Coleção pessoal de AntonioPrates

141 - 160 do total de 652 pensamentos na coleção de AntonioPrates

⁠De política pouco entendo,
mas uma versão somítica
diz-me o pouco que aprendo
a respeito de política.

I
Neste mundo de artifício,
cabem todos os que querem
as licenças que lhes derem
em favor do benefício,
e as finuras do ofício
são água que vai correndo
para as leis que vão cosendo
pró bem-estar e prá miséria,
porém, eu, nesta matéria,
de política pouco entendo...

II
Quando oiço, em certos tons,
o clamor do tabernáculo,
me parece um bom espectáculo
a favor dos “homens bons”…
e como são belos os tons,
em versão sempre analítica,
sobre a causa Neolítica
discutida sempre a rodos,
que deixou de ser de todos,
mas uma versão somítica…

III
Portanto, em conformidade
com o ganho e o conforto,
a politica é um desporto
e um culto de vaidade,
dando uso à qualidade
do que, assim, vai promovendo
ante as causas que defendo
dentro da minha justiça,
porém, a razão postiça
diz-me o pouco que aprendo…

IV
Talvez seja eu o culpado,
por não ter cumplicidade
com a lei da pravidade
onde o mau é bem tratado,
ou por ser mais desligado
da rotina quase mítica
destinada à boa crítica
(com dobrez e a podre paz)
a quem pouco ou nada faz
a respeito de política...

António Prates – 16/06/2016

⁠Toda a arte, no futuro,
há-de ter na inspiração
qualquer coisa de obscuro
para ter aceitação.

I
Do modo que a evolução
toma conta dos humanos,
de pouco valem os planos
por obséquio à união…
e no meio da confusão
vai-se o génio do ar puro
para o negro quarto escuro,
onde a arte pouco medra,
e será feita de pedra
toda a arte, no futuro…

II
Meu perdão às esculturas,
de talento absoluto,
oposto da pedra em bruto
que citei nas conjecturas
destas linhas mal seguras
ao fim da premonição,
dedicada à multidão
que me mostra, na remessa,
o que o monstro, sem cabeça,
há-de ter na inspiração…

III
E haverá num só poeta
muitos ais enfurecidos,
como os cromos repetidos
da mais longa caderneta…
bramirá todo o planeta
os rugidos que auguro,
de cabeça contra o muro
da fronteira irracional
Deixando ver, afinal,
qualquer coisa de obscuro…

IV
Nas árias inteligentes,
as notas são escusadas,
se o barulho das cabeçadas
são graves e estridentes...
os sinais são evidentes,
ante a turva ebulição,
destinada à profusão
do humano em estado bravo,
e o artista será escravo
para ter aceitação...

António Prates

⁠Entrei no arraial da pandemia,
senti na multidão almas perversas,
com ódio a escorrer pelas conversas,
não vi um só sinal de bonomia.

Malfadada será sempre esta avaria,
desditoso será sempre este flagelo,
que nos mostra, por debaixo do cabelo,
a sequela mais funesta e mais sombria...

E assim, neste arraial de cada dia,
tudo serve para entrar no cataclismo,
a soberba, a excludência, o egoísmo,
a miragem de uma outra ideologia.

⁠Triste mundo este, onde os seres humanos estão a ficar cada vez mais loucos, por causa de uma pandemia de intolerância e de ódio.

⁠Das mentalidades de ferro não pode sair outra coisa a não ser ferrugem.

As pessoas coscuvilheiras e maldizentes são como os grilos. Fazem muito barulho ao longe, mas quando te aproximas ficam caladinhas.

Hoje sou uma criança,
embebida de esperança,
neste nosso paraíso...
Vejo as ruas coloridas,
por pessoas divertidas,
com amor e um sorriso...

Vejo até os passarinhos,
entretidos nos seus ninhos,
a fazerem criação...
E os borregos no rebanho,
sem acharem nada estranho,
junto às prendas que lhes dão...

Vejo alegria a rodos,
numa festa para todos,
diversão a toda a hora...
Como os bandos de perdizes,
onde todos são felizes
e ninguém fica de fora...

Na criança que há em mim,
vejo este dia assim,
entre achados e perdidos...
Perguntando ao pensamento:
como será cada rebento,
quando forem mais crescidos?

⁠Na boca do povo, os nossos defeitos fazem sempre mais barulho do que as nossas qualidades.

⁠Tudo muda quando o mundo parece mudar, sem mudar coisa alguma. Quem são os poetas? Seres desventurados e de rebelião. Almas que não jogam em lotarias, totolotos, euromilhões ou raspadinhas, e as grandes filas permanecem quase iguais, sem se notar sequer a sua ausência. Fernando Pessoa pereceu louco, Florbela Espanca faleceu em desespero e Luís de Camões finou-se de fome. Os decretos sociais remetem os verdadeiros poetas para os mais modestos tugúrios, para os oportunismos em seu nome, para os trabalhos forçados, para os sapatos rotos, para as calças rasgadas e para as camisas laceradas pelo tempo, num tempo que não muda, nem nunca vai mudar.

Uma sociedade que castiga os indivíduos pelas suas virtudes será sempre pobre.

No Alentejo fazem-se ģrandes coisas quando o homem e a terra se encontram.

Tentou a multidão prender-me a pena,
com muitos subterfúgios mal pintados;
peguei na lapiseira mais pequena,
pintei dez mil pavões pelos montados.

Com origem na zelotipia humana, na tríplice concupiscência e em algumas outras causas merecedoras de destempero encefálico, a inveja desde sempre provocou nos seres humanos um sentimento insano, traiçoeiro e ingovernável, sendo esse mesmo desgosto o responsável pelos maiores desvarios e pelas mais graves loucuras de toda a História da Humanidade. Por muito que as religiões e os filósofos tenham condenado a sua prática, ainda hoje a omnipotência da inveja continua a produzir insanidade e ainda hoje a inveja prossegue a sua reprodução ao ritmo da propagação das baratas e das ratazanas, por exemplo. E apesar de os grandes filósofos, ao longo dos tempos, terem rebatido a inveja de forma severa e poética, de pouco nos valeram todas essas suas palavras ajuizadas. Entre muitos outros que meditaram sobre a inveja, Virgílio poetizou-a desta forma: “A inveja, como o vento, açoita sempre os cumes mais altos.”; Horácio filosofou-a assim: “O invejoso emagrece com a gordura dos outros.”; Claude Helvetius disse que “A inveja honra os mortos para insultar os vivos.”; Camilo Castelo Branco escreveu que “A inveja é um inimigo inexorável.”; Ambrose Bierce traduziu-a deste modo “Inveja: emulação adaptada às capacidades mais mesquinhas.”; Ramón Campoamor y Campoosorio afirmou que “A inveja é a traça do talento.”; Ramón Cajal confessou que “A inveja é tão vil e vergonhosa que ninguém se atreve a confessá-la.”; François La Rochefoucauld garantiu que “O indício mais seguro de se ter nascido com grandes qualidades é ter nascido sem inveja.” E Jean de La Bruyère afirmou ainda que “Quem afirma que não é feliz, poderia sê-lo com a felicidade do próximo, se a inveja lhe não tirasse esse último recurso.”

E após todas estas grandes filosofias destes grandes pensadores, os Homens continuam a cozinhar a sua Inveja com uma pitada de Soberba, um raminho de Preguiça, dois decilitros de Ira, um punhado de Luxúria, muitos litros de Ganância e uma carrada de Gula, deixando incendiar todos estes pecaminosos condimentos, em lume brando, por tempo indeterminado.

Nem sempre os que estiveram a meu lado estiveram realmente comigo.

Apesar das mascaras, há nos nossos olhos um filtro visível que continua a separar as almas potáveis das almas impróprias para consumo.

Sem cultura a liberdade não existe e a sociedade não passa de uma selva.

É-nos fácil apregoar a liberdade da mesma forma que fácil nos é condenar os extremismos político-sociais, emancipando o que a liberdade tem de bom e condenando o que o extremismo tem de mau, sem nos apercebermos muitas vezes dos muitos pequenos extremismos que praticamos, no amplo espaço que dedicamos aos desígnios consagrados ao espaço da liberdade humana. Ser-nos-á ainda mais fácil compreender esta importante questão, se compararmos o espaço que dista entre a liberdade e o extremismo com a distância que difere entre a ditadura e a democracia, e mais fácil se torna a comparação se confrontarmos o “bem” com o “mal”, pois, quer numa extensão quer na outra, existem microrganismos do “mal” no lado bom sem que o “bom” consiga penetrar um microzoário que seja no lado mau. Ou seja, há células do extremismo que invadem o que chamamos de liberdade, da mesma forma que existem células da ditadura que se apossam dos ideais democráticos. Mais uma vez, com a conivência dos homens, o mal consegue prevalecer sobre o bem.
E baseando-me um pouco nas Redes Sociais, buscando exemplos do nosso quotidiano e exemplos recentes, faço uma pequena alusão a alguns exemplos concretos:

O futebol – além das clubites relativas ao Vendaval de Baixo, aos Craques do Centro ou ao Cascalheira de Cima, existe esse fundamentalismo quase doentio na comparação que fazemos entre os jogadores do nosso clube e de outro clube qualquer, ou da confrontação que fazemos entre o Ronaldo e o Messi, fazendo-nos, quase inconscientemente, deixar de parte a verdadeira essência do desporto, e neste caso concreto da arte do futebol, para defendermos, de forma intransigente, o nosso clube apenas por ser o nosso clube, ou o atleta em questão apenas por ser português, - e isso, na minha maneira de ver, é extremismo!

A religião – para muitas pessoas, mesmo em países onde a liberdade reina com uma estátua do tamanho do mundo, a religião é apenas uma forma de as pessoas se juntarem a muitas outras pessoas, com o intuito de uma sociabilidade protectora, mesmo sem conhecerem devidamente os preceitos dessa mesma religião que aparentam praticar, - e isso, mais uma vez, na minha maneira de ver, é extremismo!

A política – vivemos actualmente num país democrático, onde a liberdade aparenta ser de todos e para todos, mas, se olharmos com alguma atenção, cada força partidária tem tendência a se tornar intransigente na obediência dos seus princípios e das suas regras, sobretudo se estiver no poder, - e como não podia deixar de ser, isso também fomenta o extremismo!

As crianças – as crianças são o expoente máximo daquilo que conhecemos da liberdade humana; às crianças tudo é desculpado, até estarem mais ou menos formatadas para aquilo que nós queremos que elas sejam, mas ainda que compreenda e esteja de acordo com muitas das normas sociais que exigimos às crianças, causa-me alguma confusão e algum constrangimento o facto de impingirmos contratos às crianças em idade prematura e o facto de vestirmos as crianças todas de igual em muitos eventos e cerimónias que realizamos, - e isso, meus amigos, além de fomentar a exclusão social, é o princípio dos nossos extremismos!

Quanto à liberdade, quem a pratica? Quem a defende? Que espaço de tem?

Antes de olhares em redor,
olha para dentro de ti,
para que saibas melhor
o que é que fazes aqui.

O que o instinto nos diz
tem na alma o seu valor...
Mesmo cansado é feliz
quem faz tudo com Amor.

A maneira como carregamos os nossos problemas pode torná-los mais leves.