Chico Xavier Poesia de Amizade
Corações bons sofrem por mentes gananciosas,
Não falei das flores pois prefiro rosas,
Sua beleza exalta más o espinho corta,
E no fim o começo já não mais importa,
A vida é ciclo de ilusão onde a visão é sempre torta,
Distorcemos sem noção de quem nossa palavra toca,
O motivo do escrito nem sempre é dor e tristeza,
E a busca por respostas vem da nossa própria natureza,
Após a reflexão temos noção do que é clareza,
Beleza? é relativo, tudo é ponto de vista,
Ver no fim um recomeço, o sol nascendo, um novo dia!
E como num grito de desespero, eu despertei para dentro de mim. Num mergulho sem fim, incalculável e sem volta. Que assombra e que me solta, diante do mundo.
Pro fundo.
Profundo.
Pra dentro de mim, um pássaro que voa e ecoa numa lagoa e se ensaboa dos mais lindos sentimentos: amor, carinho e um pouco de desespero.
Sorrateiro, que chega na madrugada sem pedir licença, e invadi minha mente que mente para mim mesma.
Que tá tudo bem.
Que nada mudou.
Que tudo mudou.
Que algo mudou.
E eu me encaixo dentro do laço do desconhecido, do não saber do meu destino, do que a vida me guarda, e o que me aguarda. Sigo confiante diante da corda bamba que me foi colocada sem permissão. De ante-mão, seguro meu coração, fazendo pressão contra o meu peito. Que grita assustado, mas que ri disfarçando o dia inteiro.
E assim eu vou, para frente, para trás. Evoluindo e aprendendo, nesse jogo da vida ninguém sai vivo, quem ganha é o nosso espírito. Evoluído e sorrindo, diante do que nos for imposto, por algo que desconhecido, e assim mesmo, lindo.
[Do Bobo da Corte]
Real não é minha realeza,
Pois é artificial e só é por beleza
Por dentro só é tristeza
E Sua boca borbulha besteira
De real é sua impureza
A pálida luz da manhã de Inverno,
A pálida luz da manhã de Inverno,
O cais e a razão
Não dão mais esperança, nem uma esperança sequer,
Ao meu coração.
O que tem que ser
Será, quer eu queira que seja ou que não.
No rumor do cais, no bulício do rio
Na rua a acordar
Não há mais sossego, nem um vazio sequer,
Para o meu esperar.
O que tem que não ser
Algures será, se o pensei; tudo mais é sonhar.
As Meninas
Arabela
abria a janela.
Carolina
erguia a cortina.
E Maria
olhava e sorria:
"Bom dia!"
Arabela
foi sempre a mais bela.
Carolina,
a mais sábia menina.
E Maria
apenas sorria:
"Bom dia!"
Pensaremos em cada menina
que vivia naquela janela;
uma que se chamava Arabela,
uma que se chamou Carolina.
Mas a profunda saudade
é Maria, Maria, Maria,
que dizia com voz de amizade:
"Bom dia!"
Agosto (bem vindo!)
Bem vindo agosto
que seja lindo
do desgosto oposto
no amor luzindo
a gosto, com gosto
nas realizações infindo
ao meu, ao teu
avindo
num apogeu
Agosto... Seja bem vindo!
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, julho
Ninguém sonha duas vezes o mesmo sonho
Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio
Nem ama duas vezes a mesma mulher.
Deus de onde tudo deriva
E a circulação e o movimento infinito.
Ainda não estamos habituados com o mundo
Nascer é muito comprido.
O utopista
Ele acredita que o chão é duro
Que todos os homens estão presos
Que há limites para a poesia
Que não há sorrisos nas crianças
Nem amor nas mulheres
Que só de pão vive o homem
Que não há um outro mundo.
Se eu soubesse exatamente porque a castanheira
parece estar a ponto de flamejar ou morrer, suas pirâmides
tremulam, eu te contaria? Talvez não.
Nós devemos manter o interesse por selos estrangeiros,
horários de trem, placares de baseball, e
psicologia anormal, ou tudo se perde. Eu
poderia te contar além do que eu e você
suportaríamos, e eu suponho que você responderia
com gentileza. É uma coisa terrível se sentir como
quem faz um piquenique e esqueceu o almoço.
Imagens que passais pela retina
Dos meus olhos, porque não vos fixais?
Que passais como a água cristalina
Por uma fonte para nunca mais!...
Ou para o lago escuro onde termina
Vosso curso, silente de juncais,
E o vago medo angustioso domina,
Porque ides sem mim, não me levais?
Sem vós o que são os meus olhos abertos?
O espelho inútil, meus olhos pagãos!
Aridez de sucessivos desertos...
Fica sequer, sombra das minhas mãos,
Flexão casual de meus dedos incertos,
Estranha sombra em movimentos vãos.
Um poeta nunca morre
Apenas adormece
Entre palavras e versos escritos
Seu coração está sempre aflito
Um poeta nunca morre
Apenas adormece
Entre amores mal resolvidos
Seu coração está sempre em prece.
ESBOÇO
A mão se movendo,
Transforma o grafite
Em linhas impressas.
Observa o esboço;
Formas, proporções,
Conceitos estéticos.
A arte gravando
Um pouco da vida,
Num sujo papel.
Seja rica numa bela mansão
ou pobre numa casa de periferia,
Mãe é sempre igual no coração,
tem no filho sua maior alegria
COR & GOSTO
Eu queria que poema tivesse cor
Escreveria um bem vermelho
Que lembrasse gosto de beijo
Se poema tivesse gosto
Escreveria um salgado
Meio molhado
Com gosto de corpo suado
Só pra lembrar de você.
Mãe não tem definição,
seja biológica ou aquela que adota e cria,
todas são iguais e merecem nosso amor,
respeito e eterna gratidão todos os dias.
Acho que não sou deste mundo. A falar a verdade, eu sempre me senti estranhamente deslocado neste aqui. Sou de outro, só posso concluir.
Tenho dificuldades, confesso, de conviver com as perversidades deste planeta – as grandes e as pequenas. Fico confuso com os jogos de poder. Pergunto: o que é mesmo que se ganha? E carrego, agarrada e apertada no peito, esta saudade esmagadora do bem que eu queria pra mim... Do bem que eu queria em mim...
Quem sabe, também no afã desta saudade, não se orou “Pai, leva-nos ao teu reino”, mas, inversamente, “Pai, venha o teu reino”. Porque não está fora, nalgum lugar distante, este outro mundo que tanto anseio, mas lá dentro, à espera da minha coragem e disposição de reconhecer que, no fundo, sou eu o estrangeiro aos olhos de mim mesmo.
LOUCURA
A nossa paixão é doce
Acorda nossas almas
Arrebata nossos sentidos
Poe-nos na boca um gosto agridoce
É tormento
É agonia
Desejo
Posse
Calmaria, se tempestade não fosse
É contradição que não afugenta
Arrepio que acaricia
Fome que sacia
Dor que inebria
Unhas que arranham, mas não machucam a pele macia.
Tantos segredos murmurados
Gemidos, dialecto peculiar mas compreendido
Corpos escandescentes que se enlaçam
Se enlouquecem e se satisfazem em paixão consumidos!
Elisa Salles
(Direitos autorais reservados)
Teatro
Certa noite
você me disse
que eu não tinha
coração
Nessa noite
aberta
como uma estranha flor
expus a todos
meu coração
que não tenho
Surpreso a quanta terra
não me pertence, que
engraçado descobrir (mais
uma vez) que trocar de país
não significa trocar de corpo
e a mudança
de língua
é acompanhada pela permanência
da produção da
mesma saliva.
a terra está para o satélite
como a água para a atmosfera
tudo gravita – a vida – equi
libra-se ainda que se esquive
