Jardim das Borboletas Vinicius de Moraes
Enquanto nos aprisionamos em nossas terras, as borboletas largam suas casas e criam asas à procura do amor
Borboletas e Rosas,
vidas de curta duração,
mas não se importam,
vivenciam cada ocasião,
são lindas e admiráveis
umas pela arte de camuflar-se
outras por seus suaves aromas
bravamente lutam incessantemente,
defendem-se com casulos
ou espinhos
até, finalmente, amadurecerem
e serem recompensadas,
as Rosas desabrocham
as Borboletas ganham asas
e assim vivem intensamente
as suas breves jornadas.
Os fantasmas se soltam do sótão
As borboletas e as flores da primavera somem,
As noites se alongam e o que é real
Além do que é real e além do que não é
Os loucos construíram o paraíso e criaram os deuses
Tentando entender a dor
Eu criei um hospício onde os loucos arremessam estrelas
Escorregam do arco-íris e voam com as borboletas
Sobre uma plantação de alfazema
Não quero nunca mais entender o amor,
Não devo nunca mais acreditar nos deuses;
E as manhãs, deverei vivê-las sempre,
Mesmo que sejam sempre só uma utopia
E amar com toda dor que eu suportar
E suportar a dor com todo amor do meu querer
Os deuses inventaram o amor
Os loucos inventaram os deuses
E eu invento eu mesmo pelos corredores de paredes úmidas
Dos que já choraram, ou pelos que, das esquinas sombrias
Contemplam a lua na ilusão do perfeito amor
DRAGÂO
Ela chega à noite, vendada e apreensiva,
Traz uma gaiola cheia de borboletas...
Pássaros pousam na sua cabeça...
Ela se deita e se entrega...
Eu sou um dragão de meio milênio
Soltando fogo pelas narinas,
Numa caverna úmida, fria e escura
Prestes a desabar...
Isso não pode dar certo... isso não pode dar certo...
Não respiro para não queimá-la
Não falo para não assustá-la
Não acaricio para não arranhá-la
Não abraço para não esmagá-la
Tenho a ternura de Lúcifer antes da queda,
Tenho a beleza de Lúcifer antes da vaidade
A caverna se enche de luz com gotas de diamantes,
As borboletas se soltam, os pássaros cantam...
Ela está possuida, ela está possessa...
flutua sobre asas de cardeais e cacatuas,
Delira num sétimo céu, mas continua vendada...
Isso me arranha, isso me queima, isso me esmaga...
Mas eu suporto, eu sou o dragão...
Evoluir dói. Dói muito. Mas, no final das contas, como seremos borboletas se não passarmos por metamorfoses?
Pensamentos são borboletas. Voam, voam, voam, até encontrar pouso. Imaginam, imaginam, até ir além da própria imaginação. Navegam, navegam, em águas revoltas e atracam no melhor porto que encontrar.
Lembrando delas,
das borboletas grávidas
e todas chilenas,...
nostalgia dolorosa
e sul-americana;
entrego a minha vida
nas tuas sedosas mãos
para acalmar a minha
mente e não deixar
que furtem a lucidez,
pois vocês bem sabem
de quais pessoas que
me refiro e que têm
por hábito fazer pouco
do sofrimento passado.
Que me custe a vida
e cada sílaba aqui dita
nesta Pátria distraída
em zelar por si mesma,
Desta vergonha eu
jamais irei morrer:
o quê pude rogar
para saber a verdade
sobre a Amazônia
incendiada,
falei o quanto pude.
Desta vergonha eu
jamais irei morrer:
o quê pude
lutar por cada
irmão indígena
que esteve ao
meu alcance
nunca me neguei,
a minha vida arrisquei
e jamais desistirei.
Desta vergonha eu
jamais irei morrer:
o quê eu pude fazer
para manter
a consciência pátria,
sempre farei
até o meu
último dia de vida.
Desta vergonha eu
jamais irei morrer
de ter sido omissa
pelos filhos de Bolívar:
pela tropa e o General
que foi preso inocente
jamais deixarei
de pedir a libertação,
e até pelos
Comissários transferidos
para Ramo Verde
também peço
do inferno a salvação.
Não há noite escura
a vida inteira que dure
muito tempo nem
dentro de um poema.
Sobrevoam
as borboletas
monarcas
nos campos
da América
profunda,
És o ilustre
habitante
do meu peito,
Nascemos feitos
um para o outro:
para viver unidos
o amor perfeito.
Na minh'alma
estão os sinais
do amor, paixão
e liberdade:
que dão força
para resistir
a tempestade,
Dizer não
ao totalitarismo
e espalhar
a paz pelo mundo.
Os ciclos da Lua
que o agricultor
é o doutor
em excelência
a reverenciar
e cultivar
a sobrevivência,
É nele que
busco a mais
alta referência;
Afinal, a vida
em geral
pede de nós
muita paciência:
E no campo
do amor
especialmente
para que não
desocupe o meu
coração e a mente.
Na Lua Cheia que
ultrapassa a noite
e vai alcançando
o alvorecer do dia,
com as borboletas
noturnas no trajeto
rumo ao trabalho
a encantar sublime
operários e artistas.
Para quem deseja
vencer a guerra
é preciso ter entrega
e amor na Terra;
trazendo na pele
os poemas dos povos
sob a luz da Lua
em busca da profunda
e eterna Primavera.
Na Lua Cheia que
alinhada a poesia
que romântica veio
me pegar pela mão,
devoto a amável
e renovável devoção;
mesmo que em mim
você não creia,
assumo que te quero
aqui colado comigo
e sem devolução.
Pegar carona junto
com uma Monarca,
encontrar outras borboletas
durante a nossa rota
e ter a sorte possível de encontrar
o seu amor sem destino de volta.
