Contexto da Poesia Tecendo a Manha
"A placa sempre diz "CUIDADO COM O CÃO", mas o portão nunca está trancado.
Talvez porque o cão já tenha aprendido que morder dá mais trabalho do que assistir. Agora quem entra, entra por sua conta, sabendo que o funeral não está incluído".
Rosário Bissueque - "Que a poesia continue a ser um meio de libertação"
" EM COMPANHIA "
E vamos nós aqui bebendo a vida
em goles de tristeza e de alegria
sem ter qualquer noção de qual é o dia
da hora derradeira da partida!
Alguns dão tragos loucos de euforia
e alguns amargam dores sem medida,
mas todos têm a chance, já estendida,
de aqui viver conforme se queria.
Prefiro essa cachaça que é o amor
e o afogar das mágoas nesse andor
provido de amizades, de carinho…
Se eu vou beber a vida que é me dada
que seja em companhia me ofertada
que é bem melhor do que morrer sozinho!
O medo de errar
Gritar palavras ao vento
Sentir dor no peito
Não ter para onde correr
Em cada detalhe um sinal
O tempo viajando
Estacionar a força na zona de conforto
Deixar a chuva alagar os pensamentos
Nuvens densas
Ver o que não se deve
O medo de cair é prisão
Para não sentir o sabor da vida.
" IN MY MIND "
Ainda és tu, presente ao pensamento,
a me agitar o amor a todo instante
qual se o viver não fosse-me o bastante
pra tão intenso e forte sentimento!
Aqui comigo, ainda presente, amante
e cúmplice de todo o meu tormento
já que, a paixão, tornou-se sofrimento
se te manténs ausente e tão distante.
Errei, eu sei… E não tive o perdão
que me traria a paz ao coração!
E tudo não me sai, enfim, da mente…
Presente em pensamento, aqui comigo,
concedes, para o amor, o teu abrigo
pra sermos um agora e eternamente?
" COBRA "
O que será que viu? O que é que pensa
pra ter essa postura expressa (ou não)
de quem traçou sua própria conclusão
enquanto que, a verdade em si, dispensa?
Só dá valor à própria conclusão
dizendo que a dos outros não compensa
e nem percebe ser, isso, uma ofensa
a quem diverge da sua opinião.
Traz crítica no olhar, assim, de graça
enquanto que em seu julgamento traça
o que seu ego exige por sentença…
Sei lá o que é que viu! É cobra atenta
que, com veneno à vista, se apresenta
sem ter fato ou verdade que a convença!
" LUTE "
A vida é uma constante e longa espera
pra quem não tem ideia pra onde ir!
Não há momento aqui nem no porvir
que dê suporte a quem não se supera.
Quem fica, pois, sentado, a se iludir,
a própria sepultura cava e gera
pois existência alguma, assim, prospera
sem luta pela causa de existir.
Par’onde queres ir? Qual a razão
que faz pulsar, enfim, teu coração
e que alimentas com total fervor?...
Levanta! Sai da espera que te prende
e lute pelo que é que te surpreende
pois que te aguarda, ao certo, ao fim, o amor!
" PEREGRINA "
A tarde estava quieta, pensativa,
olhando a insensatez da humanidade
com que ela conviveu na tenra idade
e viu perder-se egoísta, vil, lasciva…
Se entristeceu sabendo a brevidade
do tempo que teria a chama viva
por sobre os homens que, o de mal, cultiva
sem perceberem ir-se a eternidade.
Deixou-se desmanchar trazendo a noite
a salpicar estrelas neste açoite
de um coração dorido e maltratado…
Insana humanidade! Triste sina
aos olhos de uma tarde peregrina
que a vê vagar, sem rumo, o amor lhe dado.
Homem desavesso
Gasto os olhos nas miudezas.
Desimporto razões.
Coleciono restos de tarde,
palavras que caem do telhado.
Envelheço no passo do sol,
desbotando feito roupa no varal.
Quando a luz se gasta no chão,
fico pronto ao poema.
No escuro, me encontro,
feito bicho que só escuta o silêncio.
É no avesso do mundo
que entro em estado de poesia.
" JEITO "
Tu tens o jeito teu, tão teu somente,
que me fascina e encanta (com certeza)
de tu'alma revelando-me a beleza
com fúria, às vezes, noutras, docemente.
Talvez o estilo dado à realeza,
ou essa forma tua, contundente,
de estar sempre sorrindo alegremente
quer mesmo quando o embate é com dureza.
És criação sem par igual! Pois feita
de forma, assim, tão única e eleita
a ser, do mais, bem diferenciada…
É o jeito teu, tão teu, que me fascina,
me prende, me acorrenta e me alucina…
Imagem sempre eterna, em mim, guardada!
" ESCONDIDO "
Do amor, vaga nas sombras, escondido,
seguindo em seu disfarce improvisado
temendo pôr alguém, junto, ao seu lado,
talvez por ter, seu coração, ferido!...
Repulsa tem de, um dia, ver-se achado
nos braços de um desejo seu querido
e se encontrar, pela paixão, rendido
por novamente, louco, ter amado.
Prefere, então, manter-se em seu segredo
fugindo o tempo todo nesse medo
de que o amor, de novo, o reconheça…
Assim, vaga nas sombras, lá, sozinho,
fugindo de outro alguém no seu caminho
e crendo que não mais, amar, mereça!
" DESAPONTO "
O que há de livre nessa curta vida?
Nós somos prisioneiros do inconsciente
que, sem fazer notar-se, está presente
em toda decisão nos pretendida!...
A liberdade, pois, não lhe faz frente!
A nossa essência jaz, morta, escondida
e, oculta, faz-se plena por perdida
nas confusões reais da nossa mente.
Nós nos mostramos numa falsa imagem
e nos expomos como que em miragem
pra parecermos livres neste conto…
No inconsciente presos, na verdade,
quão falsa, pois, nos soa a liberdade
que, ao fim, só gera a dor do desaponto!...
" EXPLOSÃO "
Numa explosão de cor, morre o meu dia
crepusculando a tarde nessa estrada!...
A mente lhe acompanha a paz, cansada,
distante da paixão e sua euforia!
Mas perto faz-se a eternidade doada
e sinto que o caminho já se esfria
sem dar-me carta alguma de alforria
dos meus pecados na alma depravada.
Que fiz deste que sou? Cumpri o destino
ou simplesmente vim, num desatino,
apenas existindo e não vivendo?
Morre o meu dia em explosão de cores…
Morrer eu sinto a vida, os meus amores,
enquanto apenas vou sobrevivendo!...
CICLO DA VIDA
A vida é como as marés, vai e volta sem cessar,
como o vento que se espalha e retorna ao mesmo lugar.
Se um galho ao chão se quebra, logo um novo há de brotar,
e a gente segue em frente, sempre pronto a recomeçar.
O rio nunca descansa, corre livre sem temer,
mas se a seca lhe castiga, vem a chuva a refazer.
Assim também é a jornada, de quedas e evolução,
onde a dor ensina o rumo e o renascer é a lição.
No compasso desse ciclo, somos folha, tronco e flor,
somos sol que aquece a terra e a semente em seu labor.
A vida dança nos ventos, entre o riso e a aflição,
mas no fim, o que nos resta, é sempre a esperança e o pulsar do coração.
A esta tal liberdade hoje escreverei. Escreverei em palavras duras, dura como esta imposição.
Imposição esta que, hipocritamente, é mascarada em um antigo dito, chamado: Liberdade.
Como posso eu, a vida aproveitar, da vida desfrutar, se junto a mim tenho esta tal liberdade?
Liberdade esta que dita minhas escolhas e imprime o meu viver. Viver... Se é que ainda tenho esse viver.
Por que esta liberdade, toma a liberdade, de minha liberdade fazer a dela? Por que finges que me conhece?
Por que finges que sou livre? Por que finges que ainda tenho decisões próprias a tomar?
" BALANÇO "
Quão frágeis são os fios desse balanço
que, aos sonhos meus, me dão sustentação
continuamente ornando uma ilusão
de ser tão bela a vida em que ora avanço!
São tênues esperanças na amplidão
deste universo, a dar-me de remanso
conforme, no futuro meu, me lanço
tocado pelo amor no coração.
De que se rompam, pois, tenho temor
e que me lancem para esse amargor
de, aqui, viver sem sonhos e esperança…
Balanço sustentado em frágeis fios
acima de rumores meus, sombrios,
e o medo que se rompam, sim, me alcança!
" LABAREDAS "
Eis que a paixão em mim se fez guerreira,
disposta a conquistar amplo terreno
e o amor, antes pacato, enfim, sereno,
entrou na luta a dois, por brincadeira!
E reviraram meu mundo pequeno
botando fogo nessa sementeira
até romper as raias da fronteira
entre a razão e os males que condeno.
Selvagem e agressiva, essa paixão
não mais poupou, da dor, meu coração
e, o amor, fincou bandeira à propriedade…
Ruí, ante seus pés, por derrotado,
e, nesse fogo ardente, consumado
há labaredas vivas de saudade!
Não é porque adora dias cinza
que é cinza por dentro.
Você mesma acredita não ter graça,
acha normal ser quem é.
Pensa que, o que tem de bom,
outros também têm.
Mas o que é ruim
(e todos têm algo ruim),
você amplifica.
Se digo que é alegre, você nega.
Se digo que é brilhante, contesta,
diz que seria arrogância concordar —
e eu nunca discordei tanto.
Quando questionaram seu brilho,
aí, sim, você acreditou.
Te viram triste, chorando,
e você se culpou.
Fez parecer que é sempre assim —
mas não é.
Não é porque está triste agora
que é essencialmente triste.
E não é porque não brilha para todos
que você não tem cor.
Por isso, quando a chuva cair,
o cheiro da terra subir
e um sorriso nascer —
porque adora dias assim,
lembre-se: essa é você,
tão alegre e colorida,
vendo luz onde outros só veem cinza.
" ESCRITA "
Um poeta, somos todos, do destino
que vamos nós rimando na emoção
de cada escolha feita, em decisão
dos versos sobre o tempo peregrino!
Assim, quer seja um poema, uma canção,
soneto curto aceito em desatino
nas frases da poesia de um menino,
um ode no saber de um ancião,
o fato é que se faz por obra-prima
em tudo que nas linhas ela exprima
por resultado de um viver humano…
Escrita eu dei à minha, com ternura,
por vezes na razão de uma alma pura
batendo um coração sujo e profano!
" LEVANTA "
Levanta-te que é, pois, chegada a hora
de te encontrares com a escolha feita!
Não há mais tempo algum para a desfeita
de te esqueceres de quem és agora!
Assuma a sina na paixão aceita
e siga o instinto teu na estrada a fora
sem medo de que o sonho parta embora
por outra insensatez, em tua alma, aceita.
Te ponha em pé pra dar sequência à vida
em toda a história que há, nela, contida
sem mais delongas nem protelações…
Sem medo mais, levanta! É hoje o dia!
Sem decisões o amor se perderia
na longa estrada de tuas ilusões!
" OFERTADO "
Serviste, em puro cálice, o veneno
do teu desejo incauto e sem juízo
e foi o amor que viu-se em prejuízo
sem ter, da despedida, um leve aceno.
Sorvi-lhe o conteúdo num sorriso
bebericando o sonho, leve, ameno,
e toda a dor cruel que agora enceno
me vem do ir contigo ao paraíso.
Sequer tivestes pena ou compaixão
ao me envolver, incauto, na ilusão
de que seria mais que um mero instante…
Bebi todo o veneno me ofertado
no anseio meu de amar e ser amado
sem me atentar a tudo o mais restante!
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