Machado de Assis Contos Curtos Saudades

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⁠VAMOS

Anda, linda,
Vamos por aí,
Tu comigo e eu sem ti,
Mais ou menos lado a lado,
Mostrar as cores
Das flores
Que tens
E reténs
Nos anelos
Das pétalas dos teus cabelos.

Vamos descobrir o mistério
Flor linda
Do meu refrigério,
Ainda
Segredo do meu ermitério.

Encosta-te a mim,
Na comunhão do cheiro
Inebriante,
Contagiante,
Que têm as flores
Dos meus amores,
No jardim do cemitério.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 23-03-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠OBSOLESCÊNCIA

Por antiquado me achar,
Deixei-me ir
E deitei-me ao rio
Frio
Dos frustrados,
Por não saber amar.

O ir, é quase uma ciência
De esquecer o que nunca é de vir,
Como obsolescência
De ao defecar, sentir.

O rir,
Pela grossa asneira
De querer meter
Sem jeito ou maneira
Um parafuso
Difuso,
Numa racha estreita
Feita
Mártir sem saber
O motivo
Do seu castigo,
Por sofrer
Em grito amargo,
O não ter
Em si, um largo
Mais largo.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 24-03-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠ÁRVORE SECA

Ao vê-la, estarreci.
Ainda ontem
Do antes de ontem
De há três dias,
Eu vi-a;
Parecia-me salva
À luz da alva,
Daquele passado dia.

Hoje, mesmo agora,
Olhei lá fora:
Estava já mirrada,
Seca, num esturricado
Como torresmo queimado.

Quis regá-la,
Refrescá-la,
No pé do tronco a morrer.

Só então me lembrei
E pelo que sei,
Não adianta em desnorte,
Querer vencer
Sem poder,
Aquilo que já é morte!

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 02-04-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠O GRITO

Ouvia-se o grito.
Na noite do vendaval,
Duma garganta, saía aflito
O ronco de algum mortal.

Terrífico
Horrífico,
Que entrava pela janela
Fechada pelo medo
De entrar nela,
Mau credo ou até bruxedo.

O vendaval amainou.
O grito parou.
Aberta a janela,
Ao perto, à luz da vela:
Era uma voz de fome,
Um homem sem nome,
Sem idade de vida ou ser,
Que só pedia a esmola do comer.

(Carlos De Castro, In Há Um Livro Por Escrever, em 03-04-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

NOSTALGIA

⁠Cai em mim uma nostalgia,
Sem eu a ter pedido no tempo.

É assim como uma melancolia,
Uma tristeza vaga,
Que não se apaga
No momento.

Que vida.
Que tempo.

Que amargura dura
E tão escura
Havia de me assaltar.

Agora, que eu só queria
Tão pouco,
Para não entrar em louco,
Descansar,
Repousar,
Para aprender a sonhar...
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 04-04-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠ALMA SECA

Que interessa eu dizer
E ao mundo revelar,
Mostrar
O que me vai na alma,
Se não é isso que acalma
A minha sede de viver?

Se eu confessasse o que sinto,
Mesmo na pura verdade,
Dir-me-iam por bondade,
Ou por maldade -
Que minto!

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 06-04-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠DANÇAS DO VENTRE E OUTRAS EXCITAÇÕES

Era na noite avançada
Dos nossos tempos idos.
Aplicavas os teus fluídos
Nos requebros do teu ventre,
Em danças que a gente sente
Acordar libidos adormecidos.
Em lascívias
Óbvias
Do teu tronco,
Em sinais de púbis molhados
Nos negros caracóis
Fantasiados
Nos brancos lençóis,
Que depois da dança tua
De ventre
E de frente,
Fazíamos amor
Cansado
Mas sempre apetecido
Quando regurgitavam
Orgasmos,
Em espasmos
De loucura e dor.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 08-04-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠ESPINHO-MAR PÃO E
ÀS VEZES MAR CÃO

Como eu te amo, Espinho
Flor do mar
A brotar
Num lençol de verde linho
Nesta minha inquietude
Cravada na solicitude
Daquele botar
Do barco ao mar
A querer buscar
Algum peixe graúdo
Que os deuses
Por vezes,
Só te dão
Em ração
De pão
Miúdo.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 13-04-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

PERNAS

⁠Era nas tuas pernas
Macias
Morenas
Espelhando desejos
Que eu encostava a cabeça minha
Quando não tinha
Aconchego nem beijos.

Pernas não são eternas
Fraquejam
Perdem brilho
E cor.

Depois resta a saudade
De um tempo de ardor
Que alimentava o amor
Nas tuas pernas
Fraternas
Quentes
Que guardavam cavernas
Ferventes
Ardentes
No tição
Da paixão.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 15-04-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠POEMA LAMENTO

Um mau poema
Sem tema
Alcance ou lema,
É tudo o que te posso dar.

Não sei mais.

Ela não quer nada comigo
E como castigo...

Também não quero ir mais longe
Não quero levar vida de monge
Porque monge
Sem capuz,
Já o sou nesta minha cruz.

Não pretendo nome
Ou cognome,
Estejam descansados
Para vosso bem.

Se o quisesse, alcançaria
Mesmo da noite para o dia!

Um bom poema
Para minha pena
Mas sem vontade de chorar,
É coisa que não te posso dar.

Lamento!

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 22-04-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠O PÓS E O PRÉ

Lembro-me ainda de quando era velho
A cair de podre.
O ventre saído desmesurado
Expelido
Inchado
Como que a rebentar
A bomba fatal
Tal odre
Que estoura
Em excessos
Possessos
De processos
De químicas
De álcool com salmoura.

Menino, agora, já sou outra vez.
Com pés a caminho da cova,
Voltarei ao pó
Pó, pó, pó, pó
E cinza adubada.

Vou tornar a ser
Um novo ser
A nascer,
Não demora nada.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 22-04-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠LUZ

Que luz
Que tão tarde
Queres brilhar
Como fogueira que não arde
Na minha escura vida
Que até se me não engana
A amargura invertida,
Nunca soube que existias.

Falso reflexo
A querer alumiar
O meu espelho convexo
Em teus remorsos
Por expiar,
Nos meus derradeiros dias.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 29-04-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠VADE RETRO SATANÁS

Vade!
Afasta-te de mim, Satanás
E se não fores capaz,
Eu levo-te à Boca do Inferno
Aquele penedo eterno
Que na história e nos anais
Fica ali na Guia de Cascais
Ao sul deste Portugal profundo
Que ainda crê no Demo
Do inferno extremo
Do outro lado do mundo.

Ó diacho!

Não é preciso ir mais longe…

Empurro-te daquele penedo abaixo
E cais no oceano em chamas
Onde proclamas
Não seres demónio mas monge.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 30-04-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

TALVEZ AMANHÃ ONTEM

Talvez…
Eu te conte o que não soube
Dizer-te
Ontem
Por causa das tuas
Palavras cruas,
Como pedras das ruas
Geladas
Que me atiravas
Sem dó nem piedade.

Talvez…
Amanhã eu não te saiba
Dizer nada
Porque nada sei
Do que soube
Ontem,
Que já era hoje
De madrugada.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 01-05-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠QUEIMADURAS

Queimei o meu cerebelo
Que fica por debaixo de algum cabelo
Que me resta
Do pescoço à testa
Na formação córnea do elemento
Que me trazia discernimento.

Crestei-o,
Chamusquei-o
Em pensamentos brutais,
Que me estarreceram
E embruteceram
No mais horrível dos mortais.

Jurei então nunca mais
Agora ou em qualquer altura,
Dar uma razão de soltura
E voltar a incendiar
O meu cerebelo
Num fogo feito flagelo
Sem ter quem o possa apagar.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 20-05-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

PÁSSARO LIBERTADOR

⁠Na linha imaginária do horizonte,
Filtrada pelo sol já passageiro,
Vejo um vulto, asa de anjo
Que me chora logo defronte
A esta janela do meu derradeiro
Olhar cativo no monte
Do meu penar,
Sem te poder mais amar.

Anda, passarita Clara.
Com o teu bico de beijo,
Inicia-me no teu solfejo
E liberta-me desta amarra.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 27-05-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

JOGUETE

⁠Fui-o.
Nas tuas mãos pouco macias
Perfumadas das bruxarias
E senti-o.

Foste lançando o feitiço
Como bruxa que lança em derriço
Incenso aos lanços nas brasas
Que fazem faíscas
Ariscas, com que arrasas
A vontade de dizer, não!

E sem mais contemplação
De outro piedoso pensar,
Louca mulher, sem paixão
Nem vontade de se amar.

(Carlos Vieira De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 01-06-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

DITADOS

⁠E o ditado a dizer:
A cama que fizeres,
É aquela em que te vais deitar
E queira Deus que não vás penar...

Que sentença crua, de arrepiar!

Agora, digo eu, neste inocente pensar:
Mentira!
Fiz tantas camas na vida
Umas de pedras,
De pano e de ervas
E outras de sumaúma,
Mais macias que nenhuma.
Em todas descansei,
Amei
E gostei.

Só houve uma,
A de sumaúma,
Macia como nenhuma,
Onde não amei
E chorei.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 02-06-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠ESPERA DESESPERADA

Na velha gare esperei por ti;
Na esperança anunciada
De te ter como coisa amada
Naquilo que ao ganhar perdi.

Só depois é que vi
Que as estradas
E os carris das vidas
São feitos de tudos e nadas.

Nem sempre são retas desejadas
Para alcançar o sonho final,
Se não a mim e ao mundo
Vai um logro tão profundo,
Um medonho e abismal
Desígnio infernal
Nas encruzilhadas do mal.

Dessas, eu nunca me lembrei...
Por descuido me esqueci.
Agora, eu sei
Porque peno assim por ti.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 04-06-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

ALMA RELUZENTE

⁠Pensava ser eu uma alma reluzente.

Como tudo é tão diferente do pensado,
Quando num ápice repente
Recebo, vindo voando, ó gente!
Num escangalhado parapente,
Um anjo do Altíssimo Céu navegado,
Que me diz:

- Rapaz infeliz, sem alma reluzente,
Nunca te eleves, tem calma!
Para teres lustrosa alma,
Primeiro terás de ser gente
De construção hercúlea diferente,
Onde, de facto, o sonho habita.

E só depois,
Muito exigente,
É que a tua alma acende e grita!

(Carlos De Castro, in há Um Livro Por Escrever, em 15-06-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

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