Eu e Voce de Luiz Antonio Gasparetto

Fiz um intervalo atrás do sol-posto,
duas, quatro, cinco, dez léguas ou mais,
pra contar as rugas que tenho no rosto
e medir as causas desses meus sinais...

Calculei o tempo em cada refego,
dividi o tempo que passei sozinho,
subtraindo as penas q' inda aqui carrego,
por causa dos danos desse meu caminho...

Vendo barbas brancas vi um ar mais velho,
vi nesse momento mais de mil respostas,
e num alto grito escavaquei o espelho
e aventei as rugas para trás das costas...

Sei que minhas costas têm muitas cargas,
sei que nos meus ombros tenho um grande peso,
mas nestes meus ombros destas costas largas
também acumulo tudo o que desprezo...

A vida é composta destes intervalos,
destes retrospectos sempre benfazejos,
que nos dão imagens, que nos contam calos,
com aquele gosto que nos dão mil beijos.

Talvez exista um mundo onde os humanos castiguem mais os erros do que as virtudes.

O trabalho da nossa comunicação social confunde muitas vezes o dever de informar com o adultério de fazer propaganda.

Nos frequentes alaridos,
muitos são os que procuram
emprenhar pelos ouvidos,
e parirem, divertidos,
muitas coisas que censuram.

A nossa verdadeira pátria é a nossa vida.

Covardes e cúmplices são todos aqueles que veem o que está certo e não o fazem.

Nem sempre estou acordado, nem estou num só lugar, e no afã deste meu estado, quando me sinto cansado, acordo e volto a sonhar.

Os meus melhores amigos são crianças durante toda a vida.

Através das palavras que não sabem ler aprendi a escrever os meus sonhos, e onde a ciência não chega estará sempre Deus.

Quem deita à terra sementes ferrugentas colherá mais tarde plantas ignorantes.

Se algum dia disserem que fui um homem bom, será sobretudo porque não fui egoísta.

Quando tens prosperidade, nunca tenhas a mania que um quintal é uma herdade. Hoje podes ser cidade e amanhã uma freguesia.

Foste um fundo verde no longo prado,
pintaste telas pelos limbos das colinas…
Foram searas, doce aroma nas campinas,
neste lugar descolorido, acastanhado…

Pisei veludo pelos quadros da natura,
enternecidos pela fauna e pela flora…
Eis outro viso, com tudo o que vejo agora,
contendo o rosto que a calma aqui segura…

Vi corrupio nos montados que aqui vejo,
em tons diversos, neste pasto ressequido…
Hoje, as planícies parecem não ter sentido,
mas mostram sempre o calor deste Alentejo.

Existem dificuldades para todas as pessoas, pois até aquelas que julgamos donas de tudo vivem em busca de felicidade.

Do que vejo nada estranho ante as almas que se sentem sós, e a liberdade perdeu o tamanho no pronome do rebanho que existe em nós.

Vigiai-vos uns aos outros e fazei do calor deste dia mais uma bela jornada de sociabilização.

Têm o coração vazio todas as pessoas que só conseguem orar com os bolsos cheios, ou para terem os bolsos cheios.

Quando o mal se cobre com a aparência do bem, não pode dar mais do que aquilo que tem.

O grande problema da nossa sociedade reside no simples facto de os maus estragarem cada vez mais os bons.

A diferença entre o que dizemos e o que fazemos é a mentira que somos.