Coleção pessoal de AntonioPrates
Ali perto das colmeias
espigas chochas lá na serra
estão ao alto nas paveias
enquanto as espigas cheias
prestam reverência à terra.
Se olharmos diretamente o sol queimamos os olhos, se olharmos diretamente a verdade queimamos a alma.
Nesta arte tão sublime,
De palavras estridentes,
Há os poetas do regime
E os que são independentes.
Se há amor dentro do peito
que para sempre se mantém
é o amor puro e perfeito
no coração de uma mãe.
A gratidão tem um sentido
que não pode ser filtrado.
Quem é grato é instruído,
se é ingrato é mal formado.
Em todas as grandes crises há os que compram sapatos novos, os que ficam sem sapatos e os que já não tinham pés.
Toda a flor que é linda e bela
tem na alma mais perfume,
e todos olham para ela
com desejo e com ciúme.
I
Como terno amanhecer,
nasce, brota, vem ao mundo,
tem no brilho algo profundo
que a faz resplandecer…
Entre o bem e o mau querer,
vinga aqui nesta courela,
como quadro de aguarela
produzido em campo aberto,
deixa o prado boquiaberto
toda a flor que é linda e bela.
II
Suas cores um matizado
que a faz montra de beleza,
um tal lustre a camponesa,
num padrão ornamentado…
Entre as muitas a seu lado,
tem uma graça que resume
quem campeia, quem assume
a versão mais imponente,
e por ser resplandecente
tem na alma mais perfume.
III
Se é cercada por enleios,
ganha mimos, ganha abraços,
ganha tudo o que são laços
com outros que são mais feios…
Ganha ainda os galanteios
que a sua sorte revela
aos caprichos da donzela
tão castiça, tão briosa,
com a luz mais luminosa
e todos olham para ela.
IV
Seja feita a probidade
aos limites da vivência
que a sua fina aparência
transmite com claridade…
Há quem diga que é vaidade,
há quem ferva em brando lume,
com ledice e azedume
sobe feliz, cresce invejada,
sendo a flor mais cortejada
com desejo e com ciúme.
O amor que queima e tece
as saudades repartidas
é amor que não se esquece
nem por duas ou três vidas.
Há nas redes sociais
um convívio mascarado,
que nos mostra um pouco mais
quanto vale o nosso fado.
I
Ó meu caro Facebook,
ou então senhora Meta,
a pensar em linha reta
vejo aqui um grave truque...
Para que este povo eduque
os preceitos dos seus pais
basta ver os arraiais
desta nova involução
e perceber que ilusão
há nas redes sociais.
II
Há modelos com fartura,
porque aqui é tudo lindo,
tão felizes vamos indo
nesta alegre desventura...
Também há muita censura,
muito julgamento errado,
onde tudo é condenado
pelos tais inquisidores,
deixando nos bastidores
um convívio mascarado.
III
Muito valem bagatelas
nesta ordem mais moderna,
vale a porta da caverna
sem postigo, sem janelas...
Todos querem ser estrelas
nas vaidades naturais,
com relevos triviais
para espanto da nação,
e há ainda a intenção
que nos mostra um pouco mais.
IV
Todavia, estamos prontos
a seguir nesta contenda,
sem retorno, sem emenda
na malícia dos confrontos...
Há a briga pelos pontos,
um rival que é bloqueado...
Fazeis vós o vosso agrado,
deste jeito, a qualquer preço,
mas digam lá, porque vos peço,
quanto vale o nosso fado.
Entre farsas e engodos,
novas leis, novos caminhos,
e na ordem dos bons modos
os fracos juntam-se todos
e os fortes ficam sozinhos.
Se querem ter alegria
pra que toda a gente veja
nesta nova sociedade,
metam mais hipocrisia,
um punhado de inveja
e um raminho de vaidade.
Cada ano que nos invade
é uma fase que promete,
e ao certo a minha idade
já vem de sessenta e sete.
I
Meus amigos, companheiros,
semelhantes, camaradas,
das horas ultrapassadas
nestes anos conselheiros…
Sei que os anos verdadeiros
são os que nos dão saudade,
pela sua afinidade,
por agrado, ou algum plano,
e é sempre mais um ano
cada ano que nos invade.
II
Esse tempo inexplicável
tanto dá quanto nos tira,
num período que se expira
a um ritmo inalterável...
E por ser inevitável
nem um dia se repete,
dá as horas que compete
nesta história divertida,
e o certo é que esta vida
é uma fase que promete.
III
Tanta gente eu conheci
nesses anos que existiram,
os amigos que partiram,
as pessoas que esqueci...
Aquelas que lembro aqui
nesta minha anuidade,
com franqueza, com verdade,
recordo que o tempo foge,
sendo os dias que sou hoje
e ao certo a minha idade.
IV
E agora, meus amigos,
camaradas, semelhantes,
sou o mesmo que fui antes,
nesses tempos mais antigos,
onde as loas e os castigos
cabem no mesmo banquete,
dando a este balancete
os parabéns de cada ano,
e este simples ser humano
já vem de sessenta e sete.
Falam os políticos a quem os investe,
traduzem cenários em grandes verdades,
exibem ideias, atritos, veleidades,
num circo amistoso, infame e agreste.
Os que nos governam apresentam contas,
os que nos prometem são ilusionistas,
mais as outras feras que são trapezistas,
aos olhos dos bobos e das almas tontas.
Pode ser que um dia se dê no trabalho
a mesma vontade que ostenta o discurso...
Vou entrar em cena com a figura de urso,
sou filho do povo, sou mais um bandalho.
Porém, no elã dos meus olhos concretos,
no simples parecer da visão que me resta,
penso que a política é pra gente honesta,
que sirva de exemplo aos filhos e aos netos.