Frases de Mia Couto

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Eu somos tristes. Não me engano, digo bem. Ou talvez: nós sou triste? Porque dentro de mim não sou sozinho. Sou muitos. E esses todos disputam minha única vida.

Tenho duas pernas: uma de santo, outra de diabo. Como posso seguir um só caminho?

Uma coisa aprendi na vida. Quem tem medo da infelicidade nunca chega a ser feliz.

Todos elogiam o sonho, que é o descansar da vida. Mas é o contrário, Doutor. A gente precisa do viver para descansar dos sonhos.

Flores

Ninguém
oferece flores.

A flor,
em sua fugaz existência,
já é oferenda.

Talvez, alguém,
de amor,
se ofereça em flor.

Mas só a semente
oferece flores.

O destino o que é senão um
embriagado conduzido por um cego?

SER,PARECER


Entre o desejo de ser
e o receio de parecer
o tormento da hora cindida

Na desordem do sangue
a aventura de sermos nós
restitui-nos ao ser
que fazemos de conta que somos.

De que vale ter voz
se só quando não falo é que me entendem?
De que vale acordar
se o que vivo é menos do que o que sonhei?

(VERSOS DO MENINO QUE FAZIA VERSOS)

A nossa língua comum foi construída por laços antigos, tão antigos que por vezes lhes perdemos o rasto.

"Quando as teias da aranha se juntam, elas podem amarrar um leão”.

(Provérbio africano), em "A confissão da leoa", Lisboa: Editorial Caminho, 2012.)

Cada um descobre seu anjo tendo relação com o demónio

Esperto é o mar que, em vez da briga, prefere abraçar o rochedo.

O sonho é o olho da vida.

Uns nasceram para cantar, outros para dançar, outros nasceram simplesmente para serem outros.

Mia Couto
No livro: Antes de Nascer o Mundo

Não fomos feitos para caber numa receita puritana encomendada para domesticar e padronizar o mundo. O discurso do politicamente correto é um crime contra as nossas nações, contra originalidade e a diversidade dos nossos povos.
(na Conferência do Fronteiras do Pensamento 2012)

Quero morar numa cidade onde se sonha com chuva. Num mundo onde chover é a maior felicidade. E onde todos chovemos.

Horário do Fim

morre-se nada
quando chega a vez

é só um solavanco
na estrada por onde já não vamos

morre-se tudo
quando não é o justo momento

e não é nunca
esse momento

Quem vive num labirinto, tem fome de caminhos.

Injustiça é o mundo prosseguir assim mesmo quando desaparece quem mais amamos.

Nocturnamente

Nocturnamente te construo
para que sejas palavra do meu corpo

Peito que em mim respira
olhar em que me despojo
na rouquidão da tua carne
me inicio
me anuncio
e me denuncio

Sabes agora para o que venho
e por isso me desconheces