Coleção pessoal de LuanaRodrigues

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Eu, descrevendo eu mesma.

Vou indo então assim mesmo, sem frescuras, ou modéstias, vou indo assim mesmo sem vergonha na cara, sem modéstias, fria, sem amor, sem o teu amor, sem o nosso amor. Vou sem nada, só com Deus; sem Deus pois não creio nele, alias, me odeio por não crer em absolutamente nada, me odeio por ser tão crítica, por ser tão desconfiada, por só acreditar no visível, por ser só isso que sou, nada alem disso, sou o tédio em forma de gente, ou melhor, em forma de animal , pois se tu for parar pra pensar, é isso que somos; animais, somos animais da pior espécie.
Bom, disse que já estava indo, mas resolvi sentar e esperar por criaturas que me deixem ser livre, estou esgotada de mim mesma, estou depressiva pelo mundo, e pelo seus abitantes, estou decidida, não vou te ligar, não vou esperar.
Mudei de ideia, vou indo, não vou esperar nenhum detalhe, estou sóbria, sóbria de mim mesma, sobras de um sonho literário, todo escritor quer uma crítica bendita. Toda Eu quer um amor sem rotina.
Acho que vou esperar, vai que nessa espera alguém não chegue me dando boas vindas, me mandando flores, ou me trazendo um jardim inteiro. Espero pois sem a espera não é vida, então antes que eu resolva parar de esperar, vou embora.
Não entendo a maioria das coisas que escrevo, faz tempo que eu me desencontrei. Faz anos em que eu me escondi e me privei de mim mesma, a verdadeira Eu senti muito, sente demais, sente muito mesmo.
Vou indo embora desse lugar onde não passa gente, só uns fios de cabelo voando soltos no ar, apesar de achar que esse é o melhor lugar do mundo, vou indo, o cotidiano me espera. Odeio ser de gêmeos, mudo tanto de ideia, e comportamento, e vícios, e deslumbres.
Odeio ser só eu, a desinteressada por tudo, a brutal amiga da onça, a pessoa que venera o impossível, mas que infelizmente só acredita no visível.

"Para o meu amor, com todo amor do mundo."

E que agora toque uma música bem calma para acalmar os nervos. E que comece sem moda nenhuma, apenas contornando as curvas magras do meu corpo, me tocando e deixando bem claro que não passará de um simples carinho entre duas almas carentes. E que também chegue limpa, e sóbria, e que antes de tudo converse comigo, e seja minha amiga. Me liberta da ansiedade de querer te ter na minha mão. Te encher de carinho e depois te ver indo embora sem me dar nada em troca.

...E a música abafada desse fundo como é que fica? Me faça o favor de explicar. Já está acabando também a minha paciência e criatividade pra escrever poesia sobre coisas OBVIAS. Quero saber o que eu ainda não sei! Escrever o que ninguém sabe. Nem que seja sobre mim mesma, como exemplo disso; Sou completamente dispersa, fora de mim, propensa a qualquer hora cometer um suicídio, emocional, só, meu Deus.

Não deu certo
[...]

Preguiça de escrever.

Eu queria poder saber mais coisas. Mas como eu sou uma pessoa completamente desinformada e com a cultura em falta, sei que eu deveria ler mais livros, revistas e até mesmo jornais. Mas tudo é uma questão de vontade, tenho preguiça de ler e principalmente de escrever. Mas me explica como posso adorar tanto escrever se na maioria das vezes deixo de escrever algo por preguiça?

Lembro que um dia estava eu conversando com um professor de História sobre literatura.
Eu disse pra ele:

Não me entendo!! E ele disse: "Oras...Ninguém se auto-entende, pequena" Achei lindo!

Desanimo.

Ando me odiando muito, o tempo tá passando rápido, e eu não faço nada. A unica coisa que me resta é escrever, porque é a unica coisa que me faz sentir-me útil. Eu ando meio que viciada em literatura e café, como se no mundo eu só existisse para ler e escrever e tomar café, e depois ir dormir.
Não sei mais cantar, desaprendi o jeito. O violão que me fez fazer estória com alguns amigos, hoje em dia, está jogado num canto todo empoeirado e desafinado sem utilidade nenhuma.
Desaprendi o jeito de querer também. Nunca mais pedi nada, nem um abraço de reconciliação, talvez.

Agora posso dizer que nem triste estou mais, estou sóbria, não sinto mais nada. Eu só não quero desaprender o jeito de como se escreve.
É difícil.
É cansativo.
Alias [...]
sinto que não tenho mais o que escrever.

Segunda-feira, tens um gosto amargo de demência, bonita também, eu diria, sem nenhum espetáculo, pela primeira vez estava tão distante...de ser boa.

Não sei definitivamente inventar estórias. Acho que meu estilo de escrever é meio vago, vesgo, cego. É dançar a caneta no papel e rabiscar a folha com palavras inúteis. É escrever sobre um cotidiano que não existe. É escrever simplesmente o óbvio. Por mais clichê que possa parecer, escrevo o que eu acho que é verdade, e o que eu acho que é mentira. Tenho preguiça de revisar acontecimentos concretos. Tenho fome de escrever bobagem.

Vivo em um filme onde a personagem principal está prestes a se atirar de um penhasco e deixar pro mundo só sobras de uma boa e velha escrita.

(Re)encanto, canto e escrevo enquanto os outros sorriem pelas minhas costas.

Era feriado, não me lembro de que. Mas todos estavam dentro de casa, conversando e rindo. Não sei, mas perto dos familiares eu volto a ser criança, é uma coisa automática. Nesse dia eu estava deitada na rede com a máquina de escrever no colo, escrevendo minhas revoltas em primeira pessoa. Estava pra lá de aérea, não escrevi nada de bom aquele dia, na verdade ando sem escrever nada de bom faz meses, não que meus textos sejam bons, mas é que nada tem feito muito sentido, acho que é porque eu não faço muito sentido, e automaticamente o que eu escrevo também não faz. Pois a minha beleza exterior, eu chamo misteriosamente de -beleza clássica- não faz sentido também já que não sou clássica e nem bonita. A antiga espera pelo nada, saio de batom vermelho encantando os rapazes.
Eu misturo os verbos, enquanto, deitada na rede escrevo isso com a máquina torta entre os braços, bem portátil. Já está anoitecendo e o meu cachorro está latindo descontroladamente para os carros na rua, impressionante o jeito como ele late querendo dizer alguma coisa. E de repente me da uma pausa literária e preciso urgentemente tomar um café e fumar um cigarro, na verdade ando fumando muito ultimamente, estou descontrolada fumando um maço por dia, e estou tomando muito café, sei que é besteira, mas acho que esse “mito” de que café tira o sono realmente é certeiro, não sei também, não estou afirmando nada. Ou eu só perco o sono por te amar demais, e desejar seus gestos perto do meu rosto, e desejar absurdamente sentir o gosto e o cheiro doce ou amargo da tua boca. E pegar na tua mão e dizer que eu quero você sorrindo na sala de estar e eu lá contando piadas sem graça nenhuma.
Preciso urgentemente da sua companhia, feminina e amiga também, preciso de delicadeza, porque de brutalidade mesmo que sendo emocionalmente...

estou exausta […]

Amor, pra quê??

Eu te quero em todo espaço do meu tempo, e bate na minha porta quando anoitece, esperando a carência se manifestar e mandar eu ir te procurar, esperando achar o que não vou me adaptar, amor, amor só tem nos meus contos e contos de fadas não existem, só abalam ainda mais corações românticos e tolos dessa nova era, que eu particularmente costumo chamar de "era dos desonestos apaixonados". Era como se fosse amor, mas um amor desonesto o suficiente para me roubar o coração, me deixando tola e inconsequente, fazendo-me fugir da realidade acima permitida, me fazendo desgastar promessas que sei que nunca vou cumprir, e gastar salivas com palavras bonitas, que pra quem não ama, não possui muito significado...

Estou errada, mas amo mesmo assim, desonestamente, mas estou acostumada, a ficar contente, com um sorriso, ou com uma dança lenta, que me faça rever e ver que defeitos todo mundo tem, e com orgulho eu digo que eu sou uma incógnita, maldita, que ama mutuo, sóbria dos defeitos próprios, que ama as desaventuras e interesses maus compreendidos desse nosso amor patético e bêbado, que vê coisas onde coisas simplesmente não existem.

Me dói os nervos viver da superficialidade de tudo.

Meu silêncio quase abstrato.

Do que eu mais precisei foi de conforto, emocional. Na vida as coisas são tão difíceis, mas escrever me salva a alma, como se o mundo estivesse a espera da minha escrita, e as pessoas estivessem gritando de vontade me ler, “Escreva, Escreva, Escreva!!”. Mas como se isso fosse possível, quando ninguém mesmo me conhece, nem eu própria sei de onde vim, ou pra que exatamente estou aqui. Mas na corrida que eu sempre me perco, há de ter alguém me esperando, há de ter alguém pra me dar um apoio emocional, ou ofensivo.
Eu espero para que todos durmam, mas na maioria das vezes eu durmo primeiro, pois não vejo a hora de chegar em casa e me deitar para me desligar da realidade, as pessoas que já não tem mais prazer em viver deveriam ser chamadas de “anti-vida”, sim, as que perderam totalmente a vontade de levantar e continuar.
Mas mesmo que o mundo acorde sempre de manhã, eu sempre vou ter amor, seja lá de quem for, ou meu próprio, sei que nasci para poucas coisas, e elas são, escrever, amar meus filhos que ainda pretendo ter, e amar o mundo com sede de viver, mesmo sendo fingimento, talvez alguém um dia consiga se acostumar com essa rotina de quem é feliz, e por se acostumar tanto, nem perceba que já se é feliz verdadeiramente, sem mentiras.
Um dia na casa mais bonita da cidade, a gente vai se encontrar, eu vou ficar em silêncio, como de costume, é o que eu mais faço, fico em silêncio, e vamos ter uma conversa silenciosa, eu e você, vida.
Vamos discutir esse estado tão vazio em que meu coração e alma se encontra, quero um dia poder ter forças pra mostrar ao mundo que a minha opinião também quer ser reconhecida, apesar de ser injusta, mas o amor que carrego comigo é para os outros, estou disposta a amar qualquer ser, a ponto de perdoar até a mim mesma. A ponto de amar uma criança e cuida-la e cria-la para ela mesma, e souta-la no mundo, depois que já se acostumou tanto comigo a ponto de me chamar de velha careta.
Sou um tanto quanto careta, na verdade beber e fumar sozinha e coisa de quem é meio viciado em solidão, eu gosto só do que me interessa, e que fique bem claro, eu odeio gírias, e tudo que se está na moda, e tudo que todo mundo usa. Adoro a diferença que alguns tem prazer em fazer, adoro contestar em silêncio, beijar na chuva e beber sozinha, sim, sem ninguém, já não basta ter que aguentar as minhas próprias opiniões formadas em relação a tudo, e todas são absurdas, sobre o amor eu já nem sei, como se já não bastasse eu, eu não me aguento quase sempre, tenho antipatia por mim mesma. E fico absurdamente feliz quando encontro alguém mais perdido que eu.

Parei pela metade, nunca fui até o fim, ando sem paciência até pra mim, estou sóbria, pela primeira vez consciente do que escrevo, mas sei que quando eu bebo eu esqueço, que eu amo ela, e isso é horrível.
Não faço muitos estragos, eu só fico quieta, observando tudo, sem muitas revoltas adolescentes para comentar, mas é isso que sou, uma coisa totalmente sem interesse nenhum, por nada, só no conhecimento, porque por enquanto, é a unica coisa de valor que me restou.

(...)E quando a primavera da as caras por aqui
me rendo ao teu riso e volto a sorrir
imaginando momentos imaginais
tais momentos que nunca vão existir
penso que essa primavera está tristinha
pois o sol anda se escondendo
e me deixa calma, mas não acalma teu riso agora
primavera deu as caras, vamos embora
o teu riso é a minha maior demora
tá acabando, e nesse inverno ao avesso
atravesso tuas lágrimas, à noite, quando
choramos, no mesmo tom, pelo mesmo motivo
queria ser sol, ou ser a chuva, mas não aceito meio termo
você sabe, minha pequena, sou a tempestade no copo d'água
mas não importa, minha menina, agora que estas sorrindo
todo desleixo é poesia, toda preguiça vira música
toda espera fica bela, ao esperar um beijo teu.

Bla Bla Bla

Passo horas a fio tentando descobrir
algo de uma enorme quantidade, sabe,
poderia ser qualquer coisa com o teu nome.

E na rua da minha casa passa gente
o tempo todo, e eu fico olhando pela
janela do meu quarto eles passarem
e em cada gesto despercebido, eu
percebo e desejo o seu
Não sei se ato ou desato
se vou ou se fico.

Insisto em ficar, por MEDO talvez.
Sou aquela antiga estória mau contada
escrita errada ou sem graça,
talvez por ser o "nada" de toda estória
Sou o cansaço
E quando eu penso em você, me acho estranha
como se isso fosse errado.

Não sei se eu
te beijo
Ou se eu
apenas me calo.

Eu passo horas tentando,
juro que tento, encontrar um defeito
em você.
Mas por eu não te conhecer,
não sei nem das qualidades,
e quer saber, menina
é por isso que eu amo
Por sermos um mistério.

Ligo a TV pra distrair,
não sei,
mas quero sair desse mundo
que só da as ordens
e que não sabe ouvir
uma qualquer protestação.

Mas logo me desligo e deslizo nesse chão
Imagino você,
tenho duas opções
mas não sei se escrevo ou se canto
qualquer canção que te cause a nostalgia
ou se te falo em vão:

Eu-te-amo-mas-não-importa-desculpa-qualquer-coisa-tchau!

...ou se me calo como de costume.

(In)certeza

A incerteza de amar alguém, de percorrer quilômetros no pensamento pela noite, para chegar perto de alguém que nem sentirá jamais a sua presença. Não sei explicar tamanha idiotice, essa de querer estar perto de um ser tão impossível. O jeito como nós nos desprendemos de qualquer coisa, mas nos prendemos de novo há algo insignificante, mas por sermos humanos, qualquer coisa nos chama atenção, e realmente não é bem assim. Temos que mostrar controle com nossas próprias emoções, mesmo sendo impossível, mesmo parecendo cansativo, eu sei que poderíamos, se tivéssemos força de vontade, mas isso é cansativo de mais. Ler frases e textos de auto-ajuda está fora de moda, o que está na moda agora e ler e escutar o que lhe deixa deprimido. Moda, odeio essa palavra, ela soa como uma incógnita, ela é tão feminista, tão controlada, tão ...tão, não sei meu Deus.
Muitas vezes eu me peguei pensando em como podemos ter controle sob sua própria mente, tentei meditação, fui em diversas igrejas pra conseguir encontrar a que caberia mais ao meu jeito de pensar, todas as que eu visitei deram em perda de tempo e descobri que gente como eu, devesse ficar somente com suas opiniões, já que a minha por exemplo não se forma a nada.
E então, pra descobrir quem eu realmente sou, precisei de tempo, bastante tempo. No final dessa experiência fracassada de tentar procurar o meu “eu” encontrei lá no fundo da minha gaveta -cérebro- uma coisa que jamais tinha parado pra dar um mínimo de atenção, a minha superficialidade, ela sim nunca me abandonou, e então pensei, já que sou uma pessoa altamente superficial em minhas emoções, cogitei a possibilidade de eu ser uma pessoa falsa, mas apesar de eu parecer alguém falso, descobri também que eu era muita nova pra tentar desvendar assuntos sobre mim que adultos com tantos anos de vida nunca pararam pra pensar nisso, e então obviamente desisti.
Um dia quem sabe eu não volte a procurar em algum lugar por mim mesma, a vida é tão desgastante, mexe tanto com a gente, como dizia Clarisse Lispector “nascer me estragou a saúde” …
E a gente tem que sempre seguir esta risca, de que o mundo é tão pequeno e que o seu verdadeiro amor pode estar ali em baixo, no primeiro andar da onde tu mora, ou ser teu vizinho, mas se parássemos pra procurar quem realmente iria nos fazer feliz, iriamos ser uns idiotas, porque amor não se procura, deixa ele aparecer assim do nada, te deixando com um sorriso bobo e com aquela cara de quem viu um anjo. Mas como eu não sou romântica -mentira- nem nada, quero mandar um recado para o meu cupido vesgo e doente mental. Querido cupido, sei que você não gosta muita da minha pessoa, mas só queria dizer e pedir, implorar para que pare de ficar só em casa e trabalhe logo, me ajuda, se encarregue de por alguém logo na minha vida, porque realmente estou exausta, cansei de procurar por nada, nada funciona. Sei que isso soa como idiotice, mas é bem assim que eu sou, uma grande roda gigante, de sentimentalismos, de amor, de esperas, de procura ásperas e desertas, estou querendo finalmente pensar em algo que me fará bem, e não só tristeza, tristeza, tristeza. O mundo é tão desgastante afinal, e eu sou tão criança, ainda pra tentar pensar nisso, não é mesmo? ….

Tens caráter duvidoso...E quem não tem?

[…] Tudo bem considerando o fato de que a vida continua e que eu interpretei a sua ironia de forma errada, meu bem. Tudo bem que o mundo custa menos pra viver do que pra sonhar e tornar realidade. Encontrei em você algo que tinha perdido em mim, a decadência. Na verdade já estava vivendo isso à tanto tempo já tinha me acostumado com essa rotina diária de um fracassado. Mas você realçou em mim, um sentimento de tolerância, um sentimento bonito de se escrever, talvez fosse mesmo amor. Mas na maioria das vezes eu precisei de um apoio, todos precisamos , afinal de contas somos humanos. E isso pra mim não é bem como uma virtude. Humanos pra mim estão fora de moda. Queria eu ter nascido pássaro. Já dizia mamãe toda noite antes de ir se deitar “A vida passa rápido e quando vê já foi, quando se der conta de que as coisas mudaram, minha pequena, será tarde demais.” As vezes eu queria só poder voltar e abraça-la, queria poder dizer coisas bonitas, não só entregar pra ela todas as minhas revoltas. Mas como eu sempre digo, continuando sempre, um dia tudo isso acaba. Sempre acaba e nunca volta. […]
Precisei tanto de ti ontem à noite. Fiquei horas desejando você aqui comigo. Até coloquei músicas dos Beatles pra ouvir. E quando ouço Beatles pode se ter certeza de que estou muito decaída, as vezes me falta um pedaço. As vezes estou tão necessitada de um abraço, que me sinto tão remota, não consigo fazer mais nada. É só carência, carência e mais carência dentro desse meu coração vazio. A noite me lembra tanto a gente, esse momento em que nos dois nos encontramos naquela esquina, naquele outro planeta que costumávamos chamar de nosso cantinho. Seu quarto, ou o meu quarto. Tanto faz quando já se está gostando de alguém a ponto de pedir pra Deus a pessoa do teu lado. A ponto de se considerar um nada, um nada a ponto de se considerar a pior coisa do mundo. Mas tudo bem a gente esquece, um dia passa, é passageiro.
Vamos seguindo então essa montanha russa de sentimentalismos que vai e vem vai e vem. As vezes num piscar de olhos você já perde o que demorou tanto tempo pra conseguir. Eu queria tanto ser pássaro. Mas amar você não me permite voar; alias, nada permite. Nada que se deixe levar por um mundo enganoso. Nada que mude minha aparência duvidosa e áspera. Nada que me torne fria, mais do que já estou não, por favor. E vem pra ficar dessa vez, não vá não. Eu preciso de alguém que não corra de mim, quero alguém que precise da minha filosofia incerta. Alguém que fique, alguém que fiq...queria mesmo é ser pássaro e voar agradando o mundo igual ao vento.

[...]Cumprimente-me de acordo com meu humor. Rouba-me um sorriso, diga coisas bonitas. As vezes um carinho cai bem, um mimar, ninar. Queria que esse momento durasse pra sempre, como o eterno que não existe, e a escrita mentirosa que costumas ler. Tente se deslocar fora do lugar, não me olhas com essa cara de quem me quer bem, meu bem. As vezes o vento só vem pra avisar, que bons momentos estão chegando, e que essa brisa descontente vai passar, e que as primeiras pessoas que te olhar nos olhos, nunca iram se afastar. Poesias passageiras, rimas fora do lugar, vamos arrumar essa bagunça, ou deixar tudo como está. Finalizar com um beijo, de amizade ou namoro, quero ser estranha o suficiente, para que me deixe ficar, até o amanhecer chegar.

Um dia eu tomo juízo
Em quanto isso eu vou te amando
Criando, expectativas lamentáveis,
Queria, estar do teu lado
Enquanto não acontece,
Eu imagino…
Que, o mundo é predestinando,
Tá do meu lado,
O violão, o cigarro.
E a saudade que traz, a minha tristeza
Eu gosto, eu rezo, mas ela não chega.
Cansei de te esperar
Agora, eu tô rimando amor com dor,
pra não dizer que o amor
que me restou, um dia vai acabar.

Triste era ter que conviver com a coincidência rotineira dos finais de tarde, quando ia embora para casa depois de dias longos — e todos eram. Era sempre pôr-do-sol.

— É quando a gente se sente mais solitário do que nunca.

Essa era a explicação de Aurora. Mas o que eu acredito é que ela era uma pessoa realmente solitária, independente dos ponteiros do relógio e da posição do sol. Se apegava à qualquer chance de bater um papo com algum dos colegas de trabalho, mas o que me parece é que por lá ela não era das mais interessantes para conversar.

Se segurava firme ao ver o tom alaranjado do céu quando o sol ia se despedindo. Há algumas estações, esse era o seu momento preferido de todo o dia. Os pôres-do-sol eram seus bons acompanhantes. O sol continua indo embora ao final de cada dia, mas ela, essa menina de quem falo, parece ter tomado um rumo inesperado até por ela própria.

Em um de seus piores dias, olhou para o céu ao cantarolar suas velhas canções tolas e apreciou melancolicamente a revoada que, assim como ela, atravessava as ruas da grande cidade ao final de mais um dia de trabalho. Desejou ser um deles. Parou em meio à calçada, e mirou com seus olhos ingênuos seus próprios pés. Por que diabos eles tinham de ser mais como raízes do que como asas?! Era justo, meu Deus? Era justo que essa menina, tão pequena e leve como pássaro e tão sutilmente grande em sua essência, fosse privada de voar? Estava fatigada da calçada dura e fria sob os seus pés. Queria mesmo era o vento forte arrastando seus cabelos vermelhos e machucando com carinho a sua pele cheia de sardas. Onde é que estava as asas dessa menina, quando o que ela mais precisava era voar para longe? Por qual trilha imunda haveria de ter caído suas penas, afinal?

E em invernos mais amenos, Aurora tinha descoberto que, se andasse com certa pressa, olhando as nuvens ao invés do chão, poderia ter a sensação de voar. Sua descoberta, porém, fora útil apenas por alguns segundos, já que a menina tinha pavor de não saber onde pisava. Era por isso que sempre mirava o chão. Era por isso que tinha aquela postura cabisbaixa tão questionável — não era tristeza, como diziam. Era medo. Medo de cair.

Tola! Mas que menina tola! Era por isso que não tinha asas. Era por isso que não podia voar junto dos pássaros que sobrevoavam sua cabeça a cada dia. Não é permitido se deixar levar pelo medo quando a ambição é tão grande como voar. Ah, se tivesse apressado os passos, se tivesse aberto os braços e mirado as nuvens… menina, você teria voado para longe! Você teria virado pássaro.

Sabe, quando não se tem mais vontade de seguir em frente, e nem coragem. Não porque ama alguém, mas por ter desistido da maioria das pessoas. E ter deixado seu destino com Deus. Sabe quando você ama alguém, e quase nem se lembra mais disso, por já ter desistido de tentar, sem ao menos tentar uma unica vez. Sabe quando a inspiração vai embora, e você fica deprimida por ter tanta coisa pra escrever e não conseguir escrever nada. Sabe quando a tua unica saída e se trancar no quarto e chorar até pegar no sono. Sabe quando suas lágrimas secaram, e você é tão triste que não consegue nem por um segundo derramar uma gota de lágrima. Porque eu não sei mais chorar. Sabe quando as coisa andam muito mal, mas você não demonstra nem um tipo de preocupação, por já ter se acostumado com esse rotina toda torta. Sabe quando você sai na rua e espera que por um milagre você ache o que tanto procura. Sabe quando você se perde de si mesmo por um motivo muito bobo. Sabe quando você não acorda mais de manhã para ir pra escola e começa faltar a aula. Sabe quando seus pais chamam você para ter um conversa séria sobre o seu estado, e você diz que vai melhorar, mas no dia seguinte começa tudo de novo. Sabe quando as pessoas começam a te cobrar um sorriso, e você estranha isso. Sabe quando eu não consigo fazer, é quando eu paro pra pensar que eu já passei por tudo isso, e que ainda não estou completamente curada. Ainda não consigo chorar, e sorrir eu sorrio sim, mas só de algo muito engraçado. Sabe quando você tem medo de se tornar algo que você já é a muito tempo, tinha medo de me tornar fria, sendo que já era fria demais.

Agora o que me falta e ver se a porta da despensa está fechada. E se a água do café já ferveu. Agora o que me falta é ver se o meu quarto ainda está arrumado, ou se continua bagunçado como tudo aqui dentro de casa. O que me falta agora é um pouco de chá de Erva Doce para acalmar os animos. é ver se a minha agenda está lotada de afazeres desnecessários. Ou se a minha agenda está vazia de anotações baixas e românticas demais. Agora o que me falta é ver se o meu cachorro está alimentado, ou ver se as minhas roupas já voltaram da lavanderia. Andei o dia inteiro esperando te encontrar. Comprei até incenso para perfumar. Até deixei a luz entrar, antes de tentar escrever-te mais uma carta anônima. Mais a luz já partiu, junto com essa tarde que deixa o céu meio avermelhado, me fez querer ler-te Clarice, ou Mário. Tanto faz, dês de que me deixe sorrindo atoa. Dês de que me faça sentir aconchego, e me deixe inspirada para mais um dia te amando sem compromisso.