Nao Gosto do que Vejo
Aquela grosseria que você rebate fingindo que não percebeu nada traz um ar de superioridade que só provando para saber.
Uma das maiores decisões que um ser humano tem que tomar atualmente é se ele deve ou não entrar em determinada polêmica virtual.
O Gato Preto
Ando há milênios por esta terra. Vigio aqueles que não querem ser vigiados, espalho o temor por onde passo e retiro tudo o que um dia tiveram. Minha passagem é rápida, mas o acompanhamento, não. O que parecem ser apenas dez minutos para a hora H, para mim, são décadas. Porém, em certos casos, meu trabalho precisa ser mais rápido.
No meio da madrugada, enquanto caminho pelas ruas silenciosas, observo o pequeno felino preto. Ele caminha com a tranquilidade de quem já conhece cada buraco da calçada. Acompanhar animais é sempre mais fácil que acompanhar humanos. Eles são simples, puros, não lutam contra o destino. E eu, ainda que feita para ser imparcial, confesso: prefiro os animais.
O felino se aproxima de uma lata de lixo. Ao lado dela, um pratinho com restos de comida. Suas patas, enfaixadas com uma gaze velha e suja, repousam sobre o chão como se cada passo pesasse uma vida inteira. Já é a terceira vez na semana que o vejo assim. Desleixado? Talvez.
E isso explicaria por que estou aqui.
Por um instante, o perco de vista, mas logo o reencontro. Lá está ele, brincando com a menininha do vestido vermelho. Ela usa um coque bagunçado que tenta domar os cachos loiros, uma pulseirinha rosa e o sorriso de quem ainda não sabe que o mundo pode ser cruel. Ela o agarra com o carinho de quem enxerga valor onde outros veem apenas sujeira. Talvez nem tudo esteja perdido.
Não posso impedir o que está por vir, mas me pergunto: e se fosse um pouco mais justo?
Gatos pretos sempre foram ligados à má sorte, à morte. Superstições humanas. Ridículas, mas persistentes. Em um mundo cheio de guerra, fome e abandono, culpam um animal por tragédias que eles mesmos causam. Posso parecer ingênua questionando isso, mas toda lenda carrega uma centelha de verdade. Se não carregasse, eu sequer existiria.
Olho o meu velho relógio de bolso. Está quase na hora. Há nove anos acompanho esse gato. Longos e silenciosos nove anos…
A menina está mais alegre hoje. Ela tira algo do bolso e, com cuidado, coloca uma coleira rosa com uma jóia azul no pescoço do felino. Mesmo sem palavras, vejo sua alma brilhar com gratidão. Os humanos nem sempre percebem, mas os animais também sabem agradecer. E ela, talvez sem saber, recebeu aquele gesto como um presente.
De todos os dias que os acompanhei, este é o mais difícil. Não achei que ele sobreviveria tanto tempo. Sua vida não tem sido justa. Muitas vezes vi humanos roubarem meu papel. E pela primeira vez, sinto nojo do meu trabalho.
Ela se senta no chão com o gato no colo. Eles se apegaram demais. Em quatro meses, ela deu ao felino todo o amor que ele nunca teve em nove anos. Aproximo-me devagar e me sento ao lado dela. Ela não me vê. Não pode. Mas me sinto estranhamente presente ali. Observar os dois virou meu pequeno refúgio em meio ao caos. Deus tinha razão ao dizer que crianças e animais têm as almas mais puras.
O relógio apita. Meu rosto continua neutro, mas por dentro... tudo em mim queima. Fui feita para não sentir. Para ser imparcial. Mas se pudesse, congelaria esse momento para sempre.
Um homem se aproxima. Alto, barba grisalha, roupas rasgadas. Fede a álcool e tem o olhar de quem esqueceu o que é compaixão. Fala algo para a menina e vai embora como chegou: em silêncio. Sem deixar rastro, sem deixar paz. Não consigo deixar de pensar no dia em que terei de acompanhá-lo.
O gato me encara. Para a menina, ele parece tranquilo. Para mim, sua expressão é de compreensão. Ele sabe.
A garota, assustada, beija o felino e o coloca numa caminha improvisada. Antes de entrar em casa, sorri. O maior sorriso que já lhe deu. Mesmo forçado, tem algo de esperança. E então, ela desaparece porta adentro.
Meu relógio apita novamente. O suspiro do gato é fraco. O último.
Tiro do bolso uma pequena esfera e toco o corpo do animal. Ela brilha quando coleta sua alma. Sinto o peso de novo.
— Chegou minha hora? — sua voz ecoa leve. — Mas... e ela? Como vai ficar? Por quê agora?
Uma das grandes maldições dadas aos seres vivos é a da morte inesperada.
— Vocês irão se ver novamente — respondo com a garganta apertada.
— Eu vou reencarnar? Posso ser uma menininha? Ela disse que não tem muitos amigos…
— Não é assim que funciona — digo, caminhando pela escuridão. — Mas aquele que te envenenou vai pagar, mas eu não posso controlar o que está por vir. Eu... sinto muito.
Não o vejo, mas sei que ele está confuso. Guardo a esfera no bolso e paro na esquina. Pela primeira vez, cerrei os punhos.
— Vocês ficarão juntos, longe dessa baboseira toda…
Suspiro. Continuo andando pelas ruas, mãos nos bolsos.
— Volto para buscar ela daqui a algumas horas.
Vou embora, desejando ser alvo do papel que um dia me deram e que roubaram de mim. Desejei, pela primeira vez, não ser a ceifadora, mas sim, a colhida.
2025
Querido diário,
Querido Deus
Querido amigo
É assim que devo dizer:
Não sei mais o que fazer
A solidão e a tristeza
Os pensamentos e a destreza
Como posso suportar
Se não há modo de atravessar
Deus, única esperança
Todo dia em meu peito, uma lança
Não me abandone meu senhor
Você é a luz para o amor
Nesta noite... Eu me deito
Com a dor em meu peito
Carta interna – escrita em silêncio
Eu não sei te explicar.
Eu não sei dizer exatamente por que ainda penso em você, por que ainda sinto, mesmo depois de tudo.
Depois do silêncio, da frieza, da forma como você terminou — como se eu fosse um nada.
Você sabe que me magoou. Sabe que me tratou de um jeito que ninguém merece ser tratado.
E mesmo assim… aqui estou eu.
Não porque sou fraco.
Mas porque o que eu senti foi verdadeiro.
Porque eu me entreguei de corpo e alma achando que do outro lado tinha algo tão intenso quanto.
Só que agora… eu fico tentando entender como você dorme tranquila sabendo que deixou um buraco em mim.
Como você consegue viver como se tudo fosse normal.
Eu não consigo.
E aí, no meio desse vazio, bate aquela vontade de te fazer sentir.
Sentir o que eu senti.
Voltar… conquistar de novo… te fazer se entregar… e então dizer:
“Agora sou eu que não posso mais.”
Mas sabe o que mais me dói?
É que isso nem me traria paz.
Porque eu não sou como você.
Eu nunca conseguiria machucar alguém que eu amei só pra equilibrar a balança.
A verdade é que eu só queria que tivesse sido diferente.
Que você tivesse tido coragem de olhar pra mim e dizer a verdade com o coração aberto.
Eu merecia, no mínimo, isso.
Talvez um dia você entenda o que perdeu.
Talvez não.
Mas eu sigo aqui, tentando reconstruir o que você quebrou.
Em silêncio.
Com dignidade.
E com um amor que, mesmo ferido, ainda sabe o que é respeito.
Não se apegue ao mundo e aos interesses do que é perecível em você como o ser que coexiste aqui.
E no momento em que você aprender a se desapegar dessas coisas que o prendem e o limitam, você se libertará dessa condição de que medos e vícios que criam distrações o prendem.
Quando você se libertar de tudo isso, perceberá instantaneamente que existe, mesmo que por um certo período de tempo.
E quando você se reconhecer nesta vida, encontrará os caminhos da sua existência que o apontarão em uma direção em sua jornada e isso o guiará à sua fonte geradora, "DEUS".
Pedir a Deus algo que você talvez não esteja preparado para receber é questionar a racionalidade.
É como uma criança pequena que pede ao pai para dirigir o carro; além de não ter altura suficiente para alcançar o freio o acelerador e a embreagem, mal consegue segurar o volante e nem sequer tem qualificação por ser criança.
Portanto, tente ser paciente e racional ao pedir, para que você seja sábio naquilo que pode e está preparado para receber.
Carta de Cura (não enviada) – Para quem me feriu e eu ainda estendi a mão
Autoria: Diane Leite
Eu esperava de tudo, menos de você.
Justo você, que dividiu mesa, risadas, confidências.
Justo você, que conheceu minhas dores e ainda assim decidiu cutucá-las por trás.
Eu não precisava saber o que você falou — eu senti.
Mas mesmo ferida, eu não me curvei.
Eu me levantei.
E escolhi te lembrar, com educação e firmeza, de tudo o que já fiz por você.
Sem cobrar.
Só para que você mesma enxergasse que o que você está tentando destruir foi parte do que eu te dei com amor.
Eu não sou melhor por isso.
Mas sou maior.
Maior que a mágoa, maior que o ego, maior que a vontade de revidar.
Você me ensinou, sem saber, a ser mais forte.
E eu te ensinei, sem querer, que luz não se abafa com sombra.
... no arrazoado
tribunal do destino, tão certo
que não haverá juízes; tampouco
temerosos algozes conduzindo-te
irrevogavelmente aos patíbulos da
infâmia - mas, tua própria essência
testemunhando uma robustez enfim
alcançada - ou um triste vazio que
teimosamente arrastas em
teu espírito!
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