Epoca de Cora Carolina

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⁠A vida é igual um livro. Só depois de ter lido é que sabemos o que encerra.

Carolina Maria de Jesus
Quarto de despejo. São Paulo: Ática, 2014.

O negro só é livre quando morre.

Fiz café para o João e o José Carlos, que hoje completa 10 anos. Eu apenas posso dar-lhes os parabéns, porque hoje nem sei se vamos comer.

Quem inventou a fome são os que comem.

É quatro horas. Eu já fiz almoço – hoje foi almoço. Tinha arroz, feijão e repolho e linguiça. Quando eu faço quatro pratos penso que sou alguém. Quando vejo meus filhos comendo arroz e feijão, o alimento que não está no alcance do favelado, fico sorrindo à toa. Como se eu estivesse assistindo um espetáculo deslumbrante.

Daí você se pega lembrando de inúmeros fatos agradáveis e únicos que nunca aconteceram, o que é isso?! Loucura?! Tudo é relativo, prefiro acreditar que em um universo paralelo isso aconteceu.

Minha mãe dizia que as exigências na vida nos obrigam a não escolher os polos. Quem nasce no polo norte, se puder viver melhor no polo sul, então deve viajar para os locais onde a vida seja mais amena.

A vida é igual um livro. Só depois de ter lido é que sabemos o que encerra. E nós quando estamos no fim da vida é que sabemos como a nossa vida decorreu. A minha, até aqui, tem sido preta. Preta é a minha pele. Preto é o lugar onde eu moro.

Carolina Maria de Jesus
Quarto de despejo. São Paulo: Ática, 2014.

⁠O branco é que diz que é superior. Mas que superioridade apresenta o branco? Se o negro bebe pinga, o branco bebe. A enfermidade que atinge o preto, atinge o branco. Se o branco sente fome, o negro também. A natureza não seleciona ninguém.

Carolina Maria de Jesus
Quarto de despejo: diário de uma favelada. São Paulo: Ática, 2014.

O Cão Sem Plumas

A cidade é passada pelo rio
como uma rua
é passada por um cachorro;
uma fruta
por uma espada.

O rio ora lembrava
a língua mansa de um cão
ora o ventre triste de um cão,
ora o outro rio
de aquoso pano sujo
dos olhos de um cão.

Aquele rio
era como um cão sem plumas.
Nada sabia da chuva azul,
da fonte cor-de-rosa,
da água do copo de água,
da água de cântaro,
dos peixes de água,
da brisa na água.

Sabia dos caranguejos
de lodo e ferrugem.

Sabia da lama
como de uma mucosa.
Devia saber dos povos.
Sabia seguramente
da mulher febril que habita as ostras.

Aquele rio
jamais se abre aos peixes,
ao brilho,
à inquietação de faca
que há nos peixes.
Jamais se abre em peixes.

Ventos nos umbrais
janelas antigas,
modernos varais.

Laços sonoros
asas e afagos - cacos -
tragos de luz.

Tem gente que tenta ser, tem gente que nasce sendo.

A poesia não está no papel
Está na vida
Vista e sentida
Por olhos sensíveis
E corpos que se permitem ir além.
Por almas que ousam
Interiores que gritam.
Ser poeta um dia é fácil
Difícil é sê-lo sempre.
Fácil é amar
Difícil é libertar a quem se ama
Libertar as palavras que inflamam.
Mas mais difícil não é libertar
Nem amar, criar, ousar.
Difícil é ser.
Um ser contido no mundo
E conter o mundo dentro de si.

Não mexa no meu silêncio, se não puder lidar com meu barulho. Só eu sei o turbilhão de vozes que habitam dentro de mim.

Amizade falsa é igual barata, não tenho medo tenho nojo.

Seja como o sol, tenha luz própria.

A dor física do amor.

Nenhuma palavra que eu diga poderá expressar o quanto me dói. Nada que eu faça poderá fazer com que o tempo volte. As conversas com Deus, por mais frequentes que tenham sido, não acalmam meu coração. A presença dos amigos ou de quem diz ser, não preenchem nem um pouco do vazio que a sua ausência me trouxe. As promessas feitas, de um dia para o outro, não significam mais nada além de lembranças que me fazem chorar. Eis que descubro que a dor de amor é física. A solidão se faz presente mesmo quando não estou sozinha. A melhor companhia é a minha cama, que me escuta chorar baixinho e não insiste em dizer que vai ficar tudo bem. E ao mesmo tempo que não te quero, me auto saboto para não me deixar te esquecer. A rotina é outra, a vida me força a mudar de hábitos, mas insisto em passar pelos mesmos lugares. Espero ansiosa pelo tempo, porque dizem que é ele que cura tudo.

A minha melhor vingança foi sempre sorrir como se eu nunca tivesse sido magoada.

TIPOS DE AMOR
Amor doce, amor fundo,
Amor do tamanho do mundo
Amor profundo.
Amor que aumenta a cada segundo.
Amor gostoso
Amor perigoso
Amor que só você é eu conhecemos
Amor de alma
Amor que intimamente acalma
Amor das estações
Amor vibrante de emoções;
Amor que diz,
Amor que cala,
Amor que vira o mundo e nunca acaba
Amor inimigo do tempo
que só o pensamento afaga
Amor do dia
Amor da noite
Amor que insiste, não desiste e persiste...
Amor sem conceito,
Amor sem preceitos
Amor sem preconceito.
Amor que implora:
Te quero agora!
Sois, amor, o que te alimenta
E não tenho outra razão para existir
Completa-me, preencha-me
Seja o que ninguém jamais será
Faça o que ninguém jamais fará
Sejas amor, para sempre
ETERNO!