Hoje a Felicidade Bate em minha Porta
Acho que eu estava com mais ou menos três anos de idade. Certo dia, aproximei-me da minha mãe aos prantos.
- O que foi? – perguntou-me ela, preocupada.
- Pi-mi-ga, mamãe! – respondi, mostrando o vermelho que a cabeçuda tinha me deixado na perna.
- A mamãe vai bater na formiga! Ora, formiga boba! Machucando meu bebê!
- Não pi-ci-sa! Eu já arranquei as zoleia dela! – surpreendi minha mãe, trazendo nas mãos a cabeça da formiga, que eu confundira com suas orelhas!
Eu só falei porque meu coração já começava a disputar espaço com as palavras em minha garganta.
Sairia um ou o outro.
Eu optei pela saída das palavras!
Quer saber o quanto foi importante para mim?
Tente voltar para minha vida após ter me magoado.
Se você encontrar a porta aberta, você não teve importância alguma!
Não é que eu não saiba perdoar.
Mas a minha quantidade de perdões é diretamente proporcional à minha distância da sua vida.
Então, se quiseres que eu me afaste de você, dê - me motivos para que eu te perdoe.
E quando me perderes de vista, tente SE perdoar.
Se puderes.
Quer mesmo saber qual é o parâmetro?
Não soltar minha mão quando eu realmente precisar que você a segure mais forte. Se isso não acontecer, eu posso até tentar unir minhas mãos às suas novamente, mas os meus pés continuarão sempre atrás.
E eu não consigo caminhar assim...
Ei, novela da minha vida real, será que você pode, por favor, pular para o último capítulo?
Quem sabe assim as coisas se resolvem, não é mesmo?
Você pode até querer e poder cuidar ou interferir na minha vida, mas a prestação de contas só lhe será apresentada se você cumprir a contraprestação de financiá-la!
Sinto muito decepcioná-lo quando não fiquei mal sem você.
É que tudo o que deve ir embora da minha vida é uma conta exata demais para se requerer, ainda, a prova dos nove.
Então, GPS, você pode até calcular minha melhor rota, e recalculá-la quando eu teimar em te desobedecer.
Mas quem decide onde ir, onde chegar, sou eu!
Todos os anos, desde que eu nasci, eu sempre passei o Natal em Mara Rosa, na casa da minha amada Vovó Maria. Em torno dela, nós nos reuníamos, e essa era uma época tão ansiosamente esperada por toda família, que ninguém cogitava não comparecer, porque ela sempre foi o nosso melhor presente de Natal, aquele caro, raro, único, que não descia pela chaminé, mas que recebia, de portas abertas, cada um dos mais de 10 filhos, com seus respectivos netos e bisnetos, com o abraço mais aconchegante e o sorriso mais leve e sincero que eu já recebi em toda minha vida.
Infelizmente, ela se foi há alguns poucos anos, e levou com ela o Papai Noel, e o Natal. Nos primeiros anos foram só dor.
Impossível Natal sem minha vozinha, com seu doce de figo nas mãos, feito especialmente para sua neta "zói de gato", e que ela sempre confundiu que eu gostava com talo de mamão. Daí eu tirava o mamão escondido dela, porque, com aquele sorriso, eu comeria até doce de jiló.
Bom, os anos se passaram, eu passei o Natal em outros lugares, outros Países, mas, mesmo sem ela presente fisicamente, é em Mara Rosa que está, de verdade, o meu e o nosso Natal.
Então, eu estou no lugar certo, hoje, nesse ano, graças a Deus, também ao lado da minha Mamy.
A falta da minha vozinha e de meu pai ainda doem, mas estar aqui é estar tão próximo dos dois que eu consigo sentir até o cheirinho de café coado na hora dela, e meu pai me falando: filha, não volte muito tarde para casa. Na verdade ele não dormia enquanto eu não chegasse, e muitas vezes o flagrei correndo para a cama para fingi-lo.
É isso.
Eu não tenho e não poderia estar em lugar melhor.
Estou com os meus, com as minhas melhores lembranças, e rodeada de verdadeiro amor.
E É isso que eu também desejo a todos vocês.
Feliz Natal! (2016)
A minha admiração pelo seu status, poder, posição social ou dinheiro, é inversamente proporcional às suas tentativas de me impressionar, tomando-os como certeza da conquista.