Walysson Carvalho
Soneto da Carta não entregue
Está tão cedo... Vieste desesperada,
e ainda é madrugada em meu perdido coração.
E vistes: erra até sua pulsação
quando você chega, sem avisar — calada.
És pura como lã recém-nascida, como avelã doce.
Não tornes vilã de um sonho só meu,
mas sê a mesma — mesma onda que nasceu
de um mar inteiro, em alma sentimentalista.
E vide, lenta, como fiz ao ver tua presença.
Sê atenta, com canções turvas de saliento,
e reina em meu nome... se for pra mudar, que mude.
E se esqueças, que seja de forma miúda,
das canções de época — que nem o tempo amiúde,
mas nunca do amor, que em nós ainda se iluda.
Mesmice
Eles trabalham, trabalham,
Na esperança de que o amanhã
Seja livre.
Mas, no fim,
Realizam a mesmice.
Você
Você, que dita o caminho
Do seu grande destino.
Você roda, roda, perdido, igual a um moinho.
Você fala, fala como se fosse mais um amigo,
Mas, no fundo, você só quer
Mais um abrigo qualquer.
Todos temos nossos demônios,
E, com isso, não temos nada a fazer.
Temos, sim — mas não sei...
Quando o dia nascer, cor ancestral,
Você vai ver que nada é real.
Essa semana não posso andar demais,
Não posso amar, porque sempre ando.
Sempre que puder, vou tentar escrever
Algo assim, só pra você ter.
Somos todos irmãos, não importa a religião,
Mas há algumas que não têm respeito:
Quase sempre buscam defeito onde não há,
Vivem achando que estão sãs.
Mas é noite, e Deus ama a todos.
Está a assistir seu episódio novo,
Assinando sua vida
Em seu sofá,
Nada para falar,
Com sua pipoca ao lado,
Talvez já estamos condenados.
Hoje
Hoje, a fé que me guiava
Está contra mim,
E tudo ao meu lado me convence que sim:
Tudo acabou.
Vejo a solidão estropiar a mente,
Vejo mentiras mais certas que a gente
Faça mudar.
Quase... As quatro paredes vão escutar,
E as palavras me fazem andar.
E, de tanto ver essas pessoas...
Que coisa feia: todos lutam contra si.
O mundo não pode acabar assim.
Mude mais, desta vez.
Veja o céu escuro se clarear,
Vejo grandes prédios guerrear,
Vejo mutirões atentar a si mesmos.
Irmão contra irmão... e nada mais.
Nada mais pode entregar a paz.
Alguém sentado, assistindo...
Outra vez.
Sem
Pois vi o que aconteceu
Parei de ver o céu
Não vi você
Amor, por que esqueces-me tanto?
Só para ti que canto, encantas, amor
Gosto tanto de ti, não sei partir
Pra outro mundo
Vejo em seus olhos desejo
Não tenho brinquedos pra não amar
Tenho você comigo
Eu canto, ensino
Te mostro o mar
Vamos nos abrigar na praia
Se amar, abraçadas de tanto falar
Beija minha nuca e fala
O quanto que me vala
De tanto pensar
Digas à esperança corrida
Que nada, amiga, não hei de parar
Lembra dos dias partidos
Dos amores varridos de tanto esperar
Nota a decadência do amor
Que se fez em flor, só pra petalar
Não esqueça de mim
Quando minha vez for passar
Imundo coração
Veja, claro imundo coração,
Das coisas que passarão em vão.
Lembres de demorar partir,
Tantas não estão por vir.
Veja a clareza do mar,
Veja como não é amar.
Sinta a emoção se repetir,
De tanto se repelir.
Quantos “nãos” hei de dizer,
Até quando foi aparecer?
Quantas noites passou,
Escrevendo bobeiras de amor?
Nossas vidas unidas,
De ódio, amor e dor.
Coisas difíceis de lidar,
Que nem o amor explicou.
Mas, tão lindo quanto, ó menina,
Vejas a noite cristalina,
E notas quanto, em nossas vidas,
O tempo sonha e desfila.
Reino de Espelhos
Como pode um rei
abandonar seu reino?
Como Deus criou
seu próprio espelho?
Quanto mais eu vejo os livros,
mais eu acredito nisso:
nossos inimigos
são tais e vícios.
Veja o olhar escuro —
eu não falo, eu escuto.
Botem a escuta em meu corpo.
Te ajudo, saliento, enquanto morro.
Como crescer
mediante a um abandono?
Não mude
o forte encanto.
Olhe para mim que eu adoro
Veja o sorrir de outro
Veja o dormir do outro
Mude as propostas, invente suas respostas
Altere o sentido, mude o convívio
E altere o mundo, não se torne imune
Seja imutável, como a mente, um carro
Compre mais caro, seja capital
Invista no vácuo, colecione rancores
Vista-se de ouro, esconda seus temores
Venda promessas, compre valores
Ignore as dores, multiplique os horrores
Mas quando o espelho quebrar,
e sobrar só reflexo no chão,
lembre que o reino, vazio,
é também seu coração.
Dunas
Prefiro não deitar na cama sem você,
Junta a mim.
Claro que te amo — espero que entenda,
Mesmo que não sinta o mesmo.
Quero me calar, mas não quero conseguir,
Subir e perecer neste ir e vir
Coeso, coeso...
Quase me formei poeta,
De tanto imaginar nós dois a sós.
Prefiro não te amar do que não te lembrar,
Pra sempre, contente.
Meu contato a ti, inconveniente.
Ligue sempre que... corta meus dentes.
Juro: o amor é apelido da dor,
Quase fortaleza.
Juro te amar como as ondas do mar
E as dunas da areia.
Da areia, da areia...
Tai.. (Versão unicamente)
Se eu ouvir tua voz, despreparado,
Eu me sinto atropelado
De tanto te amar.
Como pode ser algo tão bela
Como atriz de novela
Como sua voz, sincera,
De tanto cantar?
Eu quero correr em seus lábios,
Em seus cabelos cacheados,
De tanto esperar.
E se encontrar algum defeito
No seu corpo, no seu jeito,
Esse defeito há de detalhar.
Como pode haver tanto amor
Desse jeito, pele à flor,
Como o nada a encontrar?
Como sua pele é lisa,
O seu corpo me alucina,
Seu andar me faz parar.
Sua família, mãe, sua irmã,
São todas iguais a ti.
Nunca vi beleza repercutir a incerteza
Que existe em seu olhar.
Como seus olhos, eu persigo,
Eu te pego, perigo,
De tanto pensar.
Você não nega que me ama,
Nem fala que pamba,
De tanto falar.
Amor, quanto tempo eu peço um momento
Só pra te lembrar
Que, quanto mais longe,
Eu gostaria de você.
Meu peito para descobrir eternamente o seu nome.
Sozinho
Até hoje não sei dizer
O que lhe fiz pra te perder
Sozinho, sozinho..
Eu pensei só no amor
E um castelo de papel
Sozinho, sozinho...
Como eu fui te perder?
Não quis ficar sem você
Jurei não me apaixonar
Sozinho, sozinho
Eu me apaixonei
Minha palavra eu quebrei
E ela me deixou
Sozinho, sozinho...
Eu quase não pensei
O que eu irei dizer
Quando eu já tinha dito, me apaixonei
Entre tantas coisas, eu não pude explicar
O porquê de te amar assim, sozinho..
Amo-te tanto, que todas as poesias que escrevi até hoje
Foram para você — pois, se não fossem, não seriam minhas.
Amo-te como o vento: presente, mesmo longe,
E, ao seu lado, sinto-me como uma bússola — sempre apontando para o norte.
voce
Você disse tanta coisa de amor
Depois jogou tudo em vão
Sinto que não devo dar mais flores
Pois quebraste meu coração
Você se sentiu tão segura
Em meu peito senti seu murmúrio
Passou a noite agarrada em mim
Depois pulou o muro
Eu não sei o que fiz pra te perder
E o problema é que ainda amo você
Sem deixar tudo a mim
Não consegui, não consegui te esquecer
Eu disse a mim: você vai ver!
Mas no final, quem saiu na pior fui eu
Até hoje, nas madrugadas
Eu fico andando em sala em sala
Buscando o erro em que errei
E me culpando ao me debruçar
E hoje vi que ontem me apaixonei...
Sonho ruim
Estou morto, vivendo os últimos momentos no subconsciente
Não verei mais o céu, ao invés da ilusão
Não verei o rosto seu, ao invés da ilusão
Não há mais volta, e sei disso
Devo estar sendo cremado vivo
Ou talvez cantando pra morte
Buscando poupar tempo
Mas não ficarei triste
Em vida, te amei, e é o suficiente
E meu amor por ti foi tudo pra mim
Quase formei o céu de estrelas
Só pra te ver sorrir
E me fingi de matuto pra você sobressair
Dizem que estou louco, dizem que tenho fim
De te amar um tanto, e acabar assim
Em subtrair o tempo pra ficar perto de ti
Meu amor, eu juro: meu amor não terá fim
E tudo isso foi um sonho ruim
Mas eu quase bebo um botequim
Quero que fale comigo, fale a verdade pra ela
Se seu amor é duro igual panela
Quero que me deixe dormir...
A mulher é o cigarro do homem que luta;
E o homem que carrega os dois
Já está condenado a ser feliz — que sina.
Quisera eu que a lucidez marchasse com o meu amor —
mas amor e razão são inimigos antigos.
Quisera uma lucidez sã, mas só os tolos creem que a sanidade é virtude.
Quisera ser normal —
mas o normal é o cadáver da vontade,
e eu, filósofo sem causa, nem a mim mesmo defendo.
Mudei com o tempo, mas o tempo não muda.
Ele gira, e arrasta, mas não se move.
Deus — se há um — também não muda,
pois mudar é admitir erro.
E eu? Eu sou.
E quem é, não muda.
Não sou rei, nem poeta, nem profeta.
Sou a rasura entre o ser e o saber.
Sou o eco da razão que devora seus filhos.
Sou ciência — sem dogma, sem consolo.
Sou vontade de compreender, até que compreender me destrua.
Soneto Tri da Phor
Amo o teu cheiro como amo a mim.
Amo você como o escasso ama o nada.
Amo-te como os prédios imensos dos Emirados,
Amo-te com a solidão ardente da estrela do sol.
Amo-te, vagamente e infinitamente, de tanto o nada pensar.
Hei de te amar, quanto e quando o tempo passar.
Furei meus pulsos de sangue, cortei as veias que levavam o ódio em mim.
Amo-te tanto, que voltei a ser criança,
E, de novo, resgatei a confiança que não tinha.
Amo-te como a esperança que existe no amanhã —
Mudou tudo. Agora, só quero, com sinceridade,
te ver no amanhã.
Soneto do Bem
E de tanto olhares meu corpo,
E notares feiura, comparaste-me contigo.
Pois, sendo o mais belo entre tudo,
Ainda não cheguei ao teu alcance.
Assiduamente, minha mente nota falhas,
Destrói minha tarde e demonstra tardias.
Meu corpo, teu cabelo são da mesma cor,
Hei de notar uma flor em teu cabelo,
E em mim vi que, de tanto olhar, vi amor.
Quando no chão encontrares-me,
Julga-me, humilha-me e, por fim, ama-me.
Chorei-te lágrimas tantas de tanto amar-te,
E quis tanto você, que desejei, se não desse certo, a morte.
Extermínio talvez se encaixe em meu coração.
Extermínio é talvez minha única opção.
Não vejo as cores reais do mundo
Sem você ou sem minha religião.