Coleção pessoal de Eu1695

21 - 40 do total de 85 pensamentos na coleção de Eu1695

O amor não precisa ter sentido.
O amor basta ser sentido.
Por você, meu amor, suplico:
O amor é um precipício;
Mas é também o chão acochoado.
É a vida;
E, por isso mesmo, é a morte.

Asco

A cabeça tonta cede a ronda
E o pescoço solto torno tomba
E o corpo morno compra
Um sorriso frouxo que assombra.

O corpo em retalhos
Quase um espantalho
Tenta disfarçá-lo
Um sorrir amargo
Um sentir tão asco

Tento prever a curva do a
Não é um a? O que será?
Tento prever um movimento de linha reta
Mas o pincel ziguezagueia sobre o ar.

Tento decifrar os lábios
Mas as sílabas se juntam umas às outras
Mas os lábios ziguezagueiam palavras soltas.

Assisto meu destino
Meu destino de rabisco
Sobre a tela um arabesco
Um rabisco pitoresco

Meu destino, meu destino, meu destino de rabisco
Aramaico? Argentino? Que desenho formará?

Fará uma cruva completa antes de a tinta acabar?

Tem gente que dá nó no osso
vontade de mastigar-lhe o miolo
querer que lhe atingisse um raio imenso
um raio do céu do firmamento.

Tem gente que dá gelo e fogo
gelo que não sara e fogo que não ferve
tem gente que não serve
com gelo ou fogo, queima
e tenta a paciência
é gente que só teima!

A mão sobre o lápis desenha
nosso destino de papel
tão frágil.
Antes molhava bico da pena
Hoje molhava o bico do seio
Se a caneta não presta, saculeja
O lápis é de grafiti, de diamante.

Sou eu, presa a uma folha de papel
é uma representação de mim
mais contente, mais completa
poderia me substituir
é mais eu do que eu mesma.

Mas a folha entra em decomposição
mais rápido que meu corpo
vida curta e feliz
vida longa e duvidosa...

meu corpo é de carbono
o lápis é de carbono
é de grafiti, de diamante
meu corpo de grafiti
meus corpos de carbono
sorriem com a analogia.

Você me desenhou
quantas vezes mesmo?
Você me desdenhou
ou me desdenhará?
Me sinto tão amada
mas amar não sei.
Me vejo desenhada,
desenhar não sei.
Parece que estou viva,
mas não sei viver.

Tentei te desenhar,
ficou engraçado...
as proporções corretas,
como faço?
Ora cabeçudo, ora cabecinha
Ora barrigudo, ora barriguinha.
Pego meu lápis e rabisco
um movimento inconsciente
talvez movido por um subconsciente
o destino do lápis incerto
na minha mão o destino do lápis
e minha vida de rabisco.

Ateu, ateu, ateu
o que movem os caminhos teus?
A quem entrega os apelos teus?
Quando nós recorremos a Deus?

Ateu, ateu, ateu
o que te motiva a viver?
No que a vida te cativa?
O que vai ser quando morrer?
Vai viver só por dinheiro?
Vai viver só por viver?
Sem acreditar em nada...
sem ter nada a perder...

E o seu eu? É só ciência?
Sua alma, sua consciência?
Meu querido amigo ateu
Se esse mundo é fruto da ciência
e não de Deus
Façam um altar pra ela
Seguirei os passos teus!

Era um mar de rosas, violetas, jasmins.
Mergulhávamos sobre pétalas, o perfume do primeiro amor.
Mas a correnteza corre e todo o cheio se dissolve.
Deságuam as rosas sobre as cachoeiras.

Então sob as pétalas, no caule, os espinhos.
Os meus espinhos, os seus espinhos.
Qualquer aproximação brusca, machucávamos um o outro.
O espinho é a defesa da rosa, como o orgulho e vaidade na gente.
Espinhos sobre espinhos e todos já estavam feridos.

Feridos, sem lembrar bem do que houve, só o peso do ódio, do mal humor.
Tentamos nos aproximar pouco a pouco
Era quase um estudo anatômico.
Cutucávamos as cicatrizes. Doía.
Eu cutucava suas feridas ferozmente,
queria chegar à raiz, à verdadeira natureza de si.
Não podíamos remover o passado,
mas remoíamos paulatinamente.

Era um caminho. Aberto. Vago. Alheio.
Pesava sobre meus ombros posses, abstrações.
Não há setas, bússolas, perdões.
Não há um destino, mas vários ou nenhum.
As pegadas dos últimos passos, eu vi adiante.
Que garantias isso me dá?
O que é o destino se não a morte?
Caminho em direção a ela?

E eu tentei ver nas réstias do horizonte onde dará.
Dará na última pegada, ao cair numa armadilha.
E o que será adiante se não um ponto de vista?
20 anos e os ombros pesados.
A dificuldade de se desvencilhar…
É preciso estar leve pra escalar montanhas.

Um dejá vu. Me pergunto se já estive nesse ponto
Ou se os pontos se repetem gradativamente.
Talvez a natureza não seja tão criativa.
Parece que o ar se torna cada vez mais rarefeito.
Ou eu me sufoco com meus próprios ombros.

Fui tirando pedaços da bolsa. Um apelido, uma mentira...
Alguns pedaços saíam com muita dificuldade,
um chiclete grudado aqui e ali.
No final… no final… estava leve?
Mas afinal alguma coisa permaneceu, aguada e inconsciente
e essa coisa afinal sou eu?

Havia um vazio pesado. Como o ar rarefeito.
Como a melancolia que inunda os domingos.
Um cemitério vazio encharcado de medo.
Afinal, quando acabara já estaria acabado?
O mais se temia já teria se adiantado?
Não sei o que eu era e o era um estado de mim.
Nem ao menos sei a diferença.
Sei que quando chegar a hora
a hora já terá passado.
Tão lógico e paradoxalmente.

POEMA SEM METÁFORAS

Eu primeiro fui criança
antes disso já nasci
não consigo me lembrar
só me lembro que cresci
que a vida era brincar
uma hora a eternidade
e a maior tristeza
era ter que entrar pra casa
o mundo uma brincadeira
o olhar de sinceridade.

Mas eis que surgiu a mentira
a gula e a vaidade
a bem da verdade já havia
só não sabia nomear
as crianças pouco a pouco
deixavam se abandonar
o quintal vazio e oco
e a maior tristeza
era ter que crescer também
achar na vida a rudeza,
as primeiras brigas de traição…

Era poquinha, mas já pude
entrever pela fechadura
os sentimentos mais rudes:
a solidão, o medo, amargura
quis fugir pro passado,
pro futuro, pra um lugar imaginário,
fugir de casa, de mim,
chorei, me bati,
com meus próprios punhos,
e ai, a maior tristeza
era não saber desintristecer…

Eu cresci. Fui adolescente.
Na verdade, já sentia um peso nos ombros,
não beijei, tive poucos amigos.
Esqueci de rimas e fui
rumando o desconhecido.
A maior tristeza, ai
era minha indiferença.
Queria sentir e não sentia,
era quase uma doença
sem cura que me atingia.
Quis fugir, quis morrer
planejei calculadamente
já náo tinha o que perder
tão perdida em mim somente
sem pra quê, sem por quê
toca meu peito e sente
não sabia mais bater…
Fui adulta. Não se engane
não deixei de sofrer
aprendi a enganar,
aprendi as frases feitas.
Poucos, raros amigos
o trabalho sobre a mesa
as folgas aos domingos…
não sei se era indiferença
não me lembro de pensar
de sentir o que sentia
só me lembro de me guiar
uma consciência quase vazia…
Uma casa escura e limpa.
Mas não posso afirmar
me ouve com atenção
quem sabe se não há
nessa casa um porão
abre a porta devagar
lá estão e estarão:
o brinquedo, a inocência,
o medo, a solidão,
a morte, a indiferença.
Se há, se houve, se haverá,

Madrugada madre da ressurreição
madrugada fonte de inspiração
madrugada, o dia que já vai raiar
os olhos vermelhos e o céu escuro
a lua já esconde no clarão
e os meus pesares mais profundos
afundam as raízes no colchão.

Madrugada, o dia que já vai raiar
me permita um pouco mais a divagar
porque logo logo o raiar do dia
as palavras correm, o relógio grita
ai que prazo curto ai que agonia ai que frenesi
uma esteira infinda olha o fim do mundo
será o fim de mim?
infinitos meios, infinitos fins
infiltrados no massa do encéfalo.

Doce madrugada, prefiro a tristeza
a eterna tristeza sentida e calada
a pobreza do verso, sincero,
terminado na beira da calçada.

Olha o meio fio olha a moto o carro
olha o pé no ralo olha o sol ralado
vai ralar também!
O ócio é a loucura
o vício só procura
quem deixa brecha quem
deixa o tempo frouxo.
Deixa tudo justo
não sobre um segundo
gasta, consome, devora.
Sabes que na liberdade mora
as enfermidades todas?

Protejo o corpo nas cobertas
e me encolho caramujo
a face do fim de um segundo
é a divisa da seresta.

É cedo. O carro de mão carreira
A torradeira belisca. O alarme buzina.
A estrada chega. O sol se descortida.
O aviso avia o grão de aveia
o ovo frita firgideira
a cidade frita clareia
os cachorros os miados
Os povos apovalhados
debatem e debatem-se.
A meia. A empresa fervilha.
O tempo consome não some
causa caos desmonte.
O café da manhã servido:
gente, torrado, ovo, povo, frito, mexido.

Viver em vão
O que é isso?
Como se a vida tivesse algum sentido, além de ir e vir.
Tanta gente me diz pra viver pra ser feliz.
Mas se feliz for apenas esquecer de si?

Oh, meus irmãos, não se enganem,
Qualquer um que pense minimamente,
Sabe pesar as carnes mais doentes,
Sabe que a felicidade é uma semente
E este solo é cru.

Como hei de ser feliz em um mundo degenerado?
Ser feliz é deixar tudo de lado?
É se apaixonar? Ter muitos hobbys?
Ter carro, casa, navio?
Que felicidade frágil, que se mede por pequenos prazeres
Pedacinhos que alimentam a vaidade
E preenchem um espaço vazio de tempo.
Que tal deixar o vazio oco? Se entregar um pouco ao ócio...

Quando me perguntam o que te faz feliz,
Imagino “o que poderia fazer-me”.
Ontem um episódio de uma novela, hoje um abraço.
Amanhã talvez um abraço cause tristeza,
Ou indiferença...
Porém, não se engane,
Não estás no teu controle plenamente
Sobre estares feliz ou triste.
Pois, se tiverdes tudo, um vento mau,
Uma brisa fresca podem trazer em um segundo
Um vazio intenso e mudo.
E tu pensarás: “Meu Deus, que será de mim?
Eu que achei que fosse feliz e em verdade não o sou?”.
Mas, amigo, não se engane, não lance tudo pro alto,
Pois, por mais que se assombre o homem mais degenerado
Achará num poço de lama um brilho da luz do sol.
E um momento surpreso, um vento, uma brisa estranha,
Podem lançar em um segundo
Todo amor que há no mundo
Nas costas de um moribundo.

Temos família, casa, dinheiro
não pra jogar pelos ares, mas pro básico de tudo
temos espaço, beleza, amor
temos também um desejo profundo.

Ó Deus, as mães não deviam chorar
os filhos não deviam vê-la acabrunhada.
Ó Deus, não devíamos estar felizes,
mas felizes felizes não estamos.

As minhas lágrimas desabam no chão frio
e ninguém vai ouvir seu desabar.
Se eu sofro tanto em segredo, meu amigo
talvez eu também não saiba amar.

Mas a vida, oxalá, a vida
é preciso suportar…
Estou viva, não há nada além de mais,
é preciso resistir pra vivir.

Mas os sábios já disseram sabiamente
é preciso viver, não sobreviver
mas os sádicos, os medrosos, os dementes,
estes só sabem sofrer.

Mas os hindus, os cristão, os mulçumanos dirão
“é preciso buscar ser feliz pelas coisas eternas’.
A eternidade, quem me dera!
Cada um tem uma ideia do que seja!

Maria, depois de tanta excursão pro exterior
Tanta dor de cabeça, tanto valor
Deixa as pipocas pipocarem na panela
Deixa as roupas secarem no varal.
Maria, depois de tanta excursão,
Faz uma incursão, sem alardes e alarmes
Te despertas por dentro, Maria, no tempo de si.

Existe um plano secreto na cabeça de todos os homens.
Quando seus olhos estão vazios e impenetráveis, penso que estão maquinando.
Nem todo homem tem consciência do seu plano de tão secreto que é.
Alguns homens ainda não conseguem verbalizá-lo.
Se encontra neste último grupo homens de leis, homens da roça, do comércio...
Ah, muitos homens...
Falta desconfiança da realidade, questionar os assuntos mais obvies,
Coisa que provavelmente faziam como criança, mas que se foi atrofiando.
Ah, se o poeta sofre por não conseguir se expressar plenamente,
Pobres dos homens que não tendo palavras para verbalizar suas profundezas,
Acabam se acreditando superficiais.
Pobre também do homem que se quer superficial!
Pois jamais se tornará, e será despertado muitas vezes
Pelos mesmos mal estares que afetam o poeta.
Não sinta pena dos homens que não sabem por que viver,
Mas ai daqueles que não se questionam
E se deixam embriagar por um plano que não é seu
E que nem sabe nomear...

Você me pergunta se não poderia esse homem desenhar,
Aprender o alfabeto da existência por associação.
O homem tem pressa. É o banco, o mercado, a bolsa de valores.
Ele não desenha, não escreve, não compõe canções, não cria, em suma.
Quase só produz frases automáticas.
Pior que isso: não ouve, não lê, não sente.
Mas se o homem, sentindo-se vazio real da existência
Resolve sentar-se na varanda do seu apartamento branco
Podem os deuses lhe permitir visualizar seu plano através da fechadura do tempo
Podem ser horas, minutos, segundos...
Lá está seu plano quase límpido, quase intocado.
Depois tudo volta ao de antes. Até um dia.

Ah! Se os ditados só deixassem as verdades
Se águas passadas não movessem moinhos
Mas deságuam no presente futuro
Meu coração, um moinho de cordas
lançado aos moinhos de vento!

Vai longe meu pensamento!
Um origami de uma ave que nem sei o nome
Vai arfando enquanto cai o lenço.
O lençol sobre um corpo.
Por um momento
Eu pensei que o pensamento fosse o sonho
E o sono fosse à noite e o tempo.

São as marcas do passado
Que escalam as escadas do meu quarto,
Sem escadas, sem escalas, como um astro,
Que surgiu pela janela sonolenta.
Foi um vulto, mas meu corpo não esquece
Que sentiu o vento, o vulto e a prece.

Eu esqueci da prece.
A pressa toma conta da nossa vida.
Eu tomei conta disso um dia,
Mas de repente a conclusão desaparece,
Como uma promessa esquecida,
Um raciocínio que se perde...

O que serão das promessas não cumpridas?
Das palavras não ditas, não ouvidas?
Mas sentidas, em cada pedaço da alma
E das almas esquecidas ainda em vida?
Serão almas congeladas?

Há um pedaço do mundo, alto e fundo
Para onde tudo vai.

Vai um sopro que Deus manda,
vai o sonho que se esqueceu
o pensamento que se perdeu
nas voltas que o mundo dá.

As paredes do seu quarto,
O primeiro amor sentido,
Todo o medo resumido,
Todo sorriso amargo.

Um morcego apavorado
Mora ainda aí contigo.
Não se assombre se um dia
Lendo... encontrá-lo ao seu lado.

É um limbro... diga assim.
Mas não está acabado.
É o limbro que habita em ti.
É um embrulho, é um sopro,
É o futuro do passado,
É o moinho do moinho,
Esquecido há tanto tempo,
Inerente a ti e tudo.

Nada faz meu coração saltar
Mais que o timbre da sua voz!
Talvez o timbre do seu beijo
Ou o timbre do seu suspiro...
Nada mais.

Um caso antigo, de eternidades...
Quando abro a porta, não é um homem ou um menino,
São histórias e estórias, fotografias e possibilidades...
É só por isso que no fundo do peito palpito.
A verdade é que palpito. Nada mais.

E com você está tudo seguro
E uma segurança calma se apodera de mim
Não há medo do escuro e do futuro
Basta sentir que estás aqui
Porque mesmo sem querer é meu escudo.
A verdade é que te amo. Nada mais.

Um pedaço mais, um pedaço menos
E a coisa se vai montando.
É que a sombra do passado me assombra
Bate a palma da palmeira no meu ombro.

Corro os olhos linearmente
E as idéias se vão surgindo. Ponto.
É que a sombra do passado me assombra
E a memória se vai rugindo, perfiando. Amargamente.

Deslizo os olhos maquinalmente. - Não! Mastigo cada verbo.
O texto. É de grafite, diamante. É de ficção, de tédio.
Sou eu... de grafite. Vale mais que minha vida.

É que a sombra, o passado é minha sombra
E me assombra a sombra de cada passo.
É que o sonho do futuro me assanha,
Mas não passa de um passado encarnado.

Sou a palma da palmeira que apanha do vento
Sou a palma da palmeira que despenca
E a cada palmo de mim está um rastro
Que o segundo atrás do tempo já condena.

É que a sombra do passado me assombra
E o fantasma dessa sombra se apresenta.

Extinto.De tudo aquilo
Que um dia foi instinto.
Sua voz que se estende por tudo aquilo
Que foi um dia impenetrável.
Existo. Apesar de tudo aquilo
Que foi a mim contrário.
Mas sinto que de tudo que sou
Serei extinto, comprimido:
Aspiro a ser mais existente,
Com instintos e vontades frementes.
Mas aspiro e respiro e inspiro
E deixo um pedaço de mim ausente.
Ex-tinto, ex-zistente.

E fomos andando no caminho recém formado
Somos recém formados, graduados, no destino da humanidade
Mas parte de mim não sabe, que podíamos nadar no mar...
A vida é que nos engana, sutil, nos induz desde o passado.
Eu segui aquela trilha por onde andavam multidões
Mão a mão, mas não sabia que na encruzilhada, querida,
Soltávamos uns aos outros, sem respostas ou questões
A única coisa que dizia é que assim nos ensinou a vida.
Ah! Vida! Mas em pedaço de nada, você se transformou
Onde você estava quando o homem se dizimou
Quando o homem cresceu sobre uma torre de cadáveres
E isto se sucedeu por séculos de terras e mares.

A espuma do mar
tece rendas a meus pés.
Impossível ignorar
o inebriante odor da maresia
e as ondas num incansável ir e vir...
Sempre que me encontro
diante da sua imensidão,
percebo que o MAR
é inspirado na vida,
ou a vida inspirada no mar...
Tanto faz...
Cika Parolin