Contexto da Poesia Tecendo a Manha
Quando eu morrer não quero flores
não quero lágrimas
não quero nem saber se alguém foi ao meu funeral
quando eu morrer nada mais importará para mim
afinal não levarei nada
mas deixarei tudo ao mundo
tudo que fui e tudo que fiz
e mesmo depois de minha morte o mundo sentirá as consequências de meus atos
então não me preocuparei com minha morte
me preocuparei com minha vida e com o mundo
quem eu sou e o que eu faço
porém pode nada disso fazer sentido
pode ser tudo isso em vão
a existência pode até ser uma farsa
mas quando eu morrer quero ter feito minha vida ter valido a pena e que meus atos mesmo depois de morto alegrem a vida de outras pessoas!
quando eu morrer estarei morto mas continuarei neste mundo...
SEUS OLHOS
Embalam-me a alma de ternura
Elegância que acompanha minha trilha
Vejo neles reflexos de fadas que nunca ouvi
Em seus olhos as vi
No vagar do tempo
Vejo um fio de água descendo do seu rosto
Numa pisca já vão mil tristezas num só momento
A dor de todos os tempos
Levam-me à dejavu,
Os seus olhos negros
O encanto que reconta os seus contos
De mil maneiras de amar os outros
Triste é esse silêncio nos seus olhos
Empalidecendo seus lábios no seu semblante
A sua voz muda, gritando sua dor no augi da alma
Triste é sua dor, no silêncio dos seus olhos.
Ah! Não Posso
Se uma frase se pudesse
Do meu peito destacar;
Uma frase misteriosa
Como o gemido do mar,
Em noite erma, e saudosa,
De meigo, e doce luar.
Ah! se pudesse!... mas muda
Sou, por lei, que me impõe Deus!
Essa frase maga encerra,
Resume os afetos meus;
Exprime o gozo dos anjos,
Extremos puros dos céus.
Entretanto, ela é meu sonho,
Meu ideal inda é ela;
Menos a vida eu amara
Embora fosse ela bela.
Como rubro diamante,
Sob finíssima tela.
Se dizê-la é meu empenho,
Reprimi-la é meu dever:
Se se escapar dos meus lábios,
Oh! Deus, - fazei-me morrer!
Que eu pronunciando-a não posso
Mais sobre a terra viver.
Não queiras a vida
Que eu sofro - levar,
Resume tais dores
Que podem matar.
E eu as sofro todas, e nem sei
Como posso existir!
Vaga sombra entre os vivos, - mal podendo
Meus pesares sentir.
Talvez assim deus queira o meu viver
Tão cheio de amargura.
P'ra que não ame a vida, e não me aterre
A fria sepultura.
E as dores no peito dormentes se acalmam.
E eu julgo teu riso credor de um favor:
E eu sinto minh'alma de novo exaltar-se,
Rendida aos sublimes mistérios do amor.
Não digas, é crime - que amar-te não sei,
Que fria te nego meus doces extremos...
Eu amo adorar-te melhor do que a vida,
melhor que a existência que tanto queremos.
Deixara eu de amar-te, quisera um momento,
Que a vida eu deixara também de gozar!
Delírio, ou loucura - sou cega em querer-te,
Sou louca... perdida, só sei te adorar.
CERRADO ERUDITO
Andei sobre o cerrado
Como os bandeirantes
Tão triste desmatado
Fui as lágrimas soluçantes
Fui por ele calado
Um dia cerrado, gigantes
No seu torto encantado
Só para me recordar
E não pude fascinar
Fiz uma poesia
Como poeta do cerrado
Soltei brados de fantasia
Pra tê-lo do meu lado
Mas a lembrança esvaia
Pelo axioma empoeirado
Neste preço tão alto
Do belo desnudado
E então, como Cora Coralina
Eu cantei versos ao luar
Neste chão, e céu anilina
Pra a sedução fascinar
Aí, me curvei
Chorei... Ante a força do sertão
Até quando este estado?
Surrado. Resiste a civilização
Ainda andei sobre o cerrado (...)
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
01 de abril de 2018
Domingo de Páscoa
Paráfrase Paulo Vanzolini
Papai Noel que nunca chega
(Carta de um menino zimbabuano)
Papai Noel,
Onde é que está você?
É verdade que sua barba é branca,
Feito algodão-doce, sem sabor colorido?
Que você existe mesmo eu sei...
No Natal, eu quero um pacote de bolacha
E um ainda maior de pipoca, bem grande,
Que é para dar pros meus oito irmãozinhos,
Barrigudinhos como eu. E a titia... minha tia precisa,
Somente ela, porque minha mãe morreu,
Pai já não tinha – e morreram mais crianças,
Muitos vizinhos, morreram meus irmãozinhos, afinal,
Por enquanto, só eu fiquei,
Eu, minha tia e meu primo do meio.
Papai Noel, será que é possível passar por aqui,
Quero dizer (se não for pedir muito)
Aqui primeiro, aí depois visitar o resto do mundo,
Mundo que nos esqueceu neste lugar
Onde as estrelas se escondem atrás de nuvens marrons,
Marrom-escuras, estacionadas sobre nossas almas.
Querido Papai, velho Noel, se tiver de vir, vem logo,
Não nos deixa para depois dos outros...
Se não quiser sujar o trenó de poeira ou cinza,
Faz uma coisa prática, vem de carroça,
Mas enche a carroça de bolacha, por favor.
(Nossos corações não estão vazios, até que existe esperança,
E existe agonia; e não falta união, falta alegria
Porque nossas barrigas estão ocas. Ocas,
Simplesmente assim, ocas. Nem os vermes sobrevivem.)
Aliás, por falar em união da família,
Pelo menos aqui, a fome é que tem desfeito essa união:
Deixando filhos sem pais, pais que perdem seus filhos;
Netos que não têm sequer a bênção dos avós,
Avós que nunca nanam seus netinhos;
Tios e tias, sobrinhos, madrinhas... todos,
Todos de mãos dadas, unidos,
Mas unidos num vasto e acolhedor leito de morte
– Morte que se apresenta aqui pausadamente,
Separando um do outro,
Deixando tempo demais para a despedida,
Tempo que a gente nem queria ter.
Por isso, Papai Noel, não demore tanto para chegar...
Já estamos cheios de bolachas de barro,
Bolinhos de barro, torrões...
Faz um esforço e vem com algo de verdade,
Qualquer sabor, bolachas e mais bolachas,
O melhor presente da vida.
Faz um pouco de esforço e vem,
Vem antes de o pôr do sol,
Não dá meia-volta de novo,
Não deixa a gente para trás,
Vem, mas vem antes de o sol se pôr,
Ninguém mais pode ficar de fora,
Vem, vem logo, vem,
Vem e traz bolacha pra todos,
Traz o sorriso.
Edder Alexandre é jornalista e escritor, autor do romance Silêncio na Marcha – O Drama do Homem na Ponte do Milagre; também escreveu o infantojuvenil As Gêmeas de Getsêmani.
Ser amigo é...
Dividir um sorriso
Viver juntos mil aventuras.
Ser amigo é poder sempre contar
com uma mão estendida
um ombro para chorar
Um coração que pulsa junto
e sonha contigo
Na mesma vibração.
Ser amigo é ter o peito aberto
e andar na mesma direção,
mesmo que estejam separados.
Ser amigo é
amar em total sintonia
E guardar o amigo nas tábuas do coração.
Paula Belmino
RARIDADE
Tem dias
que a gente acorda alçapão,
um medo danado da vida...
Uma saudade misturada
com uma baita solidão!
...Mas tem dias que a gente acorda
levinho, levinho
tal qual passarinho longe do ninho.
Hoje despertei assim,
ternura sem fim.
Invocando sonhos distantes...
Raridade no corpo
na alma e
no coração.
Despertar...
Curioso...
Nunca notara o arvoredo
imponente, à beira do atalho
por onde passo todos os dias.
Será que foi porque
ando alienada da beleza
que a vida ainda irradia?
Será que hoje o sol
brilha mais intenso e alaranjado
nesse findar de tarde?
...Ou será que foi o beijo
que ganhei de ti hoje,
que pôs sonhos nos meus acasos?
Não sei.
Talvez jamais saiba.
Mas como é lindo o arvoredo
à beira do caminho!
Tão bonita...
Uma folha seca caiu
do pé de romã
do jardim
Ela partiu
Sua alma voou
transladou infinitos...
Tão bonito...
A folha secou
misturou-se ao húmus
do solo, deu brilhos às
pétalas de rosa do jardim,
brilho de carmim
Ela virou estrela.
Foi iluminar a constelação
de pégaso.
É o astro de maior grandeza.
...Tão bonita.
Minha epifania
Minha epifania
Minha fina sintonia
Meu âmago
Meu encontro
Não sei se te conto
Minha descrição indescritível
De algo que aconteceu,
De algo tão sensível
Minha epifania
Minha tênue linha
Algo tão singelo
Que só eu sei
Algo sem lei
Algo que não posso dizer
Minha epifania
Que pode ser com o Senhor
E com meu amargor
Ou comigo mesmo
No dia que percebi
De tudo que se passou
De tudo que perdi
Esta é minha epifania
Algo que não vou te contar
Algo que passou na vida minha
O amor é relativo ... Possui várias interpretações e nuances.
As vezes está tão perto e sequer enxergamos, mas ... se não enxergamos é porque não o queremos como está!
O amor pode ser apenas poesia!
Porém, o que vivemos em busca, ou no dia a dia é muito mais intenso e profundo!
É um amor que quase não rima com poesia, mas que vem com toda intensidade!
VIOLINO DO CERRADO
Violino do cerrado, o vento
Melodia, e toca pro vazio
Entre secas folhas, sedento
Dum árido chão e sombrio
Deslizante em um lamento
O som ressoa leve e macio
Orquestrando o movimento
Num ritmo de um assobio...
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Abril de 2017
Cerrado goiano
DO POETA (soneto)
Do poeta o encanto aproxima manso
Cochicha suspiros na ádvena ilusão
Mergulha no ventre frágil do coração
Lastrando a inventiva num balanço
Do senso transbordam pulsátil rojão
Rematando a inspiração num lanço
Dando à alma asas e um remanso
Para com as mãos tocar a emoção
Torna à alma, e volta a navegar
Adentra com as formas de amar
Solitário, nos portais da criação
No silêncio, põe a vida a balançar
Balança com a vida a silenciar
E tem vida, na vida com paixão...
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Abril de 2017
Cerrado goiano
Dois ônibus freiam lentos
e a gente dentro se imobilizou, atenta.
Eu buscava um afeto magro para aonde fora
e voltei de mãos vazias, com sons mais vazios nas mãos.
Cantem as ruas de medo
a noite calada é de fato cínica, dúvida, e o corte no céu foi profundo!
Contei cidades, bilhetes de ônibus, pequenos pães-de-queijo
peço que mantenha-me acordada a vida, ao menos,
e uma fileira de portas de padaria pichadas
tantos nomes lá, incluindo o meu próprio
sobre os filetes amontoados de retângulos cinzas.
Do nome que tanto aclamei
Busco a resposta que tanto sonho
Dos olhos que tanto busquei
Estão perdidos por tantos planos
De branco Oh eu estive
Rezando por seu mero canto.
Do beijo que ainda me recordo
São sonhos, quase encantos
Das palavras que tanto escrevi
De gastos, meu peito há danos
De preto Oh eu permaneço
Orando por nosso último reencontro.
A morte passa pelo meu pensamento.
Vejo tudo borrado, tudo confuso.
As vezes é bom, as vezes é ruim.
O passado não existe, o presente é só dor.
O futuro, esqueço.
Tá tudo desfocado, borrado.
Eu quero teus olhos e teu coração.
Mas teu nome, não sei.
É sem cor, é colorido.
É sempre contradições.
O meu coração volúvel, está fixo.
Tá borrado.
Borrado.
Sofri para te ter,
mas não te quero mais.
Não quero mais te ver,
só me dê um beijo a mais.
Deixe aqui seu perfume,
seu cheiro é meu costume.
Agora voe vagalume,
E não brilhe, pois tenho ciúme.
Pode ir, vá!
No seu lugar ficará o violão.
Eu tocarei um lá, sei lá.
Tocar uma canção.
Solte minha mão. Large meu coração
Vá na contramão.
Sofri em vão.
É o que dá uma paixão.
Se Permita Estar
Da para não me culpar dos nossos erros e acertos, das nossas brigas idas e vindas. Só peço que me escute no silêncio da sua noite, ouça como meu coração bate forte com sua respiração.
Somente escute, sem se preocupar com nada ao seu redor. Somente silencie tudo e vede como é lindo o silêncio em seu olhar. Sem se preocupar com os barulhos e ruídos, com os buracos advindos de seus erros cometidos, só por um dia silencie tudo, apenas sinta sua presença aqui. Pelo menos por um dia esteja presente de verdade, sem tentar concertar, sem medo de errar.
Só desta vez se permita estar, sem palavras agressivas, sem fúria no olhar. Só solte o seu melhor sorriso e se permita estar, com a alma e o coração. olhe para o lado, mas sem em nada pensar, so observe e sorria.
Responda para todos com seu sorriso lindo, que mostra estar vivo. Só se permita estar, sem pensar em como agir ou o que falar, apenas sinta o prazer, de plantar a felicidade em outro olhar.
Se permita estar, abrace sinta o cheiro, sem em nada pensar, só esteja, só seja a presença naquele olhar.
Apague às más memórias e permute-as por folhas vazias aptas a produzir, só se permita estar, sem hora para partir, sem hora pra chegar.
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