Mensagens de Fernando Pessoa

Cerca de 782 mensagens de Fernando Pessoa

Se algum dia alguém deixasse de me achar ridículo, eu entristecia ao conhecer-me, por esse sinal objectivo, em decadência mental.

Fernando Pessoa
Aforismos e afins. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

A coragem que vence o medo tem mais elementos de grandeza que aquela que o não tem. Uma começa interiormente; outra é puramente exterior. A última faz frente ao perigo; a primeira faz frente, antes de tudo, ao próprio temor dentro da sua alma.

Fernando Pessoa
Aforismos e afins. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

As ideias são prodigiosas — elas e a maneira como se associam. Num momento, descobrimos que atravessámos o mundo, e que transpusemos o infinito entre dois pensamentos.

Quem escreve para obter o supérfluo como se escrevesse para obter o necessário, escreve ainda pior do que se para obter apenas o necessário escrevesse.

Fernando Pessoa
Aforismos e afins. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

Toda beleza é um sonho, ainda que exista. Porque a beleza é sempre mais do que é.

⁠Os paquetes que entram de manhã na barra
Trazem aos meus olhos consigo
O mistério alegre e triste de quem chega e parte.

Não, não é cansaço...
É uma quantidade de desilusão
Que se me entranha na espécie de pensar,
É um domingo às avessas
Do sentimento,
Um feriado passado no abismo...

Fernando Pessoa
Poesias de Álvaro de Campos. Lisboa: Ática, 1944.

Nota: Trecho do poema Não, não é cansaço...

...Mais

⁠⁠⁠⁠Há dias de tanta angústia
Que não sei do que ela é.
Não sei se me sobra o sonho.
Não sei se me falta a Fé.

É uma angústia que nasce,
Como de um solo, de mim,
Que parece ser eu todo
Com razão de ser assim.

E esmaga-me toda a alma,
Confunde todo o meu ser
E tudo gira em meu torno
Sem eu o compreender.

Mágoa como um portão velho,
Ferrugem da quinta em fim,
É uma angústia que cai,
Como num solo, por mim…

Querer entender o que o outro sente é discordar dele,sentir o que o outro sente,é ser o outro...E ser o outro é de grande importância metafísica .

Inserida por secarval

O TEU SILÊNCIO é uma embarcação com todas as velas pandas...
Brandas as brisas brincam nas flâmulas,teu sorriso...
E o teu sorriso no teu silêncio á as escadas e as andas
Com que me finjo mais alto e ao pé de qualquer paraíso...

Inserida por secarval

Mas talvez não chegar queira dizer que há outra estrada que achar,certa estrada que está,como quando da festa se esquece quem lá está

Inserida por Danilomatarazzo

Sábio é o que se contenta com o espectáculo do mundo,
E ao beber nem recorda
Que já bebeu na vida,
Para quem tudo é novo
E imarcescível sempre.

Coroem-no pâmpanos. ou heras. ou rosas volúveis,
Ele sabe que a vida
Passa por ele e tanto
Corta a flor como a ele
De Átropos a tesoura.

Mas ele sabe fazer que a cor do vinho esconda isto,
Que o seu sabor orgíaco
Apague o gosto ás horas,
Como a uma voz chorando
O passar das bacantes.

E ele espera, contente quase e bebedor tranquilo,
E apenas desejando
Num desejo mal tido
Que a abominável onda
O não molhe tão cedo.

Fernando Pessoa
PESSOA, F. Odes de Ricardo Reis. Lisboa: Ática. 1946 (imp.1994). P. 32
Inserida por pensador

Nunca Aprendi a ExistirTenho as opiniões desmentidas, as crenças mais diversas - É que nunca penso nem falo nem ajo... Pensa, fala, age por mim sempre um sonho qualquer meu em que me encarno no momento.
Vem a fala e falo-eu-outro. De meu, só sinto uma incapacidade enorme, um vácuo imenso, uma incompetência ante tudo o que é a vida. Não sei os gestos a acto nenhum real.
Nunca aprendi a existir.

Fernando Pessoa, 'Inéditos'

Inserida por Nickdim

Dorme sobre o meu seio.
Sonhando de sonhar...
No teu olhar eu leio
Um lúbrico vagar.
Dorme no sonho de existir
E na ilusão de amar.

Tudo é nada, e tudo
Um sonho finge ser
O espaço negro é mudo.
Dorme, e, ao adormecer,
Saibas do coração sorrir
Sorrisos de esquecer.
Dorme sobre o meu seio,
Sem mágoa nem amor...

No teu olhar eu leio
O íntimo torpor
De quem conhece o nada-ser
De vida e gozo e dor.

Fernando Pessoa
PESSOA, F. Poesias. Lisboa: Ática. 1942 (15ª ed. 1995). p. 103
Inserida por pensador

Assim, sem nada feito e o por fazer

Assim, sem nada feito e o por fazer
Mal pensado, ou sonhado sem pensar,
Vejo os meus dias nulos decorrer,
E o cansaço de nada me aumentar.

Perdura, sim, como uma mocidade
Que a si mesma se sobrevive, a esperança,
Mas a mesma esperança o tédio invade,
E a mesma falsa mocidade cansa.

Tênue passar das horas sem proveito,
Leve correr dos dias sem ação,
Como a quem com saúde jaz no leito
Ou quem sempre se atrasa sem razão.

Vadio sem andar, meu ser inerte
Contempla-me, que esqueço de querer,
E a tarde exterior seu tédio verte
Sobre quem nada fez e nada quere.

Inútil vida, posta a um canto e ida
Sem que alguém nela fosse, nau sem mar,
Obra solentemente por ser lida,
Ah, deixem-se sonhar sem esperar!

Inserida por maisaalana

Estás só...
Estás só. Ninguém o sabe. Cala e finge.
Mas finge sem fingimento.
Nada esperes que em ti já não exista.
Cada um consigo é triste.
Tens sol, se há sol, ramos se ramos buscas.
Sorte se a sorte é dada.

Inserida por celestemiranda

Falaram-me em homens, em humanidade,
Mas eu nunca vi homens nem vi humanidade.
Vi vários homens assombrosamente diferentes entre si,
Cada um separado do outro por um espaço sem homens.

Inserida por Annelies

Abat-Jour

A lâmpada acesa
(Outrem a acendeu)
Baixa uma beleza

Sobre o chão que é meu.
No quarto deserto
Salvo o meu sonhar,
Faz no chão incerto
Um círculo a ondear.

E entre a sombra e a luz
Que oscila no chão
Meu sonho conduz
Minha inatenção.

Bem sei... Era dia
E longe de aqui...
Quanto me sorria
O que nunca vi!

E no quarto silente
Com a luz a ondear
Deixei vagamente
Até de sonhar...

Inserida por MERRAH

Fernando Pessoa
Cancioneiro

Tomamos a Vila depois de um Intenso Bombardeamento

A criança loura
Jaz no meio da rua.
Tem as tripas de fora
E por uma corda sua
Um comboio que ignora.

A cara está um feixe
De sangue e de nada.
Luz um pequeno peixe
— Dos que bóiam nas banheiras —
À beira da estrada.

Cai sobre a estrada o escuro.
Longe, ainda uma luz doura
A criação do futuro...

E o da criança loura?

Inserida por MERRAH

Quadras

Morto hei de estar ao teu lado
sem o sentir nem saber
mesmo assim isso me basta
para ver um bem em morrer

Quando passo o dia inteiro
sem ver o meu amorzinho
corre um frio de janeiro
no junho do meu carinho

Teus olhos tristes parados
coisa nenhuma a fitar
ah meu amor,meu amor
se eu fora nenhum lugar

Adivinhei o que pensas
só por saber que não era
qualquer das coisas imensas
que a minha alma de ti espera

Inserida por juanaigatu

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