Fabio de Melo Acaso Deus Felicidade
Peabiruta
Eu peregrino
dia por dia,
longa romaria
Eu peregrino
no pó, no espinho
durante o caminho
Eu peregrino
aspirando outros ares
da terra-sem-males
Eu peregrino
piso a terra laranja
que meu pé desarranja
Eu peregrino
e se às vezes me exalto
não prefiro o asfalto
Eu peregrino
em rastros inteiros
de outros romeiros
Eu peregrino
Faço irmão o destino
e irmãs as estrelas
e mesmo sem vê-las
Peregrino
Rituais e homenagens póstumas não apagam traições. Estátuas não compensam torturas. Letreiros luminosos em prédios edificados com grana pública não ofuscam isolamentos cruéis. Jardins no centro não limpam cusparadas. Isso não basta.
Construir um belo obelisco a pacifistas regionais não basta. É mísero! Insensatez! Para homenageá-los, seria preciso construir a paz e a justiça pela qual lutaram, e não monumentos apenas.
Não basta pregar uma placa para um militante idealista numa salinha. Isso é nada! Importa tirar do túmulo seus ideais, levar suas idéias adiante.
Não basta beatificar um mártir. É muito pouco. É preciso imitar-lhe a coragem, a perseverança e ajudar outros corajosos e perseverantes em suas lutas, para que não precisem conhecer o batismo de sangue.
Tributo aos amigos
Meu coraçao peabiruta
Gratidão fertiliza
E obrigado tributa
Aos meus caros amigos
Que de forma precisa
Me abrandam perigos
E dividem comigo:
Piadas
Brinquedos
Problemas
Torpedos
Cachaça
Segredos
Suas preces
Seus medos
Aos amigos de berço
Aos amigos de acaso
Aos amigos de terço
Aos amigos de passo
Aos amigos à vista
Aos amigos a prazo
Aos amigos de trampo
Aos amigos de aço
Aos amigos grandes
Aos amigos pequenos
Aos amigos sinceros
E aos mais ou menos
E a quem do meu lado
Peregrina essa estrada
Um abraço apertado!
Uma Skol bem gelada!
Algea, eleison!
Que é a dor,
senão fria corrente
que une os mortais?
Que é o amor,
senão medo pungente
de murmurar ais?
É a dor quem desenha
os santos e os pecadores.
É ela a mesma senha
nas prisões e nos andores.
Pois santidade e imperfeição
têm nas veias mesmo sangue:
São filhas da aflição,
paridas num mesmo tanque
cujo nome é coração.
Papel de parede
Saudade feroz
de quando as paredes ouviam,
condenavam, proibiam
a nossa voz
Errávamos menos
quando as paredes tinham ouvidos.
Pois precavidos,
éramos plenos.
Hoje os ouvidos têm paredes.
Não é esquisito?
Pois nem meu grito
tu já não sentes.
Reclamo em vão...
Mas se há paredes
Pintemo-las verdes
pra ocultar solidão
Sou prático: digo logo o que quero e o limite de preço aos vendedores e pronto. Não tenho muita paciência pra ficar escolhendo cores, formas e o diabo.
Ao Estudante Anônimo
Liberdade é poesia
que não se desvia
das muralhas
Liberdade ultrapassa
Tanques brutos da praça
represálias
Liberdade é música
que vai além da letra
escrita
berrada
mortal:
Manifesto silencioso da verdade
Genuína paz celestial
Superna notula
Não escrevo poesia
é ela que me escreve
é ela que se atreve
a grafar-me, tirania
Poesia não se lavra
nasce sozinha
erva-daninha
erva-palavra
Poema não se poda
é soberano
sobre-humano
incomoda
A poesia está em tudo
é quase ente
onipresente
onidesnudo
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