Contos de Drummond o Girassol e o Jardineiro

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Prece de um Mineiro no Rio

Espírito de Minas, me visita,
e sobre a confusão desta cidade
onde voz e buzina se confundem,
lança teu claro raio ordenador.
Conserva em mim ao menos a metade
do que fui na nascença e a vida esgarça:
não quero ser um móvel num imóvel,
quero firme e discreto o meu amor,
meu gesto seja sempre natural,
mesmo brusco ou pesado, e só me punja
a saudade da pátria imaginária.
Essa mesma, não muito. Balançando
entre o real e o irreal, quero viver
como é de tua essência e nos segredas,
capaz de dedicar-me em corpo e alma,
sem apego servil ainda o mais brando.
Por vezes, emudeces. Não te sinto
a soprar da azulada serrania
onde galopam sombras e memórias
de gente que, de humilde, era orgulhosa
e fazia da crosta mineral
um solo humano em seu despojamento.
Outras vezes te invocam, mas negando-te,
como se colhe e se espezinha a rosa.
Os que zombam de ti não te conhecem
na força com que, esquivo, te retrais
e mais límpido quedas, como ausente,
quanto mais te penetra a realidade.
Desprendido de imagens que se rompem
a um capricho dos deuses, tu regressas
ao que, fora do tempo, é tempo infindo,
no secreto semblante da verdade.
Espírito mineiro, circunspecto
talvez, mas encerrando uma partícula
de fogo embriagador, que lavra súbito,
e, se cabe, a ser doido nos inclinas:
não me fujas no Rio de Janeiro,
como a nuvem se afasta e a ave se alonga,
mas abre um portulano ante meus olhos
que a teu profundo mar conduza, Minas,
Minas além do som, Minas Gerais.

***

Amém.

Inserida por ebc123456

FAVELÁRIO NACIONAL

Quem sou eu para te cantar, favela,
Que cantas em mim e para ninguém
a noite inteira de sexta-feira
e a noite inteira de sábado
E nos desconheces, como igualmente não te conhecemos?
Sei apenas do teu mau cheiro:
Baixou em mim na viração,
direto, rápido, telegrama nasal
anunciando morte... melhor, tua vida.
...
Aqui só vive gente, bicho nenhum
tem essa coragem.
...
Tenho medo. Medo de ti, sem te conhecer,
Medo só de te sentir, encravada
Favela, erisipela, mal-do-monte
Na coxa flava do Rio de Janeiro.

Medo: não de tua lâmina nem de teu revólver
nem de tua manha nem de teu olhar.
Medo de que sintas como sou culpado
e culpados somos de pouca ou nenhuma irmandade.
Custa ser irmão,
custa abandonar nossos privilégios
e traçar a planta
da justa igualdade.
Somos desiguais
e queremos ser
sempre desiguais.
E queremos ser
bonzinhos benévolos
comedidamente
sociologicamente
mui bem comportados.
Mas, favela, ciao,
que este nosso papo
está ficando tão desagradável.
vês que perdi o tom e a empáfia do começo?
...
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)

Inserida por RicoRusso

A folha

A natureza são duas.
Uma,
tal qual se sabe a si mesma.
Outra, a que vemos. Mas vemos?
Ou  a ilusão das coisas?

Quem sou eu para sentir
o leque de uma palmeira?
Quem sou, para ser senhor
de uma fechada, sagrada
arca de vidas autônomas?

A pretensão de ser homem
e não coisa ou caracol
esfacela-me em frente  folha
que cai, depois de viver
intensa, caladamente,
e por ordem do Prefeito
vai sumir na varredura
mas continua em outra folha
alheia a meu privilégio
de ser mais forte que as folhas.

Inserida por Mary-25Silver

“Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco”.

(trecho extraído de versos do livro "Nova Reunião", José Olympio Editora - Rio de Janeiro, 1985, pág. 78. Projeto releituras)

Inserida por portalraizes

NASCER DE NOVO

Nascer: findou o sono das entranhas.
Surge o concreto,
a dor de formas repartidas.
Tão doce era viver
sem alma, no regaço
do cofre maternal, sombrio e cálido.
Agora,
na revelação frontal do dia,
a consciência do limite,
o nervo exposto dos problemas.
Sondamos, inquirimos
sem resposta:
Nada se ajusta, deste lado,
à placidez do outro?
É tudo guerra, dúvida
no exílio?
O incerto e suas lajes
criptográficas?
Viver é torturar-se, consumir-se
à míngua de qualquer razão de vida?

Eis que um segundo nascimento,
não adivinhado, sem anúncio,
resgata o sofrimento do primeiro,
e o tempo se redoura.
Amor, este é o seu nome.
Amor, a descoberta
de sentido no absurdo de existir.
O real veste nova realidade,
a linguagem encontra seu motivo
até mesmo nos lances de silêncio.
A explicação rompe das nuvens, das águas, das mais vagas circunstâncias:
Não sou eu, sou o Outro
que em mim procurava seu destino.
Em outro alguém estou nascendo.
A minha festa,
o meu nascer poreja a cada instante
em cada gesto meu que se reduz
a ser retrato,
espelho,
semelhança
de gesto alheio aberto em rosa.

Inserida por MarthaDuarte

museu da inconfidência

São palavras no chão
e memória nos autos.
As casas inda restam,
os amores, mais não.

E restam poucas roupas,
sobrepeliz de pároco,
a vara de um juiz,
anjos, púrpuras, ecos.

Macia flor de olvido,
sem aroma governas
o tempo ingovernável.
Muros pranteiam. Só.

Toda história é remorso.

Carlos Drummond de Andrade
Antologia poética. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
Inserida por Doug83

Um chamado João

João era fabulista?
fabuloso?
fábula?
Sertão místico disparando
no exílio da linguagem comum?
Projetava na gravatinha
a quinta face das coisas,
inenarrável narrada?
Um estranho chamado João
para disfarçar, para farçar
o que não ousamos compreender?
Tinha pastos, buritis plantados
no apartamento?
no peito?
Vegetal ele era ou passarinho
sob a robusta ossatura com pinta
de boi risonho?
Era um teatro
e todos os artistas
no mesmo papel,
ciranda multívoca?
João era tudo?
tudo escondido, florindo
como flor é flor, mesmo não semeada?
Mapa com acidentes
deslizando para fora, falando?
Guardava rios no bolso,
cada qual com a cor de suas águas?
sem misturar, sem conflitar?
E de cada gota redigia nome,
curva, fim,
e no destinado geral
seu fado era saber
para contar sem desnudar
o que não deve ser desnudado
e por isso se veste de véus novos?
Mágico sem apetrechos,
civilmente mágico, apelador
de precípites prodígios acudindo
a chamado geral?
Embaixador do reino
que há por trás dos reinos,
dos poderes, das
supostas fórmulas
de abracadabra, sésamo?
Reino cercado
não de muros, chaves, códigos,
mas o reino-reino?
Por que João sorria
se lhe perguntavam
que mistério é esse?
E propondo desenhos figurava
menos a resposta que
outra questão ao perguntante?
Tinha parte com... (não sei
o nome) ou ele mesmo era
a parte de gente
servindo de ponte
entre o sub e o sobre
que se arcabuzeiam
de antes do princípio,
que se entrelaçam
para melhor guerra,
para maior festa?
Ficamos sem saber o que era João
e se João existiu
de se pegar.

Carlos Drummond de Andrade
Correio da Manhã, 22 nov. 1967 (homenagem póstuma a João Guimarães Rosa).
Inserida por marcosarmuzel

⁠A moça ferrada

Falam tanto dessa moça. Ninguém viu,
todos juram.
Cada qual conta coisa diferente,
e todas concordantes.
Dizem que à noite, ela. Ela o quê?
E com quem? Com viajantes
que somem sem rastro
gabando no caminho
os espasmos secretos (tão públicos) da moça.

Sobe a moça
a ladeira da igreja
para a reza de todas as tardes.
De branco perfeitíssimo,
alta, superior, inabordável
(luxúria de mil-folhas sob o véu,
murmura alguém).
À noite é que acontecem coisas
no quarto escuro. Ganidos de prazer,
escutados por quem? se ninguém passa
na rua em altas horas-muro?
Pouco importa, a moça está marcada,
marca de rês na anca, ferro em brasa
de língua popular.

Carlos Drummond de Andrade
Boitempo II: esquecer para lembrar. Rio de Janeiro: Record, 2023.
Inserida por marcosarmuzel

Tudo que VC precisa!
.
Tudo, tudo mesmo, do que você precisa neste mundo para ser feliz, está aí, à sua disposição. Você tem apenas que procurar, estar atento, fazer um esforço mental, estudar, ler.
Se você procura, você melhora, venho sempre falando isso.
Preste atenção à sua volta e veja quanta gente está se superando, se transformando, à custa de muita dedicação.
Portanto, minha gente, se você está empacado aí, tem que começar a olhar em volta, muito bem olhado. Você tem que começar a usar o que sabe, o que vem aprendendo nos cursos que faz, nos livros que lê, nas coisas todas que a vida vem te mostrando. Alie-se ao seu esforço interior e vá para a frente.
Você sabe como são as coisas: às vezes sabe-se muito e não se usa nada, ficando eternamente amarrado nos problemas. Achando que sabe como resolver por fora, mas continua a deixar como está por dentro.
E esse é o pior problema, o nó que amarra a todos.
Ninguém quer manipular os sentimentos, com medo do que possa ser exigido, de se machucar com as mudanças necessárias. Ficam todos jogando a culpa no mundo, porque é mais simples. Assim não machucam ninguém e ficam todos iguais a todos nas reclamações.

.Daqui de cima, eu fico vendo esse povo todo dobrando o joelho, caindo na vida, sofrendo, pelejando que é uma coisa só.
— E porque o outro que falou, o outro que quer, o outro que pediu, o outro isto e aquilo.
Olha, minha gente, já até passou da hora de acabar com essa mentira. Chega de correr atrás desse dever de agradar, de cuidar de um, de cuidar de outro.
Vocês precisam é ser verdadeiros, se impor dentro de si, valer alguma coisa para vocês mesmos.
— Vamo mata a sede da dignidade, pra mode não permiti essa invasão, de não permiti que as coisa de fora e os outro venha a atrapalha a vida.
Essa peleja toda é por vocês serem muito tontos, muito fracos, se deixam levar por essa mania de ser bons, de se fazer de bom.Mas é tudo uma encenação de vocês, uma falsidade danada essa coisa de ser bom. Falso porque vocês não têm coragem de impor a sua verdade, a sua vontade. Tenho certeza de que, se vocês não tivessem medo de ser chamados de intolerantes, vocês passavam a cuidar mais de vocês.
— Volto àquele mesmo assunto que acho bom falar sempre. Tô sempre alertando ocês:
É muita vaidade, muito orgulho, muita loucura. E querer se fazer de santo, de manso.
Ficam aí nessa falsidade e não impõem a verdade, a vontade interior. Se negam.
E quem se nega não tem jeito: será negado sempre. Os caminhos vão se fechando, a vida fica naquele sofrimento, naquela insatisfação, nas dificuldades.
Não adianta a gente continuar se enganando, pois a nossa essência pede que olhemos muito por nós. Só essa falsa educação, essa "bondade" que impuseram dentro da gente é que nos faz ficar no outro, preocupados com o outro..outro é o mundo — família, amigos, conhecidos e desconhecidos. O outro é aquela idéia de sentimento comunitário. O outro é a aparência, é a mania que temos de fazer "média" com o externo.
Mas vamos deixar de conversa mole, vamos responder ao que o nosso coração pede, mesmo que timidamente.
O coração pede por nós mesmos, ao contrário do sentimento social, que nos empurra para o outro.
Vamos deixar de muita oração, muita prece, muita conversa complicada de espiritualidade vazia, e agir como um ser verdadeiro, ansioso por encontrar a paz, a harmonia.
Esqueçam os ideais de tolerância, esqueçam os nomes feios, como a prepotência, como a arrogância. Tomar conta de si não é um pecado. Olhar para os outros, tentando ajudar, não é um defeito. O que não é correto é só ficar no outro, fugindo de vocês mesmos, não sendo responsáveis por si.
Para essa consciência tomar conta de vocês, é preciso exercitar a humildade.
Humildade, ao contrário do que vocês imaginam, não é se rebaixar, não.
Humildade é ter a sabedoria suficiente para perceber que vocês não têm o poder de interferir na vida dos outros, mas têm a obrigação moral de se voltar para dentro de vocês e CUIDAR DE VOCÊS.
Não tenham medo de ser chamados de egoístas por estarem centrados nas suas necessidades. Compreendam que vocês só poderão ser úteis ao mundo quando o seu mundo interior estiver em harmonia.
Por enquanto, vocês estão apenas cuidando do mundo de fora por achar que não têm capacidade suficiente para cuidar de vocês, para fazer um dengo para vocês.
Quando vocês saem do seu ser superior para viver a história dos outros, vocês acabam sempre se rebaixando e entrando na energia daquele"coitadinho que precisa de ajuda"
.Ficam dominados pela energia negativa do "coitadinho".
— Eu só me curvo diante da minha vida, diante do poder superior da minha alma e dos meus anseios interiores, mas do povo... Ah! Diante do povo não me curvo, não. Eu, Calunga, curvo não! Não me curvo, porque o povo, de modo geral, não está bem, não quer estar bem.
Vamos nos curvar apenas àqueles que estão num grau superior de evolução, seja na manifestação da alegria terrena, seja na espiritualidade.
Vamos entender que o povo ainda age como criança, não tem educação interior.
Se a gente se envolve, caímos junto e vamos para o chão.
Não estou falando que devemos nos tornar eremitas, nos escondendo de todos, negando a existência do mundo e dos seus problemas. Não é isso, não, minha gente.
Nós não devemos nos abalar, nos envolver com tudo e com todos, viver na carne a doença do outro, o desemprego do outro, a loucura do outro.
Quero dizer, não devemos assumir a dor do outro como se fosse nossa, não devemos assumir o problema do outro como se fosse nosso.
Esta atitude é a mais infantil de todas: o problema é multiplicado, vai passando de um para o outro. Ninguém resolve nada e todos caem no chão.
Percebam que se preocupando com a provação dos outros vocês passam a valorizar o outro e a menosprezar a si mesmos.
— Mas, Calunga — vocês estão aí se remoendo —, como é que a gente faz, então? Como é que a gente se livra dessa fantasia de querer sempre ajudar o outro?
— Muito simples, viu, gente. É só praticar o exercício da elevação.

.Se elevar é sair da falsa humildade, da farsa que é ter complexo de inferioridade, sair dessa coisa que é pôr o mundo lá em cima e vocês cá embaixo.
E inverter, virar de cabeça para baixo os seus valores sociais, que fazem com que vocês priorizem a opinião e a vontade dos outros em detrimento das suas.
Agora, minha gente, vou ensinar um exercício de elevação para ser praticado sempre que vocês se sentirem tentados a sair de vocês para viver a história do outro. Pratiquem sempre, pois para se livrar de vícios é preciso muita dedicação, muita persistência.
Comece concentrando-se, colocando todo mundo que você conhece lá embaixo.
Você acima, sempre acima.
Todo mundo pequenininho: o patrão, o marido, a esposa, os filhos, a família, os amigos, a sociedade, tudo e todos. E mentalize:

"Qualquer coisa é menor do que eu, porque eu tenho que subir, tenho que me elevar. Eu não posso ficar aqui embaixo agüentando o que não é meu. Não quero este bloqueio, não quero estas encrencas."
Continue subindo feito um rojão, você no alto.
Jogue todo mundo para baixo, vá se livrando de todos os que te infernizam.
Desse alto, olhe o povo todo lá embaixo, gritando, chorando, exigindo que você desça para junto deles, para dar a ajuda que eles querem.
Aproveite o momento e jogue lá para baixo essa pessoa que existe dentro de você, essa pessoa cheia de complexos, preocupada com o mundo.
Vai, joga fora a feiúra que você pensa ter, joga os problemas do corpo — que doença que nada, que feiúra que nada.
Joga tudo para baixo e fale:

"Nada mais vai me atormentar, estou acima de tudo.

Acima das coisas triviais, desta pequenez, estou acima da matéria, acima da vontade e da necessidade dos outros. Estou acima dos conflitos da vida. Eu sou perfeito.
Eu deixo a luz da perfeição me envolver, porque eu estou na perfeição divina."
Sinta que, quanto mais você sobe, mais as energias pesadas vão se soltando. Perceba que os conflitos, os medos e as preocupações vão se diluindo, sumindo. Nada de tormentos, nada de responsabilidades. "Estou acima de tudo.
Sou livre aqui no alto."
Sinta o alívio, sinta a leveza que te envolve.
Compreenda que o peso existe quando você abaixa e carrega as coisas dos outros
Quando vamos para cima e lá lidamos com as coisas do mundo, vencemos as energias negativas, vencemos as exigências de todos.
Cada um de nós tem que responder, diante da vida, a responsabilidade que nos foi dada.
A resposta é tirar as cargas ruins que vamos absorvendo dos outros, deixando o coração cada vez mais livre.
Temos que nos sentir reis dentro de nós.
Ser rei é ser superior em si mesmo, não se interessando ser superior aos outros, pois a superioridade sobre os outros é apenas a demonstração de que somos vassalos do orgulho.
Vamos reinar apenas no nosso mundo interior, jamais reinando sobre ninguém com a intenção de exercermos a prepotência.
No universo divino não há lugar para quem se curva, para quem rasteja.
Deus quer todo mundo no alto, exatamente ao lado Dele.

.Afinal, Deus é rei e só criou reis.
Este exercício vai aos poucos fazer vocês compreenderem o exato tamanho das suas responsabilidades: um grão de areia frente ao que você carregava sobre as costas.
Daí então vocês poderão passar a relacionar-se com o mundo exterior de uma forma mais poderosa.
Poderosa porque serão capazes de exercer a compaixão, traduzida numa forma de estar próximo ao outro, mas não no outro; numa forma de apenas ajudar e não se envolver na energia do problema a ser resolvido; numa forma de aconselhar e orientar o outro, e não fazer pelo outro.

Numa forma impessoal de viver.

Caminhoneiros protestam contra restrições de tráfego impostas pela Prefeitura de SP
Plantão | Publicada em 24/09/2010 às 07h07m
Bom Dia S.Paulo, O Globo
SÃO PAULO - Cerca de 30 caminhoneiros protestaram nesta madrugada desta sexta-feira na Marginal Pinheiros, sentido Rodovia Castello Branco, contra as
medidas de restrição à circulação de caminhões adotadas pela Prefeitura de São Paulo. Eles fecharam três pistas da Marginal Pinheiro, causando
congestionamento em plena madrugada. Os fiscais da CET foram até o local e a manifestação se dissipou em cerca de 20 minutos.
Os caminhões foram incluídos no rodízio de veículos na capital paulista e proibidos de circular pela Avenida dos Bandeirantes. Para escapar das restrições, eles
invadiram ruas do bairro do Morumbi.
Nesta quinta, a Prefeitura de São Paulo anunciou a ampliação, a partir da próxima segunda-feira, das restrições. As avenidas Giovanni Groncchi, Francisco
Morato, Morumbi, Dr. Luiz Migliano, Dr. Guilherme Dumont Villares, Jacob Salvador Zveibel e João Jorge Saad, além das ruas Eng. Oscar Americano, Padre
Lebret e Jules Rimet, passarão a ser consideradas VER (Vias Estruturais Restritas) e terão o tráfego de caminhões proibido de segunda a sexta-feira, das 5h às
21h, e aos sábados, das 10h às 14h (exceto nos feriados).
Todas as vias estão na região do Morumbi, na Zona Sul de São Paulo. A restrição partiu após as ruas e avenidas do bairro virarem corredor de caminhões
proibidos de circular na Marginal Pinheiros e na Avenida dos Bandeirantes.
Segundo a Prefeitura, caminhoneiros ainda terão um período de adaptação e orientação. Com o fim da implantação da sinalização no bairro e período de
orientação, a multa será de R$ 85,12 (infração média, com quatro pontos na carteira de habilitação).
Além das novas restrições, também será reduzido o limite de velocidade para caminhões e ônibus de 90 km/h para 70 km/h em toda a extensão da pista
expressa da Marginal Pinheiros.
Opinião do Blog:
Cada vez mais a Prefeitura de São Paulo do então prefeito Gilberto Kassab pune a minoria neste caso o caminhoneiros desde os carreteiros até as grandes transportadora.
Em uma alusão de que com isto o transito de São Paulo melhorará para a maioria da população, fato este que não se cumpre, todos os dias milhares de pessoas circulam a Marginais e a melhora não é sentida de nenhuma maneira.
Era obvio que com as restrições nas marginais os caminhões buscariam alternativas e é óbvio que com mais estas restrições os caminhões estarão buscando novas alternativa mesmo que andando em ruas de bairro.
O que de certo acontecerá será o aumento de todos os produtos na cidade de São Paulo com maiores restrições maiores os custo do transporte e maior será o custo do frete.
Transportadora Rampoldi e Marques Transportes, atuando em defesa das empresas de transportes de São Paulo e seus colaboradores carreteiros.

Inserida por transportadora

Papai É O Maior (Rolo Compressor)

Papai é o maior
Papai é que é o tal
Que coisa louca, que coisa rara
Papai não respeita a cara

Papai é campeão
Papai não tem rival
Papai “tá” com a razão
É colorado , Internacional!!

Agora em inglês, pra galera de Abu Dhabi poder entender (não sei traduzir pra lingua árabe):

Daddy is the greatest
Daddy is the best
What a crazy thing, that rare thing
Daddy does not respect any guy

Daddy is the champion
Daddy has no rival
Daddy has the reason
It’s Colorado, Internacional!

E pros torcedores do Chivas:

Papá es el más grande
Papá es lo que es
¡Qué cosa tan loca, esa cosa rara
Papá no respeta el tipo

Papá es el campeón
Papá no tiene rival
Papá “tá” con la razón
Es Colorado, Internacional!

Inserida por MykeFC77

União

Contam que um certo homem estava perdido no deserto, prestes a morrer de sede. Foi quando ele chegou a uma casinha velha - uma cabana desmoronando - sem janelas, sem teto, batida pelo tempo.



O homem perambulou por ali e encontrou uma pequena sombra onde se acomodou, fugindo do calor do sol .


Olhando ao redor, viu uma bomba a alguns metros de distância, bem velha e enferrujada. Ele se arrastou até ali, agarrou a manivela, e começou a bombear sem parar. Nada aconteceu.


Desapontado, caiu cansado para trás e notou que ao lado da bomba havia uma garrafa. Ele a limpou e removendo a sujeira e o pó, e leu o seguinte recado: "Você precisa primeiro preparar a bomba com toda a água desta garrafa, meu amigo. E uma observação no final dizia: "Faça o favor de encher a garrafa outra vez antes de partir.


O homem arrancou a rolha da garrafa e, de fato, lá estava a água. A garrafa estava quase cheia de água! De repente, ele se viu em um dilema: Se bebesse aquela água poderia sobreviver, mas se despejasse toda a água na velha bomba enferrujada, talvez conseguisse água fresca, bem fria, lá no fundo do poço, toda a água que quisesse e poderia deixar a garrafa cheia para a próxima pessoa... mas talvez isso não desse certo.


Que deveria fazer? Despejar a água na velha bomba e esperar a água fresca e fria ou beber a água velha e salvar sua vida? Deveria perder toda a água que tinha na esperança daquelas instruções pouco confiáveis, escritas não se sabia quando?


Com muito medo, o homem despejou toda a água na bomba. Em seguida, agarrou a manivela e começou a bombear... e a bomba começou a chiar. E nada aconteceu!


E a bomba foi rangendo e chiando. Então surgiu um fiozinho de água; depois um pequeno fluxo, e finalmente a água jorrou com abundância!


A bomba velha e enferrujada fez jorrar muita, mas muita água fresca e cristalina. Ele encheu a garrafa e bebeu dela até se fartar. Encheu-a outra vez para o próximo que por ali poderia passar, botou a rolha e acrescentou uma pequena nota ao bilhete preso nela: "Creia em mim, funciona! Você precisa dar toda a água antes de poder obtê-la de volta!"


Podemos aprender coisas importantes a partir dessa breve história: Saiba olhar adiante e compartilhar! Aquele homem poderia ter se fartado e ter se esquecido de que outras pessoas que precisassem da água pudessem passar por ali. Ele não se esqueceu de encher a garrafa e ainda por cima soube dar uma palavra de incentivo. Se preocupe com quem está próximo de você..

Inserida por Jiorge

⁠Feliza Poética 2021

Vivendo

Vivo fugindo.
Fujo de coisas que me traz contradições.
Fujo de pessoas que não gosto.
Fujo de pessoas que me complicam.
Fujo de brigas, e de amores.
Mas não fujo dos caminhos, dos lugares.
Sou andarilho, sou sózinho...
Sou pequeno, sou menino.
Tenho um sonho que é só meu,
ainda vivo por ele, e sigo em frente.
Ainda luto e continuo!
Honro à vida.
Sabendo o tempo certo.
Vivendo mesmo o incerto.
Sobrevivendo ao incorreto.
Sou sobrevivente deste tempo!
Ganhei...perdi...vivo...
Hoje tenho muitos lamentos.
Alegrias? Um tanto.
Amor? Nem tanto.
Sonhos? Ainda os tenho!
Afinal! Não sei o final.
Ainda vivo.
É cada problema atoa!
É apenas garoa!
O que pode acontecer se a vida é assim?
Do contrário é não viver.
Pelas pessoas me poupo.
E tudo passa!
E deixo tudo de lado, mágoas e lágrimas.
Olho para frente.
Vivo para quem me interessa,
Sobrevivo!

Inserida por SoniaGuiraldelli

⁠O PACÍFICO

Sentir o perfume das flores
Presenciar o orvalho da manhã
Ver o dia nascendo
Contemplar o infinito no finito de mais um dia

Ser sábio é ter a certeza que nada foge do controle de Deus
É ter a exata convicção que tudo é possível através da essência
Já vai raiando o dia
Agora é meio-dia, depois é meia-noite

Dividido em dois hemisférios
O tempo segue o seu caminho
Acordando e fazendo dormir os que fazem parte desse plano chamado vida.

Na verdade ele é que nem o pacífico, ele é que nem as ondas do mar, ele é o som das ondas a ecoar; ele é o vai e o vem...

Ele é também o que dá e o que tira,
É ele é criador do mar e de tudo que em nós gira, ele é o que nos inspira também...

Ele dá descanso a alma, ele é a favor de quem ama...

Ele é o inexplicável,
Ele é que nem o pacífico;
Ele é o criador de todas as maravilhas, desde à fauna e a flora, e sem esquecer do grande oceano índico...

Inserida por JacileneArruda

⁠Sempre a Verdade

O PRESBÍTERO à senhora eleita, e a seus filhos, aos quais amo na verdade, e não somente eu, mas também todos os que têm conhecido a verdade, 2 Por amor da verdade que está em nós, e para sempre estará conosco: 3 Graça seja convosco, misericórdia e paz, da parte de Deus Pai e da do Senhor Jesus Cristo, o Filho do Pai, em verdade e amor. 4 Muito me alegro por achar que alguns de teus filhos andam na verdade, assim como temos recebido o mandamento do Pai. 5 E agora, senhora, rogo-te, não como se escrevesse um novo mandamento, mas aquele mesmo que desde o princípio tivemos: Que nos amemos uns aos outros. II João 1:1-5

A verdade! Nunca uma religião!

Inserida por Helder-DUARTE

⁠DEUS É O CAMINHO - Lourdes Duarte.
Na vida nunca estamos só, quando acreditamos em um Deus maior que tudo! Um Deus que é Pai do céu e da terra, um Deus que nos ama incondicionalmente.
Tem um Provérbio que diz,"O temor do SENHOR é o princípio do conhecimento" (Provérbios 1:7). Isso significa que a sabedoria começa com um coração reverente e humilde diante de Deus. É depositar nele toda confiança, de que os problemas existem, mas nada é eterno, eterno só Ele.
Quando reconhecemos a grandeza e a Santidade de Deus, somos levados a buscar Sua vontade e a seguir Seus mandamentos. Isso nos protege de escolhas erradas e nos guia para uma vida mais plena e satisfatória. Uma vida guiada a luz do Espírito Santo que é o próprio Deus. Uma vida de paz.
Aos poucos Deus vai nos mostrando o que é certo e o que não é. Por quem vale a pena lutar e por quem não vale. Vai colocando na nossa vida pessoas que pensamos jamais encontrar, amigos com quem vamos poder contar e não irão nos abandonar, nos dá forças para supera as batalhas e as tristezas da vida. Mas nem sempre tudo é certeza, afinal, somos humanos e consequentemente erramos. Quando vamos nos revestindo de Deus, o nosso coração é fortalecido por um amor puro e aprendemos que amar ao próximo é amar a Deus, daí buscamos não atropelar ninguém.
Erramos na vida, decepcionamos e somos decepcionados, porque somos fracos, mas a cada dia, Ele nos mostra que é o caminho a verdade e a vida e sempre nos perdoa, quando buscamos o perdão por estarmos arrependidos das nossas falhas graves.
Deus é o Pai Celestial, que conhece todas as coisas e compreende cada um de nós individualmente. Que possamos buscar sempre crescer em fé, sabedoria e conhecimento, mantendo um coração humilde e respeitoso diante de Deus e das pessoas, mesmo os que não acreditam em sua existência.
Abraços da amiga Lourdes Duarte.
Confie no SENHOR de todo o seu coração e não se apoie na sua própria capacidade e entendimento; lembre-se de colocar Deus em primeiro lugar, em todos os seus caminhos, e ele guiará os seus passos, e você andará pelo caminho certo.
NBV-P: Nova Bíblia Viva Português

Inserida por lourdesduarte

A CAIXA DE PANDORA


Conta a mitologia grega que Pandora foi criada pelos deuses do Olimpo sob a ordens de Zeus. Pandora teria sido a primeira mulher, surgida como punição aos homens por sua ousadia em roubar aos céus o segredo do fogo.

A vingança de Zeus contra a humanidade veio em forma de uma linda donzela. Pandora, a que possui todos os dons, recebeu uma caixa onde guardou os presentes recebidos de cada um dos deuses do Olimpo.

Afrodite deu-lhe a beleza, Hermes o dom da fala, Apolo, a música. Mas além dos dons, a caixa de Pandora recebeu também uma série de malefícios.

A história é longa, mas importa saber que Pandora abriu sua caixa e a humanidade passou a conhecer não só as bondades, como os males que até hoje nos assolam: mentira, doenças, inveja, velhice, guerra e morte. Os presentes saltaram de forma tão violenta da caixa que Pandora teve medo, e a fechou antes que a última delas escapasse: a esperança.

Pandora tornou-se, assim, a provedora natural dos talentos divinos e dos males da humanidade.

Como nos conta a tradição judaico-cristã, Eva no Paraíso teria tido o mesmo papel. O que só comprova que a figura da mulher aparece sempre como a grande responsável pela desgraça do gênero humano. Eu vejo de maneira distinta. Como Eva no Paraíso, Pandora distribuiu aos homens as duas faces da realidade, tão contrárias quanto complementares. Coube a todos a escolha.

O mágico desta lenda está no papel desempenhado pela esperança. Crescemos e vivemos sob o jugo masculino. Todas as formas de poder são exercidas há séculos por homens, que com liberdade preferiram escolher os piores caminhos para atingir objetivos duvidosos.

O mundo está devastado. Na caixa de Pandora ainda resta a última bondade não destruída por nosso egoísmo e ambição. Uma maneira lúdica de nos mostrar o caminho da redenção. A esperança é um dom feminino. Ainda há tempo para aprender a lição.

(Fonte: Voz Corrente- Alexandre Pelegi em 11 de Abril de 08)

PARA VIVER UM GRANDE AMOR

Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... — não tem nenhum valor.

Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.

Para viver um amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fidelidade — para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.

Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.

É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista — muito mais, muito mais que na modista! — para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...

Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?

Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia — para viver um grande amor.

É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que — que não quer nada com o amor.

Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva escura e desvairada não se souber achar a bem-amada — para viver um grande amor.

Vinicius de Moraes
Livro de Letras

Quando ela fala

Quando ela fala, parece
Que a voz da brisa se cala;
Talvez um anjo emudece
Quando ela fala.

Meu coração dolorido
As suas mágoas exala,
E volta ao gozo perdido
Quando ela fala.

Pudesse eu eternamente,
Ao lado dela, escutá-la,
Ouvir sua alma inocente
Quando ela fala.

Minh'alma, já semimorta,
Conseguira ao céu alçá-la
Porque o céu abre uma porta
Quando ela fala.

Machado de Assis
Falenas. Rio de Janeiro: B. L. Garnier, 1870.

Uma mulher chamada guitarra

Um dia, casualmente, eu disse a um amigo que a guitarra, ou violão, era "a música em forma de mulher". A frase o encantou e ele a andou espalhando como se ela constituísse o que os franceses chamam un mot d'esprit. Pesa-me ponderar que ela não quer ser nada disso; é, melhor, a pura verdade dos fatos.

O violão é não só a música (com todas as suas possibilidades orquestrais latentes) em forma de mulher, como, de todos os instrumentos musicais que se inspiram na forma feminina - viola, violino, bandolim, violoncelo, contrabaixo - o único que representa a mulher ideal: nem grande, nem pequena; de pescoço alongado, ombros redondos e suaves, cintura fina e ancas plenas; cultivada, mas sem jactância; relutante em exibir-se, a não ser pela mão daquele a quem ama; atenta e obediente ao seu amado, mas sem perda de caráter e dignidade; e, na intimidade, terna, sábia e apaixonada. Há mulheres-violino, mulheres-violoncelo e até mulheres-contrabaixo.

Mas como recusam-se a estabelecer aquela íntima relação que o violão oferece; como negam-se a se deixar cantar preferindo tornar-se objeto de solos ou partes orquestrais; como respondem mal ao contato dos dedos para se deixar vibrar, em benefício de agentes excitantes como arcos e palhetas, serão sempre preteridas, no final, pelas mulheres-violão, que um homem pode, sempre que quer, ter carinhosamente em seus braços e com ela passar horas de maravilhoso isolamento, sem necessidade, seja de tê-la em posições pouco cristãs, como acontece com os violoncelos, seja de estar obrigatoriamente de pé diante delas, como se dá com os contrabaixos.

Mesmo uma mulher-bandolim (vale dizer: um bandolim), se não encontrar um Jacob pela frente, está roubada. Sua voz é por demais estrídula para que se a suporte além de meia hora. E é nisso que a guitarra, ou violão (vale dizer: a mulher-violão), leva todas as vantagens. Nas mãos de um Segovia, de um Barrios, de um Sanz de la Mazza, de um Bonfá, de um Baden Powell, pode brilhar tão bem em sociedade quanto um violino nas mãos de um Oistrakh ou um violoncelo nas mãos de um Casals. Enquanto que aqueles instrumentos dificilmente poderão atingir a pungência ou a bossa peculiares que um violão pode ter, quer tocado canhestramente por um Jayme Ovalle ou um Manuel Bandeira, quer "passado na cara" por um João Gilberto ou mesmo o crioulo Zé-com-Fome, da Favela do Esqueleto.

Divino, delicioso instrumento que se casa tão bem com o amor e tudo o que, nos instantes mais belos da natureza, induz ao maravilhoso abandono! E não é à toa que um dos seus mais antigos ascendentes se chama viola d'amore, como a prenunciar o doce fenômeno de tantos corações diariamente feridos pelo melodioso acento de suas cordas... Até na maneira de ser tocado - contra o peito - lembra a mulher que se aninha nos braços do seu amado e, sem dizer-lhe nada, parece suplicar com beijos e carinhos que ele a tome toda, faça-a vibrar no mais fundo de si mesma, e a ame acima de tudo, pois do contrário ela não poderá ser nunca totalmente sua.

Ponha-se num céu alto uma Lua tranquila. Pede ela um contrabaixo? Nunca! Um violoncelo? Talvez, mas só se por trás dele houvesse um Casals. Um bandolim? Nem por sombra! Um bandolim, com seu tremolos, lhe perturbaria o luminoso êxtase. E o que pede então (direis) uma Lua tranquila num céu alto? E eu vos responderei: um violão. Pois dentre os instrumentos musicais criados pela mão do homem, só o violão é capaz de ouvir e de entender a Lua.

Vinicius de Moraes
Uma mulher chamada guitarra