Não tem tempo? Mas que frase descabida!... eu

Não tem tempo?
Mas que frase descabida!
Se é só tempo, é só tempo o que tens.
Não tem menos de 24 horas o dia
Nem pra mim, nem pra tu, nem pra ninguém.
Já dizia o romancista, com ares de filósofo:
É o tempo um armário fixo,
Não pode aumentar ou reduzi-lo
Fazes caber o que queres, tira uma coisa e põe outra.

Não tem tempo?
Ora, só o que há na vida é tempo,
As fábricas estão cheias de tempo,
As escolas, as conversas, as fileiras de banco, os leitos dos hospitais,
Tempo, tempo, tempo, tempo.
Um tempo inerente a tudo.
O mundo repleto de tempo,
O mundo repleto de vida.
Há tempo escorrendo pelos bueiros,
Pelos olhos da menina aflita,
depositado em cada gesto.
Jogaste um pedaço de tempo pela janela,
Puseste uma parte na tua xícara de café matinal,
Deste um resto de presente para um querido.
Repare na imobilidade do sujeito
Que esconde seu rosto num banco de praça.
Seus olhos miram num vazio impenetrável.
O que vê senão o tempo?
Talvez o tempo-horizontal em toda sua amplidão,
Talvez o tempo-vertical, marcado no relógio,
talvez um tempo de ter tempo
ou o contrário do oposto.