Chico Xavier Poesia de Amizade

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e eu gostava de chorar a fio
e chorava
sem um desgosto sem uma dor sem um lenço
sem uma lágrima
fechada à chave na casa de banho
da casa da minha avó
onde além de mim só estava eu

Não gosto tanto
de livros
como Mallarmé
parece que gostava
eu não sou um livro
e quando me dizem
gosto muito dos seus livros
gostava de poder dizer
como o poeta Cesariny
olha
eu gostava
é que tu gostasses de mim
os livros não são feitos
de carne e osso
e quando tenho
vontade de chorar
abrir um livro
não me chega
preciso de um abraço
mas graças a Deus
o mundo não é um livro
e o acaso não existe
no entanto gosto muito
de livros
e acredito na Ressurreição
de livros
e acredito que no Céu
haja bibliotecas
e se possa ler e escrever

Sou feita de muitos
nós
desobediência e meio-dia
Sou aquela que negou
aquilo
que os outros queriam
Disse não à minha sina
de destino preparado
recusei as ordens escusas
preferi a liberdade
e vivo deste meu lado

Nada mais de mim
haverá memória
-sei-
só os poemas darão conta
da minha avidez
da minha passagem
Da minha limpidez
sem vassalagem

A Defesa do Poeta

Senhores juízes sou um poeta
um multipétalo uivo um defeito
e ando com uma camisa de vento
ao contrário do esqueleto.

Sou um vestíbulo do impossível um lápis
de armazenado espanto e por fim
com a paciência dos versos
espero viver dentro de mim.

Sou em código o azul de todos
(curtido couro de cicatrizes)
uma avaria cantante
na maquineta dos felizes.

Senhores banqueiros sois a cidade
o vosso enfarte serei
não há cidade sem o parque
do sono que vos roubei.

Senhores professores que pusestes
a prémio minha rara edição
de raptar-me em crianças que salvo
do incêndio da vossa lição.

Senhores tiranos que do baralho
de em pó volverdes sois os reis
dou um poeta jogo-me aos dados
ganho as paisagens que não vereis.

Senhores heróis até aos dentes
puro exercício de ninguém
minha cobardia é esperar-vos
umas estrofes mais além.

Senhores três quatro cinco e sete
que medo vos pôs em ordem?
que pavor fechou o leque
da vossa diferença enquanto homem?

Senhores juízes que não molhais
a pena na tinta da natureza
não apedrejeis meu pássaro
sem que ele cante minha defesa.

Sou um instantâneo das coisas
apanhadas em delito de paixão
a raiz quadrada da flor
que espalmais em apertos de mão.

Sou uma impudência a mesa posta
de um verso onde o possa escrever.
Ó subalimentados do sonho!
A poesia é para comer.

Sentimento Novo

Estou gostando de algo novo
Estou gostando de você
És a criatura mais bela
Meus olhos a te ver

Meu sorriso florescer
Minha mente a se perder
Seu sorriso monótono
Seu jeito é ótimo

Sua voz me alivia
Seu olhar me contagia
Alucinado por você estou

Garota eu não vejo a hora
Quero te ter ao meu lado agora
Admirado por você estou

Você é um flash de uma foto,
E desperta os meus sorrisos;
É brilhante como uma estrela,
Que ilumina o paraíso.
É humilde como uma rosa;
Eu sou tipo um girassol,
Que acompanha o seu brilho;
Como a lua segue o sol.

Das prensas dos martelos das bigornas
das foices dos arados das charruas
das alfaias dos cascos e das dornas
é que nasce a canção que anda nas ruas.

Um povo não é livre em águas mornas
não se abre a liberdade com gazuas,
à força do teu braço é que transformas
as fábricas e as terras que são tuas.

Abre os olhos e vê. Sê vigilante
a reação não passará diante
do teu punho fechado contra o medo.

Levanta-te meu Povo. Não é tarde.
Agora é que o mar canta é que o sol arde
pois quando o povo acorda é sempre cedo.

Há sim uma certa magia
que num suave pulsar
de notas trazidas
por uma brisa perfumada
faz tudo exalar em
poesia...

Hay una cierta magia
Qué una pulsación suave
de notas
para una brisa fragante
y se ventile todo en
poesía

A forma pisciana de Amar

A forma de amar de alguém do signo de peixes, não tem formato. Gostamos de agradar, mesmo sem agrado. Digo que sintimos falta, e fazemos de tudo para se afastar da saudade. Podemos chorar se houver mentiras, e risos nos conquistam com naturalidade.
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Esquecemos o que tem pra amanhã, e nos lembramos de viver o hoje como se fosse ontem. Marcamos pra ser feliz de meio-dia, e já estaremos lá, às onze. Nos agarramos em abraços apertados, principalmente os que têm cheiro de proteção. Seguramos a mão de quem estiver ao nosso lado, por mais difícil que seja a ocasião.
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Perdoamos o que nos fazem e deixamos que o tempo resolva tudo. Procuramos estar de mãos lavadas, para poder colher de forma saudável os nossos futuros frutos. Esbanjando do avesso para que não se tenha dúvida das minhas fraquezas, assim como procuramos conversar consigo mesmo em frente do espelho, para que não nos sintamos perdidos.
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Com pessoas de peixes é olho no olho, seja para sorrir ou soltar lágrimas pelo rosto. Não negamos fogo, muito menos frieza. Samos tudo e mais um pouco, não nascemos para viver nas beiras. É ou não é. Desiste ou tem fé. Tem que haver firmezas nas palavras para que não se tenha dúvida nas atitudes. Às vezes somos tudo no lugar, mas tem dias que estamos uma bagunça, e amanhã possa ser que arrume.
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Vivemos de emoções, e somos capazes de morrer por amor. Podemos até perder a razão, mas nunca deixo de ser quem somos. Gozamos da vida sem arrepender, e pra poder viver com alguém do signo de peixes, tem que ser por prazer.

Casamento

Um dedo e uma aliança,
Um juramento, em elos,
Que não pode ser quebrado.

Mas muitos quebram,
Lindo seria, se vivessem
Eternamente…

Livros são tesouros,
neles podemos ser heróis,
bandidos, duendes, bruxas ou fadas,
nas aventuras das linhas soltas
pelas mãos de um escritor,
que escreve cada obra
para abrir em nossa mente
uma nova e bela estrada

NOSSAS MÃOS

As tuas mãos tão belas, tão formosas.
As tuas mãos afeitas aos carinhos.
As minhas mãos tão feias, tão nervosas.
As minhas mãos expostas aos espinhos.

As tuas mãos me tocam por piedade.
As minhas mãos te afagam, mas com medo.
As tuas mãos são mãos pra eternidade.
As minhas mãos são mãos de morrer cedo.

As tuas mãos nas minhas, que contraste!
Mas se não fossem elas, que desastre,
nem sei das minhas mãos o que seria!

Por isso às tuas mãos eu agradeço
o carinho que eu sei que não mereço
e que em outras mãos não acharia!

Eu me renderia aos seus encantos
Aos seus e de mais alguns
Eu derramaria o meu pranto
Se o âmago não fosse o nu
Eu despiria a alma
Verias mais que minhas estranhas
Sentiria na palma
O pecado imperdoável
De cobiçar o que é alheio
Pois pertenço a outro
A outro que muito me deseja
Porém que jamais me teve e nunca terá
Pertenço mais a mim mesma
E sem muita destreza
Me entregaria a vários uns
Mas jamais me esqueceria
Dos diversos acalantos
Nos mais escondidos recantos
Do pecado de me entregar
Eu me renderia aos seus encantos
Aos seus e de mais alguns.

Acho que não sou deste mundo. A falar a verdade, eu sempre me senti estranhamente deslocado neste aqui. Sou de outro, só posso concluir.

Tenho dificuldades, confesso, de conviver com as perversidades deste planeta – as grandes e as pequenas. Fico confuso com os jogos de poder. Pergunto: o que é mesmo que se ganha? E carrego, agarrada e apertada no peito, esta saudade esmagadora do bem que eu queria pra mim... Do bem que eu queria em mim...

Quem sabe, também no afã desta saudade, não se orou “Pai, leva-nos ao teu reino”, mas, inversamente, “Pai, venha o teu reino”. Porque não está fora, nalgum lugar distante, este outro mundo que tanto anseio, mas lá dentro, à espera da minha coragem e disposição de reconhecer que, no fundo, sou eu o estrangeiro aos olhos de mim mesmo.

LOUCURA

A nossa paixão é doce
Acorda nossas almas
Arrebata nossos sentidos
Poe-nos na boca um gosto agridoce
É tormento
É agonia
Desejo
Posse
Calmaria, se tempestade não fosse
É contradição que não afugenta
Arrepio que acaricia
Fome que sacia
Dor que inebria
Unhas que arranham, mas não machucam a pele macia.
Tantos segredos murmurados
Gemidos, dialecto peculiar mas compreendido
Corpos escandescentes que se enlaçam
Se enlouquecem e se satisfazem em paixão consumidos!

Elisa Salles
(Direitos autorais reservados)

Teatro

Certa noite
você me disse
que eu não tinha
coração

Nessa noite
aberta
como uma estranha flor
expus a todos
meu coração
que não tenho

Surpreso a quanta terra
não me pertence, que
engraçado descobrir (mais
uma vez) que trocar de país
não significa trocar de corpo
e a mudança
de língua
é acompanhada pela permanência
da produção da
mesma saliva.

a terra está para o satélite
como a água para a atmosfera
tudo gravita – a vida – equi
libra-se ainda que se esquive

Pense em quantos anos foram necessários para chegarmos a este ano
quantas cidades para chegarmos a esta cidade
e quantas mães, todas mortas, até tua mãe
quantas línguas até que a língua fosse esta
e quantos verões até precisamente este verão
este em que nos encontramos neste sítio
exato
à beira de um mar rigorosamente igual
a única coisa que não muda porque muda sempre
quantas tardes e praias vazias foram necessárias para chegarmos ao vazio
desta praia nesta tarde
quantas palavras até esta palavra, esta

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