Amores impossíveis desenharam-me de uma... Geraldo Vilela Mano Júnior

Amores impossíveis desenharam-me de uma forma única. Sempre me chamaram a atenção pessoas cuja reputação não necessitasse ser a melhor, mas a mais, digamos que, importante. Não me apaixonei por coisas, não vejo graça. Me apaixonei por pessoas. Pessoas pequenas de coração grande. Pessoas que me mostravam o que fazer sem alguma palavra. Pessoas exemplo, para os meus pais. E é claro que foram amores impossíveis não pelo que havia de bondoso, mas de especial. Me pegava louco de amores por quem atraía mais pessoas que a banda mais famosa da cidade. Sou amante de cheiros, de vozes, de olhares fraternos. E qualquer um pode ser dono disso tudo, quando existe uma outra pessoa buscando alguém para se apaixonar. E sim, eu sempre busquei alguém para me apaixonar. Mas acontece que eu não era a pessoa certa para elas, embora acreditasse que elas fossem feitas para mim. Nossa, como amei loucamente! Como me vi necessitando de um outro alguém para que pudesse encontrar a tal felicidade. Como eu me perdi, meu Deus! E como eu sofri, chorei, esqueci de mim mesmo, me desrespeitei, perdi completamente o valor. Mas criei asas fortes. Criei rios largos. E muros, bem altos...

A gente vai crescendo e quem nos são apresentados? Amores improváveis. Aqueles por quem passamos sonhando grande parte de nossa juventude, e os que vão surgindo em nossas descobertas. O problema em ser um amor improvável é que ele deixou de ser impossível, e passou a ser provável (no sentido "desgustativo" da palavra, se é que me entendem) e improvável (em se tratando da probabilidade de dar certo). Bom, aí sim começamos a aplicar aquelas disciplinas que apreendemos ao longo de nossos estudos, inclusive na Matemática. Cálculos amorosos são o fim, mas é o que nos sustenta. "Eu não vou ligar porque...", "eu não vou procurar porque...", "eu não vou acreditar porque...", "eu não vou insistir porque...". São questionamentos calculistas que nos defendem e nos afastam daqueles que amamos. Somos fartos em racionalizar a essa altura do campeonato. E perdemos o medo dos amores impossíveis. Aliás, julgamos que perdemos esse medo. E nos tornamos uma bola de ping pong em aço, que por pesar tanto quica menos, mal sai do lugar e é resistente, muito resistente. Os amores improváveis, além de tudo, são oferecidos a nós - ou seriam procurados por nós? - nos momentos em que estamos quase nos situando em algum lugar. Só pra nos desviar do caminho...

Ah, os amores imprevisíveis! Fazem parte de uma crença bonita e sem fim. Você se arruma para a escola, para o trabalho ou pr'aquela confraternizaçãozinha na casa do vizinho sempre com a esperança do "vai que...", "e se...", "quem sabe...". Você crê ainda em sorte no amor, mesmo depois de tudo dar errado. Até que você aprende que o segredo não é esperar, é esquecer um pouco essa ânsia de ser dois. É aprender a gostar de você sozinho, a cuidar de você como se fosse - e é - o seu maior amor. Chega um momento na vida da gente que as histórias de amores impossíveis e improváveis ganham charme, ganham espaço nas nossas conversas e até um tom de graça, quando lembramos o quanto éramos imaturos. Amores imprevisíveis existem, ainda que eu não os conheça empiricamente. Podemos perder tudo, mas nunca a fé. Um dia achei que o amor fosse a raiz de todos os sentimentos, mas eu me enganei, sabe... Sinto que o amor acaba, mas a fé de continuar vivendo o amor permanece, enquanto houver ferida, enquanto houver vida. Não é à toa que acho a coisa mais bonita da vida essa capacidade das pessoas seguirem em frente, mesmo com tudo desabando, mesmo com a esperança ao chão.