Narrativa de Amor
NARRATIVA (soneto)
Ah! quem nos dera diferente ser, porvir
Inda nos perdoasse! Ah! quem nos dera
Que inda juntos pudéssemos mais sorrir
Ver o pôr do sol e o florir da primavera
Vivíamos com a leveza do simples sentir
E os dias eram longos e felizes cada era
Narrávamos as horas no prazer de existir:
- os beijos, os olhares, restam na quimera
E, no coração, a lembrança que implora
E em cada suspiro a saudade que palpita
E de visita o teu cheiro na difícil memória
Ah! tão sem glória ver tudo isso ir embora
O querer chora, e o amor não mais acredita
Outrora contíguo... e agora, nossa história!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
22/03/2020, 04’49” - Cerrado goiano
Olavobilaquiando
Amigo faz-me lembrar da narrativa bíblica do Cristo ressurreto se encontrando com Pedro, depois deste tê-lo negado três vezes. A pergunta no encontro foi: Pedro, você me ama? Perceba, não houve um pingo de acusação ou rancor. Talvez curas e confissões (leia a passagem na íntegra!).
Em muitas traduções do grego o termo amor não está como Agapē (amor divino), mas como Philēo (amor de amigo). Neste caso específico, e apenas a partir destes originais, digo, Jesus não queria saber se Pedro o amava como Deus, e sim como um amigo. O Cristo místico deseja que tenhamos uma relação de amigo com ele. Que lembremo-nos uns dos outros também no mais alto grau da transparente amizade. Isso excede todo o entendimento.
Sem ti perco minha narrativa, até as cores perdem a vivacidade... .
Meu ponto de equilíbrio começa nas notas de masculinidade que tua barba exala..
Eu sinto teu cheiro a quilômetros de distância, e mesmo de olhos fechados eu saberia quem tu és somente ao tocar tua pele..
O meu fascínio vem da sensação de que te pertenço, nunca me senti de ninguém, nunca quis ser de alguém como quero ser tua...
O tempo passa rápido na sua cruel eternidade chamada rotina, nas minhas concepções de saudade a ardência que sinto é a certeza do sentimento mais genuíno...
Quando digo da maneira mais mascarada que te amo, é porque quero gritar aos quatro cantos da terra que é você quem me faz a mulher mais feliz do mundo, não faz sentindo guardar nada dentro de mim, e então quero explodir!
Quando não digo que te amo, é porque tá doendo esse amor, tá doendo a saudade ou estou morrendo do veneno mais perigoso.
Quando não sinto saudade é porque que te sinto perto, te sinto meu... Por algum motivo eu estou consolada, e já não dói tanto assim...
Mas quando ela bate
Haa, saudade !
Ela me espanca
Me devasta
Me afasta de mim
Por querer estar perto de ti.
E minhas crônicas sem tantas delongas se fazem o fim...
Um dos nossos grandes e importantes desafios na narrativa da vida é discernir o momento de colocar a vírgula ou o ponto final em personagens e situações da nossa história.
NARRATIVA TRUNCADA (soneto)
Muitos versos, por certo, me cantaram
por certo, muitos sonetos eu segredei
alguns poemas, cadências me soaram
desses, ilusões no sentimento guardei
O choro e o riso na rima entrelaçaram
ritmo e desordem na inspiração operei
de os desencontros que me abraçaram
sussurros, os suspiros, também, notei
Promessa e jura. As estrofes disseram
e os versos sofrentes as dores fizeram
ah, se errei, não importa, pois tentei!
Mas sinto ainda no versejar inquieto
um estilo que não acho no alfabeto
pra narrar aquele amor, que susterei.
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
12 julho 2025, 18’52” – Araguari, MG
Minha busca de felicidade é como tentar sair de uma caverna escura. Primeiro preciso encontrar você, só assim a saída eu conseguirei ver.
Sabe, tá difícil amar, tá difícil esquecer, tá difícil achar alguém pra amar, mas que não seja você. Tá difícil chorar, tá difícil escrever, porque as lágrimas correm, na carta que escrevo pra você. Lagrimas malditas, que escorrem sem querem, chamam por teu nome, porque o que queria era te ver. Queria esquecer, e nunca mais lembrar, lembrar do teu sorriso, que ainda me faz viajar. Esquecer o teu olhar, queria esquecer você, mas é impossível esquecer, alguém que sempre vou amar, esse alguém sempre será você...
"Acho q no fundo a gente gosta das pessoas, mas acho q gosta também da narrativa da gente q aparece quando a gente vivencia as relações."
Comentário do Evangelho
Lucas e Mateus, começando seus evangelhos com a narrativa do nascimento de Jesus na cidade de Belém, vinculada à memória de Davi, têm a intenção de atribuir a Jesus uma origem davídica. Nos evangelhos de Marcos e de João não há referências ao nascimento em Belém. Lucas destaca as condições de despojamento e pobreza neste nascimento. Enquanto Mateus narra a visita dos magos do oriente trazendo ricos presentes, Lucas narra a visita dos humildes pastores em vigília dos rebanhos de seus patrões. Lucas é o evangelista dos pobres amados por Deus. Em um mundo marcado pelas injustiças dos poderosos, o povo oprimido vislumbra a libertação e a vida plena
É estranho começar a falar de mim em uma narrativa em que eu sou o centro, mas que quase não apareço. Ficarei encostada, no canto, cruzando os dedos para que as palavras escorreguem mais devagar, que possam aparecer somente em seu tempo certo. Evitar pequenas fugas de idéias é prioridade, não se pode adiantar o fim, assim como não se pode adiantar a morte. Opa! Viu aí? Já falei demais…
NARRATIVA DE UM BOÊMIO
A noite, com seu sorriso cintilante de estrelas, me recebeu dizendo:
- Achegue-se!... Sente-se!... Toque e cante até o sol raiar...!
Tramas e mais tramas dentro de uma narrativa é um baita enchimento de linguiça. É o que eu via em novelas e series. É legal enrolar e manter o leitor. Mas lê ou ver tanta embromação é uma chatice. Depois de ter aprendido tanto sobre narrativa.
Acredito no poder curativo e iluminador da narrativa, e acho que há algo a ser procurado ao olhar para o mal, tentando entendê-lo, imaginando se talvez sejamos todos um pouco responsáveis. Algo humano deveria ser estranho para nós? Essa pergunta é aterradora e bonita.
O livro da vida é uma narrativa complexa, repleta de capítulos inesperados, trajetórias sinuosas e reviravoltas emocionantes. Às vezes, sentimos que estamos perdidos em meio a uma trama confusa, sem saber qual será o desfecho dessa história. Mas confie, Deus jamais nos abandonará, e sempre estará pronto para escrever um final repleto de esperança, redenção e amor. Basta confiarmos Nele e permitirmos que Ele seja o autor da nossa vida, guiando-nos para o desfecho mais belo que podemos imaginar.
- Edna Andrade
Parece que saímos de um predomínio da narrativa linear para uma caleidoscópica, aleatória, sem compromisso com inicio, meio e fim.
Poesia maldita e ao mesmo tempo bendita
Que dita em narrativa nossas realidades criadas
Batizada em águas de nossas nascentes
e ao mesmo tempo edificada sobre o nada
Por que a cada verso do real apresenta-se tão inverso?
ALMA DA ÁFRICA,ALMA DO BRASIL
A narrativa de Antonio Olinto em seus romances africanos começa, em A casa da água, como uma enxurrada. Não há introdução, preparativos, prolegômenos. O leitor literalmente mergulha, já na primeira frase, em uma enchente. É a metáfora que conduz o discurso, uma recuperação moderna da narrativa sinfônica. Olinto escreve como quem conta uma história ao pé da fogueira na noite da África ancestral. Enumera os usos e costumes, o sincretismo religioso, os procedimentos curativos, o folclore, o cotidiano das casas e das ruas, mas principalmente localiza o leitor, pondo e transpondo pessoas, com enorme habilidade, em lugares de aqui e de acolá, do Piau a Juiz de Fora, do Rio à Bahia, do Brasil à África. Mas, se o espaço tem destaque na linguagem, o tempo é etéreo. Tempus fugit. A primeira referência temporal só se dá por volta da página 200, quando se menciona a guerra. "Mariana achava ingleses, franceses e alemães tão parecidos, por que haveriam de brigar, mas deviam ter lá suas razões." Somente ao final do livro uma tabela de datas vai esclarecer de que tempo histórico se está falando. E aí está: o tempo cronológico não tem importância.
Os achados de linguagem são tocantes. Logo à página 20, damos com esta preciosidade: "As mulheres ficaram com receio de olhar para fora e puseram os olhos no chão, Mariana, não, Mariana comeu o prazer de cada imagem." À página 58, outra: "Maria Gorda pegou-a no colo, começou a falar, tinha uma voz boa e gorda também." E à página 64: "A alegria dominou durante outra semana ainda o navio, mas foi-se diluindo em pedaços cada vez maiores de silêncio." É a voz soberana do narrador, simples, despida e precisa, fazendo um registro. Sem avaliações morais ou moralistas. O padre José que bebe cachaça, a matança cerimonial, a fornicação sem vergonhas. O livro é a pauta da vida. Desenvolve-se. Evolui, como um navio que avança pelas ondas franjadas. O livro é a vida, em seu processo, sujeitando as pessoas pela tradição, cultura, pela dinâmica própria. Um relicário da prodigiosa observação desse autor que funde ficção e memória em uma liga só, emocionante
A Casa da água foi lançado em 1969 e serviu de esteio para os outros dois livros da trilogia (O Rei de Keto e o Trono de Vidro). A análise da alma africana, e por extensão da alma humana, é preciosa, no texto de Antonio Olinto. Mas não está em fatos pitorescos ou nas anedotas. Está nos refrões, pregões, imprecações. Vejam esta frase: "Ele tinha boa cara, os lábios, grossos e fortes, formavam um sorriso lento, que demorava a se formar e demorava a se desfazer." Outra: "O pai revelou-se um homem baixo e muito gordo, a boca se esparramava como a de um sapo, ria uma risada enorme e demorada."
A trilogia do acadêmico Antonio Olinto é um compêndio sobre costumes de um povo que passou muitos anos lutando para manter a sua identidade. Assim, a pretexto de falar da alma da África, o autor fala da alma do Brasil. O fio condutor é Mariana, errante e errática, miscigenada e híbrida, suspensa entre dois mundos, como a água do mar, a água da enchente, nessa torrente de vida. Mas uma mulher firme, empreendedora, justa. Uma brasileira. A frase de Mariana, ao batizar a sua loja, comprada com o trabalho de uma vida, de Casa da água, foi esta: "É que eu comecei a ser eu depois que fiz um poço." Anos mais tarde, ela diria (página 59 de O Rei de Keto): "A coisa mais importante que fiz foi abrir um poço em Lagos quando era moça." Quanta densidade em duas frases!
Aqui e ali, a voz do autor se deixa evidenciar, numa cuidada intervenção da primeira pessoa. São apenas dois ou três verbos em cada volume, com desinência voltada para o eu. Artifícios de um habilidoso processo de construção da narrativa.
A um homem que viveu a África, como adido cultural na Nigéria, escolho a boa tradição iorubá, e termino este artigo com um oriki, como faz o autor no seu romance: ó Antonio Olinto, tu que ensinas a ver e a julgar, que estás no teu merecido lugar no cenáculo da Academia Brasileira de Letras, que escrevas muito e que teus escritos sejam recebidos com alegria pelos nossos corações, para sempre. Porque tua obra, nobre escritor, é como tu: tem a energia do trovão, a sabedoria dos nossos ancestrais e a serenidade do mar calmo.
Jornal da Letras, edição de setembro de 2007
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