Carlos Drumond de Andrade Contagem do Tempo

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RECEITA DE POEMA

Um poema que desaparecesse
à medida que fosse nascendo,
e que dele nada então restasse
senão o silêncio de estar não sendo.

Que nele apenas ecoasse
o som do vazio mais pleno.
E depois que tudo matasse
morresse do próprio veneno.

"DE CHUMBO ERAM SOMENTE DEZ SOLDADOS"
A José Maurício Gomes de Almeida

De chumbo eram somente dez soldados,
plantados entre a Pérsia e o sono fundo,
e com certeza o espaço dessa mesa
era maior que o diâmetro do mundo.

Aconchego de montanhas matutinas
com degraus desenhados pelo vento,
mas na lisa planície da alegria
corre o rio feroz do esquecimento.

Meninos e manhas, densas lembranças
que o tempo contamina até o osso,
fazendo da memória um balde cego

vazando no negrume do meu poço.
Pouco a pouco vão sendo derrubados
as manhãs, os meninos e os soldados.

Linguagens

Notei que o vôo negro da hipálage
não tinha o mel dos lábios da metáfora,
e mais notara, se não fora a enálage,
e mais voara, se não fosse a anáfora.

Chorei dois oceanos de hipérbole,
duas velas cortaram a metonímia.
O pé da catacrese já marchava
no compasso toante dessa rima.

Verteu prantos a anímica floresta,
mas entramos dentro do pleonasmo,
‘stamos em pleno oceano da aférese...

Vai-se um expletivo, outro e outro mais...
Os poetas somos muito silépticos;
os poemas, elípticos demais.

"Estou ali..."

Estou ali, quem sabe eu seja apenas
a foto de um garoto que morreu.
No espaço entre o sorriso e o sapato
há um corpo que bem pode ser o meu.

Ou talvez seja eu o seu espelho,
e olhar reflete em mim algum passado:
o cheiro das goiabas na fruteira,
o barulho das águas no telhado.

No retrato outra imagem se condensa:
percebo que apesar de quase gêmeos
nós dois somos somente a chama inútil

contra o escuro da noite que nos trai.
Das mãos dele eu recolho o que me resta.
Chamo-lhe de menino. E é meu pai.

Concorde com Freud

Matou o analista e foi a Miami.
Na fuga, levou a reboque
a série inglesa de Hitchcock.

Damas ocultas em jardim sem medo
se ofereciam em zoom
para levá-lo a lugar nenhum.

Comparado a seu rosto, dir-se-ia negro
qualquer giz; tal qual surge, intenso,
um osso, no raio-x.

Indagado na fila do passaporte,
declarou que só trazia
na mala a morte.

A tudo respondeu solene e quieto
com minúcias tediosas
de um hemograma completo.

Da mãe herdara um trono abandonado,
escondido numa esquina da infância
e no calibre três-oitão recuperado.

Queria entrar no Reino da Fantasia,
saudar Minnie, Pateta, Alice e a Madrasta,
e com o mel do amor e o mal da teimosia

suplicou à polícia a dádiva de um dia.
Voltou algemado, em classe econômica,
sendo também proibido

de ligar até um fone de ouvido.
Desejou marcar nova sessão,
mas no Paraíso não se dá plantão.

Caju, Catumbi, João Batista,
num deles mora hoje o analista.
Órfão pela terceira vez,

passa o dia jogando damas
na cela do xadrez. Viver, agora,
quando tantos dissecaram sua história,

lhe parece bem mais fácil:
ele, sem qualquer ajuda,
conseguiu escrever o posfácio.

Arte

Poemas são palavras e presságios,
pardais perdidos sem direito a ninho.
Poemas casam nuvens e favelas
e se escondem depois no próprio umbigo.
Poemas são tilápias e besouros,
ar e água à beira de anzóis e riscos.
São begônias e petúnias,
isopor ou mármore nas colunas,
rosas decepadas pelas hélices
de vôos amarrados ao chão.
Cinza do que foi orvalho,
poema é carta fora do baralho,
milharal pegando fogo
pelo berro do espantalho.

Caso Raro: A Felicidade Batendo na Porta 3 Vezes

Sim, a felicidade bateu na minha porta três vezes, eu não esperava, minha irmã (Lucielle) veio com uma encomenda entregue pelo Correio. Nessa encomenda eu li o nome do mestre da Academia Brasileira de Letras, Antonio Carlos Secchin, logo veio a felicidade, porque eu sabia que ganhei mais um livro, a curiosidade foi imensa em abrir a encomenda e saber qual livro se encontrava por dentro.

Respirei fundo, e feito uma criança fui abrindo e pensou que não mais uma felicidade, ganhei um grande presente, quase caí no chão, só faltou as lágrimas caírem da minha face de felicidade, eu vi primeiro uma imagem, de uma das maiores atrizes brasileira, a Fernanda Montenegro. Gritei, de felicidade duas vezes, ao receber a encomenda e ao abrir a encomenda, ganhei o livro "Prólogo, ato, epílogo" (memorias), autografado pela Fernanda Montenegro (eita, a felicidade não bateu na minha porta três vezes, bateu 4 vezes, mas foi o que veio em minha mente, agora pela noite, nesse dia 13 de novembro de 2019).

A felicidade bateu na minha porta outra vez, porque também contagiou a minha mãe (Lúcia) e ela falou, que gosta de me vê assim, feliz feito uma criança, falando coisas boas, falando em gratidão.

A felicidade bateu na minha porta 3 vezes e um pouco mais.

⁠a poesia é uma hóspede invisível. (...) o vestígio de sua passagem é o poema.

os PARES hoje são ÍMPARES… ⁠

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⁠a ESTRANHEZA dos ESTRANHOS não é assim tão ESTRANHA como a ESTRANHEZA dos PRÓXIMOS…

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⁠APLAUSOS empobrecem a ALMA dos HOMENS...

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APLAUSOS alimentam ILUSÕES...⁠

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⁠Interiorize-se OU
Atormente-se

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⁠as inDECISÕES nos DEFINHAM...

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⁠pALMAS deturpam a ALMA...

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⁠quando estamos ATENTOS nada nos ATENTA...

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tentAÇÕES sequestram nossos SENTIDOS...

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⁠SOMENTE nas PROFUNDEZAS do CONHECIMENTO encontramos os caminho que nos RETIRAM das PROFUNDEZAS da IGNORÂNCIA...

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Só podemos SER quando VERDADEIRAMENTE nós nos PERTENCERMOS…

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⁠se você pretende SER, em primeiro lugar PERTENÇA-se!

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