Últimos Versos - Tenho te carregado (no... Sílvio Fagno

Últimos Versos -

Tenho te carregado
(no peito)
desde os primeiros dias
em que nos conhecemos.

Sinto saudades dos velhos
motivos: a brisa, os livros,
as tardes da tua rua.

Saudades da tua risada,
da espera na calçada,
dos riscos, do céu,
da lua.

A saudade ficou um pouco
nos latidos de aviso do
teu cachorro,
nas frestas da varanda,
por onde eu (ansioso),
olhava à tua espera.

Ficou no cheiro jovem e
delicado do nosso namoro
aprendiz - adolescente - a quem
eu (suspeito),
dedico este sentimento
sincero, lírico e nostálgico.

A saudade também ficou nas
conversas virtuais – presentes
distantes -e nos papos a
centímetros da pupila dilatada e
respiração ofegante: pensamentos navegavam nas redes da
comunicação abertas
à alma).

Haviam horários e eu os perdi.
(Lembranças... saudades).

Sem explicação,
ainda te olho com olhos
de adolescente apaixonado:
intensos e devotos.

Ainda te enxergo como a garota
de treze anos,
de dentes e pernas salientes,
e olhos tristes de mel.

A garota birrenta,
cheia de manias e erros
de português,
que carregava meus olhos
– sempre seus olhos –
por onde fosse.

A garota que me ensinou a
beber água antes de sair
de casa.

Aquela garota que, apesar de
homem feito,
me provocava frio na barriga
quando estava por perto
e, estranhamente,
ainda sinto como se estivesse
aqui pertinho ou, na verdade,
nunca tivesse saído.

As fotografias estão aí para
quem quiser ver,
mas algumas pequenas coisas,
alguns pequenos gestos e
detalhes - fragmentos do ontem –
(nosso amor adolescente), como o teu cheiro de menina, a timidez aprendiz
dos teus lábios e a rebeldia dos
teus cabelos imaculados confundindo
minha sorte, somente eu sei
o que representam em
minha vida.

Mas já não há mais tempo
para voltar.

Agora o continuar é um sem
sentido peito cheio de traumas e
amarguras,
um sentimento grandioso e
inútil de onde eu,
sangrando,
escrevo estes últimos
versos.

P.S.: Não vá embora antes
de falar comigo.

(...)

Era uma festa, agora o
adeus!