Memória
"Quanto mais ela pensava em esquecer, mais se lembrava." - Um Dia de Chuva, conto de Contrônicas: Histórias Amorfas de Quarentena (CHADQ).
"Não subestime o poder de apenas uma flor. Ela pode alegrar um dia, inspirar um poema, despertar uma memória ou simbolizar um amor."
O que você viveu ou aprendeu, será sempre seu!
Isto, ninguém te rouba, pois o cofre será a sua memória.
Ela queria bater com os pés e gritar e falar bem alto, comer até ter um metro e oitenta de altura e depois fugir.
O QUE CEROL DE NÓS?
Eu, menino, mirinzinho ainda, voinha me levou para conhecer o Rio de Janeiro.
A gente ficou no bairro de Duque de Caxias, na casa de uma amiga dela, D. Arcanja, que aliás fazia jus ao nome (e sobre quem no futuro contarei algo).
Ocorre que fiquei na frente da casa vendo os meninos empinarem arraias naquela rua de barro.
De repente, um monte de carioquinha veio correndo em minha direção, e - súbito - uma pipa caiu no meu colo.
Tentaram tomar de mim. Aí segurei a arraia com cara de medo e gritei:
- Oxe, oxe, oxe, oxe! Nada! É minha!!!
Aí um deles falou:
- Vc é baiano?
- Sou!
- Oi! Eu sou Arimam!
- Luís.
- A gente vai te liberar, baiano, mas vc vai ter que empinar essa arraia!
Nos dias seguintes, fiquei vendo os meninos temperando a linha - o cerol - para a batalha aérea que aconteceria no dia outro.
Era fascinante ver a algazarra mitológica que a gurizada empolgada fazia. E, quando uma linha era cortada, pequenos troianos fluminenses corriam para ver quem pegava o prêmio. Uma espécie de alegre agressividade coloria o evento... Rsrsrs
Eu não tinha linha nem aprendi a receita do tal cerol. Mal sabia empinar, a não ser o meu nariz, como blefe de valentia (rsrsrs). Então, numa atitude criativa e desesperada (às vezes o desespero é um start para a criatividade...), fui catando um monte de resto de linha velha que via pelo caminho, fui remendando uma na outra e fiz o meu carretel "frankenstein".
Na véspera do retorno à minha Bahia, fiz a arraia ganhar o espaço com as linhas de bagaço.
Arimam já era o meu melhor amigo e me orientava no combate espacial.
- Vai, baiano! Vai, baiano! Puxa! Solta! Vai!!!
Os outros davam risada, pois entendiam que linha remendada, velha, usada, desgastada não garante nada.
Eles entenderam errado...
Consegui cortar a arraia dos meninos da outra rua!
Fui carregado como herói da meninada!
No dia seguinte, a despedida... Ia chover, mas Arimam desenhou um sol no meio da rua de barro... As nuvens respeitaram a majestade solar...
Todos fizeram uma vaquinha e compraram geladinho com broa de milho. Foi uma das melhores festas da minha vida.
Voltei à minha Bahia com a minha voinha.
Isso aconteceu há 39 anos...
Hj não mais menino, lembro essa história e percebo que minha vida é um carretel de linhas remendadas cuja arraia ainda está no céu...
Ainda está no céu...
Sobre o que virá depois?
Não sei mais nada.
A única certeza é que, embora forte e imprevisível, chegará a hora em que a linha será cortada...
E eu correrei em alguma rua do infinito da memória com a meninada.
Obrigado, Arimam!
O sorriso que se perdeu no mato
a cultura que se perdeu no aço
tudo que sobrou está em pequenos traços,
cidades,
ruas,
passado.
Indagação
E se todas as matas tombarem.
Todas as águas turvarem-se de fel e cinzas.
Todas as nuvens perderem o céu.
Se a terra for pisada pelo fogo,
E a lua, o sol, o vento, não mais encontrarem os homens.
Quando não mais amanhecer a natureza da vida,
Qual o dia que ficará, para os que perderam a memória do mundo?
Ele costumava dizer que seu pai era o sol depois que o sol se foi e, todos esses anos depois, ainda acho que essa é a melhor descrição que já ouvi.
Enxergar com outros olhos...
Quem consegue enxergar diferente,
vai prestar atenção para sempre!...
-- josecerejeirafontes
↠ Mexerico ↞
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Conte-nos uma estória
que faça dar uma risada,
ou uma trajetória
que fujas de uma grande cilada.
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Conte-nos uma mentira,
daquelas bem descabidas
com ares que nunca existira,
a perspicácia de pessoas sabidas.
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Conte-nos uma memória
que mude a realidade,
um fato que une a história
a futura oportunidade.
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Então, conte-nos uma verdade
que torne o humano melhor,
ou justifica a esta sociedade
ao mundo, lições de valor.
Noite pra ficar
Na voz
Sempre pra lembrar
De nós
Pôr do sol em Salvador
Clareando amanhãs
Noutro lugar
Se você foi amado, se deu aos outros felicidade ou esperança, inevitavelmente haverá alguém, no dia de sua morte, para fechar seus olhos. Alguém para reunir seus amigos, organizar uma vigília e se cercar de suas melhores lembranças.
O que há de mais maravilhoso em minha avó, entre tantas coisas maravilhosas, é que tudo é sempre igual.