Coleção pessoal de giuliocesare
Os ursos atravessam o inverno recolhidos à caverna, sustentados pela gordura acumulada na primavera e no verão. Muitos seres humanos sobrevivem das boas lembranças de suas próprias primaveras e verões da vida. O presente virou passado; e o futuro ah, o futuro, uma palavra quase sem sentido.
Pensamento assim está tudo errado. A existência não se cumpre apenas na saudade do que já foi. Cada dia exige o esforço de construir novas primaveras, mesmo quando o inverno interior pareça interminável. O passado alimenta, mas não pode aprisionar.
Do nada, chega uma mensagem e aí constata que foi desarquivado por um passado em que foi muito amado, porém com melancólico final. Duas hipóteses: curiosidade mórbida para saber se ainda está vivo; ou, apesar dos muitos anos passados, sugere que ficou algo de si. À luz do romantismo, a primeira hipótese.
Nada mais gratificante do que ser lembrado e ser lembrado com carinho. Assim, agradeço ao Criador por ser merecedor e dizer que o meu carinho está nas estrelinhas no firmamento sorrindo sempre com o olhar daqueles que me querem bem.
Longe, perto ou colados - tanto faz, é indiferente. Só nos completamos com alguém se existir amor. E ponto final!
Na presente dimensão, infância e juventude somos o futuro; na meia-idade somos o presente; e na velhice, ou melhor, na plena maturidade, somos o passado. Porém, inverte tudo na outra dimensão. Oba!
Saber que sentiu e fez sentir bater forte um coração por amor, amou e foi amado, no singular, uma única vez, valeu toda a existência; não foi em vão. Cumpriu a missão dada pelo Universo e a ele retornará habilitado, pelo êxito.
Para muitos veteranos, o que mais dói é sentir a distância se multiplicar dos amigos fraternos, com quem compartilharam momentos mágicos e inesquecíveis, tempos em que a felicidade, a cumplicidade, a lealdade e a parceria eram companheiras fiéis. Com o tempo e a fadiga natural da matéria, restam hoje a saudade e, depois, as lembranças, em qualquer dimensão.
É loucura odiar todas as rosas porque uma te espetou. Entregar todos os teus sonhos porque um deles não se realizou.
Quando o vazio toma conta, o melhor é o silêncio — na boca e na caneta —, ser apenas um mero observador de tudo e permanecer quieto no seu nada.
Bacana mesmo são aqueles que vivem sem horizonte, seguram a onda da solidão e procuram como missão, resgatar a resiliência, proatividade e esperança nos outros.
Quem muito amou e hoje, na solidão, se sustenta das boas lembranças do que viveu, deve ser testemunho não de desistência, mas de coragem — pois a felicidade sempre ronda nossa porta e espera por quem ainda acredita nela.
Mesmo quando tudo parece vazio por dentro, é nesse silêncio que a vida sussurra: ainda há força em você para recomeçar.
Olhando em volta, sem ver nada que possa interessar nem ouvir, exceto as cores das flores e a conversa dos pássaros, tá ótimo!
A verdade e a mentira andam juntas. Entram em cena alternadamente, dependendo dos objetivos, das circunstâncias e do público. Nesse contexto, as narrativas surgem como um meio-termo perigoso: são ferramentas indispensáveis, anestésicas e até hipnóticas, mas que representam a metástase da verdade.
Quando um veterano descobre que já tem mais passado do que futuro, deve sorrir: venceu o tempo e foi privilegiado pela vida. Agora, resta-lhe transformar cada novo dia em conquista, para que o futuro se converta em páginas dignas de enriquecer o seu passado.
Num mundo polarizado e banalizado, resta o saudosismo: tempos em que cantar e dançar 'Só Love', de Claudinho & Buchecha, fazia a vida parecer mais leve, lúdica e melhor.
Há pregadores da esperança que vivem órfãos dela — e, assim, encontram nobre sentido para suas vidas.
Um alienígena solitário, cuja meta de vida é acordar no dia seguinte e pagar seus boletos, tem apenas um sonho: ser abduzido por um disco voador vindo de um planeta azul.
Cuidado: a solidão perene vai calcificando coisas importantes dentro de nós e, quando efetivamente nos damos conta, virou pedra - sem volta, sem tratamento, apenas lembranças.
