O Amor Esquece de Comecar Fabricio Carpinejar
A alegria não esfriou minha carne. Eu não sei controlar a medida do açúcar no café, o peso da xícara, muito menos dosar o afeto, a amizade, o amor, a raiva, o despreparo. Começo pelo final para não ter dúvidas do início.
Quando ia dormir e era do tamanho do que imaginava, escutava os adultos falando na sala de estar. Eles falavam baixinho. Meus ouvidos caminhavam na ponta dos pés para escutar as conversas. Acho que minha audição se esforçou tanto para reconstituir os assuntos sérios e proibidos que não teve forças para voltar para cama.
Havia uma fresta no porão que dava ao jardim. Durante duas semanas, cavei com uma colher de sopa o cimento para aumentar meus olhos. Fiz uma lâmpada no muro. Passava pela fenda odores de fungos e musgos. Até hoje não diferencio os cogumelos venenosos dos sadios.
Como descobrir o que mata sem morrer um pouco por vez?
Mas o apaixonado e o indiferente são parecidos na primeira noite. O apaixonado se manda porque não suportou tanta beleza, encontrou-se atordoado, dependente, comovido, incerto, vacilante, receoso do seu futuro.
Não se preparou para viajar tão longe em seu desejo, estava vestido para atravessar apenas o tempo de uma noite. Não arrumou as malas de sua memória, partiu desprotegido com a roupa do trabalho.
Quando nos descobrimos amando, a primeira noite é terrível. Se você estava bêbado, logo recupera a lucidez — o amor é a mais cruel sobriedade.
“Quando você descobrir que não precisou inventar a mulher que você ama, que ela existe com toda telepatia e compreensão que jurava jamais testemunhar, você olhará o passado com empatia e sincero perdão. Será generosamente imprevisível. Não mascará fofocas, apagará os desaforos, conhecerá a gentileza de dia e o cuidado de noite. Derramará em seu sangue uma overdose de ternura. Seus olhos estarão empilhados de estrelas. Os engradados das árvores estarão sendo abertos pelo jorro da luz. O amor é libertador, o amor é a redenção fiscal, o amor de verdade expira as sentenças.”
NÃO DECIDIR É UMA GRANDE DECISÃO
Desejamos ter o controle dos fatos, mandar no curso dos acontecimentos, demonstrar poder e se antecipar ao pior. Mas, em alguns momentos, não decidir é a melhor decisão que a gente pode tomar.
Decidir nem sempre nos ajuda. Decidir pode ser burrice, não independência. Decidir pode expressar o nosso egoísmo e vamos nos arrepender logo em seguida. Decidir pode ser a ânsia de se livrar daquela chatice, daquela adversidade. Decidir pode ser apenas desistir.
Não custa nada esperar dois dias, tenta entender por que está sentindo tanta raiva, amadurecer a opinião para não se machucar e não machucar ninguém, cicatrizar o mal-estar com silêncio. Não custa nada levar o assunto para roda dos amigos, para o terapeuta, ouvir o conselho de quem já passou por situações parecidas.
O mais difícil na vida não é jogar a pedra, mas manter a pedra no chão.
" Não se preocupe, essa angústia que você está sentindo vai passar, a saudade vai acabar. Eu sei que agora parece que o mundo conspira contra você, mas ele gira e em um giro desses tudo pode mudar. Então não desista, sorria. Você é mais forte do que pensa e será mais feliz do que imagina."
"Liberdade na vida é ter um amor pra se prender. A gente reclama muito da dependência, mas como é maravilhosa a dependência! Confiar no outro. Confiar no outro a ponto de não somente repartir a memória, mas repartir as fantasias. Confiar no outro a ponto de esquecer quem se foi, sem que o outro esteja junto. É talvez chegar em casa e contar seu dia e só sentir que teve um dia quando a gente conta como foi. É como se o ouvido da outra pessoa fosse nossos olhos. Amar é uma confissão. Amar é justamente quando o sussurro funciona muito melhor do que um grito...”
"Delicadeza não se ensina, é diferente do respeito. Delicadeza é temperamento, não se obtém com a idade, não é uma promoção da sensibilidade, não vem com a educação ou com a imitação dos pais. Delicadeza é um defeito maravilhoso, uma entrega irreversível. É uma loucura do bem, uma paranóia sadia. Oferecer mais do que foi pedido, oferecer-se à toa. Sucumbo diante da delicadeza: a delicadeza é gentileza refinada."
É me acomodar no avião e já adormeço. Nem espero o comissário fechar as portas.
Durante conexão de Galeão para Salgado Filho, escorado na janela, pronto para babar, escuto uma mulher chorando na poltrona da frente.
Sempre vou acordar quando ouvir uma mulher chorando. Meu sono não resiste a mulher chorando.
Ela soluçava ao telefone:
– Você disse que a gente moraria junto depois que terminasse seu treinamento. Você mentiu, você só está me enrolando com promessas. Promessa dói. Esperança dói.
Não alcançava qual o contexto da conversa, mas sua frase produziu muito sentido.
Esperança dói!
Eu quase chorava junto. Ela estava coberta de sentimento mais do que coberta de razão.
Concordava com ela: não minta com esperanças. Minta com qualquer outro sentimento, menos com esperança. Não ofereça esperança se não acredita na relação.
Pense bem antes de falar, pense se realmente deseja cada verbo. Cuidado com aquilo que sonha em voz alta.
Todas as palavras são estrelas cadentes. Prometer é sério, prometer é se comprometer.
Não adianta dizer que só falou, alegar que não fez nada de errado e lavar as mãos no vento. Falar é fazer.
Entenda que a esperança é o que mais machuca. Não há maior tortura do que gerar esperança em vão: é oferecer para tirar.
Não estimule projetos se não está disposto a cumprir, se não é sincero, se não é verdadeiro.
Não diga da boca para fora pelo prazer da hora, pelo romantismo, pelo arrebatamento.
Imaginar já é concretizar. Se não tem segurança com sua companhia, não iluda. Não fique fantasiando casa própria, filhos, cachorro, viagens ao Exterior. Não insufle o porvir para agradar. Não disfarce o pouco sentimento com a eternidade. Não chame o futuro impunemente. Não apele para a emoção à toa.
A fantasia é uma responsabilidade do casal. Pois o amor é o que se vive somado ao que se conversa somado ao que se planeja.
Ao fortalecer intenções, permite que ela ou ele passe a esperar dali por diante.
Somos crianças no amor, ansiosas pela confirmação das expectativas. Enxergamos o que imaginamos, trabalhamos para conseguir o que imaginamos.
Esperança é também parte importante do namoro. Esperança é também lembrança do namoro. Esperança é também memória do namoro. Esperança é também realidade do namoro.
O que foi idealizado a dois é um patrimônio da intimidade, um marco da confiança.
Ninguém sofre numa separação por aquilo que aconteceu, sofrerá por aquilo que não vai mais acontecer. Sofrerá pela perda da esperança mais do que pela perda do amor.
“Se você recusou sua rotina, deixou de fazer aquilo que mais gostava em nome de alguém, torrou seus bens, abandonou os amigos e os prazeres mais fundamentais, isso não é amor, é paixão. A paixão é uma fatalidade , o amor é uma escolha. A paixão é egoísta, o amor é generoso. A paixão é renúncia, o amor adapta. A paixão é confinamento, o amor é abrigo.”
Baixa-se o rosto para levantar o verbo. É necessário mais coragem para escrever do que falar, porque a escrita não depende só de ti. Nasce no momento em que será lida.
O amigo é o nosso rascunho, a única página de nossa vida em que podemos errar, riscar e voltar atrás sem medo.
Que eu não troque a sinceridade pelo orgulho, que minha saudade seja maior do que a teimosia, que não finja que sou forte, que não tema minha exposição, que procure ser honesto com o que sinto ainda que custe sofrer mais, que eu não seja dramático com o tempo contra, que tenha paz em mim para não me ofender com as diferenças. E principalmente, que somente meu coração decida, mais nada, mais ninguém. Amém
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