Cartas e Prosa de Fernando Pessoa

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Não somos eternos

Senti-me enegrecida dentro das esferas de um sol ardente, quando minha alma foi proscrita por trazer uma dor a mais. Senti-me sem defesa, porque a alma que doía quis deixar esta lágrima para trás. Não sei se foi a mágoa, ou o pudor que fosse, só sei que a lágrima que faltava em mim grudou e não saiu jamais, por um capricho que o desdouro trouxe de um amor que não voltou atrás.
Suores abundantes se formavam em meu semblante, não sei se por calor ou por vergonha. Mas o importante é viver cada vez mais esta vida que se mostra sempre enfadonha, e não pensar que as mágoas que se negam a ser vivas, podem viver na mente que as usa toda hora, em floreios de ontem, do hoje e de agora.
Claro que a vivência dos humanos tem suas regras onde quer que se vá, mas princípios não se fazem, se trazem, dentro do peito dos seres que não se cobrem só com panos, mas com o manto da honestidade que se dá, pelo berço que os tenha embalado no início desta vida,
que eterna não será

Inserida por PaolaRhoden

Vinho

A cada beijo fica mais transparente
Mesmo fria sinto seu doce sabor
Sendo seca me das mais vigor
De todas és a mais atraente

Minha melhor amiga
Minha melhor amante
Venha deixar-me fumegante
Sem rodeios ou intriga

Contigo tenho mais chance
De ser o que sempre quis
Boêmio e sempre aprendiz

Viverei este eterno romance
Só tu entende este semblante
Que em minha vida és constante

Inserida por Mattenhauer

Segunda Garrafa

Você altera meus sentidos
Bani meu discernimento
Aflora o velho ressentimento
Com sentimentos feridos

No doce sabor você me trai
Ao mesmo tempo que atrai
Através do que já sabia
Vide a bela agonia

De estar mais um dia
onde posso ver
e posso ser

Apenas na segunda rodada
é que se vê a magoa
de forma incessante

Inserida por Mattenhauer

Brilho Eterno

Em um dourado luar
Da qual já não tenho ciência
Cheios da inocência
De pejos à beira mar

Fez então em um olhar
Todo o brilho que este pode lhe dar
Inundando de luz
Aquilo que seduz

Será que és um anjo
E essa são suas auréolas
Ou és o rearranjo

De certas pétalas
Que não ouso falar
Para tais olhos prontos para amar

Inserida por Mattenhauer

Margarida

Bem me quer uma hora
Mal me quer em despedida
Bem me quer em sua vida
Mal me quer agora

Bem me quer Pandora
Mal me quer arrependida
Bem me quer a contrapartida
Mal me quer a que implora

Bem me quer senhora
Mal me quer na aurora
Bem me quer na ida

Mal me quer de saída
Bem me quer sonhadora
Mal me quer outrora

Inserida por Mattenhauer

Segunda Via

Quero viver no sonhar
Pois lá você é minha
Onde toda fantasia obtinha
Sem medo de acabar

Realidade imaginada aclarar
Regada a doce molinha
Das lágrimas infinitas nessa linha
Dominado pelo desejo de amar

No véu e imaculado de um olhar
Enclausurado pela sede que tinha
Da venusta companhia

Que venho abonar
E nesse reino que quero morar
É onde a realidade vira poesia

Inserida por Mattenhauer

Anjo Negro

Eu filho da crença e esperança
Dono de luz e paz
Acalanto mordaz
Escondido nessa temperança

Eu que sou de fala mansa
E discípulo de um solarengo
Mudo palavras de realengo
Do senhor da Hamsá

Recôndito nessa ânsia
Em suma instância
Envolto ao impossível

Como tudo que é invisível
Anjo resoluto e voraz
Da luz que não possuo mais

Inserida por Mattenhauer

Você

Sinto falta de nossas conversas
Falta dos teus verdes olhos
Esperando meus conselhos
Com pedidos à expensas

De uma nova trama
Sem se importar com a minha má fama
Se ao menos pudesse velos
Quais são seus pesadelos

Se ao menos soubesse
O motivo disso tudo
O que vive lá no fundo

Se pudesse tocar tudo o que disse
E assim extraísse
Toda a dor do seu mundo...

Inserida por Mattenhauer

Introdução ao réquiem

Venham todos e prestem atenção
Vou falar sobre uma maldição
Alguns a chamam de vida
E outros de causa perdida

Sim é sobre os amores
E tudo o que ele traz
Nobre capataz
Que floresce todas as cores

Sentido do viver
Em fim sem sentido
Devora tudo que é detido
Pelo sentimento sem querer

Constante errante
Constantemente irritante
Irreversível atroz
Comumente a nós

Inserida por Mattenhauer

Primeiro Réquiem

Só a loucura faz sentido
Só ela serve de abrigo
Deixe a sanidade em seu jazigo
E o bom senso perdido

Olhe meu amigo
Um mundo distorcido
Seja bem vindo
E venha comigo

De valores invertido
Há de ficar enrubescido
Com o que digo

Palavras em castigo
Fique de orgulho ferido
E ache o próximo artigo

Inserida por Mattenhauer

Réquiem 2

Para falar da morte
Tem que se falar da vida
E o que nela é contida
Tendo o amor de estandarte

Alegrias e dores também fazem parte
Em suma vontades sem sentido
Faz da razão um bandido
Tornando a vida uma arte

Sem certo ou errado
Onde nada é proibido
Para um coração inspirado

Na pratica um pecado
Por conta da libido
Então o amor é desferido

Inserida por Mattenhauer

Sobre o Réquiem

Vou apenas esclarecer
Que o amor dramático pode fazer
Parte das minhas poesias
Mas não dos meus dias

Não que não tenha amores ou rancores
Apenas vivo sem pensar
você já deve ter ouvido falar
Dentre todos esses rumores

Que a vida está a passar
E nós somente a olhar
Se dou um tempo de tudo
E ao final fico mudo

Não é por desafeto
E sim porque o futuro é incerto
Como tudo nessa redoma de concreto

Que um dia se desfaz
E no outro se refaz
Estes são os meus sentimentos
Que nuca são sãos mas sempre verdadeiros

Apenas acredite na fantasia
E siga a melodia
Assim como a que dizia

Neste ciclo infinito de perguntas
E respostas prescritas
Mas que nunca são ditas

Se não entendeu
Ou apenas se perdeu
Fique tranquilo
E veja aquilo

Que falei inúmeras vezes
Para todos os deuses
Nada é tão complicado
E nada é tão simples

Já que é assim que é a vida
Porque não ter uma bela despedida?

Inserida por Mattenhauer

Réquiem 9

Só por hoje, morro satisfeito
Pois fiz tudo o que queria
E vivi o maximo que podia
Mesmo que tenha sido imperfeito

Sou grato pelo que teve feito
Colocando barreiras que impedia
Futuras desventuras em meu dia
Grato pelo sorriso sem jeito

E as palavras que tenha dito
Sempre em tom amigo
Inclusive as sem sentido

Meu atroz mais antigo
Sem nunca ter entendido
O porque te sigo

Inserida por Mattenhauer

Macabeu

Meu mundo escureceu
Quando das cinzas se emergiu
Aquele velho frio
No silencio que se rompeu

Quanto o céu cedeu
E o primeiro cavaleiro saiu
Minha raiva surgiu
E nos homens o medo cresceu

O segundo cavaleiro aluiu
O terceiro o seguiu
Por fim o quarto apareceu

E a fê dos homens se perdeu
E a esperança que se extinguiu
Sem saberem que o verdadeiro terror sou eu

Inserida por Mattenhauer

Verde Mistério

Teus olhos insistem em me impressionar
Adoro velos mudar de cor
Conforme está o teu humor
Deixando sempre um mistério a solucionar

Adoro velos vagando ao procurar
Sentidos no amor
Que eles fazem com finco rigor
Olhos como ondas verdes do mar

Sempre dispostos a me animar
Belos e únicos como só eles podem ser
Olhos que estão a dizer

Palavras para me ter
E em um piscar
Meu coração devorar

Inserida por Mattenhauer

Estandarte

Toda vez que fecho os olhos
Eu vejo os teus
Toda vez que esqueço como sorrir
Lembro-me de ti sorrindo

Quando me perco
Tu sempre me achas
Toda vez que respiro
Sei que tu és o motivo

O único sabor que me lembro
E do teu beijo
Meu único desejo e ver-te contente


Este é meu estandarte
Uma lembrança remanescente
De uma vida escarlate

Inserida por Mattenhauer

Por tudo que tu destruiu

Por tudo que tu não cumpriu
Por tudo que tu não assumiu
Por tudo que tu consentiu
Por tudo que tu não assentiu

Por tudo que tu viu
Por tudo que tu substituiu
Por tudo que tu intuiu
Por tudo que tu deferiu

Por tudo que tu extraiu
Por tudo que tu concluiu
Por tudo que tu subtraiu

Por tudo que tu descobriu
Por tudo que tu traiu
Morra sem dar um piu

Inserida por Mattenhauer

BARQUEIRO E CARTA

Lá vai ele... O barqueiro,
com pedaço de rapadura
com seu barco, e seu saco,
e dentada com boca dura

Sacode seu remo ao vento
empurra n'água o remar
segue adentrando no rio
com vontade de chegar.

Em seu estreito espinhaço
sobre o leito deslizando
na pose de cabra macho
barqueiro distanciando.

Como lamina sobre as águas
segue encurtando a viagem
cada curva do rio, lagrima
da saudade em visagem.

O que tu leva barqueiro
com tanta urgência assim,
não, não é o mundo inteiro
não diga isso p'ra mim...

_ Levo carta com saudade
do pulsar de um coração
sonhos alem das margens
sopitando de paixão.

Levo vontade do amor
como se fosse um tom
nota com muito fervor
tilintando sonho bom.

Levo também uma sina
de amar longe dos olhos
uma vida que não rima
oceanos sem abrolhos.

Levo aqui um horizonte
sem alvorecer do dia
miragem alem dos montes
um sonho de fantasia.

Por outro lado o amor
levo com suas vendas
amar de longe é dor
ô bom Deus, me defenda.

Não deixe esse sofrer
parar no meu coração
não quero esse viver
amar longe, não e não!

Quero amor perto de mim
todo dia e toda hora
com diadema de cores
no céu da minha aurora.

Quero pássaros no quintal
em notas do meu coração
chilreando o carnaval
farfalhando o meu quinhão.

Anoitecer, quero sorriso
da noite toda enluarada
estrela d'alva eu preciso
iluminando minha estrada.

_ Barqueiro o que você quer
sinto muito, também quero
mas o querer e o vier...
Pertence ao mundo dos cleros.

Antonio Montes

Inserida por Amontesfnunes

Se em palavras vieste inspirar
Ó Deus, fascínio crias em tuas poesias.
Natureza de beleza ímpar,
Ensinai a viver teus dias.

Se em amor escreveu o poeta
Ó Deus, da-lhe entendimento.
Em tuas palavras destes o encanto,
E em pleno pranto, trazes o lamento.

Se em beleza nos deu a mulher
Ó Deus, estendo as mãos ao céu.
Dedicamos ao doce veneno
Palavras jogadas ao léu.

E a tudo que não provém
Ó Deus, vem nos libertar.
Do riso sem viço
Paixão sem serviço,
Do amor sem amar.

Inserida por MatheusHoracio

Apenas mais um texto de amor ...
Tocados pela mutabilidade da vida repentinamente se perguntaram :
_ Onde será que estaremos num futuro próximo à hora em que o crepúsculo nos toca ?
Breve silêncio .
Nada disseram . Sabiam . Uniram-se então as mãos, os corações céleres bateram e permaneceram assim , quietos olhando para o horizonte , onde o sol timidamente se escondia , mas sua luz permanecia visível aos olhos de quem conhece o amor.

Inserida por elisangelabankersen