Indiretas de amor: demonstre interesse com sutileza đ
Declaração de amor
Tentei dizer o quanto te amava, aquela vez,
baixinho, mas havia uma grande berreira,
um enorme burburinho e, pensado bem,
o berçårio não era o melhor lugar.
VocĂȘ de fraldas, uma graça, e eu pelado lado a lado,
cada um recĂ©m-chegado, vocĂȘ sem saber ouvir,
eu sem saber falar.
Tentei de novo, lembro-me bem, na escola.
Um PS no bilhete pedindo cola interceptado
pela professora como um gaviĂŁo.
Fui parar na sala da diretora e depois na rua
enquanto vocĂȘ, compreensivelmente, ficou na sua.
A vida Ă© curta, longa Ă© a paixĂŁo.
Numa festinha, ah, nossas festinhas, disse tudo:
"Eu te adoro, te venero, na tua frente fico mudo"
E vocĂȘ nĂŁo disse nada. E vocĂȘ nĂŁo disse nada.
SĂł mais tarde, de ressaca, atinei.
Cheio de amor e Cuba,
me enganei e disse tudo para uma almofada.
Gravei, em vinte årvores, quarenta coraçÔes.
O teu nome, o meu, flechas e palpitaçÔes:
No mal-me-quer, bem-me-quer, dizimei jardins.
Resultado: sou persona pouco grata corrido a gritos de
"Mata! Mata!" por conservacionistas, ecĂłlogos e afins.
Recorri, em desespero, ao gesto obsoleto:
"Se não me segurarem faço um soneto"
E não é que fiz, e até com boas rimas?
VocĂȘ nĂŁo leu, e nem sequer ficou sabendo.
Continuo inédito e por teu amor sofrendo.
Mas fui premiado num concurso em Minas.
Comecei a escrever com pincel e piche num muro branco,
o asseio que se lixe, todo o meu amor para a tua ciĂȘncia.
Fui preso, aos socos, e fichado.
Dias e mais dias interrogado:
era PC < PC do B ou alguma dissidĂȘncia?
Te escrevi com lĂĄgrimas, sangue, suor e mel
(vocĂȘ devia ver o estado do papel)
uma carta longa, linda e passional.
De resposta nem uma cartinha
nem um cartĂŁo, nem uma linha!
VĂĄ se confiar no Correio Nacional.
Com uma serenata, sim, uma serenata
como nos tempos da Cabocla Ingrata me declararia,
respeitando a métrica.
Ardor, tenor, a calçada enluarada...
havia tudo sob a tua sacada
menos tomada para guitarra elétrica.
Decidi, entĂŁo, botar a maior banca no
céu escrever com fumaça branca:
"Te amo, assinado..." e meu nome bem legĂvel.
JĂĄ tinha aviĂŁo, coragem, brevĂȘ tudo para
impressionar vocĂȘ, mas veio a crise, faltou o combustĂvel.
Ontem vocĂȘ me emprestou seu ouvido e na discoteca,
em meio do alarido, despejei meu coração.
Falei da devoção hĂĄ anos entalada e vocĂȘ
disse "eu nĂŁo escuto nada".
Curta Ă© a vida, longa Ă© a paixĂŁo.
Na velhice, num asilo, lado a lado em meio a um silĂȘncio
abençoado direi o que sinto, meu bem.
O meu Ășnico medo Ă© que entĂŁo, empinando a orelha com a
mĂŁo, vocĂȘ me responda sĂł: "Heim?"
Mais fundamental que o amor Ă© a liberdade! A liberdade Ă© o alimento do amor!
O amor Ă© pĂĄssaro que nĂŁo vive em gaiola! Basta engaiolĂĄ-lo para que ele morra!
Ter ciĂșme Ă© reconhecer a liberdade do amor!
O desejo de liberdade Ă© mais forte que a paixĂŁo!
PĂĄssaro eu nĂŁo amaria quem me cortasse as asas!
Barco eu nĂŁo amaria quem me amarrasse no cais!
Sinto o teu carinho chegando até mim com a luz das estrelas. O calor do teu amor chegando com a luz do Sol. E isso faz eu me sentir feliz e leve como a brisa.
Toada do Amor
E o amor sempre nessa toada!
briga perdoa perdoa briga.
NĂŁo se deve xingar a vida,
a gente vive, depois esquece.
SĂł o amor volta para brigar,
para perdoar,
amor cachorro bandido trem.
Mas, se não fosse ele, também
que graça que a vida tinha?
Mariquita, dĂĄ cĂĄ o pito,
no teu pito estĂĄ o infinito.
Jamais peça para alguĂ©m amĂĄ-lo. Jamais peça para alguĂ©m admirĂĄ-lo. Amor, admiração, bem como respeito, sĂŁo construĂdos sem pressĂŁo, no solo insubstituĂvel da liberdade. SĂŁo frutos de imagens construĂdas nas janelas mais Ăntimas do inconsciente.
Conto De Fadas.
Eu trago-te nas mĂŁos o esquecimento
Das horas mĂĄs que tens vivido, Amor!
E para as tuas chagas o ungĂŒento
Com que sarei a minha prĂłpria dor.
Os meus gestos sĂŁo ondas de Sorrento...
Trago no nome as letras duma flor...
Foi dos meus olhos garços que um pintor
Tirou a luz para pintar o vento...
Dou-te o que tenho: o astro que dormita,
O manto dos crepĂșsculos da tarde,
O sol que Ă© de oiro, a onda que palpita.
Dou-te, comigo, o mundo que Deus fez!
Eu sou Aquela de quem tens saudade,
A princesa de conto: "Era uma vez..."
Aquele amor poderia ter me matado
Como mata centenas de mulheres por aĂ
Certos amores nĂŁo passam
De uma bomba a ser desativada a tempo
Imenso amor? Imenso amor, paixão violenta (...), acrescentando que talvez a definição jå não coubesse bem ao atual sentimento da pessoa. Agora era uma adoração quieta e calada.
Eu te amo independente do amor. Eu te amo quando considerar errado amar. Eu te amo quando for proibido, quando me deixarem, quando vocĂȘ quiser e principalmente quando nĂŁo quiser e precisar. Quem sabe vocĂȘ precise do meu amor tanto quanto eu preciso te amar.
O amor é o sentimento dos seres imperfeitos, posto que a função do amor é levar o ser humano à perfeição.
O amor Ă© uma carta, mais ou menos longa, escrita em papel velino, corte-dourado, muito cheiroso e catita; carta de parabĂ©ns quando se lĂȘ, carta de pĂȘsames quando se acabou de ler. Tu que chegaste ao fim, pĂ”e a epĂstola no fundo da gaveta, e nĂŁo te lembres de ir ver se ela tem um post scriptum...
