Sonia Schmorantz
Amor Fiel
Escrava do desengano,
Criei o amor mais fiel
Em sonhos que não vivi.
Alguém com querer sobre-humano
Com ares de menestrel,
Incapaz de me trair.
Nos olhos,o anil do céu,
Ardentes como a paixão
Ao som de antigo bolero.
Cabelos soltos ao léu,
Na voz a doce canção
Amante, amigo e sincero.
À meia luz um bocejo,
Suspirar livre e candente
Meu delicioso absinto...
Enlouqueço com teu beijo!
Afago não há mais ardente,
Nem desejo tão faminto.
Porém, esse amor magia,
Vive em meus sonhos alados
É fantasia,ilusão...
Por isso a vida é vazia!
Recuso outros agrados,
Não tocam meu coração.
Barquinhos de Papel
Na água da chuva ondulante
Meus barquinhos de papel,
Sob o som da acordina.
Transportavam triunfantes
Num castelo de ouropel,
Os meus sonhos de menina.
Velozes e coloridos
Singravam o rio encantado,
Enquanto a chuva caía...
Dentro deles um pedido
Relíquias do meu passado,
Que só a alma entendia.
Onde estarão os barquinhos
Com os pedidos que fiz,
Nesta longínqua andança?
Talvez naveguem sozinhos
Por um caminho infeliz,
Nas correntes da esperança.
Doce Segredo
Vai, meu doce segredo,
Perambular em cada porta aberta...
Transporta esse amor na luz do dia,
A ressoar dentre os mais altos dos penedos,
Como clarim, celebra a descoberta.
Vai,meu pobre coração,
Foge das amarras da clausura
Confessa o amargo fel desse delito.
Em crépidas nuvens d algodão,
Transpassa o cetim da compostura
E liberta esse pular contrito.
Exorta esta extinta sensatez!
Censura a razão de tais sentidos,
Afronta o fervor dessa saudade.
Desperta para a vida outra vez!
Não faças da esperança doce olvido,
Conquista essa tal felicidade.
Mãos Lascivas
Plácido amor, polifonas,
Querente coração, poejo,
Onde carinhos sem mensura
Brotam como a luz do dia...
O toque orquestral de um beijo
Tinge de ardor celestial ventura.
Nesse ninhal, refúgio de carícias,
Ondulando nossas almas com mestria,
Teus braços,maciez incontinente
Me levam a essa fonte de delícias...
Clarão inesgotável do poente.
Quero o afago dessa mãos lascivas
Sobre a pele,lume que se expande...
Orvalhando o leito de poesia.
Lá fora, geme o vento em cantigas!
Flores onde quer que ande,
Num turbilhão de alegrias.
Poeminha
Para matar a saudade
Eu fiz esse Poeminha,
Com retalhos de ilusão.
Quem ama com sinceridade
Deixa su'alma entre as linhas,
Borda de orvalho a canção...
Meu amor, como é distante,
A trilha do pensamento
Que te separa de mim.
Se tua alma constante
regressar nesse momento,
A saudade terá fim.
Com versos apaixonados
Aguardo tua chegada,
Paixão ainda mora comigo.
Distante dos teus cuidados
É vazia a minha estrada!
Solitária e sem abrigo.
Vai logo,meu Poeminha!
A distância é passageira,
Quando o amor arde em chama.
Nas asas da andorinha
Leva minha vida inteira...
Regressa e dia qu'ele me ama!
Quero Falar das Flores
Quero falar das flores!
Perfume primaveril,
Nuances que adornam a vida.
Lembrando antigos amores,
De tempo ameno e gentil,
Qual primavera florida.
Tão belas e cristalinas,
Pureza, albente ventura,
Transpassam qualquer tormento.
Pétalas róseas entre as colinas,
Estampadas na verdura
Em doce prece ao vento.
Quero falar das flores!
Da natureza que enfeita
Os meus dias enfadonhos.
São tantos os seus olores!
Que o beija-flor se deita
Em berço ornado de sonhos...
Sublime Emoção
Por entre as curvas da estrada
Vislumbro em céu de carícias,
Teus braços, algemas macias.
Ao longe e tão esperada
Num mar de afáveis delícias,
Tua presença em meus dias.
Te busco em sonhos audazes,
Doces beijos de um passado
Oscilante e tão presente.
Abraço em instantes fugazes,
Teu corpo febril, tão amado,
Doce luz do sol poente.
Por que a distância ferina,
Enchendo de dor a poesia
Se o coração não te esquece?
Esse amor que me fascina,
Sublime emoção, fantasia,
É chama que jamais fenece...
Solidão a Dois
Pensamentos frustrados
Na penúmbra do quarto...
Do silêncio o clamor.
Sonhos despedaçados
O ressentimento é farto,
Já não existe amor.
Nas amarras do cinismo
Fenecem os sentimentos,
Cada vez mais escassos.
Aprisionados no abismo,
Entre dolosos lamentos
Resumem tal fracasso.
Esta solidão a dois
Disfarçada alegria,
Já não satisfaz a alma.
Fica tudo pra depois...
Foi embora a fantasia,
É sofrer que não acalma.
Anjo Meu ( A meu filho Cristiano - in memoriam)
Foste meu filho querido...
No céu és anjo meu!
Embora sinta saudade
Nesta separação doída,
Com tanta sinceridade
Sei que não foi um adeus.
Apenas mudaste de plano,
É o caminho da vida
Ninguém consegue mudar...
Cada vez que eu te chamo,
Com a alma comovida
Um anjo vem me abraçar...
Duas asas sobre a lua
Refletem à luz das estrelas,
Num aceno verdadeiro.
Minhas rimas, que são tuas,
Se fazem então mais belas,
Invadindo o mundo inteiro.
Anjo meu essa distância
Um dia terá seu fim,
Sei que também me esperas...
Em meio a essa constância
Enquanto viveste em mim,
Fui teu anjo aqui na terra.
Estrela
Retira teu véu,
Minha bela!
Que eu quero vê-la
Adornando meu céu...
Inebria-me, com teu brilho!
E faz sonhar
Num simples toque de olhar,
Meu coração andarilho.
Envolta em mil fantasias
Ah! Como é bom vê-la,
Minha estrela!
A cintilar poesia...
Da minha janela contemplo
Tua beleza radiante
De mim assim tão distante,
No esplendor do firmamento.
Antes da noite partir,
Ponho-me enfim extasiada...
Por teu luzir enfeitiçada,
Minh'alma adormece a sorrir!
Jasmim
Meu jasmim em botão!
Desabrochar de sonho
Pelo orvalho regado.
Não há maior emoção,
Ou instante mais risonho
Do que estar ao teu lado.
Em cada romper de aurora,
Quando a beleza se espalma
Com seus raios envaidecidos...
As avezinhas canoras
Buliçosas, entre as palmas,
Exaltam teu colorido.
Quem dera no meu jardim
Pudesse eu cultivar
Esse botão em flor...
Guardaria só para mim
O brilho do teu olhar,
No jasminzal do amor.
Meu Sonho
De onde vens tão belo,
Com olhos de doçura
E semblante risonho?
Espalhando ternura,
Tão carinhoso e singelo,
Colorindo meu sono.
De quem será essa imagem
Que me encanta e fascina,
Deixando em mim a saudade?
Chama viva que ilumina
Róseas flores da cidade,
Misto de paz e verdade.
Por que te vais com o sonho
Na direção do infinito,
Sobrevoando o universo?
Cheia de amor eu te fito...
Relembro teu rosto e componho
Mil beijos em cada verso.
Nós Dois
A ti,
Que chegas de mansinho
Entre cada amanhecer...
A mim,
Que te abraço com carinho
E deixo o sonho florescer...
À madrugada,
Que sutil e companheira
Enche nosso quarto de magia...
À brida que,
Destila amor a noite inteira,
Num revoar de fantasia...
A nós!
Palpitar em sintonia,
Uníssono lírico e risonho.
Nós dois,
Entre ondas de alegria,
Amando de sonho em sonho...
Paz Na Minha Aldeia
Verdes campinas e prados
Entre concretos gigantes...
Agitam o clarear d aurora.
Trépidos rumores adiante...
Num andar descompassado,
Choram a fauna e a flora!
Tristes veredas sombrias,
Visão da calma despojada
Desencantar da vida!
Funesto prenúncio do nada
Mãos calejadas e frias,
Tranquilidade perdida.
Quero a paz na minha aldeia!
Voar livre qual o vento,
Semeando mil afetos...
Nas asas do pensamento
Toda a brandura em cadeia,
Olhos de brilho repletos.
No aconchego dese lar
Fraternidade e amor,
A brindar com minha gente...
Do alto, Nosso Senhor,
Sorrindo vem abençoar
Minha ladeia, então contente.
Teu Olhar
Teu olhar!
Cintilar de estrelas
Que os meus procuram
Sem cessar...
Como é doce perceber
Teus olhos vagando em mim,
De maneira tão intensa
Sentir todo o teu querer...
Ah! Como eu queria!
Permanecer nesse encanto,
Embargada de emoção...
Por todos os meus dias.
Nossos corações ao léu,
Sorvendo tal encantamento,
Nas asas da poesia...
Adoro fitar teu céu!
Tua Poesia
Espelho da alma,
Vida que escorre entre as mãos
Assim é a poesia...
Todo o poeta acalma
As dores do coração,
Em versos que pronuncia.
A pena alegre ou triste
Detalhes vai contornando,
Em singular aventura.
Desde o dia em que partiste
Vivo teu nome rimando,
Com a palavra amargura.
Meu coração agora
Já tem a forma de flor
E o perfume do jasmim...
Que esta rima sem demora
Chegue a ti, meu amor,
Num abraço sem fim...
Milagres da Vida
Vieste ancorar nos meus sonhos
Sou a tua salvação!
No meu cais foste bem vindo...
Adeus dias enfadonhos!
Em teu mar de solidão,
Horizonte está se abrindo.
Siou a nereida encantada
Que ta nau impulsiona,
Nas águas tranquilas do amor...
A cada praia avistada
Meu beijo te aprisiona,
No véu da bruma em flor.
Ante tanto sentimento
Lua cheia vem banhar
Nossos corpos de magia...
É festa no firmamento!
Leves qual folhas no ar,
Esculpindo a fantasia.
Assim, mundo a fora,
Teu destino é o meu abraço
Nossas bocas sempre unidas
Em todo o nascer de aurora...
Te vejo em tudo que faço,
Somos milagres da vida.
Lembranças de Alegrete (À minha terra natal)
Minh'alma a trotezito
Percorre tuas campinas,
Nas asas do pensamento...
Olhos fixos no infinito
Posso ver tuas colinas,
Verdes paisagens ao vento.
Coração bate apressado!
Sente ânsia de chegar
Galopando nas coxilhas...
Num pulsar apaixonado,
Busca o aconchego do lar
na Capital Farroupilha.
Alegrete, meu jardim,
Onde roseirais plantei...
Torrão que me viu nascer!
Saudades nasceram em mim
Nas plagas por onde andei,
Num eterno florescer.
Ibirapuitã brejeiro
Fonte de águas correntes,
Vai regando nossa lendas...
A cantar nos pessegueiros
Cigarras com vestes de prenda,
Inebriam índios valentes.
A reviver nossas glórias,
Em cada Vinte de Setembro
Meu povo desfila animado.
Num tilintar de esporas,
Com muito orgulho relembra
Feitos heroicos passados.
Não conheci outra escola
Mais sapiente que a tua...
Minuano cortando os ares
São João, fogueira na rua,
Passarada nos pomares.
Geada encobrindo os campo...
Envolta em meu cachecol,
brincava descalça na chuva...
Terra de mil encantos!
Caindo chuvisco com sol
É casamento de viúva.
Tropeiro vencendo quebradas
Cumprindo assim sua sina,
Ao sabor do chimarrão...
Nas ruas,juntas de gado
Nos meus temos de menina
Braseiro ou fogo de chão.
Emmeio à fronteira oeste
Do Rio Grande do Sul
Está minha querência amada.
Com sua beleza agreste,
Debaixo de um céu azul,
O meu rumo é a tua estrada...
Não Foi Amor
Não foi amor, eu bem sei,
Foi enganosa desdita
Andor de astuto cinismo.
Sé Deus sabe o que passei
Nesta amargura maldita,
Escrava do teu egoísmo.
Não foi justo o clima funesto
Em que minh'ama quedou,
Esquecida na saudade...
Sentimento tão honesto
Você feriu, desprezou,
No apogeu da maldade.
Não há perdão compassivo
Nem brados de alegria,
Despertai de vis tormentos...
De torpes carinhos não vivo!
És contraluz dos meus dias,
És fagulha contra o vento.
Encontro
Sob o prisma do desejo
Minha emoção mais pura
Levou-me ao teu acalanto.
Guardei meu primeiro beijo
Entre as asas da ventura,
Nascente de tal encanto.
Envolta em sorriso franco
Exortei o fel amargo,
Migalhas da negra dor...
Escolhi até o banco
Do jardim enfrente ao lago,
Para te falar de amor.
Enfim, ouvi à distância,
Teus passos pisando a grama
Nas mãos uma linda flor.
Venci a timidez e a ânsia
Te envolvi no ardor que emana
Do meu corpo abrasador.