Carlos Drummond Sofre por Viver
museu da inconfidência
São palavras no chão
e memória nos autos.
As casas inda restam,
os amores, mais não.
E restam poucas roupas,
sobrepeliz de pároco,
a vara de um juiz,
anjos, púrpuras, ecos.
Macia flor de olvido,
sem aroma governas
o tempo ingovernável.
Muros pranteiam. Só.
Toda história é remorso.
Precisamos descobrir o Brasill!
Escondidos atrás das florestas,
com água dos rios no meio,
o Brasil está dormindo, coitado.
Entre as desesperanças da hora, e à falta de melhores notícias, venho informar-lhes que nasceu uma orquídea...
O difícil, o extraordinário, não é fazer mil gols, como Pelé. É fazer um gol como Pelé. Aquele gol que gostaríamos tanto de fazer, que nos sentimos maduros para fazer, mas que, diabolicamente, não se deixa fazer. O gol.
Amar é privilégio de maduros. (...) Amor começa tarde.
O humorismo é a aptidão para despertar nos outros a alegria que não sentimos.
O aforismo constitui uma das maiores pretensões da inteligência, a de reger a vida.
Tudo é mais simples diante de um copo d’água.
O amor ensina igualmente a ferir e a ser ferido.
Os dicionários registram as palavras amorosas e omitem os ruídos que as entremeiam ou substituem.
O amor dinamita a ponte e manda o amante passar.
Os temperamentos ávidos de guerrear sofrem com a paz e distraem-se no amor.
Não é difícil ser amado por duas pessoas; difícil é amar as duas.
Cartas de amor: imitação nem sempre feliz da linguagem real do amor.
Não amamos ainda bastante se não chegamos a esquecer até as qualidades do objeto amado.
A alfabetização é a primeira coluna da estrutura social; o analfabetismo pode ser a segunda.
Não se inventou ainda a anedota triste, para ocasiões fúnebres.
Censuramos no animal os nossos defeitos: brutalidade e ingratidão.
É mais fácil conceber um anjo sob aspecto de pessoa que se pareça com ele do que como anjo propriamente dito.