Coleção pessoal de pensador
Treva Alvorada
Absurda leveza que te faz afundar
E não é a morte.
Cumpres tua descida calado
(Uma palavra por descuido
Seria amputar a verdade).
Náufrago do tempo,
Tuas horas transbordam.
Dentro da lágrima,
Imensidão, já não choras.
Estrelas e estrelas,
Copulam a sede e o engenho
De que te alimentas
Como nunca te alimentou
O gosto da carne.
Tua face atónita
Se existisse uma face,
Tuas costas nuas,
Se a nudez fosse do corpo.
Um sorvedouro
Onde a paz dos contrários,
Treva alvorada.
Fecundado, flutuas.
É a lei da graça.
O amor e depois
Era esperado que aos poucos
Definhasse, fosse desaparecendo
Naturalmente levado pelo sono.
Era suposto que por abandono
Morresse –
E não teria o vento nenhum sentido
De ventura, seria apenas
A passagem de uma hora branca,
Entre outras tantas,
Para um coração manso
Que já nada espera nem recorda –
Como se o tempo não devorasse
Também o desconsolo,
E dele fizesse exsudar um leve perfume,
Como se não arrastasse
Cada corpo uma penumbra,
Como se fosse possível
Em vida a paz dos mortos.
Vem! Amanhã começa o mundo...
A primeira luz. O primeiro alento.
O primeiro rosto. O que os outros
Vão dizer? As mil palavras de sempre
Talvez também algumas novas
Mas as palavras, meu amor, as palavras
Ainda nem se formaram: só amanhã
Começa o mundo. A primeira pele.
A primeira lua. O primeiro susto.
O homem que disse, uma vez, sabia:
Nascer é mesmo muito comprido.
Nascer, meu amor, não termina nunca.
Fazer fogo
Que sei eu da tua vida feita de milhões de instantes?
De tuas monstruosidades, tuas taras, teus dramas?
Que sei eu dos teus contrabandos no caminho até agora?
Se nem sei teu nome e as palavras de um pós-guerra
São como pedras que precisamos atritar para dar fogo…
Não é mau que o cenário seja pobre e antes uma questão
De sobrevivência fazer fogo: isso aproxima estranhos, dispensa
Cerimônia, protela a discórdia e nos chama a certos gestos
De linguagem universal, rosto de dor, corpo com sono, sede,
Medo, fome, e então se tocam a tua loucura, a minha sanha,
O meu desejo e o teu desejo, acordados, então queimamos,
E queimamos bem, como se assim fizéssemos juntos a vida toda.
Os teus olhos
Que estejam vivos em algum lugar
Os teus olhos –
Não importa onde se demorem,
Que coisas afaguem, que outras molestem,
Importa que estejam vivos e curiosos
Esses olhos
E olhem para dentro alguma vez
E o que vejam
Seja alguma força de sequóia
Presa à terra desde o império
De outros tempos
E seja ainda uma fonte de pedra,
Sejam águas correntes e o privilégio
De uma calma repleta
(O regozijo da sombra
Passado o terror das guerras)
Que dessa multidão, desse rubor de sumo
E segredo de floresta
Se encham os teus olhos,
E só então se esfumem, e só então se fechem.
Acho que dizer “não gosto de ler” é o mesmo que dizer “não gosto de namorar”. É só porque aquela pessoa ainda não encontrou o parceiro certo. O livro certo. Esse não está lhe dando prazer? Passa para outro. Porque você vai encontrar um outro. E vai descobrir o barato que é.
Ler – sobretudo poesia – desperta na gente essa alta sensibilidade para a linguagem. Isso nos faz bem. É como ver uma paisagem bonita, ir para um lugar onde haja uma flor perfumada.
Temos muita curiosidade de viver outras vidas, de sair um pouco da nossa. E a gente não pode sair de verdade. Não podemos morar em outra cidade, casar com outras pessoas, ter outras profissões. Mas na literatura vivemos essas experiências, não como uma fuga, mas como um acréscimo. Como possibilidade de entrar na pele de um outro e se sensibilizar.
Quando eu olho nos seus olhos, parece que estou em casa. É a pessoa mais gentil que eu conheço. E quero viver todas as aventuras só com você.
Aconteça o que acontecer, espero que sempre se sintam em casa aqui, porque me sinto assim graças a vocês.
Quando decidimos criar este lugar, nunca quisemos que fosse um simples restaurante. Quisemos construir um lar para nossa família, nossos amigos, nossa gente.