Coleção pessoal de MariaAlmeida
Foi Deus quem escreveu. Não eu. Não tu. Um som. Um timbre. Tão baixinho como o canto dos anjos. Passe-se o tempo que se passar, venham as alegrias que vierem, sucedam os temporais que se sucederem. Eu sou una, verdadeira e imperfeita, mas se não me vês com o mesmo olhar com que te sinto, afasto-me, não para desistir, mas para não continuar a sofrer. Eu posso não fazer parte de ti, mas tu sempre estiveste dentro de mim. A minha eternidade é a Deus e Ele é bondoso na saudade que tem de nós e no Seu amor mágico pelos valores de cada um e de ambos.
Em pequena, os anjos chamaram a minha amiga. E eu pensei que também ia. Mas, por algum motivo, continuei aqui. Um palpite razoável para entender e que não sou capaz de encontrar.
Cada vez mais me convenço que estou aqui por empréstimo e que me esperam, pacientemente, noutro lugar.
Como a dos alcoólicos anónimos, haveria de existir uma estrutura para os de amizade não correspondida. Quando os seus olhos nunca nos viram. Quando partem depois de terem chegado. Quando os seus gestos começam a esquecer-nos. Quando querem o que não dão. Por aí.
Deitada na erva fresca da primavera, olho o céu e sorrio a Deus.
O ar tem aquela fragrância de verão, inebriante e profunda, e eu sinto-me infinitamente bem.