Frases de Mia Couto

Cerca de 134 frases de Mia Couto

⁠Na barriga da mãe, não se tece apenas um outro corpo. Fabrica-se a alma.

Mia Couto
Mulheres de cinzas: as areias do imperador: uma trilogia moçambicana, livro 1. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
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Inserida por pensador

A infância não é um tempo, não é uma idade, uma coleção de memórias. A infância é quando ainda não é demasiado tarde. É quando estamos disponíveis para nos surpreendermos, para nos deixarmos encantar. A infância é uma janela que, fechada ou aberta, permanece viva dentro de nós.

Mia Couto
Tradutor de chuvas. Portugal: Ed Caminho, 2015.
Inserida por MarcioAAC

Destino

à ternura pouca
me vou acostumando
enquanto me adio
servente de danos e enganos

vou perdendo morada
na súbita lentidão
de um destino
que me vai sendo escasso

conheço a minha morte
seu lugar esquivo
seu acontecer disperso

agora
que mais
me poderei vencer?

"Sou um menino que envelheceu logo à nascença. Dizem que, por isso, me é proibido contar minha própria história. Quando terminar o relato eu estarei morto. [...] Mesmo assim me intento, faço na palavra o esconderijo do tempo”.


( em "A varanda do frangipani", Lisboa: Editorial Caminho, 1991.)

Nós temos hoje gente com dinheiro. Isso em si mesmo não é mau. Mas esses endinheirados não são ricos. Ser rico é outra coisa. Ser rico é produzir emprego. Ser rico é produzir riqueza. Os nossos novos-ricos são quase sempre predadores, vivem da venda e revenda de recursos nacionais.
(E se Obama fosse africano?)

Dentro de mim
o universo se dissolveu
e um respirar de céu
em meu peito se inundou.

Seria a Vida,
seria o Tempo sem nostalgia, ou seria, apenas, a poesia?

Sei que havia um fluir de rio lavando antiquíssimas dores.

E do cristal de tristeza
que antes me negava o ar, desse nó de vazio,
voltou a nascer o mar.

“O escritor não é apenas aquele que escreve. É aquele que produz pensamento, aquele que é capaz de engravidar os outros de sentimento e de encantamento.”

( Trechos da intervenção na cerimônia de atribuição do Prêmio Internacional dos 12 Melhores Romances de África, Cape Town, Julho de 2002 - fonte: miacoutiando)

De que vale ter voz
se só quando não falo é que me entendem?
De que vale acordar
se o que vivo é menos do que o que sonhei?
(Versos do menino que fazia versos)

(Do conto "O menino que escrevia versos". em "O fio das missangas". Lisboa: Editorial Caminho, 2003. Fonte: elfikurten.com.br)

Quando me viam, parado e recatado, no meu invisível recanto, eu não estava pasmado. Estava desempenhado, de alma e corpo ocupados: tecia os delicados fios com que se fabrica a quietude. Eu era um afinador de silêncios.

(em "Antes de Nascer o Mundo". São Paulo: Editora Companhia das Letras, 2009. – Fonte: elfikurten.com.br)

“Se dizia daquela terra que era sonâmbula. Porque enquanto os homens dormiam, a terra se movia espaços e tempos afora. Quando despertavam, os habitantes olhavam o novo rosto da paisagem e sabiam que, naquela noite, eles tinham sido visitados pela fantasia do sonho”.

(Crença dos habitantes de Matimati), em "Terra sonâmbula")

"Escute bem: em cada noite eu me converto em água, me trespasso em líquido. [...] Para dizer a verdade, eu só me sinto feliz quando me vou aguando. Nesse estado em que me durmo estou dispensada de sonhar: a água não tem passado. [...]

( em "A varanda do frangipani", Lisboa: Editorial Caminho, 1991.)

“O que pode suscitar uma pequena história é quanto por trás do cientista reside um homem, com suas ignorâncias, suas incertezas e suas crenças tantas vezes muito pouco científicas”.
(trechos do texto elaborado para crianças lusófonas integradas no programa interescolar "Ciência Viva", Julho de 2004, publicado em "Pensatempos)

___Sementes___
Olhos,
vale tê-los,
se,de quando em quando,
somos cegos
e o que vemos
não é o que olhamos
mas o que o olhar semeia
no mais denso escuro.
Vida
vale vivê-la
se,de quando em quando,
morremos
e o que vivemos
não é o que a Vida nos dá
nem o que dela colhemos
mas o que semeamos
em pleno deserto.
____

Inserida por paulinhopqd

– Tens medo de fazer amor comigo?
– Tenho – respondeu ele.
– Por eu ser preta?
– Tu não és preta.
– Aqui, sou.
– Não, não é por seres preta que eu tenho medo.
– Tens medo que eu esteja doente...
– Sei prevenir-me.
– É porquê, então?
– Tenho medo de não regressar. Não regressar de ti.

Mia Couto
Venenos de Deus, remédios do diabo (2008).
Inserida por paulinhopqd