Coleção pessoal de Gracaleal

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Seja

Seja muito torto, seja bem alinhado
Seja muito certo, seja todo errado
Seja insano, seja vitalizado
Seja muito atento, seja um desligado

Seja leve, seja bem pesado
Seja sério, seja o engraçado
Seja firme, seja cambaleado
Seja centrado, seja um avoado

Seja confuso, seja equilibrado
Seja formal, seja despojado
Seja organizado, seja um desleixado
Seja rigoroso, seja bem avacalhado

A passagem é curta para sempre ceder
Seja o momento que te faz feliz
O teu melhor é permitido oferecer
E não arrependa-se acumulando cicatriz

Sejamos nós o melhor de nós
Nos permitindo ser um aprendiz
Não ser jamais o nosso próprio algoz
Entre os azuis estamos por um triz

Seja no dia claro, seja na noite fria
Com lágrima nos olhos ou brilho no olhar
Não importa o tempo que levará travessia
Tenha certeza.- viver não é viver de disfarçar

Graça Leal

Publicado na obra - Além da Terra. Além do céu. Antologia de Poesa Brasileira Contemporânea Volume IV - Editora Chiado Books

Gosto⁠

Gosto do simples
Do espontâneo
Do abraço apertado
De olhar simultâneo

Gosto de inventar histórias
De girassóis e borboletas
De vestir cores e brilho
Da casa cheia de violetas

Gosto de sonhar acordada
De falar bastante bobagens
Observar e captar movimentos
Inventar e representar personagens

Gosto do faz de conta
De viver e guardar segredo
Da conexão com o astral
De provocar e reverter o medo

Gosto de viver o comum
Para torná-lo especial
De ousar e brincar como criança
De ser e manter-me Leal

Gosto da boa prosa
De caminhar por uma longa estrada
Da amizade contínua
Dos encontros sem hora marcada

Gosto de apreciar o verde
Do azul do céu e do mar
Do sol aquecendo o meu corpo
De pequenos momentos para celebrar

Não só o óbvio do belo me encanta
O oculto e o silêncio eu também aprecio
Desbravar o caminho dos mistérios
É percurso mágico em qualquer desafio

Viver é experimentar variações
Avaliar, gostar ou desgostar
Se aprovar, multiplicar as sensações
Se reprovar, permitir- se recomeçar

⁠SOS Estrela Cadente


Estou minguando e pedindo socorro
Sei que não sou daqui
Não entendo esse viver
Cuja a dor também dá prazer
Quem ama é capaz de fazer sofrer
E o amado permitir

Não me lembro muito bem
Mas eu estava recostada na Lua Crescente
Sonhava com a Lua Cheia
Com as bênçãos renovadas do Guerreiro
Que no Cosmo é a grande candeia

De repente uma Cadente me acordou fraternalmente
Disse não termos tempo
Teria comigo um desejo à ser atendido
Ainda tonta, pensei em algum perigo

Montei-lhe ainda assustada
Com a pressa da Cadente
Sem entender que desejo poderia ser importante
Que ela só não fosse suficiente

Viagem fantástica
Pelo pelo tapete de estrelas
Meteoros se despediam felizes
Adeus! Gritavam libertos
Sem saberem do destino ao certo

Pelo espaço longo do infinito
A Cadente transitava apressada
Meus braços já não resistiam
Pela força para me fazer segura
Em uma das suas pontas Reluzentes e douradas

Soltei-me da apressada Cadente
Ouvi a sua voz ecoando no breu cintilante
És o desejo que a Realidade me pediu
Vá ao mundo propagar o sonho
Talvez você aterrisse no Brasil

Cheguei e encontrei o verde
Mas também o breu sem brilho
O negro em luta e sem vez
Um país maltratando o filho
O desprezo aliado ao poder
Sentimentos sem polidez
Sorrisos como troféus
Pelo mal feito ao outro
Com detalhes de sordidez

Pensei o quão difícil será permanecer
Mas pedido à Cadente é necessário atender

Encontrei felicidade cênica
Uma peça montada para enganar rivais da plateia
E uma sociedade longe de ser ateia
Encontrei a esperança desistindo do futuro
O presente desgovernado
O passado envergonhado

Como fazer sonhar um planeta com vasta fome?
Com tanta gente sem nome

Olho para o céu todos os dias
Pela janela, a noite, sob o efeito do sono
Atuando no meu cenário de fantasia
Esperando a Cadente aparecer como num encanto
Para um desejo me conceder
Pois da Terra quero voltar, e sem levar melancolia
Quero secar o meu pranto
Prosear com a Estrela Guia

Quero partir para o infinito
Os sonhos aqui não se sustentam
Neste solo de constante amanhecer
Neste planeta de muito rito
Só sobrevive quem acata o que inventam
Não há muito o que fazer

Não consigo à Realidade atender
Meus braços já estão recuperados
Firme me apoiarei numa ponta reluzente da Cadente
Sonho que ela há de vir me socorrer
Me levar de volta antes de eu morrer
Da serenidade estou carente

Quero residir no espaço
Porque é lá aonde eu consigo viver
É lá que o sonho é livre
É meu lar. Vou poder me refazer
O meu corpo até pode ficar
Mas, minha alma precisa voltar

⁠Se o distanciamento social nos impede de estarmos com todos aqueles que amamos e que nos fazem falta, na noite de Natal, cuidemos para que não faltem dias no Ano Novo que possam compensar a ausência deles através da nossa presença mais assídua em suas vidas. A pandemia vai passar, mas a saudade que nos toma nesta comemoração que nos remete à união e fortalecimento dos laços não precisa passar com ela. Cuidemos para que esta saudade não se mantenha eternamente vinculada à uma fase de restrições. Nem às restrições que já fazem parte do nosso dia a dia, bem como as quais nós mesmos estabelecemos, por comodismo.

Se deu saudade é porque é importante para nós.

Do jeito que o Natal puder ser, que seja uma noite de paz em cada coração.

⁠Um dia eu vou crescer
Vou ser o reflexo de tudo
Que a vida me fez viver
Serei um pouquinho das vezes
Que precisei gritar e emudecer
E muito de mim e de você
Um dia eu vou crescer
Vou ser exatamente
Quem eu, inevitavelmente, precisar ser
E aconteça o que acontecer
Jamais vou retroceder
E nem pensar em me conter
Quando eu crescer
Esteja preparado para me perder

⁠O tempo do perdão é o tempo do coração. Pode ser em qualquer ocasião. Sem hora determinada e de preferência sem plateia. Não precisa ser uma exibição. O perdão é louvável, mas não é uma obrigação.
Se o perdão acontecer em datas comemorativas, certamente haverá mais emoção. Porém, não se culpe enquanto permanecer em você o desejo da distância, dada a decepção. Dê mais mais tempo para o seu coração. Afinal, o perdão não vem com um plug como uma TV que basta ligar na tomada para promover a aparição. Respeite o tempo dos seus sentimentos. A sociedade vende a todo momento pacotes de elevação espiritual. A quem interessa você sabotar a sua dor e a sua insatisfação? Será que seguir as determinações de terceiros vai, realmente, te libertar? É possível que você seja apenas rotulado como alguém que segue padrões, portanto agrada a maioria e é bem aceito por não se rebelar contra a hipocrisia de dizer sentir o que não habita o seu coração.

⁠Se viver é estar em constante movimento como o de uma roda-gigante, estando no topo, deslumbre a paisagem e usufrua do momento sem esquecer que o chão te espera. Porém, estando no chão, não esqueça jamais que o topo é uma questão de tempo.
Movimente-se!

⁠⁠A liberdade é tão valiosa que muitos de nós não se consideram capazes de adquiri-la e optam pela semi prisão que é mais acessível

⁠O arrependimento é a consequência futura do investimento em uma ilusão que nos dominou em um presente que ficou no passado

⁠Quando tudo parecer uma noite infindável, cace as estrelas do infinito

⁠Doe sangue. Ele salva outras vidas. Doe-se conteúdo. Ele salva a sua imagem

⁠O belo, além de contemplá-lo ser um carinho aconchegante na própria alma através do olhar, é a manifestação mais polida da natureza para se fazer presente nas suas diversas maneiras de nos encantar

Arme-se. Porque a proposta de "Amar-se" e "Amar" não deu certo. Parece que foi uma equivocada invenção cristã.

É isso merrrrrrrmo?!?!

⁠Os instantes, dentro do significado que conhecemos, são partículas do verdadeiro e grandioso Tempo. Do imenso percurso que nos aguarda no infinito. Todo o nosso movimento nesta partícula, quanto seres densos, pode não passar de uma reação à provocação cósmica. No fundo, viver talvez seja uma espécie sofisticada de paralisia consentida pelo universo. Uma existência sustentada por uma vertiginosa e necessária viagem pelo planeta azul antes do permanente volitar entre os mundos.
Não somos. Não temos. Não criamos. Apenas reagimos, quimicamente, às investidas do invisível.
É como conseguimos estar, sob a imensidão. É a materialização que fomos capazes, fora do nosso habitat

⁠Não exija as "vindas" se as "idas" forem a saída e nelas houver, realmente, o encontro. Se neste encontro as partes estiverem, de verdade, no mesmo lugar. Se neste lugar a chegada for um desejo sincronizado. Às vezes, a outra parte pode não ter liberdade para transitar nos desejos de quem lhe deseja encontrar

⁠Incomodava

Incomodava por ser feliz, como opção, apesar da autoridade do destino.
Incomodava pela autossuficiência diante das suas escolhas.

Incomodava, porque não lamentava a sorte e por não ser entristecida, apesar das investidas das decepções.

Sorria sempre.

Incomodava, porque apiedava-se do outro pela prática do desperdício de energias ineficientes lançadas em sua direção, só porque incomodava.

Incomodava, porque não aceitava as inverdades e lamentava os medos que paralisam os incomodados.

Incomodava por saber observar. Por ter um olhar descortinado.

Incomodava, pois o alcance do seu coração ultrapassa a fronteira da obrigação de sentir com o rótulo do convencional.

Incomodava, porque obrigava, sem obrigar, os incomodados a pensarem sobre o incômodo desnecessário que lhes tomava a alma, e pela certeza que nestes pensamentos vinham à tona os seus ocultos.

Incomodava porque tinha vida, brilho e liberdade.

Incomodava por se dedicar à busca do equilíbrio na razão, sendo pura emoção.
Seus equívocos não a detinham na insegurança.

Seguia em frente.

Incomodava, mas descobriu-se admirada pela ousadia de ser livre ao ponto de incomodar.
Era admirada, porque sabia incomodar.


Incomodava, porque era movida pela intensidade. Era discreta na particularidade e visivelmente objetiva.

Incomodava, porque não tinha a intenção de incomodar, apenas de viver o seu ser, e este não a incomodava.

⁠Sim. As histórias podem ser de conhecimento público, mas os livros nunca são guardados abertos. Para apreservação do seu conteúdo, eles são mantidos fechados

⁠Lua Cheia

Esférica e prateada no céu
Faz-se imponente no breu
É sonho de amor ao léu
Contemplá-la é o apogeu
Reflete a tua luz, no caminho
Inspira as mãos do escritor
Seu brilho é forma de carinho
É lar do guerreiro vencedor

⁠Desde os primórdios, os poderosos perceberam que o maior perigo que havia na terra era a mente liberta de um humano. Muitas mentes abertas e livres juntas poderiam exterminar com o poder e com os interesses arbitrários deles. A união das mentes livres impediria que eles se mantivessem no topo do controle dos humanos, uma vez que o poder, desde sempre, promoveu ações covardes, atrocidades imperdoáveis em todos os segmentos da sociedade, e em todos os níveis a fim de conseguir se sustentar. O jeito, então, foi criar armadilhas morais, espirituais, afetivas e materiais para servirem de doutrina social. Caímos na ratoeira. Somos, por natureza, famintos de ilusões. A armadilha, nos primórdios, não só funcionou como se perpetuou nos quatro cantos do mundo. Até hoje, a mente humana é refém dos poderosos que, no decorrer dos séculos, apesar da rotatividade no cargo por questões de limitação do tempo de vida, foram aprimorando o conteúdo e o formato do domínio intelectual da espécie e, mesmo em tempos modernos, não falta quem facilite a vida dos condutores de mentes tornando as próprias vidas aprisionadas à conceitos equivocados, à verdades vendidas como absolutas, bem como à comportamentos que só servem para delimitar as nossas ações e sentimentos e nos encher de frustrações e culpas sempre que não estamos seguidos à risca as determinações destes líderes maquiavélicos de massa cinzenta. Além de nos enrijecer no conformismo tornado a nossa alma infeliz, porém com uma mente agradecida pela sorte de estarmos vivos ao amanhecer, consequentemente certos de que não temos o direito à liberdade irrestrita, ao prazer individual e íntimo sem que este afronte o sistema hipócrita de convivência coletiva, conforme os padrões determinados desde os primórdios.

⁠Não morda a isca com o sabor dos padrões de comportamento como uma imposição social. Esta é uma arma manuseada, estrategicamente, por lideranças de alguns segmentos com a finalidade de limitar a nossa liberdade de ser enquanto favorece seus falsos moralistas, detentores do poder de te conduzir psiquicamente enquanto os próprios atuam no campo oposto do que orientam se permitindo serem eles genuinamente quem são, livres para agirem fora dos limites e dos padrões que propagam, e acobertados pelos seus iguais