Coleção pessoal de RaymeSoares
Mãe
(Rayme Soares)
Abraço que ensina e acalma
Único, desde a luz da vida
Pois Deus permitiu que a alma
Por outra fosse envolvida
Palavras que nunca se calam
O entendimento perfeito
E por toda estrada se instala
Sem amarras, sem preconceito
Olhar e derrames d’alma
De gente que sabe ser mundo
Sem vestes, sem máscaras, sem trauma
Tem no olhar o sentido de tudo
ITACIMIRIM
Talvez com o abraço teu
Meu mundo finalmente
Levite e encontre
Aquele rasgo azul no céu
Por sobre o mar
Inundar de ti
Esse sonho, enfim
E a paz de Itacimirim
Pois tu tens de mim
Mesmo tom que ali
Soou
Deixarem os grãos da areia, os pés
Sermos um mais, em cada um
Nós dois, na tez do céu azul, do mar
Rasgo na imensidão da voz
Que agora se eleva a permitir
Aquela imagem que fincou
Itacimirim.
NEM QUERERIA
Sim, eu supero o medo, a necessidade de acordar cedo
Sou notívago, venço a solidão. Sei andar na contramão
O azedume, a amargura, o travor do desdém, eu supero
O ardor da raiva, o fervor do ímpeto, até disso eu desvio
Mas se você pensa, ou alguém disse
Não está em mim, ter um feito, um calço, um jeito, pra sacanice
E a isso se eu superasse, então findo por todo o lado
Saberia de mim desatinado. E, assim, certamente, nem mais me visse.
SOBRE O PAI
Um dia, sob o seu olhar
A mim foi dado um caminho
Sem temores, sem penar
Meu andar em desalinho
E se eu fosse um passarinho
Em teus braços, melhor dos ninhos
E se eu fosse uma sementinha
Em tuas mãos a terra minha
E se um dia eu nada fosse
Por tua presença, então seria
Pois se tu és presença intensa
De uma força sem barreira
Uma força que não cessa
Que por nada se esgueira
Eu sou vida em pleno voo
Sou pro sol a terra inteira
Pois tu és o prumo mais certeiro
Tu és um astro que não cai
E no recanto dos meus versos
De onde o puro não se esvai
Eu encontro o que não meço:
Prece, abraço, laço, pai.
FINITO - À Mariana.
Da janela do meu quarto, entendo ser finito
Além do céu cinzento, um inerte monolito
E nada estanca a lágrima corrente no meu rosto
Tempo parado, pela dor que sinto e trago tão aflito
A vontade de esquecer, nunca esteve comigo
E se tentei estar atento, foi só pra ter contigo
Os bons intentos preservados nos momentos de um sonho
Mas da janela do meu quarto, um retrato do meu grito
Queria só te ver
Pra talvez compreender
O que não cabe mais em mim
Queria só viver
O tanto a mais pra ver
O que não cabe mais em mim
De amor
ALMA LEVE
Suave, voa linda ave leve
Quem sabe, a ela cabe e se revele
Leve, leve, leve, leve
O solo onde um encanto lhe reserve
Um voo novo, forte e sem fronteiras
Leve, leve, leve, leve
E o vento, as agruras e as barreiras
Pra longe da esperança verdadeira
Leve, leve, leve, leve
No passado, a tristeza derradeira
Uma maldade transformada em poeira
Breve, breve, breve, breve
Então, cante e voe a uma altura
Que te mantenha alma pura.
E te eleve ave leve.
Demência
Pedra estática, quando a terra treme
Pedra muda, quando o barco afunda
Pedra surda, quando da dissimulação aguda
Pedra nula, quando dela se quer um norte
Pedra-paisagem, inerte demência à mostra
Pedra abstrata, sem tom, sem forma, sem nada
Pedra inútil, se havia ou tinha é pedra velada.
MARIANA
A gente brincou de céu
A nossa viagem, minha filha
Em uma nave de papel
A gente na beira do mar
Castelo de areia e certeza
De que nada iria findar
Agora meu canto no ar
Mas eu nunca perco a esperança
De te ver em algum lugar
Eu quero lembrar seu sorriso
Eu posso ouvir a sua voz
Ecoando no meu paraíso
De uma forma que ninguém ouviu
Se você seguiu seu destino em paz
Há de existir algo bem maior
E esse é o chão, minha luz, meu sol
Ah se eu soubesse como não parar
Ou como parar o tempo, pra você ficar
Eu faria
Livro Fechado - Canção
Pelo chão roupas, versos, dias vãos
Cada passo de um caminhar
Que um dia eu não quis olhar
Era o céu: as estrelas nas minhas mãos
Nossa ida para o mar de amor
Minha boca silenciou
As palavras soltas dizem mais
Que as verdades mortas de um rapaz
Que cantava flores e jamais
Pensou no risco que é viver
Sobre a mesa nada que desperte um sorriso
Um livro fechado, um nó
Na lembrança, sua tez
Eu tinha o céu: mas eu nunca soube voar
Achava que da vida eu sabia
E eu só queria amar você
Na casa vazia muito mais
Que o coração cheio de uma paz
Que ficou no meio de um desejo de puro amor
Rayme, nome de mescla de pai e mãe, nome que carrega mundos, preenche corpos mudos e corações surdos.
Ei-lo aqui, com sua caneta, quase colada à mão desde o seu alvorecer ao crepúsculo de seus declínios.
Declina com o fascínio da dança noturna dos versos, e renasce tal qual Fênix com a determinação do alcance de um cume.
Mistura viagens, passagens, paisagens, danças, desventuras, brinca de ser são na loucura, enlouquece a sanidade, faz salada com um só ingrediente.
Tem as palavras na mão, pinta-as de todas as cores, sabores...
Tem é sede de escrita ávida, irrascível, desejo é martirizar o papel com a avidez dos seus punhos reforçados na caneta.
Escrevinha a olhar por entre as cortinas da janela, inspirado pelos discos da avó e pela vida bizarra dos vizinhos. Escrevinha mesmo que no ermo, escrevinha pessoas e personas, escrevinha imagens em linha, mesmo que exilado, mesmo que sozinho.
O cosmopolitismo abrigado num invólucro miúdo, de ser humano, torna-se semi-deus denotando seu entender de quem já tomou, na xícara, o mundo.
Mariana Conceição Soares.
A Peneira do Tempo
Agudas lembranças: cheiros de ruas, praças, marés, brinquedos.
Lembrança de ter sido herói, filho, menino-pai e pai-menino, é o que fica
Pra ter teu passo, pra andar junto e, sendo feliz, não pousar. Fortalecem-se as asas
O tempo não deixa esmaecer o que houve de significância, cravando nos atos
As nossas graças, a nossa infância e a nossa maturidade
Porque na peneira do tempo nem turvo, nem maldade
Revele-se infinitamente, resplandecentemente, felicidade
Sobre Juliana.
QUARTO BRANCO
(Rayme Soares)
O frio, o fel, a falsa verdade
Justo aqui neste branco quarto
É quando a mim vem a realidade
E eu que me julgava tão especial
Era meu olhar, minha filha
Creia, nunca me vi de perto
Eu queria ser o gigante que pensava
Mas não me sinto nem isso, nem nada
Os anos que cria ser imenso se foram...
(Queria o seu abraço carente de mim)
(Cadente não, cadente não, só estrela)
Traças no papel do meu livro.
Vivi tanta ilusão, tanta, tanta!
Não posso me abater, eu sei
Meu Deus, quantas vezes mais
Eu vou chorar neste quarto branco?
META
Tenha em mente uma meta
Pra onde lance a sua seta
Na sinuosa estrada turva
Tenha em mente a linha reta
Pois a vida logo ensina
O futuro é aqui e agora
O seu sonho e sua sina
Realizar, fazendo história
Muito longe de utopia
Creia no que você desperta
Com postura assertiva
Perseverando a gente acerta
Do seu sonho, tome posse
Com seu empenho, vá em frente
Se algo quer calar seu norte
Pro seu intento, acorde, atente.
Flor do meu jardim - Canção
Pelo chão, roupas, versos, dias vãos.
Minhas mãos trêmulas e sós.
No silêncio da sua voz
Era o céu, pitangueiras no quintal
Araçazeiros, nenhum mal
Você flor do meu jardim
As palavras soltas choram mais
Que as verdades mortas de um rapaz
Que cantava flores e jamais
Pensou no risco que é viver
Sobre a mesa nada que desperte um sorriso
Um livro fechado, um nó
Na lembrança, sua tez
Tinha o céu, os arbustos de onde dizia
Que da vida era o que eu sabia
E eu queria você pra mim
A casa vazia grita mais
Que o coração cheio de uma paz
Que por entre as linhas do seu texto
Falou de amor
A verdade me atrai.
Paz
Vem chegando, vem...
Por todos os espaços, fotos, textos
Sem passos em falso, cercando de luz
Uma presença linda, quero fazer jus
Quero um futuro de cercos assim
Sua presença não silencia
Hipnotiza, encanta, vicia
Está tão longe, mas...
Vem
POÇO SEM FUNDO
Ela passou por mim, por mil inícios e fins
Antes do meu peito, o que a prendia, dias ruins
E depois do mundo, voltou marcada por cada...
Dizendo ter tudo, tudo, tudo, sem ter nada
Foi o nó, poço sem fundo
Depois tantos outros do mundo
Ela voltou procurando e querendo
Um porto em mim, no meio da estrada
Querendo um abraço, mas perdida não se vê
E eu não vejo nada, nada além de um vão querer
Na face a poeira da estrada e ela cansada
E ela nega tudo, mas a vida estampada
Em sua voz, duras palavras
E a paz, tão mal disfarçada
Ela voltou procurando e querendo
Um porto em mim, no meio do nada...
Há muito tempo ela foi e eu não vou...
Boas festas
Enfim, mais um ano termina e nossas mentes e os nossos corações hão de estar preparados para o alcance de novas conquistas. Vem nascendo um novo ano. A cada nova caminhada, algo de novo resplandece em nós, assim como o sol surpreende, único, em cada manhã.
ANO NOVO
Almejo o novo, como quem caminhou sob sol a pino e está prestes a se defrontar com água fresca e limpa.
Anseio pelo que há de claro e definido, para que eu possa caminhar sem receio de me defrontar com o obscuro.
Desejo o vigor necessário, para que eu possa afastar as pedras sem, delas, lembrar depois.
Quero o amor intenso e infinito...
MEU TEXTO
Escrevo por necessidade, sem medir tempo, sem vaidade
Porque tem gente que chega sorrindo e sorrindo lindo já me invade
Porque tem dessa de olhar perdido, que até bambeia se não se planta
No balanceio zum de zumbido, de quem tonteia quando se encanta
Porque tem lugares de se encontrar perdido e tantos ares de quem estanca
Escrevo por necessidade, sem medir tempo, sem vaidade
Porque tem gente que nem nos liga, e tem abraço que é de verdade
E assim tem dessa que nos abriga, que quando parte deixa saudade
Porque me encanta o mar na noite, e me "espanta" a liberdade
Mas sou mais leve no pensamento, de quem me leve na seriedade
Escrevo por necessidade, sem medir tempo, sem vaidade
Porque ainda tem serenata, com sol de ouro, lua de prata
Porque a vida corre na veia, e o céu acolhe toda a estrada
Tem passarinho cantando tanto, parece até estar perdido
Parece procurar seu canto, tal qual meu
texto querendo abrigo
Escrevo por necessidade
O QUE ESCREVI NA LOUSA
Desejar e viver novos horizontes é necessário, contudo, a responsabilidade sobre o que escrevemos (mesmo que não mais na lousa) será sempre nossa. É maravilhoso podermos reescrever nossas histórias, mas nunca deixarmos de assumir e aprender com nossas escritas passadas...