
Na essência do sentir o doce jeito
Ao sentimento o sublime segundo
Emoção, aonde o devaneio é eleito
Sentimentalidade que gira o mundo
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
12 março, 2022, 12’44” – Araguari, MG
NUMA POESIA DE AMOR
Numa poesia de amor, puramente
Tem versos poéticos e lisura igual
Sensações, afago, então, presente
Encantador tal as rosas dum rosal
Um verso breve, com tal essência
Onde há emoção e um doce olhar
Aonde a alma possa na cadência
Ter o fascínio e ventura encontrar
Que tenha a inspiração incendida
Cheia de paixão, aquela incontida
Pois, o diário se escrevera depois
E, incluído nestes versos, o amor
O cheiro, o encontro, a dada flor
Versejando o sentimento a dois...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
16 março, 2022, 14’41” – Araguari, MG
PRAS MARIAS
Maria, Marias... poética, és poesia
Força no nome, as Marias caseiras
Das dores, as José, as de idolatria:
A Mãe de Jesus, Amém... Fé e valia!
Maria, de Fátima, Brasileiro, brasileira
São muitas, e todas com sua quantia
A da cidade, a caipira, a lerda, a ligeira
Mulher faceira, as Marias, no dia a dia
Cada Maria: as filhas, as mães, as tias
Família, vigor, amor, ternas melodias
Quem em casa não tem a uma Maria?
São versos na emoção, assim, escritos
Ditos, afinal, são de sentidos benditos
Vivas se dão!... nesta láurea melodia!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
22/03/2022, 05’30” – Araguari, MG
pra minha tia Maria de Fátima Brasileiro, nos seus 80 anos
NAS ENTRELINHAS
Se alguém pudesse ler a alma da poesia
secreta, onde cada sentimento a traçou
talvez entenderia mais sua terna melodia
os sonhos, os suspiros que elevaram voo
Estar é o destino e, se acaso, algum dia
a condição no sofrer, então, lacrimejou
esse verso não era a poética de alegria
nem tão pouco a emoção que enlutou
É a vida, ilustrada, da direção da gente
tateando a cada momento eternamente
trajando o além dum agrado ou aflição
Nessa prosa, na composição reservada:
um olhar, um sussurrar, a afeição velada...
nas entrelinhas de uma variante sensação!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
26 março/2022, 14’41” – Araguari, MG
CERRADO LOTADO DE POESIA
Imensidão, profundo e denso labirinto
em que há diversos, e encanto brando
cheio de fascínio de detalhe destinto
teus cantos, extasiantes, só estando!
Do teu variado ser diferente, é ressinto
no teu rico entardecer o rubro vibrando
que nos surpreende e nunca é suscinto
é aquela graça que n’alma vai gafando
Ora o teu vento nos galhos musicando
e a passarada nos jatobás florescendo
canto e contos, todos, contigo rimando
Os ipês, caliandras, lobeiras, em junção
que, faz da sensação, prazer querendo
é o cerrado lotado de poesia, de sedução!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
02 abril, 2021, 14’28” – Araguari, MG
No entardecer do dia
atrás da Igreja, em poesia
o pôr do sol...
Sentidos, magia, o dia em bemol
A alma se expande em reverencia ao encanto
divino, poético... deslumbre... tanto! tanto!
Misericórdia, o dom maior...
do Criador!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
19, abril, 2022, 18’55” – Araguari, MG
ALGUÉM
Por muito tempo procurei pela tal poesia
falando de amor, mas, sempre esquivou
cheguei a achar que a inspiração acabou
sequer iria ter a textura, a incomum magia
E, de tanto procurá-la, na poética aportou
os encontros, os desencontros, uma folia
que nem bem surge e foge da companhia
deixando o vazio, tentando um novo voo
O tempo passa, passou, e vai passando
que leva o verso sempre a ficar buscando
quem nunca, por um amor não escreveu?
Pois, na tentativa da prosa sussurrante
cruzei com o olhar em distinto instante
e o alguém, hoje, contém no verso meu!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
10 de maio, 2022, 19’19” – Araguari, MG
VERSOS A MAIS...
Como é cruel uma poesia sem ser amada
E tão vazia e tão cheia de nada, rarefeita
Com as rimas de dores e tão desfigurada
Com sua prosa mal traçada e insatisfeita
É sempre trágica e sem nem um sorriso
E teus versos são iluminados por círios
Da desilusão, mentido estar no paraíso
Se nas entrelinhas truculentos martírios
Ah! tudo tão desgastante está história
Quando não tem no amor a sua glória
E aquela paixão não há nos reais ideais
Na prosa os versos de poética adunca
Que sem o amor e de um amor nunca
Sentiram sensação, são só versos a mais!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
Junho 20, 2022, 06’45” – Araguari, MG
A POESIA É UMA PROSA
Mas como não entreter se a poesia é prosa
Um momento singular, feito duma quimera
Da flutuação e uma imaginação em espera
Ora triste, ora contente... mas harmoniosa!
Assim, cada verso, naquela direção airosa
Cheio de cheiro, do colorido da primavera
Que o encanto de um bardo nos assevera
E, sempre duma existência, a rima jeitosa
Ah poeta! Da poesia um criado e senhor
Num só sonho de inspiração a compor:
Desencavando a sensação inteiramente
Palavras da entranha que alegram o triste
Ou que entristecem a alegria, mas insiste:
Naquela emoção que prosa à toda a gente.
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
05 julho, 2022, 16’14” – Araguari, MG
RELÍQUIAS
Nestas velhas páginas amareladas
Duma poesia de outrora, de amor
Retalhos das prosas tão choradas
Sussurro em verso, versos de dor
Relíquias... eram ilusões doiradas
Que cá versam nostalgia e clamor
Os restos de poéticas enamoradas
Num soneto sofrente, sem pudor
Ai! verso a verso, vai, e tudo parte
A ideia se apaga, e vem outra arte
Nas lembranças, que doridas são!
E, passo a passo, que se esquece!
Tudo envelhece! e assim, fenece...
Deixando o seu cunho no coração!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
03 agosto, 2022, 05’40’ – Araguari, MG
ENTRELINHAS
Se o ledor pudesse ler as entrelinhas da poesia
Minha, que cada surpresa do fado me reservou
Entenderia os suspiros, a dor e toda a antinomia
Dos versos agridoces, que no meu versar chorou
A desdita está em cada poética, tanta a agonia
Imbuídas naqueles perdidos sonhos que sonhou
Cada desejo, num gesto que não era de alegria
E sim, apertos no peito, que o causar idealizou
Poeto sentimento, o sentimento inteiramente
E nunca indiferente, e tão pouco eternamente
Devaneio, amo, idealizo, busco ir sempre além...
Porém, do calvário não se pode ficar sem nada
Cada qual com seu traçado e com a sua estrada
Tudo passa! E do destino aquele servo e refém!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
04 agosto, 2022, 20’22’ – Araguari, MG
A POESIA QUE CHORA
A poesia que chora, desinspirada
Na solidão, que padecer me vejo
Na realização, e tão despovoada:
Sofre, implora, por um puro bafejo
Não basta ter a rima apropriada
Nem só desejo de lampejo: desejo
Assim, tê-la, no versar que agrada
Não, no amor findo, oco e sem beijo
No exílio e no vazio que me consome
Não basta saber que no tempo passa
Que tudo passa, quando só quero estar
A poesia que chora, ficou sem nome
Separada do sagrado e tão sem graça
Quando a trova teria de ser de amar...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
25/01/2020, 05’53” - Cerrado goiano
Olavobilaquiando
DEIXA... (soneto)
Deixa que a poesia a dor devasse
A dor de amor que não é segredo
Pois, a todos tem o mesmo enredo
Mais cedo, ou tarde, se mostrasse
De todo o afeto, não tenhas medo
Tenhas no esperar que tudo passe
Aos desenganos encare a tua face
Nas perdas nem tudo é só degredo
Basta de pranto! enxugue a emoção
Deste amor que o poetar consome
Melhor o sofrer sobejo que ter ilusão
Ouça o poetar do coração, imerso
Que vocifera pelo certo sem nome
No tempo, se revela, o exato verso
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
02 de fevereiro de 2020 - Cerrado goiano
Olavobilaquiando
[...] lá vem a lembrança
gerando cheiro de criança
saudade e nostalgia
evolando memória e poesia...
eterna dança...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
Cerrado goiano
SONETO DE ANIVERSÁRIO
O tempo passa, fugaz os anos
Numa poesia de trova da vida
Chegada, prossiga ela, partida
Em seus versos bons ou tiranos
Passa-se a rima, envelhecida
Nos agrados e nos desenganos
Dos novos e dos velhos planos
Os sonhos e, da ilusão nascida
Nas venturas, pouco se figura
A quimera... se cabelo branco
No amor, mais vale a candura
Se antes ficção, agora franco
O dizer: - louco é essa loucura
O viver. E duro o seu tamanco!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
27 de fevereiro de 2020 - Cerrado goiano
Destino
Nas linhas da minha poesia
leio o teu olhar
com rimas cruzadas, luzidia
sinuosas a poetar.
Interferindo no meu destino.
E assim, eu pus a cantar
tal o badalar de um sino
o coração a anunciar.
E neste som divino
a vida nos seus caminhos
o meu e o seu num continuo
Desejar... íamos sozinhos
até nossas mãos entrelaçar.
E, neste poema marcado
de versos ao nosso dispor
desde então, o fado
juntos, passamos a compor!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
28/02/2020, 23´21” - Cerrado goiano
Amar você é versar em minutos…
Amar-te é escrever poesia de amor
Os versos são como o teu beijo
De rimas saborosas de alegria
Valeria, tão bom este desejo
Nestas trovas derramadas
Aos teus pés, assim me vejo!
Palavras enramadas
Num poético bafejo
Um poeta da emoção
Cântico de doces frutos
Infinita inspiração...
Amar você é versar em minutos...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
29 de fevereiro de 2020 - Cerrado goiano