Do nada

Eu que não sei quase nada do mar
Descobri que não sei nada de mim.

Em todas as idas e vindas, obscuramente eu sempre sabia: embora tudo mude , nada muda por que tudo permance aqui dentro, e fala comigo, e me segura no colo quando eu mesma não consigo sustentar. E depois me solta de novo, para que eu volte a andar pelos meus próprios pés.

A vida é mãe nem sempre carinhosa, mas tem uma vara de condão especial: o mistério com que embrulha todas as coisas, e algumas deixa invisíveis.

Esperar é ainda uma ocupação.
Terrível é não ter nada que esperar.

Prometeis, e não cumpris?
Pois sem cumprir, tudo é nada.
Não sois bem aconselhada;
que quem promete, se mente,
o que perde não o sente.

O que o dinheiro faz por nós não é nada em comparação com o que a gente faz por ele.

Não se retém quase nada sem o auxílio das palavras, e as palavras quase nunca bastam para transmitir precisamente o que se sente.

Que me desperte com um beijo, abra a janela para o sol ou a penumbra. Tanto faz, e sem dizer nada me diga o tempo inteiro alguma coisa (...) quero adoçar tua vida.

Quando nossos olhos ficam embaraçados,
nada como usar os olhos dos outros
para voltar a valorizar o que é nosso.

Crônica: Aos olhos dos outros - Livro: Montanha Russa

Do Mau Estilo...

Todo o bem, todo o mal que eles te dizem, nada
Seria, se soubessem expressá-lo...
O ataque de uma borboleta agrada
Mais que todos os beijos de um cavalo.

Que foi isso, de repente? Nada; dez anos se passaram. Não diga! Se somaram? Se perderam? Algumas relações se aprofundaram? Se esgarçaram? Onde estávamos? Onde estamos? E... aonde vamos? O tempo, em lugar nenhum e em silêncio, passa. É inegável - todos temos mais dez anos agora. Ainda bem, poderíamos ter menos dez. Tudo nos aconteceu. Amamos, disso temos certeza. E fomos amados - onde encontrar a certeza? Avançamos aqui materialmente, ali não, nos realizamos neste ponto, em outros queríamos mais, algumas coisas tivemos mais do que pretendíamos ou merecíamos - mas isso é difícil de reconhecer. Perdemos alguém - "Viver é perder amigos". No meio do feio e do amargo, no tumulto e no desgaste, tivemos mil diminutos de felicidade, no ar, no olhar, na palavra de afeto inesperado, que sei? Espera, eu sei. É a única lição que tenho a dar; a vida é pequena, breve, e perto. Muito perto - é preciso estar atento.

Nada é tão perigoso para aprisionar a inteligência do que aceitar passivamente as informações.

Minha salvação começa pela consciência de que nada sou e de que nada me é devido.

Costumo chorar, quando estou com raiva. Comer, quando não tenho nada para fazer. Falar sozinha, quando não tenho ninguém. Costumo me deixar levar, até cair novamente.

Não se pode fazer nada sem a solidão!

Há um momento na vida
de terror definitivo,
de fracasso tremendo,
de sangrar a ferida.
Nada rende,
não há remendo,
nem consolo,
nem saída,
luta perdida,
a lágrima não significa,
o amor cruza os braços,
a saudade diz que vai
e fica.

Tomara que a gente não desista de ser quem é por nada nem ninguém deste mundo. Que a gente reconheça o poder do outro sem esquecer do nosso.

Sempre achei que esse amor era coisa de quem não tinha nada melhor para fazer. Eu só o sentia porque estava infeliz naquela vida pacata. Só por isso. Resolvi então agitar a vida pacata. E comecei a sair mais de casa, enxergar as pessoas ao meu redor, mais viagens, mais baladas. Amor é coisa de gente pacata e agora que eu tinha uma vida agitada, poderia, finalmente, mandar esse amor embora. Tchau, coisinha besta.

"Por que eu deveria me importar com a posteridade? Ela nunca fez nada por mim."

Não se pode colher nada antes que amadureça. A fruta colhida verde é azeda ou amarga e não faz bem à saúde.

Cada porta, uma escolha. Muitas vão se abrir para um nada ou para algum absurdo. Outras, para um jardim de promessas. Alguma, para a noite além da cerca. Hora de tirar os disfarces, aposentar as máscaras e reavaliar: reavaliar-se.