Cronicas de Luiz Fernando Verissimo Pneu Furado
As pessoas tóxicas são as piores inimigas delas próprias: levam tanto mal aos outros que fecham o cerco em torno de si mesmas, obrigando-se a manter na defensiva o tempo inteiro. Com o retorno que obtêm tornam-se ainda mais tóxicas. E quanto mais tóxicas, mais doentes ficam. É um ciclo negativo em moto-contínuo.
Durante uma pandemia o que está em jogo não é a disputa entre valentes que a enfrentam e covardes que se escondem. Ela acontece é entre irresponsáveis e conscientes, entre os solidários e os indiferentes, os que enxergam o todo e os que olham o próprio umbigo, e entre os que querem e os que não deixam que ela termine.
A lealdade precisa estar presente nos lados que se enfrentam. Assim como o xadrez, toda disputa humana deveria também ser um jogo de reis, para cada lance se mostrar compatível com a dignidade dos adversários. Daí o nome de “vida real” dado a este mundo de batalhas, ainda que tantos não vivam os valores que os remetem à sua natureza superior.
O buscador autêntico não tem a palavra “nunca” entre os verbetes de seu dicionário. Está consciente de que descrer do intangível passa atestado de ignorância e imaturidade para a tarefa que desempenha, já que o termo não é sinônimo de “impossível”, mas apenas do que ainda não se entende.
É comum se ver pais com dificuldade de entender que seu papel enquanto educador prático e teórico dos filhos é encerrado no momento em que estes atinjam o estágio de autocondução. A partir desse momento a atribuição é transferida à vida, e por mais que discordem das posições dos filhos cabe-lhes tão comente aceitar, nunca interferir. Entre pessoas adultas a abordagem correta é a do respeito, e a educação – caso tenha continuidade – será pelo exemplo, e não pela ação.
Passar pela existência não é o mesmo que evoluir. Este segundo conceito acontece quando trocamos a pergunta "O que vou fazer?" por algo como "Por que o estou fazendo?" e, ato contínuo, definimos prioridades para o próximo momento e retemos do passado apenas o que deu bons frutos.
Ter reunido mil pensamentos não significa que ainda concorde com boa parte deles, já que expressam etapas distintas do meu crescimento e o primeiro fica longe de retratar o homem que me tornei ao escrever o último. A importância de todo o conjunto é servir como indicador de minha caminhada, e de referência a outros no momento em que se identificam com eles. Não há nada mais assustador do que comparar um primeiro pensamento com o último e descobrir que nada mudou entre um e outro!
Quando perceber que os valores da terra são diferentes, vai surtar, vai brigar com todo mundo, mas calma, respira, sente-se em uma cadeira, surtar e brigar não vai mudar o fato de que a terra vive assim, fique feliz por poder driblar e viver de verdade, encontre alguém que vá compartilhar com você as mesmas experiências e construir uma família linda e honesta, este sim e o verdadeiro segredo.
Dói-me ver pessoas olhando a vida pelo retrovisor e a dividindo – de forma tão simplória – entre erros e acertos somente. No que me toca vejo alguns erros que não me agrada tê-los cometido, mas que converti em referência sobre o que não deveria repetir. Incorri também em alguns que, após revistos, considerei indispensáveis na construção da pessoa em quem me transformei; e houve ainda aqueles que alguns podem chamar de “erro”, mas me geram gratidão pela consciência de agora, da qual tanto me orgulho. Malgrado suas diferenças, sei que todos – sem exceção – me ensinaram a mais importante de todas as lições: a da prerrogativa de converter erros em traumas ou em aprendizagem, e tanto olhá-los como o mestre mais importante que já tivemos, ou o juiz que nos irá julgar até o último de nossos dias.
Quando se segue justificando um líder sem caráter não há como escapar de um destes entendimentos: a pessoa não se informa, e a ignorância fá-la crer que é esperta; ela ainda olha para seu mundo de faz-de-conta com “olhar de poliana”; ou – o que é pior – ela tem o caráter tão distorcido quanto o líder que apoia. Mas encaixá-la sempre neste último tipo não revela uma visão menos distorcida e indigna do que qualquer outra.
O problema do extremista é trocar o relativo pelo absoluto. Não existe senso crítico ou justiça quando se é o lado certo, e seu oposto é sempre o lado errado independente do que faça. Tais conceitos não estão atados a ideologias, mas a ações e - mais do que isso - a intenções, mesmo quando se erra. O “ismo” das legendas conduz pessoas a enxergar um todo fixo e invariável, e isso lhes subtrai toda legitimidade para julgar quem quer que seja.
O errado não é "mudar de lado", mas estabelecer-se neste último, em lugar de trocar quantas vezes se distancie do que seria correto fazer. O ideal é ocupar o centro da gangorra, única forma de preservar a visão "des-envolvida" dos extremos, e aproximar-se do mais leve apenas para restabelecer o equilíbrio de forças.
Negacionistas é como a ciência chama àqueles que negam tudo do que não entendem, ou criam versões próprias da realidade para eles mesmos. Só não lhes ocorre que a verdade continuará sendo a que é, independente de a aceitarem ou não, o que deixará a descoberta mais traumática do que optar pela dúvida até que ela se revele de forma inequívoca e incontestável.
O mundo ocidental exerce forte resistência ao intangível que escape à lógica vigente, por mais que todas as evidências se revelem inequívocas. A ciência tradicional ainda o trata com a burocracia do ambiente político que, quando chega a oficializar os fatos, eles já evoluíram para um patamar muito acima, e o que é franqueado a todos se equipara ao enganoso brilho de uma estrela morta. Para se ter ideia da defasagem, a própria física quântica só agora começa a admitir realidades com que os místicos orientais já lidavam há cinco mil anos.
Respeito e convívio são coisas distintas, um é obrigatório, o outro opcional. Mas o fato de não buscarmos o convívio por nos virmos o oposto de uma outra pessoa não nos exime de respeitá-la, nem legitima qualquer ato que possa feri-la em sua honra ou se preste a agredir seus sentimentos. A forma como tratamos nossos diferentes diz muito mais sobre nós do que sobre eles.
É comum ver pessoas se melindrando com visões críticas por não saber distingui-las de censura ou julgamento. Ao mesmo tempo se vê outras maquiando suas grosserias como “crítica”, quando também não dá para confundir as duas coisas: a crítica é direcionada para as ideias, a agressividade para as pessoas. Desse modo o recurso de se alegar uso de crítica para mascarar uma clara agressão a outrem não vai além da estratégia dos covardes.
Acreditar ou não num deus é uma crença como outra qualquer: apenas se crê que exista ou se crê que não exista. Mas, apesar disso, os dois lados se veem no domínio de uma "verdade", inalcançável a ambos, de que se utilizam para menosprezar-se mutuamente em vez de tentar entender que são exatamente iguais, somente seguindo em direções contrárias.
Ninguém que se declare defensor das liberdades deveria se rebelar ao ser contrariado, pois que esta é a postura mais típica dos tiranos, não de libertários. No âmbito da Filosofia o pensamento – correto ou não – é livre. Mas isso não é sinônimo de fazer o que se queira, ou de ter um posicionamento avesso a regras. Tal entendimento não é próprio dos que defendem causas nobres como a da liberdade de expressão, mas de quem não percebe a diferença entre libertários e libertinos.
À medida que avançamos nos anos poucas oportunidades temos de fazer novos amigos. Dessa forma os antigos passam a ocupar um espaço enorme em novas vidas e o amor que lhes devotamos cresce junto. E é justamente quando a existência se revela mais cruel, pois ao tirá-los de nosso convívio não tira somente um amigo, mas nos arranca parte do que somos, de nossa história, das alegrias construídas com cada um deles. Ao deixar nosso mundo cada dia menor, coloca nos ombros dos que ficam uma carga quase insuportável do amor que trazemos, já que tão poucos para dividi-lo.
Somos o que pensamos, o que desejamos com toda a nossa força, o que fazemos, como a soma das nossas atitudes e não das nossas palavras. Não somos resultados do passado, das conquistas ou fracassos, nem daquilo que possuímos. Somos frutos das nossas crenças, da nossa índole e da prática de nos tornarmos melhores, não em relação aos outros, mas a nós mesmos.
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