Chico Xavier Poesia de Amizade
E lá vamos nós nesse barco, entre traços, linhas, letras, vagas, versos, além das entrelinhas e "entreversos". E talvez há tanto a se ampliar, "entretextos", "entresilêncios" e outros tantos "entres" nesse mar infinito. Mas, vamos... eu, você e eles, nós quem sabe ou ninguém, mas estamos indo ou ficando, sentindo e deixando o fluir acontecer ...
Que venham então, os ares que se abrem entre céus sem mais horizontes e algumas nuvens a dissipar-se!
Sou fênix
Você me fez, perder o foco
perder o rumo e a direção.
Por você abri mão de mim,
de meus ideais de minha intuição!
Mas hoje aprendi a lição
Busquei meus sonhos
Voltei a planejar e versar
Voltei a lutar!
Agora estou mais forte
Munida de experiência
sabendo que sou eu
quem faço minha sorte.
E agora meu bem,
ninguém me barra,
porque sou fênix
Sobrevivente do caos!
Gosto de escrever à queima-roupa, como quem atira sem alvo. Às vezes quando acordo inquieto, com frio na barriga, muita sede e vontade de correr ou ficar sozinho eu já sei: vamos resolver isso com uma caneta ou teclado de computador.
Às vezes, sai apenas um rabisco, um desenho, um devaneio em forma de um novo projeto. Mas eu deixo sempre fluir...
Como sei que a idade um dia vai chegar, quero migrar essa terapia para a voz e assim, poder gravar quando não tiver mais vistas suficientes para a escrita.
O importante de sentar para escrever, ao contrário do que se pensa, é não ter inspirações prévias.
Devemos deixar o pensamento correr solto, frouxo, leve até que ele escorra pelos dedos até a ponta da caneta ou teclado de um computador.
Pode parecer baixo, mas tem dias que o pensamento tá como aquele "peido" que insiste em sair quando você anda pelas ruas, lado a lado com alguém: é necessário você pare tudo e o liberte!
Sinto falta do uso da minha máquina de datilografar. O barulho incomoda os vizinhos mas esse mesmo barulho me inspira.
Foi ao som desse barulho que, por anos, vivi nos salões de agências bancárias datilografando documentos e vivendo algumas emoções.
Creio que num futuro próximo digitar com a voz terá o apoio de corretivos eficientes que repetem o escrito e indicam por voz a necessidade de um ajustes na escrita.
A pandemia foi um ano difícil para alguns, porém, os autores, pintores, compositores, poetas, escritores e todos os que vivem de inspiração tiveram um ano de muita colheita.
Sim! Colheita! Assim como um agricultor no campo de flores ou frutos, tudo aquilo que transborda na mente humana e se converte em palavras são colheitas. É a mais bela colheita por que ali nascem sementes que irão brotar em outras mentes humanas.
E sem dúvidas, dos tempos pandêmicos de 2020, brotarão sementes que inspirarão as ávidas mentes dos séculos que se seguirão...
Ninguém Viu" – por Wallace de Oliveira Silva
Ninguém viu quando chorei no silêncio,
nem quando segurei o grito com um sorriso.
Fui forte pra todos, menos pra mim.
E ainda assim… ninguém notou.
Fui abrigo pra quem só sabia partir.
Estendi a mão pra quem já vinha armado.
Falei de paz, recebi guerra.
E ainda assim… eu fiquei.
Me chamam de ingênuo,
mas não sabem o quanto eu sangrei
pra continuar Não sabem quantas vezes eu me perdi
pra não perder o outro.
Cresci onde amor era luxo,
mas eu dava de graça.
Sonhei onde era proibido,
e mesmo assim… continuei sonhando.
Não é fraqueza querer ver o bem no outro.
É coragem.
Coragem de ser luz,
mesmo quando só te entregam escuridão.
De Pé Por Dentro" – por Wallace de Oliveira Silva
Tô cansado, mas sigo.
Com a alma rasgada, mas o olhar firme.
Ninguém vê o que eu escondo —
só sentem falta quando eu me calo.
Já levantei gente enquanto eu caía.
Já fiz sorrir quem nem sabia meu nome.
E mesmo assim, continuo doando
um pouco de mim em cada gesto.
Tenho mil cicatrizes,
mas nenhuma me fez virar o que eu jurei não ser.
Não jogo sujo,
não piso pra subir,
não aponto o dedo pra quem já tá no chão.
Já entendi que nem todo mundo vai me querer bem.
Mas isso não muda quem eu sou.
Porque quem é luz,
brilha mesmo em meio ao abandono.
E eu sigo aqui:
de pé por fora,
mesmo quando tudo desaba por dentro.
“Canto à Aurora de Delfos”
( Gilson de Paula Pires)
Nas montanhas sagradas de Delfos ergui-me,
Ao som do sopro do oráculo em brumas,
Ecos de Apolo, com lira em chamas,
Despertam a alma em antigas plumas.
Na pedra o fogo dança em silêncio,
O templo canta verdades ao vento,
As sacerdotisas, de olhos fechados,
Revelam o fado em sutil movimento.
Oh musa Calíope, guia minha voz,
Nos versos que tocam o tempo dos deuses.
Que minha palavra seja como o bronze,
Ecoando firme entre os altos penhascos.
Nascemos do caos, moldados por mitos,
Homens e heróis em lutas eternas,
Mas cada cicatriz é um poema vivo,
Inscrito no peito das almas modernas.
Que Zeus me escute lá do Olimpo,
E Poseidon acalme os mares do ser.
Sou filho do barro, irmão das estrelas,
Mas canto, e por isso, me torno poder.
GILSON DE PAULA PIRES.
“Te Encontrar Foi Meu Milagre”
(GILSON DE PAULA PIRES)
Eu andava tão perdido, coração sem direção
Como chuva no deserto, sem abrigo, sem razão
Mas aí você chegou, como o sol depois da dor
Me ensinando devagar o que é o verdadeiro amor
E eu que nem acreditava mais
Que alguém podia me tocar assim
Te encontrar foi meu milagre, minha paz, meu farol
O silêncio fez sentido quando ouvi tua voz
Agora o mundo gira mais bonito com você aqui
Te amo mais do que pensei que um dia fosse sentir
Nos teus olhos vejo abrigo, vejo casa, vejo céu
Teu sorriso me desarma, tua alma é meu papel
Pra escrever mil poesias que eu nunca consegui
Mas que brotam quando encosto meu amor em ti
E cada passo seu ao lado meu
É promessa que eu quero cumprir
Te encontrar foi meu milagre, minha paz, meu farol
O silêncio fez sentido quando ouvi tua voz
Agora o mundo gira mais bonito com você aqui
Te amo mais do que pensei que um dia fosse sentir
E se um dia o tempo for cruel
Vou lembrar do que a gente escreveu no papel
Amor real, sincero e sem final
Que nem o tempo pode apagar
Te encontrar foi meu milagre, minha luz, meu sinal
A razão de eu ter esperado afinal
E mesmo que o mundo insista em nos dividir
Te amo mais do que pensei que um dia fosse sentir
“Coração Teimoso”
(Gilson de Paula Pires)
Eu jurei que nunca mais ia amar
Depois de tudo que a vida me fez passar
Fechei a porta, escondi a chave
Mas teu sorriso chegou feito tempestade
Você chegou sem pedir licença
Virou meu mundo, bagunçou minha crença
E esse meu jeito duro e desconfiado
Se derreteu só de ficar do teu lado
Coração teimoso, que não quis te ouvir
Agora chora quando cê sorri
Tá batendo forte, tá gritando o teu nome
Diz que é amor, não é mais costume
Coração teimoso, se entregou pra valer
Você virou razão pra eu viver
Agora eu só penso em te fazer feliz
Mesmo depois de tudo que eu já disse que eu não quis
Você virou verso nas minhas canções
Um beijo teu vale mil perdões
E aquele medo que eu tinha do amor
Virou coragem quando a gente se encontrou
Coração teimoso, que não quis te ouvir
Agora chora quando cê sorri
Tá batendo forte, tá gritando o teu nome
Diz que é amor, não é mais costume
Coração teimoso, se entregou pra valer
Você virou razão pra eu viver
Agora eu só penso em te fazer feliz
Mesmo depois de tudo que eu já disse que eu não quis
Quem diria que o amor ia me ganhar
Logo eu que só sabia me afastar
Hoje corro pra te abraçar
Coração teimoso, aprendeu com você
Que amar vale mais que se esconder
E agora eu te juro: não largo tua mão
Você é meu destino, minha direção
noite fria
com ventos nas ruas cantando sem rima
uma mulher gelada e nua em plena rua
acenando a mão para o céu.
e o gelo caindo sobre o véu da noite
gelando-me a carne sem piedade
eM todas as noites frias, ficava contemplando serena
o frio, plantado na alma do ser que habita
as faces das nuvens cinzentas
queria ser fogo e esquentar a terra
mas cada vez mais me encolho
com receio de virar pedra...
...........
e vem o dia...
sem a dança do sol nos arredores dos montes...
ciça b. lima
( in "balada do inverno triste " do livro "só poemas" )
Cada uma das pessoas deste mundo
É um verso, de uma estrofe
Das muitas que compõem ...
A eloquente poesia
A que chamamos de vida
pouso a mão exausta
na circunscrição do objecto
demorado no meu tempo
chamo-lhe qualquer coisa
circunciso-lhe a consistência
porque não há segredos
no universo exacto
a memória não é exacta
os pés da terra são
terríveis hastes moles
árvore que se dança
é tudo quanto basta.
(Pedro Rodrigues de Menezes, "a mão exacta")
multiplicam-se sombras
ténue pestilência
sigilo absoluto
infestam mudas
o chão
a parede
o tecto
e a alma
à luz da noite
brotam
impetuosas
precipitando a diáspora
do corpo humano.
(Pedro Rodrigues de Menezes, "infestação")
no silêncio metamórfico das rochas
irrompendo do solo como um trovão
o tímido ladrar canino da alcateia
constitui o único vestígio humano
abandono absoluto no tempo presente.
homens íngremes de outrora ergueram
na imponente altura dos mistérios
cruzes dispersas como faróis acesos
liturgia imóvel dos mil cataventos
apontando ao destino o seu caminho.
(Pedro Rodrigues de Menezes, "aldeia dos cães")
de que vale o consolo humano da lágrima
trespassando a carne viva do coração
se são os meus horrendos e gigantes pés
ágeis pincéis que sangram no céu escarlate?
(Pedro Rodrigues de Menezes, "inutilidade da lágrima")
nunca o meu corpo abstracto
na sua infinita aritmética
encontrou a geometria da mão
que o elevasse ao quadrado
multiplicador da sua raiz.
(Pedro Rodrigues de Menezes, "obtusidade no corpo")
o parco roçagar da frondosa giesta
acesa pelo vento como um chicote
acelera em mim a lúcida consciência
de que as árvores, procurando o solo,
regressam ao útero que as gerou
por isso também eu caminho pleno
um homem plano sobre outro plano
uma luz, um astro cego, um abismo
desenhando um círculo com palavras
no misterioso alfabeto da criação
vou enchendo a boca de terra
vou abraçando a morte iminente
porque tudo em mim é imediato
o grito, o eco e o súbito silêncio.
(Pedro Rodrigues de Menezes, "cabo de gata")
uma crisálida indecifrável
que respirasse
na perpendicularidade
das minhas pálpebras
como uma força
vibrante e extraordinária
a desenhar as novas veias
fartas e cálidas
do dogma
filosofia ou religião
paradoxais
um paradoxo forte
imbatível e irrefutável
que fizesse esvoaçar
a inércia do verão
que é na memória póstuma
dos outros
o solstício
permanentemente sombrio
uma silhueta contendo
os risos verdes
lá atrás
onde os braços descansam
nus
no imponente esquecimento
do mundo.
(Pedro Rodrigues de Menezes, "crisálida indecifrável")
monja de salto-agulha
encontra o teu destino
imola-te na laça poeira
do celeste e laço doce
uno absorvente e único
das infinitas cadências
porque virão galáxias
e cometas invisíveis
velar a mulher densa
untada do encarnado
quente e magmático
resplandecente corpo
onde a mulher morta
dá lugar ao vaticínio
há mil anos escrito
no sangue e no fogo
o universo ressurge
enquanto a deusa nasce
da kundalínica nébula
que os povos adorarão.
(Pedro Rodrigues de Menezes, "monja de salto-agulha")
Poema dedicado a Sheila
mês de julho
dia vinte e dois
farias sessenta anos
mais os quatro decorridos
sobre o ano que adormeceste
a palavra pai é como um balão aceso
sobre a imprecisão contígua da boca cerrada
só a prejuízo a poderei pronunciar com a leveza certa
porque arde e não sei quando se fará noite dentro de mim.
(Pedro Rodrigues de Menezes, "vinte e dois de julho")
pai
não tenho memórias
desde que mostraram
a mortalha coerciva
cercando o teu corpo
pai
ouvia dizeres “é a fingir”
eu ria e dizia “é a fingir”
por isso todos acreditaram
que a minha extravagância
era um produto da loucura
pai
como se na aritmética
da vida que continua
e do tempo que passa
coubesse alguma lógica.
(Pedro Rodrigues de Menezes, "aritmética do luto")
