Loucura Sã
A linha tênue entre sanidade e loucura perpassa pela história e se fundamenta em eixos complexos como a química(com seus psicotrópicos),a social (com suas desigualdades)e as ideologias raciais(com suas verdades impostas e suas convicções narcisistas)
A humanidade precisa do divã da psicanálise para se reconhecer,porém afunda-se cada vez mais em terapias fugazes,emergenciais, alimentadas pelo imediatismo dos psico-farmacos, alívios manipulados em forma de pílulas mágicas.
A grande onda depressiva que vem desolando a humanidade e cresce a cada ideologia ou aspirações frustradas é apenas tratada de forma paliativa, permitindo o controle da loucura e os esvaziamento dos manicômios,porém sem cura efetiva. Nesse intuito segue a humanidade a questionar-se do certo e do errado, e nunca obtendo resposta satisfatória para questões singulares como a capacidade de sobrevivência da humanidade e quais serão os povos futuros, quem sou não é mais a questão, a grande questão agora é quem serão.
Não sei onde deixei a sanidade. Não sei o que me serve, e nem onde convém. Na extrema loucura do meu ser, onde tudo dorme, nada é presente, tudo se ausenta. Minha ditadura milenar, mar de ervas, chá queimando a garganta, ninguém lê o que se escreve entre as linhas da alma, ninguém se fixa na realidade. Ilusão a todo instante, palavras correndo soltas por entre bocas sujas que dizem meu nome. Corre disperso e caia em meu colo raro, onde expressões faciais não se aceitam pela idade da vida, a vida se espanta, e eu morro por dentro.
Consigo distinguir a sanidade da loucura, à medida que vou conhecendo mais as pessoas, que pensam e pensam e não param, pensam sem se preocupar, o planeta necessita de pessoas que pensam.
O pouco que já provou de minha sanidade teve gosto de loucura?
Minha loucura pode ter gosto de uma sanidade nunca antes provada.
Deveria recitar Castro Alves, falar mais do meu amor, apresentar minha loucura a sua sanidade.
Eu poderia ser vaidoso mas na verdade eu sou um louco, bebo muito e durmo pouco.
A loucura é o primeiro passo para a sanidade, e se não formos um pouco loucos não saberemos o sabor dos frutos ao nosso redor.
Loucura ou sanidade. Saber o que somos e como somos são conjecturas que não se pode simplesmente perguntar a alguém, pois todos estão preocupados demais em agradar para darem um parecer honesto e sincero. Parece sensato assumir a sanidade, mas no fundo sabemos que apenas as pessoas loucas é que, da profundeza de suas mentes insanas, conseguem moldar o mundo e saborear a vida.
EU E O ESPELHO
Eu não sou ninguém
Nunca fui a loucura de nada,
Nem a sanidade também
Nem o início de um caminho
Ou mesmo a solidão da estrada...
Procurei-me por tanto tempo
e nada encontrei no velho espelho
É preciso rezar para me encontrar
E saber que existo seja lá em qualquer
tom e cor e lugar.
Eu sei, não sou nada além dessa loucura
De um espelho pendurado na parede
E a cada vez esse espelho envelhece
E outra face também em mim tece.
É preciso trocar-lhe a moldura!
O que é a loucura? Quem são os sãos? E onde ou com quem se encontra a sanidade?
14.04.2020 às 03: 20 h
Existem loucuras que vem para o mal da sanidade, assim como existe sanidades para o bem da loucura
