Jardim das Borboletas Vinicius de Moraes
Ó madrugada, tardas tanto... Vem...
Vem, inutilmente,
Trazer-me outro dia igual a este, a ser seguido por outra noite igual a esta...
Vem trazer-me a alegria dessa esperança triste,
Porque sempre és alegre, e sempre trazes esperanças,
Segundo a velha literatura das sensações.
Vem, traz a esperança, vem, traz a esperança.
Ora, meu filho, o desespero é o resultado de uma visão errada da vida. Pare e pense. Erga a cabeça, que ela não foi feita apenas para ficar cheia de miolos, não. Pense, organize os seus pensamentos. Reorganize a sua vida e continue andando. Mesmo devagarzinho, ande. Não se permita ficar parado. Deus abençoa, mas é preciso ter coragem para a maior experiência do mundo - que é viver. Sempre há uma solução. Não existe dor, sofrimento ou mal que não tragam o seu ensinamento; não há problema que não tenha a resposta certa da vida.
Se uma águia fende os ares e arrebata
esse que é forma pura e que é suspiro
de terrenas delícias combinadas;
e se essa forma pura, degradando-se,
mais perfeita se eleva, pois atinge
a tortura do embate, no arremate
de uma exaustão suavíssima, tributo
com que se paga o vôo mais cortante;
se, por amor de uma ave, ei-la recusa
o pasto natural aberto aos homens,
e pela via hermética e defesa
vai demandando o cândido alimento
que a alma faminta implora até o extremo;
se esses raptos terríveis se repetem
já nos campos e já pelas noturnas
portas de pérola dúbia das boates;
e se há no beijo estéril um soluço
esquivo e refolhado, cinza em núpcias,
e tudo é triste sob o céu flamante
(que o pecado cristão, ora jungido
ao mistério pagão, mais o alanceia),
baixemos nossos olhos ao desígnio
da natureza ambígua e reticente:
ela tece, dobrando-lhe o amargor,
outra forma de amar no acerbo amor.
Existiram dois grandes "de Moraes", Antônio Ermírio de Moraes e Vinícius de Moraes.
Antagônicos, ambos estavam certos! Cada qual com sua forma de ver o mundo!
O nome dele era Vinicius, mas não era Vinicius de Moraes e nem qualquer outro Vinicius.
Ele foi meu primeiro amor. Nunca foi a primeira pessoas que eu gostei. Mas amar, amar, o ato de sentir amor, de dizer amar, de estar apaixonada, Isso foi só com ele.
Tudo com ele era mais perfeito, os risos mais verdadeiros, as alegrias mais intensas. O sorriso dele, tinha doçura, leveza, simplicidade, alegria que me alegrava. Ao sorrir seus olhos quase se fechavam. E seus olhos tinham um brilho, mas um brilho próprio, brilho que me fazia lembrar as estrelas. Mas como ? Se nem mesmo as estrelas brilhavam tanto ? E seu beijo, a seu beijo... Não comparo a nenhum outro, era perfeito.
Só sei que foi meu primeiro amor, ou ainda é. Não sei dizer ao certo.
Como se fosse Vinicius de Moraes
''Paris, outono de 73...
Das tardes tristes
E de insanos amores
Recordo-me, apenas,
De tais ardores.
Vagando triste,
Sobre cascalhos,
Folhas secas, isoladas,
Nas tardes frias, ensolaradas
De Paris.
É!
Quem é poeta traz no sangue
O leve gosto da verdadeira
Poesia;
Poesia, aquela,
Que fala da mulher,
Que fala dos sonhos e
'Rubores' de uma
Ardente paixão
Clamada dos bares,
Nas avenidas,
Ou vinda da boca
De um homem só
Em uma praça qualquer.
Dos lugares que passei,
Saudosa Paris,
Hei de me recordar!
Mas sem me esquecer
Da Pátria Mãe Gentil,
De palmeiras, tão sutil,
De favelas, mares, rios.
O verdadeiro poeta não fecha
Uma poesia sem se despedir
Como tal;
Deixando saudades,
Falando aos camaradas
E fechando a corrente de fé.
Assim vou voltando
Em minha nova parceria,
Ainda falando da beleza,
Da mulher e das flores.
Mais uma despedida,
Talvez, sendo esta,
A despedida derradeira,
Despedida de um outono triste,
Aquele outono
Mais de recordações
Verdes e amarelas
Do que outra coisa qualquer.
Pois é!
Como brasileirão,
Em terra estrangeira,
Faço de minha partida
Um contratempo,
Tendo em vista o novo céu,
As novas flores,
E a beleza feminina
Tomada daquela arte angelical.
Findando, então, o sobrenatural
Nada melhor nesta hora
Do que dizer:
Prato principal para brasileiro
Que beija a camisa,
É boa música!''
Certa vez ouvi de um pupilo de Vinicius de Moraes um poema tão comovente e na última estrofe ele dizia: "...E peço as nuvens para chorar." E pensei... "Ah, quem me dera se elas chorassem por mim também..."
Vinicius de Moraes
Dá-lhe poetinha
não temendo essa vidinha
cheio de amores
sem problemas com pudores
sem arrependimentos
uma viagem de casamentos.
Sedutor da palavra
Escritor que lavra
Apreciador de lirismos
Vida sem modismos
Conquistador de sentimentos
Encantador de pensamentos.
Amante da arte
Diplomata aparte
Dramaturgo e jornalista
Compositor e poeta,
Boêmio de sonetos
Fumante de intentos.
Vivendo sob a paixão
Tudo com muita emoção
Toma uísque de flores
Aprende com as dores
Eterno em todos momentos
Efêmero nos sofrimentos.
Realiza uma doce mistura
De teatro, cinema, música e literatura
De nada afeta
Caminha entre o mistério, a paixão e a morte
Ele sim foi poeta,
Sonhou e amou na sua vida apaixonante!
“Contradigo Vinicius de Moraes, pois todas mulheres serão sempre belas e não há o que desculpar pois sempre serão fundamentais”.
O que Vinicius de Moraes cantaria em acalanto a Darlene Glória
Aqui em Paris vê-se as folhas de outonos caídas ao chão, e quando muda a estação entrando o inverno, já é verão na terra de Tupinambá. Terra de viçosas palmeiras onde deixei à espera a minha eterna Ipanema, onde todos os casais, encontram-se, em êxtase constante, apaixonados, assustados, entrevados, ao medo de serem exilados. Nos jazigos empoeirados dos seus mortos inocentes, as poeiras se afastam dando espaço para o sol sair da sua nascente, adorando a mulher amante, ofegante! E os meus olhos marejados passeiam na vontade de amar o solo fértil da minha terra brasileira com a sua música faceira. O samba das brancas, da moreninha, da loura e da pretinha! É, Toquinho, meu camarada! Vejo quase distante, à paisana, com a sua beleza estonteante, musa feminina, quase angelical, em sua glória magistral. Bem apessoada essa mocinha chamada Darlene Glória! Furacão! Estrela do mais novo cinema nacional.
Tonzinho, querido, peça ao Baden que soletre em acordes a poesia da mulher amada!
Glorinha, bonitinha, as suas mãos pequeninas cabem em minhas mãos que hoje estão tão sós escrevendo versos aos amigos queridos.
Filha minha, creio que por aí esteja difícil de passar A banda do Chico... E aqui, visto-me em saudade!
Tão logo retorno ao Brasil, mas antes, conte-me da sua arte.
Ele lê Carpinejar, eu leio Vinicius de Moraes. Na verdade, ele nem é de ler. Lê quando não tem nada pra fazer e quer falar bonito no facebook, parafraseando, sonetando distante. Longe de ser o cara que eu sonho. Mas sonhar pra quê? Se eu viajo vendo ele falar sobre as teorias de Newton e questionar o cálculo da curva da parábola. E falar sobre a mecânica dos fluídos do equilíbrio estático estudado pela hidrostática. É bonito que só o jeito que ele fala. Quando fala, porque é de poucas palavras. E eu entendo, ou quase, porque ele é irritantemente mais inteligente. E eu nem sou de rasgar seda pra ninguém. Demorou um tempo pra eu admitir que ele é realmente tudo isso que eu to falando. E ele é. O rapaz tem 46 cromossomos sozinho. Ainda por cima trata bem a mãe, a avó e todas as mulheres da família dele. Minha mãe diz que homem assim dá bom marido. Mas não é príncipe encantado, não. Fala grosso, fala alto, olha feio, puxa pelo braço. Tem atitude, chama responsabilidade, admite quando erra (e erra muito). Coisa de homem em extinção. É o baixinho mais invocado que eu já conheci. Às vezes me dá medo, porque gente quieta demais é perigosa. Ele é fogo, e eu sou pólvora negra. A gente se explode. E não é de "pegar fogo" no sentido poético da coisa, é de tiro trocado mesmo. Toma lá dá cá. E ele do alto da sua serenidade, fica todo irritadinho quando eu falo com sarcasmo e cheia de mistério que tenho meus segredos também. Fala que no começo gostou do meu jeito discreta e séria; pra dentro, um pouco indiferente, com ar de quem apronta. Mas foi só no começo. Enquanto se mostrava, esqueceu que eu era igual. Um pouco menos, é verdade. Menos inteligente, menos cromossomos, menos homem, mas igual. E enquanto ele lida com a ideia, eu to em outra. Porque ele parece o homem perfeito, mas tem uma fraqueza. Todo mundo tem, eu sei. Mas eu descobri a dele. Me senti meio Dalila cortando o cabelo de Sansão.
"Essa mulher é um mundo!"
Escreverá outrora Vinicius de Moraes.
A vida lá fora não se comparava ao que havia dentro de Maria.
Um turbilhão de sentimentos, pensamentos, dúvidas, certezas.
Nada que não parti-se de si mesma.
Coisa que só ela poderia construir... ou destruir.
Ela tinha o mundo em suas mãos.
E mesmo que o dono do destino resolve-se lhe afrontar,
Este como um bom moço, cederia aos seus encantos.
Dez coisas que aprendi com o poetinha camarada, Vinicius de Moraes:
1) A coisa mais divina que há no mundo é viver cada segundo como nunca mais.
2) Ando onde há espaço: – Meu tempo é quando.
3) Que seja infinito em quanto dure.
4) A vida só se dá pra quem se deu.
5) A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida.
6) Críticos são sujeitos que têm mau hálito no pensamento.
7) Quem já passou por essa vida e não viveu, pode ser mais, mas sabe menos do que eu.
8) A maior solidão é a do ser que não ama. A maior solidão é a dor do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana.
9) Quem de dentro de si não sai, vai morrer sem amar ninguém.
10) Amar é querer estar perto, se longe; e mais perto, se perto.
