Clarice Lispector Frases de Livros

Minha história é de uma escuridão tranquila, de raiz adormecida na sua força, de odor que não tem perfume.

Eu sempre fui e imediatamente não era mais.

De repente as coisas não precisam mais fazer sentido. Satisfaço-me em ser. Tu és? Tenho certeza que sim.

Sempre procuro reter, como as rédeas de um cavalo, minha tendência ao excessivo.

Ninguém sabia que ela estava sendo infeliz a ponto de precisar buscar a vida. (...) Ela só sabia viver.

Gemeu baixinho cansada e depois pensou: o que vai acontecer agora agora agora? E sempre no pingo de tempo que vinha nada acontecia se ela continuava a esperar o que ia acontecer, compreende?

Ser intelectual é usar sobretudo a inteligência, o que eu não faço: uso é a intuição, o instinto.

Sempre fui uma tímida muito ousada.

É a ira de Deus. E se essa escuridão se transformar em chuva, que volte o dilúvio, mas sem a arca, nós que não soubemos fazer um mundo onde viver e não sabemos na nossa paralisia como viver.

Que faço dessa lucidez? Sei também que esta minha lucidez pode-se tornar o inferno humano – já me aconteceu antes.

O que me importa são instantâneos fotográficos das sensações – pensadas, e não a pose imóvel dos que esperam que eu diga: olhe o passarinho! Pois não sou fotógrafo de rua.

Se eu me confirmar e me considerar verdadeira, estarei perdida porque não saberei onde engastar meu novo modo de ser – se eu for adiante nas minhas visões fragmentárias, o mundo inteiro terá que se transformar para eu caber nele.

Era uma falsa revolta, uma tentativa de libertação que vinha sobretudo com muito medo de vitória.

Algo está sempre por acontecer. O imprevisto me fascina.

Ser livre era seguir-se afinal.

Então escrever é o modo de quem tem a palavra como isca: a palavra pescando o que não é palavra. Quando essa não-palavra – a entrelinha – morde a isca, alguma coisa se escreveu.

Não quero a meia-luz, não quero a cara benfeita, não quero o expressivo. Quero o inexpressivo. Quero o inumano dentro da pessoa; não, não é perigoso, pois de qualquer modo a pessoa é humana, não é preciso lutar por isso: querer ser humano me soa bonito demais.

E foi tão corpo que foi puro espírito.

Sobreviver chama-se manter luta contra a vida que é mortal.

A vida é igual em toda a parte e o que é necessário é a gente ser a gente.