Coleção pessoal de Eu1695

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⁠Conversar é como jogar bola,
Passe pra direita, passe pra esquerda.
Da surpresa ao previsível.
Um arremesso fora de campo.
Vem a bola pesada como chumbo.
Esquiva-se enquanto há tempo.
Ou intercepta ferozmente.
Na multidão, são tantos passes
São tão confusas as regras.
Ouço risos trepidantes, palpita o coração
Talvez eu devesse falar qualquer coisa de interessante
Mas quero fugir.
Para onde, meu Deus?
Conversar é como jogar bola
É um olhar que você lança
Que conforta ou confronta.
Eu fico decifrando os sinais.
Se são estes meus oponentes,
São quais meus aliados?
Eu nunca aprendi a jogar bola
Por isso me sento a um canto e imito
Rio se riem, choro se choram.
São sorrisos tristonhos e lágrimas irônicas.
Sinto apagar-me na multidão.
Eu deveria estar aqui, a cumprir papel de tola?
Com você é diferente.
A bola se arrasta até mim num percurso sem fim.
Eu a abraço com ímpeto.
Não, não se vá.
Tenho uma imensa coleção
Bolas de ping pong, de biloca, de neve...
Mas não te mostro, não vejo eu mesma
Coleções são muito perigosas.
Se elas desmoronam sobre nós...
Se rompem como um átomo de plutônio...
Eu não sei jogar bola.

Amar, amar, amar, amar, amar, amar
Não se arrepende de sentir
Não sente medo de quebrar a cara

Amar, amar, amar, amar, amar, amar
Por que só de pensar em ti
Eu já me sinto mais amada

Amar e lembrar
Do gosto de mangaba
Dos beijos de setembro
Da farda amassada
Dos teus cabelos negros
Grandes, tenros, ternos, cheios

Oh oh oh oh oh

Só não me diga
Que a vida longa
Porque tenjo muitos planos
Muitos planos a traçar

Esse tempo todo
É pouco tempo
Muito pouco tempo,
Pouco tempo pra te amar

Meu amigo
Por qual rio
Escorre o tempo?

Os meus braços
Esvasm em teus
Ombros ternos

O vento sopra
As conversas
Os encontros

Tudo em volta
Um reflexo
De nós dois (bis)

A distância
Entre nós
É um oceano

O sol devora
Evapora
Tantos anos

Você dizia:
O mar trará
Tudo de volta.
O mar trará
Ou matará
O que há de nós?

TU

Praticas boas ações?
O cosmo te arrebata ou arrebenta?
Ah, a crença na perfeição!
Que grande decepção acomete o bom homem...

Mais um ano
Não um ano a mais
Nem tão diferente
Não qualquer ano
Mas um ano qualquer.

Não sei se bem ou mal
Ele acaba de chegar
O tempo age por si só
O tempo há de nos mostrar.

Não é primeiro de janeiro
Não ano novo, mas um ano
Não falo de festejos
Nem tampouco de velhice
Falo da vida que eu mim existe.
São dezesseis anos sem volta
E muitos sem ida.

Não escrevo mais poemas
Esperei por esse dia
Que a dor dissiparia
E eu renuncio à pena.

Acabou a inspiração
Toda banhada em lágrimas
E agora o que restou?
Se não vejo teu sorriso...

Eu pensava, estava certa
De que a lágrima era o oposto do riso
Mas a lágrima que perdi abriu espaço,
espaço pra um buraco, e só.

Não escrevo mais poemas.
Como todo bom adulto,
me tornei eficiente.
Não rumino os sentimentos,
eu omito, eu abafo,
eu jogo pra longe de mim
um lugar bem longe de mim:
o fundo do peito.

Como todo bom adulto,
escrevo lembretes.
Em vez de poemas, tomo remédios
o ócio criativo virou tédio
dinheiro é tempo e tempo é dinheiro.
E a vida?
Esquece a vida, esquece a morte, esquece a poesia.

Um dia acordei tão tímida
Faltava um pedaço de mim
Em vão me estremeci
Mudei de posição
Sou a mesma ainda
Mas algo me espeta de novo
E insiste em espetar
Busco resposta, não há perguntas
Busco onde me acalentar.
Nem sempre é possível estar bem.
Às vezes, sequer razoável...

Entre o vazio e a obstinação
entre o medo e o descuido
entre a loucura e a coragem
onde estou?
entre fanatismo e o ceticismo
a culpa e a falta de consciência...
Sem saber onde estou me coloco em terceira pessoa.
Onde se deve estar então?

Medo de viver, medo de morrer…
Culpa por ter, por não ter…
Crer em tudo ou em nada crer…
E no meio de tudo a loucura, o vazio…
Como não sucumbir?

Acordei tão tímida,
tateie o ar em busca de um signo qualquer que pudesse me expressar…
nada.
Para os sentimentos mais profundos somos meros analfabetos.

Tem dias que quero ser grande,
e os sonhos parecem inevitáveis,
projetam um futuro, um passado,
sem cálculos, pura futilidade.

Tem dias que quero ser mais uma,
passar despercebida pela vida…
seguir a rotina e…
enfim, morrer.

Tem dias que o medo me trava,
sinto meu corpo suar,
às vezes uma mudança abrupta,
ou a vida me forçando a VIVER
sem eu estar preparada.

E a culpa – meu Deus – como o medo
me deixa paralisada
e peço perdão a qualquer um
por tudo, por nada…

Há mais, mas não quero dizer
cansei,
deixe esse poema assim, incompleta
a vida ainda está incompleta.

Já passei por vários lugares procurando soluções. Já disse a mim mesma que poderia viver no mundo da imaginação, afinal, cada um de nós é um mundo inteiro. Concluí que estava errada e, ainda assim, ainda me pego vez por outra querendo não apenas me distrair, mas adentrar e habitar complemente o mundo da fantasia. Outra vez pensei que pudesse me refugiar através do conhecimento, do trabalho, de qualquer coisa que fosse útil. Ora, se o conhecimento não é uma das coisas que mais traz tristeza! Pensei que pudesse ser aprender a viver junto com as pessoas. Mas criamos expectativas, nos decepcionamos. No final, descobrimos que as pessoas preferem pessoas de mais valor que pouco conversam com elas e que as pessoas querem que você estude e seja alguém e daí você retorna pra etapa anterior e parece que nunca é alguém. Como buscar ser alguém senão você mesmo? Nem a religião me salvou, nem a poesia, nem o dramatismo melancólico e o choro, nem a alegria dissimulada, nem a caridade, nem a socialização, nem o silêncio…

E o problema onde está? Volta e meia parece que ele deixou de existir e de repente está ali de novo bem diante de nós. E eu o sinto, ele me embala, às vezes sai uma poesia ou uma lágrima, mas na maioria das vezes não há frutos, apenas um vazio imenso, infinito. Depressão? Ora, isso é só uma palavra, não uma solução. As palavras pouco importam.

Para estar sempre por perto, para reaparecer com tanta recorrência só pode ser um problema com muitas raízes. Digo, um problema que está em mim e também nos outros, na minha estrutura interna genética ou original e na estrutura da sociedade. Povo doente, indivíduo doente. A doença está em nós e, como se não bastasse, parece que é ensinada. É isso. Mas e a solução? Osho diria que é a meditação, além de outras práticas, o que requer não só uma mudança de hábito, mas também uma mudança na mente, no ego, no íntimo. Já vi outros que dizem que não há solução. É bom aceitar o problema, mas aceitar a inexistência de solução… não sei. De qualquer forma, prossigo.

Que há de ser você…

Há tantos tão doloridos,
que dá ser você?
Há tanta ferida exposta
e tanta dor escondida
no meio dessa ferida
como te chamarei?

Ora, todos querem falar
todos querem viver
todos… especiais
e melhores, talvez
Ora, todos podem chorar
todos podem sofrer
todos precisam de alguém
que possa lhes consolar

Que há de ser você:
a ferida ou um ferido?
o médico ou o paciente?
o consolador prometido
ou mais um pobre doente?

Reconhece tua dor,
mas pense
em tantas dores que há
na energia do cosmo…
Nessa suposta competição,
vale a pena competir?

Querida, já reconhece o apelo que te faço,
amarre as feridas
e siga com cada passo.
Meu anjo,
seja o consolador,
seja o médico, o doutor,
seja o ouvinte espectador.
Juro – docemente juro -
não te arrependerás
ao tratar a dor do outro
sem se contagiar
a tua dor enorme,
pequena se tornará.

Juro, de coração,
que o egoísmo não compennsa,
e que a maior recompensa
é uma palavra de gratidão.


Oh, não digo que se engane,
que o outro seja fácil,
não digo que vão mudar,
alguns lutarão pelas feridas.
Mas tu continuarás,
com os teus remendos,
com a tua força,
com o teu jeitinho,
que é o único como todos são.

Deixe o sentimento surgir,
conheça-o.
A coisa vai fluir,
garanto que vai,
prometo que vai.
Teu anjo não te abandonou,
nunca te abandonou,
ninguém te abandonou.

Carlos, a vida continua,
sozinho ou acompanhado,
esperto ou calado,
tu és resistência,
seja paciência também,
seja amor também.
De dores o mundo está cheio.
Com problemas todos estamos.

Isso não é bem um poema,
é seu primeiro consolo,
para si, para o outro.

Eu sei que devia agir
Sorrir, correr, fazer
Eu sei que devia querer
Mas quero apenas dormir.

Eu sei que o tempo ruge
E fico com o tempo mais velha
Mas quero dormir numa capela
Numa floresta, num túmulo, sei lá.

A vida é meio que a morte
Um nada repleto de nadas
Um sentir sem sentido
Talvez, jogo de azar e de sorte.

Eu sei que o vento zumbe
Eu sei que o tempo corre
Mas eu quero rastejar feito uma minhoca
Calar diante do barulho
E dormir na frente dos dinâmicos.

Eu sei que a vida cobra
Alguém vai me perguntar
“Querida, qual é tua obra?”
Direi: “Ó, pai, deixa-me
Apenas dormir, descansar,
Na vida só a morte me habita,
Dormindo o sonho vem me embalar”.

Domingo

Que dia vazio de tudo
O tédio, a música, as conversas
Domingo é cheio de vozes
Mas deixa minha alma tão muda.

O tempo escorre o bueiro
Vai lento juntando destroços
Meu povo está tão sonolento.
Domingo é o dia dos mortos?

O vento às vezes parado.
O tempo um mormaço sem fim.
O futuro e o passado derretem
O presente, só o presente que há,
Um infinito presente em mim.

Domingo, as tardes sonolentas
A brisa quando vem lenta
Molhando as roupas no varal
As pálpebras caindo
As conversas fúteis.

E o último sono do dia
E o terror da segunda-feira...

A poesia que me salva

Quando nem os livros nem a música
Nem uma palavra de amor basta
Recorro à cadela abandonada
A poesia, é só ela que me salva.

Não tem tempo?
Mas que frase descabida!
Se é só tempo, é só tempo o que tens.
Não tem menos de 24 horas o dia
Nem pra mim, nem pra tu, nem pra ninguém.
Já dizia o romancista, com ares de filósofo:
É o tempo um armário fixo,
Não pode aumentar ou reduzi-lo
Fazes caber o que queres, tira uma coisa e põe outra.

Não tem tempo?
Ora, só o que há na vida é tempo,
As fábricas estão cheias de tempo,
As escolas, as conversas, as fileiras de banco, os leitos dos hospitais,
Tempo, tempo, tempo, tempo.
Um tempo inerente a tudo.
O mundo repleto de tempo,
O mundo repleto de vida.
Há tempo escorrendo pelos bueiros,
Pelos olhos da menina aflita,
depositado em cada gesto.
Jogaste um pedaço de tempo pela janela,
Puseste uma parte na tua xícara de café matinal,
Deste um resto de presente para um querido.
Repare na imobilidade do sujeito
Que esconde seu rosto num banco de praça.
Seus olhos miram num vazio impenetrável.
O que vê senão o tempo?
Talvez o tempo-horizontal em toda sua amplidão,
Talvez o tempo-vertical, marcado no relógio,
talvez um tempo de ter tempo
ou o contrário do oposto.

Sem nome (2012)

Correndo pelo pasto
com os pés cheios de calos
Uma vida de grandes abalos
com o destino nos varais
vendo a vida lá de fora
os sofrimentos tão banais
e uma dor que não tem hora
(e um ai que não demora)

Três pensamentos soltos
Data incerta (de maio a junho de 2012)

Saída a pouco tempo de uma tristeza profunda, sentia-me renovada. Amparada por sair de casa (algo incomum na época) e conhecer uma pessoa muito semelhante a mim.

Um sorriso grande
sem compromisso
seu olhar distante
como um fugitivo
de que tu se escondes?
Que queres comigo?
O quê, quando e onde?
Quer ser meu amigo?

Não me paquera de longe
Não se faça omisso
Não se afasta, por favor
Não some
Cadê meu sorriso?

Alguém especial
(Como viver um grande amor)
16.12.12

Todo dia uma dose de você
É um vício que faz tão mal não ter
Dia a dia hei de sentir...
Mas como gostar todo dia tanto assim?

Sem teus abraços a apertarem meu corpo
Meu coração se apertará
Sinto dizer que meu peito não é oco
E de apertada a alma tende a dissipar.

Diário de uma adolescente comum (vidinha, essência)
16/04/2012

Na verdade, não é uma vidinha, porque não há vida pequena por mais curta que seja. A vida não se calcula por tempo, mas por intensidade; e esta, por sua vez, é interligada a quão grande é a alma de um indivíduo.
Dessa forma, vidinha é a vida na perspectiva de alguém cuja alma é pequena, sem horizontes ou intensidade.
E varo a escrever nesta noite por me sentir dona de uma alma pequena, incapaz de saborear dos prazeres e dores mais intensos.
E varo a escrever neste momento por me sentir presa a situações e conveniências, por ter encurralada a alma no corpo, por ter encurralado o corpo no mundo.
Essa realidade me é menos frequente que há tempos, mas de mim não se desvaiu, e há mais de uma frase que lateja sobre minha cabeça: "nada vale a pena se a alma é pequena".

Cada dia que te via
Quantas lágrimas sorviam entre nós
Tu enxugavas os suspiros
do teu choro de menino
num blusão preto encardido
ou na ponta dos lençóis.

Eu te abraçava forte
entre o peito e o colchão
acho que eu absorvia
cada lágrima vertida.
Tuas lágrimas rodavam
a engrenagem do meu coração.

Ah, meu Deus! Eu não sabia
que a matéria prima eram lágrimas e dor.
O nosso amor (quem diria!) que pudesse terminar
com um sorriso de alegria.

Poema sem nome (2012)

Inventei uma palavra
Me mandaram corrigir
Minha palavra tinha asas
Logo pôs-se a fugir.

Minha palavra, ouvir falar,
Restaurava a alegria,
hoje vive escondida
nos sonhos de uma menina!

Chorava todas as noites ainda
vieste enxugar minhas lágrimas de medo
sem medo, me disse rindo que sou linda
escondias, cruel, terrível segredo
não me amavas, me iludia
e eu que nada além da dor conhecia
me iludia e fingia que me amavas.


Como a lua cede ao sol à madrugada
toda minha tristeza já então cedia
às primeiras esperanças de um compromisso
felizes, seremos felizes: juntos!
E tantos afagos recebia
que um futuro juntos já se construía
sem que eu pensasse em construí-lo.


Era eu que não me amava e não sabia
que acreditava que me amavas por carência
e lançava meu corpo contra ti
como uma criança morta cai aos braços de um pai.

E lançava a ti os meus dilemas
e tudo que em mim já não cabia.
Viraste um anexo de mim, Rubem.