Dizeres de Amor
AMOR EPITELIAL
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Eu amei o teu corpo e teu amor,
meu poder sobre as tuas sensações,
foste a flor no Saara dos instintos
duma longa estiagem no meu brio...
Eu me amei no reflexo da estima
que acordou entre a pele provocada;
na menina que deu ao meu outono
um atalho que nada presumira...
Não te amei como a febre fez sentir,
mas bebi a loucura de que amei,
pela força dos poros encharcados...
Eu te amei como eco da mentira
com que sei que me amaste quando a vida
foi a lira da minha solidão...
TRATADOS DE AMOR, CARÁTER, GRAÇA E LEI
...
SOBRE CONVERSÃO NÃO RELIGIOSA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Ninguém se torna uma pessoa melhor quando se converte a uma crença, fé ou religião. Nem é pessoa pior enquanto não se converte. Nossa essência nos segue aonde vamos e o caráter de muitos é que se arquiva por temor do possível Deus, do inferno, e pelo interesse no céu que acende as mais acirradas ambições humanas. Os eventuais e sinceros arrependimentos, dramas de consciência e mudanças de comportamento ocorrem não pela conversão religiosa. Isso mora na índole dessas pessoas que se corrigiriam dentro ou fora de um grupo, mas por questões culturais nos habituamos a vincular um evento ao outro, seguindo as orientações massificadas ao nosso redor, desde o berço.
O arquivo do caráter mediante a fôrma (fôrma, mesmo) da conversão pode ou não ser mantido, a depender do quanto as propagandas dos dois extremos do além continuem convincentes para o indivíduo. Esse temor do possível Deus e do inferno; essa perspectiva ou ambição das ruas de ouro e cristal, dos muros de puro jaspe, as mansões celestiais e a glamorosa aposentadoria espiritual tende a ser bom para a sociedade só enquanto há medo e o suposto convertido cujo mau caráter se arquivou não se julga intimo, "assim com Deus" e, portanto, merecedor da impunidade pela hipocrisia de fazer o contrário do que prega, geralmente visando vantagens pessoais.
Tudo estritamente nos moldes da velha hipocrisia política e social neste plano, gerada pela pressa de conquistar aqui mesmo as vantagens e o poder que, segundo as falácias denominacionais, hão de se perpetuar no tal de céu. Acredito no ser humano e na sua capacidade pessoal, intransferível, de resgatar o melhor de si, quando esse melhor é viável, mediante o despertar da consciência e do amor, sem nenhuma interferência sobrenatural. Esse mérito já é do ser humano que se permite mudar na vida presente. Também acredito no mau caráter que não muda. Só se adéqua e se mascara enquanto, quando e onde lhe convém.
ACIMA DA LEI
Demétrio Sena, Magé - RJ.
O amor é o principio da justiça espontânea; não institucionalizada nem gerida pelo peso da culpa. Quando falha o princípio do amor, exatamente por ele não se forçar, a ética substitui o que deveria ser intuitivo, brotar livre do íntimo, pelo que vem da racionalidade; a consciência e a civilização. Isso é a ética; é o poder de nos incomodarmos com a ideia de sermos injustos, inconvenientes, maus, desonestos, abusivos, deseducados e desiguais para o semelhante.
Pela ótica da ética, nenhum ser humano é inferior ao outro. A nós. Ninguém tem o direito de oprimir, segregar, constranger, ostentar superioridade, julgar, subjugar e suprimir os arbítrios de foro intima. Não se há de admitir uma hierarquia humana entre semelhantes, nem a exacerbação das hierarquias trabalhistas, classistas, religiosas e de outras naturezas sociais.
Da falha do amor e a não incidência da ética, veio a lei como recurso derradeiro de organização social. Ela se vale de ameaças institucionais que deveriam se cumprir, por agentes instituídos via poder público. Em suma, só existe a lei porque a graça, provisão do amor, foi rejeitada e a consciência humana não foi suficiente para suprir o vácuo do amor, pela ética. E o mais assustador é que nem a instituição do medo, pela ideia de aplicação da lei, mostrou eficiência para conter os atos perniciosos da sociedade.
Nem a lei. Nem a tirania. Nem o terrorismo das religiões, pela figura lendária do diabo e as ameaças do inferno. Nada poderá conter o ser humano, porque o diabo é piada para nosso poder destruidor... os efeitos de nossas maldades. O inferno criado para outro plano é sofisma, face ao inferno que já instituímos na terra, com nosso desamor.
O amor está sobre todos os atributos capazes de salvar o mundo. Entretanto, ele nunca obriga. Deixa que a própria natureza humana encontre seu caminho. Serão necessárias muitas outras gerações, à base de muito sofrimento, não por lei, mas por consequências naturais, para que a humanidade, já cansada, reate com o amor e construa o próprio paraíso, que não será em outro plano. Esconde-se aqui mesmo, sob nossos pés enlameados.
Diz o livro de cabeceira dos cristãos, que pelo visto, cujo conteúdo ainda não foi absorvido, que só o espírito santo pode quebrantar e convencer o coração humano. É concebível para mim, pela minha profunda concepção além dos livros e das liturgias, de que o espírito santo é simplesmente a fachada ou o nome fantasia do amor.
SOB A REGÊNCIA DO AMOR
Demétrio Sena, Magé – RJ.
A Bíblia, que não é o meu livro de crença e regra, diz que Deus é amor. Minha visão do possível Deus tem suas reservas, mas do amor, este não. Nenhuma reserva, porque vejo nesta virtude a solução para os grandes problemas da humanidade. O amor extinguiria todos os sentimentos que geram guerra, fome, abandono, medo, raiva, opressão e desigualdade social. Sem todos esses resultados da falta de amor, nenhum país tentaria subjugar o outro; todos os países seriam bem governados, e seus povos, felizes.
Amor gera solidariedade, união, respeito, aceitação e acolhimento. Pessoas governam. E quando pessoas que governam se reconhecem pessoas, seres humanos iguais a todos os outros, a sociedade progride sem tragédias. Amor é sinônimo de sucesso coletivo; crescimento social; pessoa, família e nação bem sucedidas. É também o caminho, a verdade, a vida, e ninguém vai a lugar nenhum se não for por ele, o legítimo salvador da humanidade. Talvez não seja O Criador Direto e Mantenedor de tudo; que ninguém sabe quem foi, senão pelo sentimento intuitivo, inexplicável da fé... mas com certeza, é o legado insubstituível do poder de gerir o mundo, se o mantivermos em nós.
Pela minha ótica; pálida, insuficiente ótica, Deus não é amor; Deus é o amor, no sentido de o amor é Deus... em suma, não me refiro à Pessoa de Deus, mas ao substantivo abstrato que traz em si os atributos do que se convencionou como O Criador. Se na máxima ‘Deus é amor’ um é sujeito e, outro, predicado, eu diria que o amor é o sujeito; Deus, o predicado do amor. Ou se um é substantivo, e adjetivo o outro, afirmo que o Amor, agora também com ‘A’ maiúsculo, é o substantivo próprio. Deus é a qualidade do Amor.
A prata dourada da Lua
sobre o oceano escreveu
o plano de amor que
pelo Universo já estava
escrito e nos colocou
no mesmo caminho,
E hoje o amor celebramos
e sempre o celebraremos
por gratidão ao destino.
O dia de hoje fala sobre isso: Na eternidade do amor cabe o Universo. No conceito de Ressurreição está implícito a coragem de vencer a morte. Olhem para o Céu e para a Natureza terrena que verão a grandeza do amor de Deus. Aleluia, é sábado!
Um Papagaio-charão passou
sobre nossas vistas,
E foi assim que descobrimos
o amor em nossas vidas,
Você me entregou a inspiração
e tornei-me a poetisa dos seus dias.
Uma Corujinha-do-Xingu
pousou sobre a minha poesia,
Ainda desejo crer que
o amor ainda sobreviva
num mundo que busca a rota
de liberdade sobre a ruína
das guerras e acha que o poder
está em se juntar com quem
sempre mostrou a sua pior face,
Por mais que exista quem insista
na mentira não há mais disfarce
mesmo que ninguém nos fale.
Orabutã poético florescido
nesta tarde serena
derramou sobre nós
suas flores amarelas,
O amor nos conecta
e faz com que coloquemos
os nossos pés na terra.
As estrelas riscam o chão,
E escrevo sobre o amor
Na palma da minha mão,
És Universo e intimidade
Vou reverenciar cada minuto
Em nome da nossa paixão.
As estrelas iluminam
Os teus tontos passos...,
Porque no fundo és menino
Pleno e do mundo desprotegido;
Precisando dos meus afagos,
Para não temer o infinito.
Segue os meus passos
Como o Sol descobre a sombra,
Sinal de que não havia percebido
Da libertinagem com pompa,
Rimado pelas estrelas aos estalos.
Pecado inconfessável,
Chama secreta,
Perfume inefável,
Rosa mística,
Oásis no deserto,
Ilusionismo perfeito,
Soneto d'alma,
Porão aberto,
Algema quebrada,
Coração inteiro,
Flutuação perfumada,
Estou hipnotizada,
Completamente dominada.
Caminhando
pela minha
rua com amor
no coração,
Tenho flores
de pessegueiro
sobre a cabeça
e poemas
de revolução
de uma impossível
latino-americana
alvorada
que nenhum
ofensor há de deter.
Porque sei que
cedo ou tarde,
A vida há
de nos aproximar,
e ninguém
há de impedir.
Tenho fé na vida,
e um sonetário
diferente todo dia
para não manterem
neste caleidoscópio
os nossos sonhos,
E mesmo que você
não mais acredite,
O mundo é nosso
e vamos vencer
esse jogo
que tem nos
afastado
um do outro.
Protegidos estamos sobre o céu azul esmalte,
O teu amor é a minha fortaleza,
Desejo-te como um lindo amanhecer,
Sei que me amas com grandeza,
Estamos fazendo história com beleza.
Nos descaminhos do destino,
Sabemos que há muita rudeza,
Superamos com poesia e grande sutileza,
Vamos com fé preparando o nosso caminho
Caminhando para buscar o ninho
No campo elísio.
Por quê? Por quê escrevo tanto?
Escrevo para distrair as saudades,
E para nos ver de mãos dadas
Entre as florações lilazes dos jacarandás,
Que ainda sequer visitamos...
Escrevo para dizer que lhe tenho amor,
E que ocupa não só esse,
Mas todos os meus e inteiros planos.
Não me pergunte o porquê,
Resolvi te pertencer,
Porquê até o teu gesto tem um 'quê',
Capaz de me endoidecer,
Penso em nós atravessando o anoitecer.
Coloque a tua mão sobre a minha, E juntos coloriremos um futuro com o fervor do amor, O amor é entrega, e também é liberdade...
Com a tua mão sobre a minha vamos desenhando e dando cor ao amor, Vamos romanceando cada significado, O nosso coração é um só e está apaixonado.
Repousa a noite sobre o nosso tempo, No faiscar de nossos beijos, Cintila a estrela do nosso amor - a nossa primavera sentimento.
Sobre o amor..
O Amor é tudo, e por isso todas as coisas deixam de ter importância para aquele que ama, salvo pela interpretação que o amor lhes dá.
Se, por exemplo, um noivo fosse culpado de tomar interesse por outra jovem que não a sua noiva, seria sem dúvidas encarado como criminoso, e a noiva revoltar-se-ia.
Mas sei que tu, pelo contrário, verias em tal confissão uma homenagem; pois bem sabes como seria impossível para eu amar outra, é o amor que por ti tenho que lança seu reflexo sobre tudo que existe.
Assim me tenho, a culpa é toda tua, porque tu me enches toda a minha alma, a vida toma outro aspecto para mim, torna-se um mito ao seu redor.
Só o amor tem o poder de curar todas as feridas causadas pela nossa falta de conhecimento sobre ele.
Estranho Medo
Escrevo agora sobre angústia e solidão,
Antes descrevia amor, sonhos e devaneios,
Estranho certas coisas, pois estranha é a decepção,
Tristes são as páginas do diário, nem sei o que anseio.
Estranho medo, esse que de repente chegou pra ficar,
A estranheza mais profunda que um ser pode ter,
Estranho até a alegria que vem e vai sem avisar,
Me diga alegria, o motivo de ir, me explique o porquê.
Coração sangra, grita em meio as decepções,
Murmurar num adianta, nem devolve a certeza de outrora,
Certeza que iria acalmar esse turbilhão de emoções,
Estranho medo, que trouxe pesadelos para esse homem que chora.
As palavras me fogem quando mais delas preciso,
Me fugiu a alegria, causando-me imenso pavor,
Onde está ó esperança? Devolva-me o precioso sorriso,
Estranho medo que me faz estranhar até mesmo o amor.
