Coleção pessoal de AntonioPrates

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⁠Tem a casa mais vazia
e a cozinha um disparate,
quem resiste à pandemia
com mil sopas de tomate.

I
Vejo o tempo a manobrar
nesta louca embriaguez,
vai-se um dia, chega um mês,
e o tempo custa a passar...
Com a cabeça a divagar
nesta dura antinomia,
vai-se um mês, vem mais um dia
da nossa sobrevivência,
mas o pobre, por indigência,
tem a casa mais vazia.

II
A medida do telhado
faz a porta da entrada,
e em cada assoalhada
o tamanho é limitado...
O sofá é mesmo ao lado
de onde havia chocolate;
num pequeno escaparate
resta apenas uma sande,
onde a sala se faz grande
e a cozinha um disparate.

III
Outras casas portuguesas,
solidárias nas esmolas,
dão aos pobres das gaiolas
o que lhes sobra das riquezas...
São cozinhas mais burguesas
desta vã egolatria,
onde tudo se esvazia
numa ordem movediça,
e tolera a injustiça
quem resiste à pandemia.

Ficaram pra trás muitos meses e anos, marcados no rosto dos homens da pedra, da faina que hoje vai indo e não medra, por causa das guerras dos mais desumanos... Sentados num banco qualquer do jardim, ouve-se o silêncio das suas apostas, e a Fonte das Bicas, voltada de costas, lhes diz que a canção não é bem assim... Passam os gaiatos, fregueses do Lago que outrora banhou o calor do concelho, não sabem que um homem depois de ser velho não sabe banhar num espaço tão vago... E a Fonte das Bicas, olhada no rosto, encanta quem passa pra baixo e pra cima, com a pedra que a veste, distingue e sublima, nas horas que encetam os dias de Agosto.

Muitas vezes o dinheiro dá mais felicidade àqueles que não o têm. ⁠

As coisas mais belas que fazemos na vida são feitas e sentidas de olhos fechados.

⁠⁠Nada me tem custado tão caro quanto a minha liberdade. Deus me livre dos cobradores desse imposto.

⁠Quem leva uma preocupação para a cama dorme com um peso nas costas.

Foste um fundo verde no longo prado,
pintaste telas pelos limbos das colinas…
Foram searas, doce aroma nas campinas,
neste lugar descolorido, acastanhado…

Pisei veludo pelos quadros da natura,
enternecidos pela fauna e pela flora…
Eis outro viso, com tudo o que vejo agora,
contendo o rosto que a calma aqui segura…

Vi corrupio nos montados que aqui vejo,
em tons diversos, neste pasto ressequido…
Hoje, as planícies parecem não ter sentido,
mas mostram sempre o calor deste Alentejo.

Quando tens prosperidade, nunca tenhas a mania que um quintal é uma herdade. Hoje podes ser cidade e amanhã uma freguesia.

⁠Muitas mulheres fazem questão de demonstrar no Facebook que o corpo é mais importante do que a inteligência.

⁠A elegância não tem nada a ver com o estatuto social, com o peso das pessoas ou com as roupas que se vestem, a elegância é um estado de alma.

⁠Tudo o que começa por interesse, por interesse termina.

Costumamos dizer que "as pessoas não precisam dos outros quando têm algum dinheiro." Esse conceito, além de estar muito longe da verdade, contribui ainda mais para o egoísmo das pessoas, para a desunião das famílias e para a solidão de quase todos.

⁠⁠Com o distanciamento social as pessoas passaram a conhecer-se melhor a elas próprias, mas leva-me a crer que algumas não se suportam.

⁠⁠⁠Personagens fortes, diálogos marcantes, contexto atual, conclusão coerente com o desenvolvimento da narrativa, destaque para um chavão surpreendente, e a minha nota para hoje é de cinco.

Quando o mal se cobre com a aparência do bem, não pode dar mais do que aquilo que tem.

⁠Um dia um amigo disse-me que a sociedade se divide em dois grupos de pessoas: as que trabalham e as que procuram o mérito. Aconselhou-me ainda a permanecer no primeiro grupo, porque lá as pessoas são melhores e a concorrência é menor.

⁠⁠A inveja é uma prisão
e um tal desassossego,
que na minha opinião
se fosse uma profissão
não havia desemprego.

⁠Será Natal onde não há grandes festas?
Será Natal onde as ruas não estão iluminadas?
Sei que é Natal nessas praças enfeitadas,
e que é mais Natal onde há grandes "orquestras".

Onde uma criança não tem pão, não pode haver consoada;
onde um mendigo passa frio, o Natal é mais escuro!
Tampouco será Natal onde um coração é duro,
nem tampouco terá Fé quem não acredita em nada.

E por vermos andar os outros, fazemos o nosso Natal,
com presépios e estrelas da divina ostentação;
e desta maneira, ninguém quer uma festa igual às dos outros,
que, com garbo, também querem distinção.

Não obstante, com mais de dois mil anos de atraso,
numa modesta manjedoura dos arrabaldes de Belém,
se Jesus Cristo levantar a cabeça, por acaso,
constatará que o seu Natal não é quase de ninguém.

⁠Passa um gato pardo atrás dum gato preto,
voa qualquer ave, sem fazer a rima,
e junto à menagem ergue-se o aspecto
dessa velha torre, de baixo pra cima.

Logo atrás da porta das pedras antigas,
ouve-se a conversa bem junto à muralha,
que, com ladainhas das velhas cantigas,
saem veredictos rectos a quem calha.

Ganha o futebol sempre dez a zero,
quando a voz se faz a grandes alturas,
mas se a voz é baixa, vencem as usuras
daqueles que pouco têm de sincero.

Onde não há novos, ganham sempre os velhos,
captam qualquer coisa, num raio influente,
e aonde a conversa se põe de joelhos,
espantam-se aqueles que são boa gente.

⁠Valente chão que me dizes
novidades da descrença,
nesse teu campo grisalho;
falas de seres infelizes,
sem confiança nem crença,
pedindo pão e trabalho.

Valente chão que me fazes
ser como o chão que tu és:
trigueiro, ermo e enxuto;
falas dos tais capatazes,
dos capitães das ralés,
com muitas falas de luto.

Valente chão que carregas
fardos de tais desertores,
cumulas culpas e faltas;
és contentor das bodegas
desses tão pobres-feitores
dessas patentes mais altas.

Valente chão sem emenda,
sem pegadas de mudança,
sem justiça e sem apuro;
pede a um deus que te atenda
com a tocha da esperança
para os pobres do futuro.