Entenda como Quiser So Nao me Julgue

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Estrelas são os olhos de Deus vigiando para que corra tudo bem. Para sempre. E, como se sabe, sempre não acaba nunca.

Clarice Lispector
Doze lendas brasileiras: como nasceram as estrelas. Rio de Janeiro: Rocco, 2014.

Como assim eu mudei? Quando?
- Quando deixou de ser aquilo que era. Até mesmo quando deixou de fazer questão de todas essas coisas que eu resolvi dar importância. E só dei importância porque quis que você soubesse o quanto eu o amo, o quanto sempre o amei. Antes eu nunca tivesse dito absolutamente nada do que eu disse. De repente, não estaria doendo como dói agora. Mas mesmo querendo muito a sensação de me arrepender de ter dito tudo o que eu disse, prefiro mesmo que você saiba. Um dia talvez você entenda o quanto a sua distração me dói, o quanto esse seu silêncio me rasga. O quanto machuca ver que se estragamos o que poderíamos ser, não foi por causa das nossas muitas brigas ou diferenças, foi porque desistimos de ser aquilo que sempre fomos não querendo estragar o que já tínhamos sido sem erro algum. E se isso vai te fazer feliz então seja. Mas não vai ser comigo.

Quando acende o lampião, é como se fizesse nascer mais uma estrela, mais uma flor. Quando o apaga, porém, é estrela ou flor que adormecem. É uma ocupação bonita. E é útil, porque é bonita.

Saia desta vida de migalhas
Desses homens que te tratam
Como um vento que passou

Já senti como é o cheiro de dentro.
Já experimentei sentar na janelinha com ele parado.
Já me imaginei embaixo, esmagada.
Em cima, surfando antes de pegar fogo.

Sei todos os ângulos de ir, mas vivo no lugar de quem fica.

Sempre procuro reter, como as rédeas de um cavalo, minha tendência ao excessivo.

Clarice Lispector
A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Nota: Trecho da crônica Armando Nogueira, futebol e eu, coitada.

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Ser Poeta

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendos
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e cetim…
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente…
É seres alma e sangue e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

Se o ciúme é sinal de amor, como querem alguns, é o mesmo que a febre no enfermo. Ela é sinal de que ele vive, porém uma vida enfermiça, maldisposta.

E uma alegria solitária pode se tornar patética. É como ficar com um presente todo embrulhado com papel enfeitado de presente nas mãos – e não ter a quem dizer: tome, é seu, abra-o! Não querendo me ver em situações patéticas e, por uma espécie de contenção, evitando o tom de tragédia, então raramente embrulho com papel de presente os meus sentimentos.

Clarice Lispector
Todas as crônicas. Rio de Janeiro: Rocco, 2018.

Nota: Trecho da crônica Pertencer.

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Nem todas as verdades são para todos os ouvidos, nem todas as mentiras podem ser reconhecidas como tais. (...) Certas coisas se sentem com o coração. Deixa falar o teu coração, interroga os rostos, não escutes somente as línguas...

Umberto Eco
O Nome da Rosa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2004.

Se exagerássemos em nossas alegrias como fazemos em nossas perdas, nossos problemas perderiam toda sua importância.

Se soubesse como gosto das suas cheganças, você chegaria correndo todo dia. É a única mulher que ainda me estima, se você me faltar morro de inanição. Sem você me enterrariam como indigente, meu passado se apagaria, ninguém registraria a minha saga.

Chico Buarque
Leite derramado. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

Repara como o poeta humaniza as coisas: dá hesitação às folhas, anseios ao vento. Talvez seja assim que Deus dá alma aos homens.

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.

É engraçado como apenas um simples pensamento pode te levar a decompor-se em lágrimas ou em sorrisos.

Orgulho! desce os olhos dos céus sobre ti mesmo, e vê como os nomes mais poderosos vão se refugiar numa canção.

Todos vivemos com a ilusão de que os outros, por fora, nos vejam como nós imaginamos ser por dentro. E não é assim.

Felicidade é como dieta, todo mundo sabe o que tem que fazer para conseguir seu objetivo, mas a maioria não põe em prática esse conhecimento.

ACORDAR VIVER

Como acordar sem sofrimento?
Recomeçar sem horror?
O sono transportou-me
àquele reino onde não existe vida
e eu quedo inerte sem paixão.

Como repetir, dia seguinte após dia seguinte,
a fábula inconclusa,
suportar a semelhança das coisas ásperas
de amanhã com as coisas ásperas de hoje?

Como proteger-me das feridas
que rasga em mim o acontecimento,
qualquer acontecimento
que lembra a Terra e sua púrpura
demente?
E mais aquela ferida que me inflijo
a cada hora, algoz
do inocente que não sou?

Ninguém responde, a vida é pétrea.

Mas como ser feliz num mundo que rebenta de miséria? Em cada cartaz de cada esquina o que se estampa é a morte;ou, pior, a tirania;a brutalidade; a tortura; a decrrocada da civilização;o fim da liberdade. Nós aqui, pensou, apenas nos abrigamos debaixo de uma folha, uma folha que será destruída. E Eleanor pretende que o mundo melhorou, só porque duas pessoas, dentre todos os milhões, são "felizes". Tinha os olhos postados no chão fixamente. Estava vazio agora, salvo por um fiapo de musselina rasgado de alguma saia. Por que observo assim as menores coisas?- pensou. Mudou de posição. Por que tenho de pensar? Quuisera não pensar. Quisera ter cortinas na mente, como as dos vagões- leitos de estrada de ferro, cortinas que baixam interceptam a luz; as cortinas azuis que a gente puxa nas viagens noturnas. Quisera ter o falcão da mente encapuzado, deixar de pensar, pois pensar é um tormento, e apenas vogar, vogar à deriva e sonhar...

Milágrimas

Em caso de dor ponha gelo
Mude o corte de cabelo
Mude como modelo
Vá ao cinema dê um sorriso
Ainda que amarelo, esqueça seu cotovelo
Se amargo foi já ter sido
Troque já esse vestido
Troque o padrão do tecido
Saia do sério deixe os critérios
Siga todos os sentidos
Faça fazer sentido
A cada mil lágrimas sai um milagre

Caso de tristeza vire a mesa
Coma só a sobremesa coma somente a cereja
Jogue para cima faça cena
Cante as rimas de um poema
Sofra penas viva apenas
Sendo só fissura ou loucura
Quem sabe casando cura
Ninguém sabe o que procura
Faça uma novena reze um terço
Caia fora do contexto invente seu endereço
A cada mil lágrimas sai um milagre

Mas se apesar de banal
Chorar for inevitável
Sinta o gosto do sal do sal do sal
Sinta o gosto do sal
Gota a gota, uma a uma
Duas três dez cem mil lágrimas sinta o milagre
A cada mil lágrimas sai um milagre

(Música: Itamar Assumpção)