Cronicas de Pedro Bial para Despidida

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Sempre vivi como se fosse interminável. Quero dizer que destruo tudo continuamente (...) Talvez seja o hábito de não cultivar, não guardar, não prever.
Pouco a pouco foi aumentando o peso sobre minhas costas. Escombros demais.
Dessa forma, adquiri o costume de me aproveitar de tudo e de todos. Um maldito senso pragmático da vida. Passo a vida fazendo contas. Calculando quanto entrego e quanto me dão em troca. Eu achava que era um cara bom, mas essa mania de matemática me fez ficar desolado, virei terra. Daí apareceu uma bela garota em minha vida, que focalizou em mim seus olhos e me passou uma mensagem telepática de amor. E eu acreditei.
Tinha de acreditar. Quando a gente se sente tão sozinho capta muito rapidamente uma mensagem assim e a leva com cuidado até o coração e a deposita ali e se entusiasma e acredita que já está tudo resolvido."

É o amor a distração de Deus.
Não se sabe um abraço como se sabe um verso. Ela sabia que ele era o homem mais imperfeito do mundo. Sabia ainda que seria incapaz de partilhar, todos os dias, a vida com ele, com aquele ele que nada sabia para além de um sorriso, que nada procurava para além de um toque, que nada ambicionava para além de respirar. Pensava: és a escolha impossível. E escolhia-o.

Comecei a amar-te no dia em que te abandonei.

Foram as palavras dele quando, dez anos depois, a encontrou por mero acaso no café. Ela sorriu, disse-lhe “olá, amo-te” mas os lábios só disseram “olá, está tudo bem?”. Ficaram horas a conversar, até que ele, nestas coisas era sempre ele a perder a vergonha por mais vergonha que tivesse naquilo que tinha feito (como é que fui deixar-te? como fui tão imbecil ao ponto de não perceber que estava em ti tudo o que queria?), lhe disse com toda a naturalidade do mundo que queria levá-la para a cama. Ela primeiro pensou em esbofeteá-lo e depois amá-lo a tarde toda e a noite toda, de seguida pensou em fugir dali e depois amá-lo a tarde toda e a noite toda, e finalmente resolveu não dizer nada e, lentamente, a esconder as lágrimas por dentro dos olhos, abandonou-o da mesma maneira que ele a abandonara uma década antes. Não era uma vingança nem sequer um castigo – apenas percebeu que estava tão perdida dentro do que sentia que tinha de ir para longe dali para ir para dentro de si. Pensou que provavelmente foi isso o que lhe aconteceu naquele dia longínquo em que a deixara, sozinha e esparramada de dor, no chão, para nunca mais voltar.

De tudo o que amo és tu o que mais me apaixona.

Foram as palavras dela, poucos minutos depois, quando ele, teimoso, a seguiu até ao fundo da rua em hora de ponta. Estavam frente a frente, toda a gente a passar sem perceber que ali se decidia o futuro do mundo. Ele disse: “casei-me com outra para te poder amar em paz”. Ela disse: “casei-me com outro para que houvesse um ruído que te calasse em mim”. Na verdade nem um nem outro disseram nada disso porque nem um nem outro eram poetas. Mas o que as palavras de um (“amo-te como um louco”) e as palavras de outro (“amo-te como uma louca”) disseram foi isso mesmo. A rua parou, então, diante do abraço deles.

Afrodite (n°90)

Minha amada
Dos cabelos morenos
Com sorriso inibriante
Dá toque sedutor a enrredos

Com seu olhar penetrante
Abraço comigo morfina
E Corpo de Afrodite
Numa voz de vampira

Que me ama mais do que se permite
Aquele riso me encanta
Vive a ecoar na minha mente
Riso lindo vindo do coração

Sua paixão por mim é corrente
Para esse seu coração de cristal
Pena ser quebrável
Saiba que não fiz por mal
Pois sua paixão foi inegável

Os amores perfeitos duram pouco. Os amores perfeitos são passageiros. Os eternos exigem dedicação. Exigem construção. Há que carregar muitas pedras às costas para construir um amor eterno.

Noventa por cento dos amores que morrem é por falta de dedicação. E os outros dez nunca sequer foram amores

Das fantasias...

Incontadas, encantadas, comedidas, pouco faladas
mas, no fundo, alheios ao olhar insano de quem não as tem
medida a hora e o tempo
estamos nós, volta e meia, a vivenciá-las!!

Criamos asas, revivendo sonhos passados...
num tempo em que tudo era LIBERDADE!

Criamos o fogo, acendemos a chama...
num momento em que tudo é TESÃO!

Criamos a paixão, o dar e o receber
Num momento em que tudo é CUMPLICIDADE!

E assim vamos nós
Levando a vida, descobrindo o verdadeiro amor!
E este amor vira poesia...
lavrada com o sangue puro das nossas feridas!
E este amor vira música...
ritmada pela batida firme dos nossos corações


PEDRO MAGO (PSEUDÔNIMO)

A Força do Amor

Como qualquer mãe, quando Karen soube que um bebê estava a caminho,
fez todo o possível para ajudar o seu outro filho, Michael,
com três anos de idade, a se preparar para a chegada.
Os exames mostraram que era uma menina,
e todos os dias Michael cantava perto da barriga de sua mãe.
Ele já amava a sua irmãzinha antes mesmo dela nascer.
A gravidez se desenvolveu normalmente.
No tempo certo, vieram as contrações. Primeiro, a cada cinco minutos;
depois a cada três; então, a cada minuto uma contração.
Entretanto, surgiram algumas complicações
e o trabalho de parto de Karen demorou horas.
Todos discutiam a necessidade provável de uma cesariana.
Até que, enfim, depois de muito tempo, a irmãzinha de Michael nasceu.
Só que ela estava muito mal. Com a sirene no último volume,
a ambulância levou a recém-nascida para a UTI neonatal do Hospital Saint Mary.
Os dias passaram. A menininha piorava. O médico disse aos pais:
"Preparem-se para o pior. Há poucas esperanças".
Karen e seu marido começaram, então, os preparativos para o funeral.
Alguns dias atrás estavam arrumando o quarto para esperar pelo novo bebê.
Hoje, os planos eram outros.
Enquanto isso, Michael todos os dias pedia aos pais
que o levassem para conhecer a sua irmãzinha.
"Eu quero cantar pra ela", ele dizia.
A segunda semana de UTI entrou e esperava-se que o bebê
não sobrevivesse até o final dela.
Michael continuava insistindo com seus pais
para que o deixassem cantar para sua irmã,
mas crianças não eram permitidas na UTI.
Entretanto, Karen decidiu. Ela levaria Michael ao hospital de qualquer jeito.
Ele ainda não tinha visto a irmã e,
se não fosse hoje, talvez não a visse viva.
Ela vestiu Michael com uma roupa um pouco maior,
para disfarçar a idade, e rumou para o hospital.
A enfermeira não permitiu que ele entrasse
e exigiu que ela o retirasse dali.
Mas Karen insistiu:
"Ele não irá embora até que veja a sua irmãzinha!"
Ela levou Michael até a incubadora.
Ele olhou para aquela trouxinha de gente que perdia a batalha pela vida.
Depois de alguns segundos olhando, ele começou a cantar,
com sua voz pequenininha:
"Você é o meu sol, o meu único sol.
Você me deixa feliz mesmo quando o céu está escuro..."
Nesse momento, o bebê pareceu reagir.
A pulsação começou a baixar e se estabilizou.
Karen encorajou Michael a continuar cantando.
"Você não sabe, querida, quanto eu te amo.
Por favor, não leve o meu sol embora...
" Enquanto Michael cantava, a respiração difícil do bebê
foi se tornando suave.
"Continue, querido!", pediu Karen, emocionada. "Outra noite, querida,
eu sonhei que você estava em meus braços..."
O bebê começou a relaxar. "Cante mais um pouco, Michael."
A enfermeira começou a chorar. "Você é o meu sol, o meu único sol.
Você me deixa feliz mesmo quando o céu está escuro...
Por favor, não leve o meu sol embora..."
No dia seguinte, a irmã de Michael já tinha se recuperado
e em poucos dias foi para casa.
O Woman's Day Magazine chamou essa história de
"O milagre da canção de um irmão".
Os médicos chamaram simplesmente de milagre.
Karen chamou de milagre do amor de Deus.
NUNCA ABANDONE AQUELE QUE VOCÊ AMA.
O AMOR É INCRIVELMENTE PODEROSO.
O amor está em suas mãos...

Nascer, crescer, amadurecer
Trabalhar, dormir, acordar
Despertar, descobrir, sonhar
Tentar, persistir.

Brigar, suar, batalhar
Nunca desistir, sem trilhar
Correr, parar, olhar
Chegar lá, brilhar !

Tropeçar, balançar
Cair, e levantar
Esse é o "r" que nos faz movimentar.

Tudo para que no fim
Em um só lugar, sejamos levados de lá
E nosso corpo ficar.

Você é o piloto e a voz da história. Você é aquele que cria e conta as histórias para aqueles que não puderam estar presentes. Você é incapaz de ser confortado mas deseja confortar os outros. Há algo faltando em sua vida. Não esqueça que você é muito amado. Deixe seu sofrimento ser confortado.

As moças com frequência criam imagens nobres, deslumbrantes, figuras totalmente ideais,e forjam idéias quiméricas acerca dos homens, dos sentimentos, do mundo; depois atribuem inocentemente a um caráter as perfeições que sonharam, e entregam-se a isso, amam no homem que escolheram essa criatura imaginária; porém, mais tarde, quando não há mais tempo de livrar-se do infortúnio, a enganadora aparência que embelezaram, seu primeiro ídolo, transforma-se enfim num esqueleto odioso.

Há sempre um perigo no amor que tem utilidade. Enquanto o outro exerce uma função na nossa vida, corremos o risco de não experimentar o amor gratuito(...) A utilidade pode parecer amor, mas não é. Amor que se fundamenta na utilidade que o outro tem corre o risco de se transformar em abandono num futuro próximo.

Padre Fábio de Melo
Tempo de esperas - O itinerário de um florescer humano

Quem não sabe lidar com as suas frustrações jamais será feliz. É impossível ter tudo o que se quer, logo, frustrações, haverão muitas ao longo da vida. Mas quem compreende bem as decepções e desilusões não sofre nem se desespera. É feliz dentro das suas possibilidades e limitações, à sua maneira. Somente aprendendo a lidar com as adversidades é que o ser humano poderá encontrar, um dia, a verdadeira felicidade, que não está nas coisas da matéria, como dinheiro, romance, status ou profissão, mas na paz interior que ilumina a alma e torna o espírito inabalável diante das imperfeições do mundo. A paz interior finalmente conquistada é a felicidade real que ninguém, nunca, poderá nos roubar.

O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência. Pois, senhor, não consegui recompor o que foi nem o que fui. Em tudo, se o rosto é igual, a fisionomia é diferente. Se só me faltassem os outros, vá; um homem consola-se mais ou menos das pessoas que perde; mas falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo.

Machado de Assis
Dom Casmurro (1899).

"Mostrei minha obra prima às pessoas grandes e perguntei se o meu desenho lhes dava medo. Responderam-me "Por que um chapéu daria medo?" Meu desenho não representava um chapéu. Representava uma jibóia digerindo um elefante. Desenhei então o interior da jibóia, a fim de que as pessoas grandes pudessem entender melhor. Elas têm sempre necessidade de explicações detalhadas."

Existem as pessoas que apenas têm sede de vida e aproveitam cada minuto, crescem com cada tropeço e levantam revigoradas e prontas para sorrir de novo. Pessoas assim são urgentes para o amor, mas têm suavidade para vivenciá-lo. Elas se apaixonam por gente, circunstâncias e trocas. E gargalham de verdade. E abraçam de verdade. E absorvem o Outro para apreendê-lo, não para sugá-lo. Essas pessoas sentem com o corpo todo, gostam com o coração inteiro.

Antes de chorar sobre os limites que possui, antes de reclamar de suas inadequações, e fadar o seu destino ao fim, aceita o desafio de pousar os olhos sobre este aparente estado de fraqueza, e ouse acreditar, que mesmo em estradas de pavimentações precárias, há sempre um destino que poderá nos levar ao local onde o sol se põe tão cheio de beleza

Não te confessarei o meu sofrimento, porque ele te faria desgostar de mim. Não te farei censuras: elas irritar-te-iam justamente. Não te direi as razões que tu tens para amar-me, porque não as tens. A razão de amar é o amor. Também não me mostrarei mais, tal como tu me desejavas. Porque tu já não desejas esse.

O olhar de um homem acostumado a tirar de seus capitais um juro enorme adquire necessariamente, como o do libertino, o do jogador ou o do cortesão, certos hábitos indefiníveis, movimentos furtivos, ávidos, misteriosos, que não escapam aos correligionários. Essa linguagem constitui de certo modo a maçonaria das paixões.

(...)se descobrem homens felizes em maior proporção nos desertos, nos mosteiros e no sacrifício do que entre os sedentários dos oásis férteis ou das ilhas (...) Acontece simplesmente que, onde os bens são em maior número, oferecem-se aos homens mais possibilidades de se enganarem quanto à natureza das suas alegrias. Para já, pode acontecer que eles, na abastança, se enganem com maior facilidade e façam circular mais vezes riquezas vãs. Como os homens do deserto ou do mosteiro não possuem nada, sabem muito bem donde lhes vêm as alegrias e é-lhes assim mais fácil salvarem a própria fonte do seu fervor.

O boato é um ente invisível e impalpável, que fala como um homem, está em toda a parte e em nenhuma, que ninguém vê de onde surge, nem onde se esconde, que traz consigo a célebre lanterna dos contos arábicos, a favor da qual se avantaja em poder e prestígio, a tudo o que é prestigioso e poderoso.

Machado de Assis
Diário do Rio de Janeiro, 7 jan. 1862.