"ROLEZAUM" Um país onde... HUGO PIRES

"ROLEZAUM"

Um país onde jovens pobres se reúnem aos milhares para marcarem seus encontros e fazerem algazarra em shopping centers. Como se isso fosse a bandeira revolucionária de um grupo. Apartheid? Não, não se trata de um apartheid à brasileira. Lembrem-se que o direito de ir e vir, parar e ficar, é um direito consagrado pela Constituição de 88, mas consentâneo de outros direitos também constitucionais, com os quais deve conviver de forma horizontal, pois não pode haver direitos absolutos numa democracia, nem mesmo a vida goza de tal presunção.

Como bem frisou o Juiz da 14ª Vara Cível de São Paulo: "O Estado não pode garantir o direito de manifestações e olvidar-se do direito de propriedade, do livre exercício da profissão e da segurança pública. Todas as garantias tem a mesma importância e relevância social e jurídica" (Processo n.º 1001597-90.2014.8.26.0100).

Não tenham dúvidas de que 6 mil jovens não se reuniriam por acaso em um local destinado às compras por aqueles que têm dinheiro, e, sobretudo, por aqueles que não o têm, mas que parecem ter e pretendem manter a ilusão de um padrão de vida falacioso. Tão falacioso é pensar que esses jovens estão ali apenas para se divertirem, apenas para um "rolezinho", apenas para poderem participar de uma vida que eles não possuem acesso. A força motriz que move esses milhares de jovens é a oportunidade de poder chamar a atenção, fazer baderna, pois se quisessem reivindicar melhorias de vida não estariam aos montes na frente dos shopping centers, mas diante da Assembléia Legislativa exigindo seus direitos. Se quisessem alcançar melhores padrões de vida, estariam lotando as bibliotecas municipais e provando para si próprios e para todo o resto da sociedade que são capazes.

É precipitado gritar que estão proibindo os jovens pobres de entrarem em shopping centers, beira o sensacionalismo. Eu, pobre que sou, sempre pude ir e vir, parar e ficar nos corredores, nas vitrines e nas lojas desses centros comerciais, e creio que você, que agora está lendo essas palavras, pobre que também é, pois se não o fosse estaria nesse momento numa montanha russa da Disney ou no gelo europeu esquiando com mais zelo que o campeão, também nunca fora barrado de entrar num shopping. O discurso de que estão proibindo a entrada de pobres nesses "templos da riqueza", é um discurso perverso que pretende criar uma celeuma e gerar um conflito de proporções prejudiciais para todos nós.

Não é proibido entrar. O que acertadamente se proíbe é a aglomeração de milhares de jovens sem finalidade definida, em um local destinado a compras e não a manifestações, ante o risco iminente de desentendimentos. O exercício de um direito não pode obstar a aplicação dos demais direitos, do contrário estaríamos fadados a conviver em uma ditadura dos direitos fundamentais, na qual um direito do indivíduo se sobreporia aos interesses econômicos, políticos e sociais de toda a nação.

É a minha opinião.